P.O.V Percy

–Percy Jackson, posso saber porquê você e minha amiga não estão se falando? Sério! Vocês nem se olham! E todas as vezes em que eu pergunto à ela o que está acontecendo ela só responde- Thalia respirou um pouco- Nada.
Okay, okay... Eu entendo que a minha reação à respeito do beijo estava sendo exagerada. Aliás fui eu que a tinha beijado certo? Hoje, talvez eu até entenda que a minha atitude foi imatura... Deixar de falar com a garota por causa de um beijo? Então já fiquem sabendo: eu admito que exagerei.
Continuei andando e ignorando Thalia completamente, já tinha dias que ela apertava a mesma tecla, queria saber a mesma coisa... E algo me dizia que, enquanto ela não conseguisse uma resposta, eu e possivelmente Annabeth, não teríamos sossego.
Quando estava quase chegando ao refeitório, Thalia conseguiu me alcançar e parou de frente a mim, me impedindo de prosseguir para o almoço.
–Me deixa em paz garota. A resposta é a mesma que a Annabeth te deu: nada. Não aconteceu nada!
Consegui passar por ela e fui caminhando até a bancada de alimentos, ao chegar lá, peguei uma bandeja, e percebi que a maldita garota que não deixava os meus pensamentos terem sossego e tentarem esquecer aquela noite ainda estava no meu pé.
–Percy, sério- começou Thalia- eu estou preocupada com vocês dois. Desde a noite na casa do lago. Vocês brigaram lá ou algo assim?
Resolvi ignorá-la de vez. Terminei de me servir e fui até a mesa central do refeitório, onde sempre almoçávamos. Annabeth e Lucke conversavam enquanto Leo olhava fixamente para o purê de batatas no seu prato.
Sentei-me perto de Leo, porque ele estava mais afastado de Annie, e a simples possibilidade de olhar pra ela fazia o meu coração acelerar. Comemos em silêncio, mas era possível sentir os olhares de Thalia, hora em mim e outra em Annabeth. Leo era o único que ainda não estava comendo. Eu adoraria saber o que ele estava pensando.
–É gente... Eu tive uma complexa reflexão filosófica aqui agora- contou ele, finalmente tirando o olhar do purê.
–E o que o purê de batata conseguiu ensinar à você Sr. Leonardo?- perguntou Rachel, que chegara no momento em que Leo se manifestou pela primeira vez naquela manhã. Ela se sentou ao meu lado e eu consegui ver, pelo canto de olho, Annabeth olhar rapidamente para nós dois juntos.
–Percebi que há algo muito estranho rolando aqui... Percy e Annie sem se falarem... Está aí algo difícil de acreditar -Annabeth parou de comer e olhou para ele com uma expressão assustada, como se não acreditasse que aquilo estava acontecendo- Então, pensei: vocês estão assim desde a noite na casa do lago... A Annie foi embora mais cedo, dizendo que precisava estudar pra uma prova... e fiquei sabendo que ela não foi tão bem na prova de física... Ou seja, o papo de estudar para a prova foi apenas uma desculpa esfarrapada para ir embora antes... O que me leva a outra questão: O que está acontecendo aqui?
O meu olhar e o de Annie se encontraram pela primeira vez durante uma semana. Os olhos dela estavam marejados, o que só aumentou a minha culpa por estar a ignorando durante todo aquele tempo.
–Eu preciso ir- falou Annie, quando finalmente desviou o seu olhar do meu, piscando e enxugando uma lágrima solitária que saíra de seu olho esquerdo.
–Mas nós temos os dois últimos horários ainda!- lembrou Thalia
–Eu sei, mas... Eu realmente preciso ir.
Annabeth se levantou da cadeira, pegou sua mochila que estava embaixo da mesma, e as chaves do carro juntamente com o celular, que estavam na mesa, ao lado de sua bandeja do almoço, que mal tinha sido comido.
Ela saiu sem se despedir de ninguém.

