Tentação escrita por MePassaAManteiga


Capítulo 35
- Capítulo 35




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Hanna havia me deixado em casa pouco antes das onze horas da noite. Eu tive duas opções: Andar sozinha pelas ruas escuras com marginais a solta ou entrar no carro da Hanna e chegar em casa sã e salva. A segunda opção foi a escolhida.

A fechadura da porta de casa estava quebrada, Jess havia simulado um arrombamento para deixar claro que estávamos falando “a verdade”. Minhas mãos correram pela maçaneta do lado de dentro e eu forcei a porta para fechar. Kane estava no sofá da sala assistindo um documentário bizarro, era algo sobre possíveis monstros marítimos, idiotice total.

– Como ela está? – Perguntei indo em direção a ele. Minha bolsa caiu do seu lado.

– Ela parece bem, mas agora está descansando. – Ele ergueu sua cabeça para me encarar. – Lucia está bem?

– Sim. – Suspirei. – A filha mais velha apareceu para ficar com ela. – Eu peguei minha bolsa e andei em direção a escada.

– Se Jess é um demônio... – Kane começou. – Porque ele não parou os criminosos? – O seu olhar era sério.

– Eles estavam armados. – Eu era uma péssima mentirosa, mas estava tentando fazer o possível para Kane não desconfiar.

– Eu não acredito em você. – Ele mordeu seu lábio interior.

– Porque não? – Ergui a sobrancelha esperando uma resposta.

– Não tente esconder as coisas de mim, Mag. – Ele olhou para o lado e depois voltou a me encarar.

– Eu estou falando a verdade, mas parece que você não quer acreditar de jeito nenhum, a culpa não é minha. – Essa mentira havia saído fácil, e eu estava quase enlouquecendo, não queria ter esse hábito, seria horrível.

Deixei Kane para trás e subi as escadas, passei pela porta do meu quarto e continuei até parar no quarto da minha mãe. Ela estava em um sono profundo, meus olhos encheram de água quando passaram por ela. Não aguentaria se ela estivesse em uma situação pior ou até mesmo morta, seria insuportável. Minha mão deslizou em seu cabelo levemente e passou pelo seu braço. Levei a coberta até seus ombros e beijei sua testa, deixando a mesma molhada de lágrima.

Eu estava um caco antes de entrar no banho. Depois de limpa, eu vesti uma camisa e um short confortável, desliguei a luz e me deitei na cama, precisava dormir, estava cansada demais. Lutar com Philip não tinha sido fácil, ele era forte e habilidoso, eu teria que agradecer durante muito tempo por ter conseguido sobreviver a ele. Essa noite seria lembrada como uma das mais piores que eu havia tido. Antes de fechar meus olhos, meu celular tocou, estiquei minha mão para alcança-lo no criado mudo e arrastei meu dedo na cor verde da tela.

– A polícia está em casa. – A voz da Abgail entrou pelo meu ouvido. – Eles querem saber o que houve.

– Escute. – Eu falei, calma. – Você não pode contar a eles sobre os demônios, está me entendendo?

– Eu sei disso, não quero morrer tão cedo assim. – Sua voz era baixa. – Simulei um mal-estar para poder sair da vista deles e ligar pra você. – Abgail não estava nem um pouco feliz. – O que eu vou dizer?

– Não sei. – Sussurrei, desnecessariamente. – Diga que você não se lembra, diga que deixaram você na estrada e você conseguiu voltar pra casa.

– Isso é ridículo. – Ela rosnou.

– Ridículo? – Repeti. – Porque pediu a minha ajuda então?

– Qualquer desculpa vale, até mesmo a sua. – Ela me irritou. – Mas é ridículo o fato de eu estar nesse meio. – Ouvi uma voz no fundo, parecia chamar o nome dela. – Você tem sorte, eu poderia dizer toda a verdade se não tivesse que morrer depois.

– Não se esqueça que eu salvei você. – Falei impaciente.

– Não fez mais que a sua obrigação, aliás a culpa é sua e do seu namorado. – Abgail gritou um “Já vou” com a voz desgostosa, e voltou a falar comigo. – Mas que droga, eu preciso ir.

