Somente à noite escrita por Ys Wanderer


Capítulo 31
Entre pepperonis, brigas e conversas


Notas iniciais do capítulo

Depois de cinco anos vou terminar a fic. Simples assim...



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Anna

Eu sempre me orgulhei de ser uma daquelas pessoas que nunca sentem as coisas com muita profundidade. No entanto, agora eu percebo que se eu nunca senti tudo com intensidade não é por conta de um superpoder que me tornava imune a todas as tristezas e sofrimentos ou qualquer coisa do tipo, mas sim porque talvez eu nunca tivesse permitido que todas essas sensações buscassem o seu caminho e o seu lugar dentro de mim. E agora, que essa porta estava aberta, era como se uma nova eu tivesse surgido das profundezas do meu ser interior trazendo lá de dentro uma Anna diferente que ninguém jamais havia visto na vida.

Uma Anna sensível e...

— Chata e sentimental! Olha só para isso! — Conchito arrancou o pote de sorvete da minha mão e eu revirei os olhos. — Que foi? Você já está naqueles dias do mês?

— Outro pote de sorvete? — Vovó sentou-se ao meu lado no sofá e então eu resmunguei tentando fingir que não me importava com o fato de eles estarem ali. — Esse mês a TPM dela atacou mais cedo, tadinha, pois essa é a única explicação para que ela esteja com essa cara de quem morreu e não foi enterrada!

— São cólicas? — Jeferson parecia o único ali preocupado com a minha lamentável situação. — Está doendo muito? Quer um remedinho?

— Sim, são cólicas — Respondi chateada. — E eu aceito um remedinho, obrigada. Agora, se possível, deem o fora e me deixem assistir meu filme em paz. Xô!

— Cruzes, isso é nojento! — Conchito fez cara feia quando percebeu que eu estava assistindo a um filme de terror daqueles cheios de sangue. — É algum tipo de homenagem a esse seu estado bizarro?

— Isso não é bizarro, mas mensalmente natural — disse enquanto tentava tomar o controle remoto das mãos dele, mas ele o jogou para Jeferson do outro lado da sala. — Ah não, por favor, não coloquem aqueles filmes ridículos de vocês que eu não estou com paciência.

— Você está em menor número, então a maioria manda. E a maioria não quer ver ninguém ser estripado na TV a essa hora. Aceita que dói menos! — Conchito, vitorioso, também sentou no sofá e eu fugi para a cozinha atrás de comida.

Eu fiquei lá por um bom tempo preparando sanduíches e um pouco de pipoca quando de repente comecei a escutar um coro de lamentos. Corri até a sala para verificar então o que estava acontecendo e fiquei muito assustada quando vi vovó, Jeferson e Conchito se debulhando em lágrimas, os três chorando mais do que bezerros desmamados. Os olhos de Sarah estavam tão inchados que ficaram horríveis e Conchito gemia tanto que era como se toda a tristeza do mundo tivesse se mudado para o seu coração.

— Meu Deus, o que foi que aconteceu? — eu gritei já com o coração na mão. — Alguém morreu?

— Sim!

— Quem? — Eu estava quase tendo um treco, imaginando um milhão de terríveis possibilidades. — Falem logo!

— Ai, Anna... — Jeferson apontou para a TV enquanto dava uma fungada profunda. — O Richard Gere. O Richard morreu e ainda assim ele o espera.

— Como é que é? — tentei entender, mas nada fazia sentido. — Como assim? De quem você está falando?

— O cachorrinho! — ele berrou em resposta. — Você acredita nisso? Como é que pode uma coisa dessas?

Então, analisando a situação, eu finalmente percebi que todo aquele circo era por causa de um filme que eles estavam assistindo e fiquei aliviada.

— Eu devia matar vocês pelo susto! — Reclamei. — Meu Deus, isso é coisa que se faça?

 — Insensível! — Conchito disse ríspido. — Como é que alguém consegue não chorar diante disso? Isso aqui é capaz de acabar com qualquer um! — Ele deu outra fungada, agora mais exagerada. — Não sei como você consegue ficar imune.

— Vamos ver se ela consegue? — vovó disse, enxugando as lágrimas. — Senta aqui! — Sentenciou.

— Isso não vai me comover — Proferi tranquila, certa de que era apenas mais uma bobagem.

No entanto, logo depois eu já estava com a cara igual a deles.