P.O.V Annabeth

Saí apressada do refeitório, ainda sem acreditar que Leo tinha dito aquilo na frente de todo mundo. Tudo que eu conseguia pensar naquele momento era em qual visão as pessoas tinham de mim e com Percy, porque todo mundo parecia notar que nós dois estávamos distantes. Primeiro Thalia, depois Lucke, depois o Sr. Gates e então, Leo... A pessoa mais lerda que eu conhecia.
Passei no meu armário apenas para deixar meu livro de francês, que eu não precisaria durante o fim de semana, e caminhei até o meu carro.
Foi o prazo exato. Sério. Bastou eu entrar no carro para as lágrimas virem com força total. Chorei a ponto de soluçar. Eu queria apenas entender como a minha vida tinha ficado complicada daquele jeito. Mudar para Santa Barbara, mesmo contra a minha vontade, fora uma forma de começar de novo, uma vida sem complicaçoes... Sem problemas mais sérios do que uma prova de física! Eu me sentia envergonhada e com muita raiva.
Dirigi até a minha montanha. Quero dizer... A nossa montanha. A mesma em que brincávamos quando éramos crianças. A mesma em que ele me consolou quando descobri que Will era um idiota. A mesma em que eu percebi que meus sentimentos por ele estavam mudando... Novamente. Sentei-me no velho banco de madeira que tinha a vista mais perfeita que eu conhecia. Fechei meus olhos, sentindo o vento jogar meus cabelos (-Que estavam soltos... Milagre! Ela geralmente deixava ele preso porque tinha preguiça de penteá-lo).
"Isso é tão injusto" pensei "Talvez se eu não tivesse indo embora, nós dois teríamos ficado juntos e estaríamos juntos até hoje. Talvez nada disso estivesse acontecendo. Eu não precisaria ver ele com a Rachel..."
Senti alguém ao meu lado. E por alguma razão (-Provavelmente por causa de todos os filmes de romance que você já tinha visto ao longo da sua vida...) sabia que era ele. Abri os olhos, mas mantive meu olhar firme no horizonte, no azul escuro do mar em contraste com o azul claro do céu. Até que, por fim, olhei para ele.
–Eu quero ficar sozinha- disse, voltando a encarar a paisagem
–Eu sei... Mas nós dois precisamos conversar.
–Claro Percy! Vamos conversar! Vamos conversar sobre como você foi injusto comigo... Vamos conversar sobre como foi cruel da sua parte fazer o que fez e depois nem ter a consideração de pelo menos fingir que nada aconteceu... Pelo amor de Deus! Nem isso você fez! Se tivesse feito nós dois poderíamos muito bem ter esquecido isso! Mas não... Você começou a me ignorar e fez com que todo mundo percebesse que tem alguma coisa estranha rolando entre nós dois! Era só ter fingido Percy... Ter continuado a vida normalmente!- falei tudo muito rápido... Precisava colocar tudo aquilo para fora, antes que eu perdesse a coragem.
–Essa é a questão Annabeth. Eu não queria esquecer. Eu não quero esquecer. Assim como eu nunca esqueci o nosso beijo no chalé... Assim como eu nunca esqueci o dia em que você dormiu na minha casa e nós dois deixamos bem claro o que sentíamos um pelo outro... Assim como eu nunca esqueci o dia em que você foi embora e me abraçou forte... E deixou essa carta.
Ele tirou um envelope branco do bolso de sua calça. Envelope este, que estava bem amassado, e me entregou.
"É a minha carta" pensei, admirada "Ele a guardou durante todos esses anos..." Abri o envelope e desdobrei a folha de papel que estava dentro dele.
–Eu nem acredito que você guardou...- eu sussurrei- Eu achava que... Depois da minha partida, você tivesse me esquecido.
–Eu nunca te esqueci- afirmou ele- Você sempre esteve comigo... Mas você precisa entender que eu fiquei confuso... Entende isso? Eu e você, quer dizer, tudo entre nós, sempre aconteceu em situações diferentes, incomuns, mas te beijar, no seu quarto, numa situação comum e numa circunstância mais tranquila... Tipo... A gente pode ficar junto Annie. Não tem nada que nos impeça. Eu precisava pensar. Me desculpe por... Ter meio que te ignorado.
Ele falou tudo isso olhando para o horizonte, e quando eu me cansei de não ver seus lindos olhos verdes, virei seu rosto para ficar de frente ao meu.
–Meio?- brinquei
–Tá... Eu te ignorei completamente- ele deu aquele sorriso irônico que eu adorava- estou perdoado?
–Ainda não... Não pense que eu sou como as outras garotas Percy Jackson, eu sou muito mais difícil do que elas.
Ele aproximou o rosto do meu e finalmente me beijou.
Tá, tá... Foi um beijo completamente diferente. Seus braços envolveram a minha cintura, uma de minhas mãos estava em seu pescoço e a outra em seus cabelos lisos e macios. Ele me puxava cada vez mais para perto de si até que por fim, fiquei em seu colo, minhas pernas ao redor de sua cintura.
–Percy eu...- ofeguei- Preciso...- ele me beijou de novo- Respirar!
Nós dois rimos e finalmente paramos. É até engraçado reparar em como a nossa posição mudara: de sentados um ao lado do outro, fomos para a minha pessoa sentada no colo de Percy, com as pernas ao redor da cintura dele... Sem falar no modo em que ele estava me abraçando. Estávamos quase unindo os nossos corpos em um só.
–Cara! Eu amo você...- ele riu- Eu sei que é muito cedo pra dizer isso mas é que... Eu amo você desde que eu tinha treze ou doze anos, sei lá.
–Eu também amo você...- eu dei o maior sorriso que eu pude- E já tem um bom tempo.
–Sabe, eu terminei com a Rachel há três dias.
–Sério mesmo?- meus olhos se aprofundaram na doçura do olhar daqueles lindos olhos azuis
–Sério mesmo... E eu estava pensando... A gente deve deixar rolar e ver o que acontece?
–Acho uma boa ideia... O que tiver de ser será, certo?
–Certo.
–Vida longa à todas as barreiras que atravessamos!- ele gritou- Lembra do que você me disse? Você disse: - ele respirou fundo antes de terminar a sua fala, e eu sabia o que ele ia dizer, então falei junto com ele- "Lembre-se desse momento, guarde ele no fundo da sua mente"- olhei no fundo de seus olhos, nossa sintonia era incrível!- naquele dia em que nós estávamos com as nossas mãos tremendo -continuou ele- e a multidão se levantou e foi à loucura!- ele me deu um selinho- Vida longa à toda a magia que fizemos!- ele gritou novamente
–Vida longa à todas as montanhas que movemos!- gritei
–Devem achar que somos loucos!- ele falou, rindo
–Eu sei... Ei Percy Você está ouvindo?
–O que?
–É a multidão... Mesmo depois de todo esse tempo eu ainda consigo ouvir... Ouça Percy! Ela está indo à loucura...