Menino anjo escrita por Celso Innocente


Capítulo 17
Cadê suas asas?


Notas iniciais do capítulo

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Ah! Como eu ficaria feliz se soubesse o nome de alguns de meus leitores!
O melhor prêmio ao qual um escritor, criador de fantasias almeja, é... mesmo que seja um simples bilhete, dizendo: "Lí seu livro"



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Recebido na entrada do consultório, a psicóloga mandou Regis entrar e sentar:

— Como está esta semana meu amiguinho paranormal?

— Triste! — Insinuou ele, em voz baixa.

— Triste? Por que triste? Você brinca?

— Brinco!

— Joga bola com os amiguinhos? Que mais?

— Strena Varsella! Esconde esconde...

— Ainda existe strena varsella? É brincadeira do tempo de nossos pais!

Sem responder, porém realmente triste, o menino balançou o ombro esquerdo, enquanto a doutora continuava:

— Já que você tem atividades normais como outras crianças, por que então você está sempre triste?

— A Terra pede por ajuda — respondeu convicto.

— Isso lá é verdade! — Concordou a médica. — O homem destrói esse belo mundo em que vivemos. Já fizeram um rombo na nossa camada de ozônio, que filtra os raios nocivos do Sol; devastam sem piedade nossas florestas; poluem nossos rios e mananciais; poluem o mar... O que mais? Poluição sonora, visual... Enchem os bueiros de entulhos, depois reclamam que as chuvas alagam as casas... Acabam com nosso oxigênio...

— Você é uma psicóloga que fala mais do que o paciente — brincou Regis. — Até parece que é você quem está sendo ouvida.

Ela se levantou, sentando-se ao lado do menino, concordando:

— Você tem toda razão. Preciso ouvir um pouco mais você. Então me diga, por que você só vive triste? Você é tão jovem! Tão pequeno!

— Meu corpo é jovem! Não meu espírito! Eu já vi coisas que você nunca verá — pensou um pouco. — Ainda bem!

Ele estava mais triste do que sempre fora.

— Eu já vi pessoas sendo queimadas dentro de forno; esquartejadas... Devoradas por animais; já vi pessoas morrerem queimadas em fogueira; já vi matarem por uma simples relada de para choque de automóvel... Coisa sup...

— Supérflua! — Ajudou-o a doutora. — Banal.

— Estão a cada dia mais, bana...lizando a vida sagrada. Não entendo como Deus consegue amar tanto a espécie que criou para dominar este mundo. Acho que Ele não esperava que... seriam tão maus.

— Acho que você tem razão; uma boa parcela da humanidade se torna cruel.

— Uma boa parcela? Não! Uma grande parcela. Já vi pai estuprar filho pequeno, num dos crimes mais cruéis e covardes; já vi filhos matar pai, bater na cara da mãe... Já vi raça inteira ser dizimada em genocídio covarde... Casal abrir o corpo de bebê, pra servir de embalagem pra transportar drogas. Ainda esta semana, um menininho morreu nos meus braços... Já vi tanta coisa ruim nesta Terra, sem poder fazer nada pra socorrer.

Regis tinha os olhos cheio de lágrimas. A psicóloga, o abraçou dizendo:

— Você é tão inteligente, menino! Não sei de onde tira tantas palavras! Nem de longe parece apenas uma criança.

— Estou magoado com o que será de nossa Terra.

— Você é tão pequeno, menino! Por que te preocupas tanto?

— Não! — Negou ele. — Meu corpo é pequeno! Mas este corpo é só um veículo de transporte. Meu espírito é maior do que este prédio em que estamos agora.

— Você usa o corpo de Regis, mas não é ele! — Concluiu a doutora.

O menino, entre lágrimas esboçou pequeno sorriso.

— Sou o pequeno Regis. Quando morri naquele incidente, fui me haver com um anjo de Deus, que me fez voltar, pra cumprir uma missão, diferente da que me estava reservada pela ordem natural da evolução espiritual.

— Não entendi patavina! — Negou a médica.

— Seu espírito é tão antigo quanto ao meu. A diferença, é que você segue a evolução natural, a que lhe foi designada na concepção carnal, bloqueando suas experiências anteriores...