Quer dizer, não muito. Mas realmente era difícil não se comover, já que no maldito filme o cachorrinho esperava pelo seu dono (interpretado pelo ator Richard Gere) todos os dias na frente de uma estação de trem; e quando o homem morreu, o pobre animal, fiel, ainda esperou por eles todos os dias com aquela carinha de esperança, como se ele ainda pudesse voltar, por mais de dez anos, mesmo que muita gente quisesse tirar ele dali.

Enfim, era mesmo de cortar até os piores corações.

Ou era só a nova eu mesmo, sei lá.

— Nossa, o amor de um animalzinho é mesmo uma bênção — Vovó sorriu quando o filme acabou. — É uma dádiva divina, não é?

— É... — eu disse olhando para Funerária, a gata que Davi havia me dado de presente, e que agora dormia gordamente em cima da mesa de centro da sala sem ao menos se incomodar com o barulho. Imaginei o que ela faria se eu morresse, e quando ela me olhou com aqueles olhos de deboche eu obtive uma resposta.

Nada.

Na verdade ela sentiria muita falta até... do seu wiskas sachê.

Quando o chororô ocasionado pelo filme passou, minha avó e meus amigos foram tentar arrumar as caras inchadas e borradas, e assim eu fiquei sozinha pensando na vida e em todos os seus problemas. Meu coração estava inquieto, mas quando a luz do sol começou a ir embora e seu brilho se esvaiu pela janela aberta eu estranhamente me senti bem.

De algum modo a chegada da noite sempre tornava tudo melhor e mais tranquilo.

— Anna, não se esqueça de colocar o lixo na calçada para o caminhão levar! — vovó gritou lá de cima, quebrando meu devaneio, e eu sorri com o fato de que as coisas estavam começando a ficar normais de novo.

Tão normais que quando eu estava voltando para dentro de casa me deparei com uma figura conhecida me esperando no portão, usando um moletom folgado e me olhando daquele jeito todo envergonhado.

— Oi! — Davi disse. E embora eu tivesse bastante magoada pelo sumiço dele, aquela paz maluca que eu estava sentindo só me fez sentir uma imensa felicidade por vê-lo finalmente.

Parece que os incensos de Jeferson eram realmente poderosos em limpar auras ruins e negatividades.

Ou tinha sido aquilo que Andressa e André haviam me falado no dia anterior sobre ele estar sumido não por minha causa, mas porque realmente precisava ficar longe de tudo para pensar.

— Me desculpe. — Ele continuou ante o meu silêncio, se aproximando devagar. — Não consegui falar com você porque a minha casa estava uma verdadeira bagunça. E a minha vida também. E eu não respondi no celular porque não consigo encontrá-lo em lugar nenhum.  — Davi deu um sorriso de criança, respirou fundo e então continuou. — Bom, eu sei que eu poderia ter vindo até aqui antes, ou mesmo ido para a escola, mas realmente não deu, pois aconteceu uma verdadeira revolução na minha família. Anna, se você deixar eu te conto tudo, mas se você não quiser falar comigo eu também vou entender. Me desculpe mesmo. De coração. É muita coisa para lidar e você sabe que eu... entende? É que, sabe...

— Tá bom. Entra logo! — Cortei o fluxo incessante de palavras dele e ele ficou meio perplexo. — Anda, vem! — Eu sorri para que ele visse que eu não estava (tão) chateada e deixei que viesse atrás de mim.

Quando entramos na sala, Funerária ainda estava dormindo na mesa de centro, toda espalhada no maior estilo “morreu, mas passa bem”. Davi se aproximou e começou a coçar a cabeça dela, e a vendida banhuda ficou toda doce e ronronante, uma transformação notável em relação à megera que realmente era.

Falsa.

— Ela é fofa, né? — Davi falou e a gata deu um miadinho cínico.

Juro que deu!

— Muito. Um amorzinho — Respondi de má vontade, prometendo me lembrar de levá-la à igreja o mais rápido possível para o Padre Anísio poder benzê-la com muita água benta e bastante óleo ungido.

Davi brincou com a gata por mais uns minutos e esperei pacientemente. Eu sabia que ele estava adiando a conversa, por isso dei um tempo. Então, quando ele finalmente respirou fundo eu entendi que estava pronto. Comecei a subir as escadas e ele veio atrás, mas não disse absolutamente nada até chegarmos ao meu quarto. Quando entramos logo fechei a porta, mesmo assim levou alguns longos minutos até Davi conseguir falar alguma coisa.

