Tentação escrita por MePassaAManteiga


Capítulo 33
- Capítulo 33




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Meu coração estava disparado. O silêncio tomou conta do meu quarto, ouvia apenas a respiração de Jess. Em nenhum momento do tempo em que ele tirou para me explicar sobre os demônios ele havia falado que eles poderiam possuir corpos. Nunca havia passado pela minha cabeça esse tipo de coisa, era inimaginável. Em sua explicação, ele me disse que os demônios que habitavam a terra estavam sobe posse dos corpos, não achava que eles poderiam possuir a qualquer hora, qualquer ser humano.

Apaguei a luz do meu quarto e desci as escadas vagarosamente, Jess já não estava dentro de casa, ele estava pondo o plano em prática. Mamãe estava sentada a mesa como antes e Lucia estava de costas, com sua frente para o fogão.

– Mamãe. – Chamei-a. – Preciso lhe mostrar um desenho que fiz. - Falei sem rodeios. A única desculpa que consegui arrumar para ela subir. Correr para fora de casa não seria uma boa ideia. O plano era Jess entrar pela porta e “Lucia” ficar encurralada.

– Podemos fazer isso depois. – Ela me olhou, enrolando macarrão em seu garfo.

– Por favor. – Eu não imploraria, seria óbvio demais.

Lucia mantinha-se de costas. Me passou pela cabeça do por que Lucia ou quem quer que estivesse habitando o seu corpo naquela hora, ainda não havia nos atacado.

– Tudo bem, eu vou. – Ela ergueu as mãos e se levantou da cadeira.

Eu estava com os olhos colados em Lucia, que não se movia. Mamãe a chamou e disse que voltaria logo, até tocou no assunto de acertar as contas por ter ficado comigo e com Kane, motivo que me fez lembrar do meu irmão e agradecer por ele não estar em casa correndo perigo.

Lucia simplesmente se virou e sua cabeça fez um movimento para cima e para baixo, como um “sim” ou “ok”. Mamãe deu as costas, e subiu metade da escada. Eu não conseguia me mover, Lucia estava me encarando, quando dei um pequeno passo em direção a escada vi os olhos de Lucia escurecerem, de Azuis eles passaram a cor preta e então toda a parte branca dos seus olhos estavam negras. Soltei uma respiração curta.

– Corre. – Gritei para minha mãe que se assustou e se virou com os olhos arregalados e as mãos coladas no corrimão da escada.

Lucia correu em minha direção, seu rosto passava uma expressão de ódio e era assustadora, toda a cena parecia um filme de terror. Normalmente, eu ficava encantada com filmes desse tipo e sempre tinha vontade de passar pela mesma coisa dos atores, mas naquela hora eu estava prestes a me jogar no chão, gritar e deixar aquilo me pegar de vez. Consegui correr três degraus antes de ser impedida. Lucia me segurou pela jaqueta e me jogou para trás, meu corpo bateu contra a parede do lado da porta, meu pavor aumentou. “É forte demais” pensei. Mamãe estava no alto das escadas vendo tudo, seus olhos estavam presos em Lucia, eram olhos confusos e assustados. Seus lábios se mexeram e li eles facilmente, um “Meu Deus” foi sussurrado por ela.

– Conseguiu escapar, devo ficar orgulhoso? – Uma voz grossa saiu da boca de Lucia. Não pude responder aquilo, eu estava em pânico. – Vamos ser bem claros aqui. – Ela gritou. – Se você entrar, ela morre. – Ela não estava blefando. Aquilo foi direcionado ao Jess, se Jess entrasse na casa, eu seria uma garota morta. – Vai morrer de qualquer jeito. – Lucia falou baixo, apenas para que eu pudesse ouvir.

– Magda. – Mamãe gritou do alto da escada.

– Ora. – Lucia virou para olhar minha mãe. – Havia me esquecido da senhora.

Mamãe estava tremendo, podia ver de longe. Eu poderia correr em direção a ela e tentar fugir, mas minhas costas estavam doloridas, a batida contra a parede foi tão forte que eu fiquei sem meus sentidos por uns 10 segundos.

– Deixe-a em paz. – Mamãe gritou.

Lucia correu as escadas e segurou mamãe pelo pescoço, em seguida a encostou na parede e jogou sua cabeça contra a mesma, fazendo-a desmaiar. Meus olhos vendo aquilo, começaram a encher de água. Lucia sorriu e pôs um pé no último degrau, ameaçando descer. Meus olhos correram para o faqueiro que estava em cima do balcão principal, se eu fosse rápida, conseguiria chegar até lá antes dela descer toda a escada.

– Está vendo. – Lucia começou. – Seu namorado não vai salvar você. – A voz dela mudou de tom, fazendo o som ficar menos grave e passando a uma voz conhecida. – Nós não fomos feitos para gostar de humanos, pobre menina. – Ela gargalhou ironicamente, ainda no último degrau da escada. – Ele se foi. – Finalmente, Philip entregou sua voz. – Ele simplesmente se foi. – Ela era mais dura e mais assombrosa.