— Em outras vidas? — Interferiu ela.

— Podemos dizer que sim!

— E você, como teria ido pra lá, quando voltou, trouxe consigo suas lembranças e experiências anteriores?

— Tá parecendo médium! — Riu o menino.

— Então sabe o que é médium?

— Você me contou!

— Você é diferente, mas é o mesmo Regis?

Acenou que sim e continuou:

— Tenho uma missão pra cumprir, mas confesso que este corpo atrapalha muito.

— Como assim?

— Se eu não dependesse deste corpo matéria biológica, poderia estar em qualquer lugar em questão de piscar de olhos e assim cumprir minha missão com mais facilidade.

— O que você quer insinuar? Que poderia estar aqui ou em Nova Iorque na mesma hora?

— Isso! Só não ao mesmo tempo!

— Mas você depende desse corpo matéria! Ele é o seu veículo! Ou seu invólucro! Sei lá como dizer!

— Não necessariamente. Digamos que seja apenas um ornamento, pra poder ficar com minha mãe.

— E o que você é de verdade? Um anjo? Arcanjo? Querubim? Espírito...

— Rótulos!

— Como rótulos?

— Os humanos acham que existe uma certa hierarquia, onde um anjo é inferior a um arcanjo e um querubim deve obediência a um anjo, como se fosse um pai. Somente um arcanjo pode ver a Deus! Pobrezinho dos Serafins! — Ironizou sarcasticamente o menino.

— Serafins são os primeiros na escala angelical! — Retrucou ela. — Pobrezinho dos Querubins!

— Hierarquia idiota criada pela mente pobre do ser humano! Só um arcanjo poderá ver a Deus! Se assim fosse, o que seria do tal ser humano, criado a imagem e semelhança dEsse Pai Onipotente?

— Hierarquia é um fator necessário. Se não existisse, a desordem prevaleceria.

— Daqui a pouco haverá corrupção no Céu! Não existe nada disso!

— Mas já houve isso! No início dos tempos, quando Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, dotando-os inclusive com algo especial, o qual os anjos não podem ter...

— Livre arbítrio — interrompeu o menino. — De novo!

— É isso mesmo! — Concordou a doutora. — O que causou ciúmes ou inveja em certos anjos, que também queriam ser iguais a Deus. Lúcifer, ou Satanás, não sei bem, se rebelaram, fazendo verdadeira rebelião no paraíso eterno. Deus não aceitando esta revolta acabou por expulsá-los de lá, Jogando-os em um mundo que denominou inferno, ou o poço de fogo que não se apaga.

— Não seria porque o Anjo Lúcifer, sendo braço direito de Deus, por inveja, queria ser igual a Ele e ao ser expulso desse Céu levou consigo um terço de todos os anjos de lá?

— Não sei! Só sei que você veio pra complicar! — Riu ela. — Bagunça o que aprendi na vida e não explica o que vem a ser.

— Daqui a pouco, vai me perguntar onde escondo minhas asas.

— Nem tanto! Acho que esse negócio de anjos alados é bobagem.

— Mas o cristão acredita que os Serafins tem três pares de asas e os Querubins, sendo anjos da guarda, têm duas, como pássaros!

— Acho que seja apenas simbólico. Pra mim, anjos são seres obedientes a Deus, dotado de muita luz e que não podem ter livre arbítrio.

— São escravos de Deus? — Riu o menino.

— E por que não?

— Então seria por isso que Lúcifer se revoltou e foi expulso do Céu, levando consigo outros anjos maus como Astaroth, Asmodeus, Leviatã, Lilith, Cerberus, Beelzebuth e milhares de outros? Basta de escravidão em prol dos preferidos de Deus! O homem!

— Como você pode saber tantos nomes complicados?

— Sou um anjo! Você mesmo disse!

— Saiba nomes de anjos bons!

— Como o Arcanjo comandante dos exércitos celestiais? Miguel! E outros como Uriel, Gabriel, Ezequiel, Rafael...

— Tudo em El? — Estranhou a doutora.

— Os cristãos dizem que El significa Deus Grande.

— Acho tudo fantasioso demais!

