Cavanaugh. Até mesmo o som do sobrenome do aluno novo fazia Emily arrepiar-se em sua carteira. Parecia de uma família do típico Velho Oeste americano ou de uma tribo indígena dos tempos em que a América ainda não era colonizada. “Não mexa com os Cavanaugh”, era possível que alguém daquele tempo fosse dizer, “Eles são perigosos”.

Tudo que Emily sabia a respeito do aluno novo, além do primeiro nome – Toby, que, em contrapartida, dava um aspecto infantilizado à personalidade desconhecida do rapaz – , era fruto de burburinhos que ela ouvira pelo corredor da escola naquela manhã e, de acordo com tais, o garoto viera de um reformatório no Maine, a mais de 800 quilômetros da Pensilvânia.

O porquê de várias pessoas, muitas vezes ricas (não havia como saber se esse era o caso do aluno novo), se deslocarem centenas de quilômetros para acabarem em um fim de mundo como Rosewood (passando por cidades grandes como Pittsburgh e, é claro, a amada Filadélfia) ainda era um mistério para Emily.

Deixando tal curiosidade de lado, que ainda era de fato inquietante para ela, ouvir a palavra “reformatório” ainda em tais burburinhos fez um calafrio percorrer a espinha de Emily.

O garoto entrou na sala de economia calado, a passos lentos e com a mochila nas costas pendurada apenas em um ombro. Emily parou imediatamente de fazer anotações em seu caderno e fitou o rapaz. Alto, com cabelos castanho-claros lisos na altura dos olhos e uma camiseta do Drowning Pool por baixo de uma jaqueta jeans branca, ele entregava, ainda mudo, um papel para o professor, Sr. McAdam, assinar.

Assim que o garoto passou por Emily e direcionou-se para uma carteira mais ao fundo, Emily notou que ele tinha uma cara fechada, como se estivesse bravo apenas por estar ali. Ele tinha, na verdade, um olhar enojado que dirigia para um grupinho de garotas no centro da sala que tentavam conter risinhos. Emily desviou o olhar depressa, antes que ele tivesse a chance de olhar de volta para ela. Toby parecia o tipo de pessoa que se irritava até se percebesse que estava sendo observado. E de repente, a palavra “reformatório” começou a finalmente fazer sentido.