Rhorus escrita por Sandro Morett


Capítulo 3
Yunna


Notas iniciais do capítulo

Introdução de mais uma personagem. Espero que gostem.



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A Capital estava abarrotada de gente. Os bordéis, estalagens e tabernas mal tinham lugar para sentar. Yunna acabara de chegar a mando do Lorde Nomm de Riverstone - Senhor das Terras Alagadas – para treinar em arquearia. Ela era uma exímia caçadora e ele pensava em fazer bom uso de suas habilidades com o arco e a flecha.

O homem que a guiava pela cidade era baixo e atarracado, com cabelos negros oleosos. Eles tinham que chegar até Symmeon, um mestre em arquearia vindo do exterior, e que havia aceitado treiná-la.

– A cidade está cheia assim por causa do torneio que haverá dentro de um mês. – o homem certa vez falara, quando Yunna tinha sido derrubada por guardas que perseguiam um ladrãozinho. – Cavaleiros, mercenários e cavaleiros livres vêm para cá em busca de glória e honrarias no torneio. Há também ladrões vindos te todos os cantos, movendo-se como ratos em meio à multidão, tirando proveito da distração alheia. E é claro, simples cavalariças também vem, para treinar arquearia. – e dito isso sorriu.

Yunna não passava disso em Riverstone; a jovem criada que cuidava dos cavalos, mas devido à sua perícia com arco e flecha, Lorde Nomm passou a levá-la em suas caçadas e agora pretendia formá-la uma arqueira para batalhas, torneios e coisas do tipo, mesmo com sua pouca idade. Ela tinha apenas 15 anos.

“Tem habilidade com o arco” ele tinha dito para ela antes de partir, “mas deve aprender a ser arqueira”.

Ela não havia entendido. Era uma caçadora, usava arco com maestria, então deveria ser considerada uma arqueira.

A andança pela cidade ao lado do seu guia se mostrou mais turismo do que busca. A cada colina que subiam e a cada rua que entravam o homem lhe contava alguma história sobre a cidade. Falara da revolta dos mendigos, da vez em que tentaram atear fogo à Fortaleza Monte d’ouro e de muitos outros causos. Yunna ficara surpresa em saber que a Capital, mesmo repleta de guardas, sempre teve sua paz perturbada.

E Yunna também.

Provavelmente a garota com cabelos brancos e olhos azuis chamava alguma atenção, mesmo vestida como um pajem, ostentando a salamandra laranja sobre o marrom lamacento, símbolo dos Nomm. Mas o que lhe perturbava mais eram os mendigos.

– Minha senhora, uma moeda para este homem que não tem onde cair morto. – falara o milionésimo mendigo que a interceptara. – Minha barriga já fala mais alto que minha voz.

E mais uma vez Yunna sentiu-se comovida e deu ao homem uma moeda de ouro; era a décima que retirava de sua bolça. Ele olhou-a incrédulo, mordeu a moeda com o último dente que lhe restava e agradeceu, correndo em direção à mercearia.

– Uma peça de ouro me parece muito, Yunna. – o guia lhe falara depois. – Ele ficaria igualmente contente com uma peça de bronze. Se continuar agradando os mendigos daqui assim acabará ficando pobre.

Mas a garota de cabelos brancos sequer deu atenção. Estava feliz demais vendo o homem sair da mercearia com uma grande porção de comida e indo até outras crianças igualmente pobres e sujas, distribuindo a comida entre eles.

– Tenho mais de onde veio este, meu bom guia. – a jovem arqueira falou, pondo-se a andar. – Aquela moeda tem mais valor para eles.

O caminho para a casa de Symmeon estava se mostrando mais longe do que ela imaginava. O guia olhava os mapas e ria, se desculpando por ter entrado na viela errada. A cidade era toda labirintos, mesmo para quem lá morava.

Em uma dessas ruas que entraram por engano, viram um corpo inchado jogado em uma sarjeta. Em outra rua, um homem espancava avidamente um outro mendigo. Yunna, que gostava cada vez menos da primeira impressão que tivera da Capital, se revoltou. Não podia deixar aquilo passar. Não havia nenhum guarda por perto, então puxou uma flecha da aljava, colocou na corda do arco e esticou, deixando o arco bastante envergado e a corda tensa.

– Não faça isso. – o guia falou pondo-lhe a mão no ombro. – Aquele é um conhecido mercador de vinhos da cidade, amigo do Rei. Se feri-lo, os guardas cairão sobre você e será executada.

Então ela guardou o arco e a flecha e foi até o homem em passos largos. Empurrou-o, mas ele sequer ligou.

– Pare com isso. Você vai matá-lo. – ela disse, e empurrou-o outra vez.

O mercador com as mãos ensanguentadas se virou para a garota, fitando a salamandra em suas vestes.

– E o que tem você com os assuntos da Capital, forasteira? – e dito isso cuspiu, exatamente em cima do símbolo.

Yunna não podia acreditar naquilo. Recuou, enojada. O homem virou as costas para ela, ignorando-a totalmente, e deu mais alguns chutes no mendigo, praguejando, e por fim saiu na outra direção. A garota foi então até o pobre homem caído e colocou-o de pé. Ele agradeceu a ajuda e saiu, cambaleando.

Depois disso o caminho foi tranquilo. Chegaram ao barracão de treinamento de Symmeon Arcolongo e ele já esperava lá em frente. Era um homem alto, de pele pálida e cabelos enrolados, altos. Seu sotaque era pesado e arrastado, típico de um estrangeiro.

– Demoraram. – ele falou, pagando o guia que logo foi embora. – Venha garota, entre. – e ela entrou. – Posso ver que já tem um arco e flechas, provavelmente sabe atirar. – ela fez que sim com a cabeça. – Então o que veio fazer aqui?

As palavras do lorde Nomm vieram-lhe à cabeça.

– Aprender a ser arqueira. – ela respondeu.

– Sim. É isso que eu ensino aqui.

Continuaram caminhando até chegar ao pátio de treinamento. Dez bonecos de palha se dispunham próximo às paredes, cada um há 2 metros do outro.

– Primeiro deixe-me ver sua pontaria. – Symmeon falou.

Yunna ficou sobre uma linha vermelha, longe uns cinquenta metros e tirou a flecha da aljava colocando-a no arco. Esticou, esticou, esticou e disparou. A flecha foi certeira contra a cabeça do primeiro alvo de palha. Ela começou a arrumar outra flecha. Dessa vez foi mais rápida e acertou o pescoço do segundo alvo, e fez o mesmo movimento mais oito vezes. Acertou sete dos alvos e errou três por centímetros. O estrangeiro aplaudiu.

– Parabéns, consegue atirar em espantalhos. Bonecos de palha. Imóveis. – ela não deixou de notar o deboche na voz de Symmeon. - Nada mal para alguém que atira em cervos e passarinhos. Amanhã começaremos o treinamento de verdade. Vá. Descanse.


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Notas finais do capítulo

Olá, olá. Tô me sentindo meio compulsivo aqui. Mas é tão bom voltar a escrever essa história.

Tive que agendar esse capitulo graças a uma pequena viagem que apareceu.

Yunna é uma personagem difícil de escrever, por conta da sua personalidade. Ainda estou tendo dificuldades. Mas como na minha visão pra história o rumo que ela vai tomar tem certa importância, vou me esforçar pra passar isso pra vocês.

Espero que gostem do capítulo, mesmo tendo ficado curto. >:

Bye