— Acredita em Deus, ou acha que a Terra é apenas obra do acaso? Que o grande big bang, fez da Terra, por acaso, um dos poucos lugares do Universo, ideal para hospedar a vida humana?

— Acho que é obra do big bang — concluiu ela.

— Que seus vinte e um por cento de oxigênio, setenta e nove de nitrogênio, argônio, dióxido de carbono, vapor d’água... A camada de ozônio lá na estratosfera, que protege contra os raios pesados do Sol. Tudo isso e o que não falei, como a noite, o dia, o inverno e o verão, tudo apenas obra do acaso?

— Como você sabe todos estes nomes?

O menino apenas balançou a cabeça mostrando um sorriso irônico e insistiu:

— Tudo obra do acaso?

— É!

— Que o tal big bang jogou a Terra como uma grande bola no espaço sideral, fazendo-a parar coincidentemente em tal local propício à vida?

— O universo tem bilhões de planetas! A coincidência desse fator como você diz, em um deles entre tantos não é impossível!

— Quanta ignorância!

— Nós vivemos com o oxigênio que a Terra tem — emendou ela. — Mas suponha que fosse a metade. A evolução natural do ser humano, teria se habituado a isso e viveríamos do mesmo jeito.

— Sendo assim, devido às coincidências o universo tem bilhões de planetas habitados?

— E quem garante que não! — Ironizou também ela. — Pode até existir vida em planetas onde o oxigênio seja quase zero. Planetas com muita radiação...

— E que eu seja um mero impostor?

— Não! Você é apenas um menino hiperativo... De um Q.I muito elevado e que passou por um grande trauma, alterando as características evolucionárias de seu cérebro, de apenas nove anos de idade.

— E que se eu for participar de um re...a...lity show, ficarei muito famoso, respondendo perguntas que ninguém sabe?

— Pode ser! Que ano você está na escola, menino? — — Já lhe disse isso! Terceira!

— Você acha que existe vida em outros planetas?

— Você já confirmou isso! Não eu! — Riu o menino. — Mas tem uma música antiga que diz, quem tem um filho pode ter mais filhos, o Senhor também pode ter outros mundos![1]

— Por que você só fala por paradigmas?

— Não sei o que é isso! — Negou o menino, sério.

— Fala por suposições. Deixa na obscuridade.

— Sou só uma criança! Esqueceu-se?!

— Uma criança não age ou fala como ti!

— Você é a médica! Não eu!

— Você sabe muito e sabe disso.

— Por falar em outros planetas, o Universo tem bilhões de estrelas, a maioria delas, dispõem em sua órbita com ene planetas. Por que Deus desperdiçaria tanto espaço morto?

— Há vida? — Insistiu a doutora.

— O que você acha? — Esboçou leve sorriso, o menino

— Onde vamos chegar? — Desistiu ela.

— Há bilhões de planetas idênticos à Terra no vasto Universo. A água da Terra provém de um mundo alienígena. A vida vem da água. O que me diz?

— Que você continua falando por paradigmas e eu estou perdida!

— Pra sua ciência, se fôssemos nos adaptar a metade do oxigênio que dispomos como você disse a pouco, pode até ser que conseguíssemos, mas com certeza não nasceria mais nenhuma criança.

— Afinal — insistiu ela. — você acredita em Deus ou no big bang?

— O Universo se formou pelo tal big bang. Antes só existia a matéria e a antimatéria que se chocaram, formando o que temos hoje. O Universo era um nada!

— Como você sendo anjo prefere acreditar na ciência e não em Deus?

— Não posso ser anjo! — Negou o menino.

— Não complique minha inteligência limitada. Ora você diz ser anjo, ora diz não ser...

— Você disse... Não eu! Se eu fosse anjo não poderia interferir no destino das pessoas.

— Só pra me deixar mais confusa, me diga esta, por que você prefere acredita na ciência e não em Deus?

— A ciência é Deus!

— Hem!? — Se espantou a mulher.

— Tenho só nove anos! Lembra? — Riu o menino. —Se não existisse Deus, quem jogaria a matéria de encontra a antimatéria, para o grandioso espetáculo de formação do Universo infinito?

[1] Da música “Disco Voador” criada pelo compositor Palmeira.


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