— Anna, eu... eu precisava pensar, sabe? Mas não conseguia pensar em nada e aí ficava pensando nisso... — Ele passou a mão nos cabelos, nervoso. — Então foi tudo virando uma bola de neve e... sabe... eu...

— Relaxa. Ok. De boas. — Cortei a fala agoniada dele uma outra vez, mas agora tocando em seu rosto com ambas as minhas mãos. — Olha, Davi, se tem algo na vida que eu entendo é de problemas familiares e seus efeitos colaterais constantes. Não precisa mais se martirizar por isso. Então, a pergunta principal, a única que importa realmente aqui, é: nós estamos bem?

Diante do meu monólogo ele só ficou me olhando de um jeito desconfiado, piscando bem devagar e franzindo as sobrancelhas sem entender nadica de nada. Eu então lhe dei um beijo sutil, re-demonstrando que tudo estava bem, mas logo após o larguei, indo em direção à janela para contemplar a rua.

— Eu não estou entendendo nada... — Davi sussurrou.

— Ué, por quê?

— É que... sinceramente, eu achei que você iria me matar assim que eu aparecesse na sua frente depois de todo esse tempo de silêncio. Desculpe.

— Então... como eu disse, eu entendo bastante de problemas familiares e sei que às vezes a melhor solução é parar para pensar com calma, o que leva tempo. Não vou mentir e dizer que não estou fula com você, porque eu estou, mas... — Respirei fundo — Hoje eu estou espiritualizada, praticamente um ser transcendental. — Falei e Davi começou a sorrir, pois ele sabia que eu sempre fugia de momentos melosos falando bobagem.

— Você é incrível, sabia? — Ele confessou e eu abanei as mãos, fingindo que não me importava com isso. Davi então se aproximou e me abraçou bem forte, e logo todas as mágoas e sensações ruins foram embora na mesma hora como em um passe de mágica.

— Quer conversar? — Por fim perguntei, após desfazer o nosso abraço.

— Com certeza — Ele respondeu e começou a narrar todos os acontecimentos que ocorreram desde o momento em que saí da sua casa.

Enfim, apesar de todos os meus disparates, parece que alguma coisa boa saíra daquela confusão, pois de algum modo a bagunça que eu fiz serviu para que finalmente eles pudessem reordenar as coisas. Então, resumindo, o pai finalmente assinou o divórcio, a mãe saiu de casa, e apesar das tristezas isso tornou o ambiente muito mais leve. A novidade estava no fato de que a mãe pedira desculpas por tudo a Davi antes de ir embora (e isso me incluía), de um jeito acanhado e meio duro, mas ainda real (o que foi mais do que ele podia esperar), e então, após ela fazer as malas e os deixarem sozinhos, de algum modo inesperado Davi e o pai acabaram se descobrindo grandes parceiros.

Maria ainda mantinha o equilíbrio das coisas sendo doce e gentil com eles de uma forma ainda maior do que sempre fora. Davi me disse que pela primeira vez na vida estava experimentando uma despreocupação duradoura, mas que nem sabia direito o que fazer com isso. Tudo era um mundo novo e eu vi que ele procurava pela minha ajuda, afinal eu entendia bastante sobre reviravoltas.

— E é mais ou menos isso. — Quando ele terminou a primeira parte da sua narrativa já era noite alta e a luz amarela dos postes na minha janela era a única coisa que nos iluminava. Deitados na cama, olhando para o teto, eu me perguntava se existia alguém no mundo com uma vida sem nenhum problema.

— A sua mãe te mandou uma mensagem hoje perguntando se você estava bem? — Eu quebrei o silêncio, pedindo reafirmação da informação mesmo que ele tivesse acabado de me contar isso, pois nem eu conseguia acreditar em tantas mudanças repentinas. — Sério?

— Sério. — Ele respondeu com um olhar confuso.

— E o que você respondeu?

— Que ainda não estava bem, mas que ficaria. E que apreciava muito a preocupação dela comigo.

— Nossa... — Eu só suspirei, sem saber o que realmente falar. — Mas isso é uma coisa boa, não é?