Meus olhos estavam nele. Em um movimento rápido, ignorei minha dor e ergui meu corpo, correndo para a cozinha para pegar uma faca bem afiada que estava enfiada no faqueiro junto de ouras três. Minhas mãos seguraram a maior delas, quando me virei, Philip estava na minha frente em uma distância boa.

– Se der um passo, eu enfio isso em você. – Seus olhos observaram a faca acompanhado de um sorriso maléfico. Imaginei onde Lucia estaria naquele momento. Será que ela estava morta? Mas o corpo dela ainda continuava com Philip. – Não estou brincando. – Falei, tentando manter-me firme.

– Está me divertindo. – Ele continuava mostrando os dentes de Lucia nos lábios.

Minhas costas estavam encostadas no balcão, e Philip estava mais a frente. Não perdi mais tempo e corri em sua direção com a faca apontada para ele, mas logo pensei em Lucia, eu iria feri-la, não podia fazer aquilo.

Philip segurou meu punho fortemente e me jogou no chão, a faca escorregou da minha mão e correu o piso da sala.

– Péssima tentativa. – Ele falou, puxando meus pés e me arrastando de encontro com ele. Movi meu corpo tentando escapar, mas foi em vão. Philip me pegou pelos cabelos e me ergueu. – Mas que desperdício. – Ele falou olhando-me de baixo em cima. Minhas mãos estavam livres, ergui-as em direção aos olhos de Philip, que na verdade eram da Lucia, e apertei meus dedos contra eles. Philip gritou e me soltou, colocando as mãos nos mesmos.

Aproveitei a oportunidade para correr em direção a minha mãe, que estava jogada no chão, desacordada. Meus dedos pressionaram seu pulso e senti batidas aceleradas, ela ainda estava viva. Tentei ergue-la, mas senti as mãos de Lucia me puxando escada abaixo, meus braços bateram contra os degraus cobertos por carpete escuro, como o resto do meu corpo. Sons de dor saíram pela minha boca, sem poder me soltar eu deixei que ele continuasse, até parar lá embaixo. Sem forças eu me virei, ainda deitada nas escadas de frente para ele. Quando suas mãos soltaram meus tornozelos, eu consegui passar toda a força que restara pro meu pé direito que acertou um chute em sua barriga. O corpo de Lucia cambaleou e tropeçou em seus próprios pés, Philip caiu para trás, me dando tempo para me levantar.

– Desgraçada. – Philip xingou.

A porta abriu com força, e Jess surgiu segurando uma estaca enorme nas mãos, a ideia era certar Philip com aquilo. Seus olhos passaram por mim como câmera lenta. Pude ver tristeza, ódio, raiva, irritação e todo tipo de sentimento mal que poderia existir. Jess estava prestes a matar Philip e nada o impediria.

– Jess... – Sussurrei.

Philip o segurou pelas pernas e o puxou, fazendo seu quadril se chocar com o chão, a estaca de Jess rolou pala fora de suas mãos e bateu na parede. Jess chutou as mãos de Philip e o segurou pela blusa, erguendo o corpo que na verdade era de Lucia.

– Saia dela agora. – Jess falou para Philip, com uma voz que eu nunca havia ouvido.

– Mate-me. – Philip falou, e então sorriu zombeteiro. – Oh, vai ter pena de... Lucia? – Ele estava se divertindo.

– Saia dela agora. – Jess gritou, sua voz grave estremeceu minhas espinhas.

– Você é uma aberração. – Philip passou um olhar duro para Jess.

Então era isso, Philip queria que Jess mostrasse que ele ainda era um demônio do qual deveria ser, aquele ser maligno que não tinha pena, sequer remorso.

– Jess, não faça isso. – Sussurrei, mas foi audível o suficiente.

Pude ver os ombros de Jess erguerem e abaixarem várias vezes, ele estava se controlando. O plano de Philip era botar Jess contra mim, era fazer Jess se mostrar perigoso para mim e acabar logo com aquilo. Nos separar era o que Philip queria, mas nada garantiria o fato dele não voltar a me querer morta. Jess segurou o corpo de Lucia contra a parede e apertou seu pescoço.

– Você já era. – Jess baixou seu tom de voz.

Philip era forte, mas Jess parecia ser um pouco mais. A força de Jess fez o corpo de Lucia se contorcer e o pescoço dela começara a formar uma mancha vermelha. Os olhos de Lucia ainda continuavam negros e um sorriso estampava sua face.

– Ande desgraçado... – Jess sussurrava. – Não vai aguentar muito tempo. – Ele continuava a apertar mais ainda.

Alguns sons surgiram da boca de Lucia, uma tosse esmagada tentava sair dela, percebi que a voz estava mais fina. Lucia estava voltando.

– Jess. – Gritei, correndo em sua direção, com dificuldade. – Pare, vai matá-la.

– Ele precisa sair. – Jess forçou mais as mãos.

– Ele já não está mais. – Falei entrando em desespero. – Jess... pare. – Gritei.

– Está quase. – Jess fazia uma força inimaginável, era impossível alguém sobreviver aquilo. – Vamos... – Ele falou baixo, com força na voz. Os olhos de Lucia clarearam como antes, então Jess a soltou no chão.


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