Depois de muito me revirar na cama, resolvi levantar e ir para a sala ver um filme ou alguma coisa que me desse sono. A TV estava ligada, e Percy dormia pesadamente no sofá. Tão incondicionalmente lindo... (Eu sei o que está acontecendo com você...) Sabe? (Sim... Mas tenho medo de fazer você admitir e isso acabar nos prejudicando.) Como assim? (Deixa pra lá... Ele acordou e está te olhando enquanto você viaja pelo universo e conversa sozinha)
–O que está fazendo acordada às...- ele olhou no relógio de pulso- quatro e quinze da manhã?
–Perdi o sono há horas...
Ele olhou pra mim e deu aquele sorriso irônico que eu tanto amava.
–Senta aqui... Eu gravei o nosso filme.
O nosso filme no caso, era o Clube dos Cinco. Tudo começou quando nossos pais foram passar as férias de verão juntos, no Havaí. Eu e Percy pegamos uma gripe da pesada e acabamos por ficar no hotel. Vasculhando a TV em busca de alguma coisa decente pra ver e tentar enganar o tédio que tomava conta de nós, encontramos ele... Lindo e brilhante na programação de "à seguir" da Fox... Foi amor à primeira assistida. Existe isso produção? (Olha, se você não sabe, como é que eu vou saber?!) Né.
Então quando Percy me disse que O Clube dos Cinco estava passando, não consegui resistir à tentação de ver toda aquela nostalgia gostosa. Deitei-me ao lado dele no sofá, cobrindo-me com a coberta branca e felpuda que ele estava usando.

~~*~~

Não terminei de ver o filme. A última lembrança que eu tenho dele é a do momento em que o bad boy entrou no tubo de ventilação da escola. Só sei que amanheci deitada em minha cama, coberta e quentinha.
Percy Jackson estava vestido com uma camiseta gola V azul escuro e uma bermuda jeans. Olhava o lago pela janela e bebia café da chícara que segurava.
Ao me ver, sorriu e fez uma cara falsa de desgosto.
–Me deixou vendo o filme sozinho ontem hein? Foi muita sacanagem isso Annie- eu dei uma risada e me sentei ao lado dele no banco branco de madeira.
–Como acordei na cama? Você teve que me carregar?
–Tive... Estou até agora com dor na coluna por isso...- ele colocou a mão nas costas e fez cara de dor, então me olhou sorrindo de forma brincalhona, provavelmente porque tinha visto minha cara de brava- Brinks.
–Você é muito chato! Não cansa não?!- Percy deu mais um gole do café e dessa vez uma espuminha marrom grudou acima dos seus lábios o que me fez rir.
–O que foi menina doida?
–Tem café na sua boca!- limpei a espuma com os dedos (Só uma parte né... Porque sabe-se lá como, Percy Jackson tinha o talento de se sujar com toda e qualquer coisa).
–Sabe o que seria legal?- o encarei, esperando que ele continuasse- Seria legal irmos até aquele rio sabe? Aquele perto do chalé abandonado.
Ah não. Eu não queria ir àquele chalé. Nem ao rio... Nem a nenhum lugar que me lembrasse o que aconteceu naquele dia. Mas eu não podia dizer não. Não podia fazê-lo pensar que ainda me lembrava daquele dia com tanta clareza, que até sonhava com ele.
Aceitando seu convite, fui até o quarto em que eu estava ficando e vesti um biquíni verde escuro, coloquei um short jeans -não muito curto- e uma blusa branca bem larguinha que possuía o desenho de um panda. Meus óculos escuros esconderam as olheiras da noite mal dormida que eu tive.
Percy estava vestido do mesmo jeito, acredito que ele apenas colocou a sunga por baixo da roupa... Homens.
O caminho até o rio -que parecia mais um córrego- foi mais rápido do que as outras vezes em que eu fora ali. Pela trilha, pude ver o chalé bem longe, só que ele não estava mais nas mesmas condições. Suas paredes estavam aparentemente limpas e seu telhado não estava quebrado... As janelas estavam novas e um lindo e pequeno jardim o rodeava.
–Depois vamos lá-comentou Percy ao perceber que eu olhava para o chalé.
–Ele está tão diferente da última vez em que o vi...
–Meu pai mandou reformá-lo... Agora ele está to mobiliado e uma empregada vem todas as sextas-feiras para dar uma faxina.
Ao chegarmos no rio, Percy apostou comigo que faria o melhor salto de uma corda que ficava presa à uma árvore bem alta. Trinta pratas.
Admito que ele se saiu muito bem no tal salto. Mas também né! Percy fazia natação desde que tinha quatro anos... A água era como uma segunda casa pra ele.
Como sempre, não me dei tão bem com aquela corda. Só que diferentemente da última vez em que havia pulado, não foi a minha perna que se machucou. Foi a minha cabeça.
A burra aqui, não pensou muito no ângulo do salto e acabou caindo em um lugar mais raso. Altura + água + pedra próxima à superfície = Annabeth machucada. Quem bateu primeiro foi o meu corpo (Logicamente...) mas o impacto fez com que o meu pescoço fosse impulsionado para trás, batendo assim, a minha cabeça.
Tenho flashes de memória de Percy me levando de volta e sussurrando coisas do tipo "Precisamos parar de vir aqui... Sempre acontece coisas ruins com você." e também "Juro que não vou cobrar as trinta pratas de você, mas por favor acorde..."
As imagens passaram a serem nítidas a partir do momento em que um homem de terno tirou a sua mão da minha testa.
–Ela vai ficar bem Sr. Jackson... Só precisa ficar quieta por algumas horas. Ela só desmaiou por conta do susto.
–Certo. Muito obrigado Dr. Graythin.
Percy se virou pra mim e quando percebeu que eu estava acordada, sentou-se ao meu lado.
–Acho que é melhor pararmos de ir naquele rio...- ele riu
–Também acho... Sempre que vamos lá acontece alguma coisa ruim... Durante ou depois, quando já estamos no caminho de casa.
–Ah Annabeth, até parece que tudo naquele dia foi ruim- ele riu - nosso caminho de volta foi bem interessante.
–Credo Percy. Para com esse assunto- segurei o pacotinho de gelo que estava na minha testa e sentei na cama, olhando no fundo dos olhos dele- Nós prometemos que nunca, jamais tocaríamos nele.
–Tá, mas que tal tocarmos pelo menos uma vez na vida? A gente nunca falou sobre isso... Nem na época. Até porque você foi embora dois meses depois.
–Percy... Sério. Não há nada pra falar.
–Só me diga como se sentiu...- ele foi aproximando o próprio rosto do meu, e eu sabia o que aconteceria e também desejava, tanto que até cheguei a fechar os olhos... Mas também sabia que não deveria beijá-lo... Eu sabia, mas não faria nada para impedir. Quando eu já conseguia sentir o hálito quente dele encostar na minha pele, o destino fez o que deveria ser feito. Uma voz, lá de baixo que nos trouxe de volta para a realidade.
–Percy! Annabeth! Chegamos!