— Não sei. — Ele ficou acanhado. — E, a propósito... — Pareceu hesitar antes de continuar, mas eu o deixei seguir o seu tempo. — É que... Sandra disse que apesar de não gostar nem um pouco de você, vai te tolerar somente pela minha felicidade, “pelo menos até enquanto essa brincadeira durar”. — Davi me olhou apreensivo, talvez com medo da minha reação por causa da frase na qual ele usou aspas com as mãos para bem ilustrar o desprezo da mãe. Mas, obviamente, eu sendo quem sou apenas cai na risada.

— Por mim tudo bem. E na próxima vez que falar com ela diga a ela para não se preocupar. “Essa brincadeira” não vai demorar muito mesmo, pois já estou pensando em te trocar por algum modelo 2.0 high definition. – Debochei e ele riu. Riu não, gargalhou daquele jeito que quem não conhece acha até que ele está passando mal. — Credo, Davi, eu juro que fico preocupada. Essa sua risada, cara, parece que você tá até com encosto. Na próxima semana vou te levar junto com a Funerária para o Padre Anísio fazer logo um exorcismo dois em um. — Continuei e isso só piorou a situação dos seus engasgos.

— Qual é, você não viveria sem mim, Anna. — Com muito esforço ele conseguiu articular a frase no meio de todos aqueles barulhos nasais. — Você me ama que eu sei.

— Olha, se eu fosse você eu não confiaria muito nisso não. Se o Caio Castro sem camisa bater naquela porta você fica sozinho num pulo. — Avisei, mas ele só me abraçou ainda mais forte.

No escuro, conversamos um pouco mais sobre tudo e ele me contou que estava animado com a maneira com a qual ele e o pai agora estavam se entendendo. Davi me agradeceu também por ter entrado em sua vida, pois sem a minha existência tudo o que ele conhecia ainda estaria estaticamente do mesmo jeito, e eu confirmei com isso que ele não batia bem do juízo.

— Querida, posso entrar? — Vovó perguntou do outro lado da porta após dar leves batidinhas. — Tem gente aqui que veio para te ver. — Ela entrou antes de qualquer confirmação minha e tratou logo de ligar o interruptor, e eu fechei os olhos com força para eles não doerem por causa da luz repentina.

— Poxa, vó, vou ficar cega desse jeito. — Reclamei e ela riu, mas logo depois parou subitamente quando verificou que Davi estava deitado do meu lado. Ela então fez aquela cara torta que as pessoas fazem quando querem zoar as outras e eu fiz a egípcia. Davi somente deu um aceno acanhado, com a vergonha a mil, mas com ele Sarah foi mais legal e fingiu toda a naturalidade do mundo.

— Então, Anna. — Vovó pigarreou com cara de travessa. — Tem gente aqui.

 — E quem é que poderia querer ver a minha cara a essa hora, já que o meu círculo social está confinado nesse espaço que é a minha humilde residência?

— Quer dizer que eu não faço parte do seu círculo social? Bom saber! — A voz reclamona que invadiu o meu quarto era de Andressa, mas apesar das queixas ela logo se jogou em cima de mim na cama. — Huuuuum, Daviiiiiiiiiii, é você por aquiiiiiiiiiiiii? — Ela debochou quando enfim viu que ele também estava lá. — Atrapalho?

— Sua doida! — Retribui o abraço de urso dela, mas logo a expulsei quando começou a me esmagar. — Como foi que você me achou? — Perguntei, mas quem respondeu a pergunta foi André, que sem cerimônia sentou junto com a gente na cama. Lógico que ele estaria acompanhando ela, os dois eram como um par de suricatos inseparáveis.

— O endereço tava na sua agenda escolar, besta. A Andressa sempre pega e anota o de todo mundo! Aí a gente veio ver como é que você tava. Ficamos preocupados depois de... — André parou, provavelmente não querendo falar sobre o meu fatídico chororô na escola por causa de Davi, não quando o motivo do chororô estava ali do meu lado.

— Mas pelo visto deram viagem perdida, pois como podem ver ela parece que está muito bem, não é, Anna? — Inacreditavelmente vovó ajudou, mas com piadinhas. Eu revirei os olhos para ela, mas óbvio que ela me ignorou.

— Olha, Sarah, nunca imaginei que você um dia ia permitir uma pouca vergonha dessas aqui em casa. — Em um minuto Conchito também estava lá e eu comecei a surtar com tanta gente ali dentro. — Vocês não leram a placa? Surubas são terminantemente proibidas!