– Não fale nenhuma besteira.

– Sou uma ótima atriz, mas não prometo que eles caiam na minha lábia. – Ela desligou.

Se tudo desse certo, eles não iriam saber sobre os demônios. Os demônios estavam rondando pela terra, mas eles gostavam de privacidade, mesmo sendo eles o centro das atenções quando tem a ver com se expor nas ruas. Estranhos, rebeldes, maus, aproveitadores, errados e até atraentes, como o Jess por exemplo. Para os humanos isso se chamava “Adolescentes babacas que não tiveram bons pais” mas na verdade eram demônios habitando a terra afim de manipular-nos.

A janela do meu quarto estava fechada, os galhos da árvore batiam no vidro arrastando as folhas, o som me deixava desconfortável. Fechei meus olhos para tentar dormir pela segunda vez e foi então que alguém deitou na minha cama. Meu coração pulou.

– Não sabe o tanto de coisa que está passando pela minha cabeça agora. – A voz grave de Jess falou do meu lado. Meu corpo se livrou de todo o peso e eu me senti aliviada ao saber que era o Jess e não qualquer outro ser maligno, e ao mesmo tempo travei em pensar que ele estava na minha cama, comigo nela, nós dois... tentei não surtar.

– Você me assustou. – Eu me virei de barriga para cima e o observei de canto. Suas mãos estavam em sua barriga, elas subiam e desciam com a respiração.

– Não tive a intenção. – Senti seu sorriso.

– Não parece. – Meus olhos voltaram para o teto.

– Acredite, eu tenho outras intenções. – Sua voz era sexy e ao mesmo tempo assustadora. – Elas envolvem você, mas o objetivo não seria te assustar. – Ele sussurrou. Eu corei na hora mas estava escuro para ele perceber.

– Aonde você foi? – Eu perguntei, para cortar aquele clima quente.

– Procurar pistas.

– E achou alguma? – Virei meu rosto para encarar o dele.

– Philip não deu as caras. – Seu rosto encarou o meu. – Ele deve estar desorientado ainda, eu o tirei do corpo de Lucia a força, ele vai demorar um pouco para encontrar seu caminho de volta. – Um meio sorriso apareceu e logo foi cortado. – Mas ainda quero saber porque Philip a fez esquecer e como ele fez.

– Como? – Eu não havia entendido. – Isso é novidade?

– Na verdade não. – Ele se sentou e puxou seu corpo para trás, encostando-se na cabeceira da cama. – É possível, mas tem que ter muita concentração. Alguém como o Philip deixaria Lucia se lembrar, então ele teria um motivo para matá-la. – Seus braços estavam cruzados.

– Não sei se pra você é bom, mas eu fico feliz em saber que ele não quis deixar um motivo para voltar e matá-la. – Fiz o mesmo, me sentei do seu lado, nossos ombros se tocaram, e isso foi tudo para uma chama de calor se ascender em mim. Quase me estrangulei por me sentir daquele jeito em um assunto sério.

– Talvez não seja bom. – Ele me olhou, com seus olhos escuros.

– O importante é que Lucia está bem. – Falei.

– Sinto muito por hoje. – Ele murmurou. Sua mão se arrastou até chegar na minha, ele a segurou e ergueu em direção aos seus lábios, beijando-a suavemente. – Você foi bem. – Ele sorriu. – Mas precisa melhorar nos golpes.

– Não costumo bater nas pessoas, foi a primeira vez. – Me arrepiei ao sentir seus lábios em minha mão.

– E olhe no que deu. – Seus olhos brilharam. – Me surpreendeu.

– Eu mereço um prêmio por isso. – Falei entre um sorriso.

– Eu entendo de prêmios. – Ele murmurou, chegando mais perto. – Mas você pode escolher, o que você quer?

– Eu quero você. – Sussurrei. Sua respiração batia em meu rosto, não havia sequer distância entre nós, seu cheiro era tão bom e seu toque me tirava toda a força que eu poderia ter. Jess era único e eu nem conseguia me imaginar sem ele.

– Eu já sou seu. – Nossos lábios se encontraram e nada mais poderia me preocupar naquele momento.


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