— Tá bom, chega, fora, fora, fora, todo mundo fora! — Sai expulsando todos antes que aquilo ali virasse um cabaré e eles só riam da minha impaciência. — Que pesadelo, nem no meu próprio quarto eu tenho sossego. Juro que vou me mudar e ninguém nunca vai saber para onde fui! — Protestei. — Odeio vocês!

— A gente bem que podia pedir uma pizza, não é?! — Andressa, animadíssima, nem mesmo se abalou com minhas carrancas. A energia dela era tão contagiante que todo mundo aceitou, e de repente, quando me dei conta, realmente o meu círculo social estava todo ali, aqueles laços entrelaçados se apertando em um gostoso nó em volta de mim.

E entre pepperonis, brigas pelo último sachê de ketchup e discussões acaloradas sobre quem ia comer o derradeiro pedaço, a gente se divertiu, derramou refrigerante no chão e o auge da noite aconteceu quando Andressa sentou no sofá sem antes de se dar conta de que a Funerária estava lá, e com isso acabara ganhando uma bela mordida na bunda. As conversas mais sérias foram adiadas, pois só o que importava ali naquele momento era estarmos juntos. Então as horas foram passando, André e Andressa acabaram indo, vovó se recolheu com Alex (que chegara quando a bagunça já estava armada), e meus amigos foram se ajeitar porque era segunda, dia de descanso. Então ficamos apenas eu e Davi no portão, nos olhando, tentando prolongar aquele momento o máximo que conseguíssemos.

— A gente nem conseguiu acabar de conversar. — Lamentei, apesar de ter amado cada segundo da noite.

— Mas no final das contas foi bem legal. Eu não me sentia bem assim desde... desde que nasci. — Davi brincou, mas eu senti aquela pontadinha de dor.

— O nome disso é vida. Tem horas que dói, machuca, depois te afaga, passa a mão e aí te derruba quando você menos esperar. E novamente começa tudo de novo num ciclo sem fim até você se acostumar. E bom, você é brasileiro. Não há desgraça pouca que a gente não supere.

Meu namorado riu, me abraçou e depois me deu um daqueles beijos que ele só me dava quando não tinha ninguém por perto. Eu adorava o efeito que Davi tinha sobre mim, mas não sabia o que fazer com todas aquelas coisas que eu sentia sempre que ele me tocava. Era um misto de medo e desejo e tudo misturado de um jeito que deixava as minhas pernas bambas e quentes. Nossa relação estava ficando intensa e...

— Eu amo você. — Davi me pegou desprevenida quando sussurrou essas três perigosas palavras no meu ouvido e o meu coração bateu tão rápido e alto que imaginei que a vizinhança inteira poderia ouvir. Ele então me imprensou conta o muro, com uma mão segurando a minha nuca e a outra passeando pela minha cintura e coxa, e eu arfei quando ele passou o nariz no meu pescoço e deixou um beijo perto da minha orelha. — Você não precisa responder a mesma coisa, ok? Eu só disse isso porque queria que você soubesse o que eu realmente sinto. Anna, você virou o meu mundo de ponta cabeça e eu serei grato por isso pelo resto das nossas vidas.

Nossas vidas.

Eu olhei para ele sem saber o que dizer depois de ouvir tudo o que ouvi, pois não imaginava que era possível sentir tudo aquilo junto, e fiquei com um pouco de medo. Não éramos maduros o suficiente para o amor. Ou isso não tinha idade, hora e local para acontecer? Como se sabe quando é o momento certo?

— Você sabe o que eu sinto também, Davi. — Foi o que consegui falar quando recuperei o controle sobre mim e ele entendeu que eu devolvia as mesmas três palavras para ele, mas do jeito Anna de fazer as coisas. — Agora... se manda. — Ordenei e ele começou a gargalhar (dessa vez de um jeitinho mais “gracioso”). A melhor parte do que acontecia entre a gente era isso, o fato de que a gente se entendia até mesmo quando os diálogos eram curtos ou até mesmo ausentes.

 — Tchau. — Ele me deu um beijo de despedida que iria me fazer pensar em muitas coisas durante todo o restante da noite. — Vou sonhar com você.

— Eu também vou. — Fiquei refletindo enquanto o via ir embora.

Indubitavelmente, sem sombras de dúvida, eu com certeza também vou.


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Notas finais do capítulo

É isso. Nada de assuntos inacabados!



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