O que Te Faz Desistir? escrita por Azraelie


Capítulo 1
Único




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O que seria capaz de te fazer querer morrer? Traição? Decepção? Medo? Qualquer outra coisa ou talvez todas essas? Algum dia, todos vão pensar em se matar, se já não pensaram.

 

Será que aquele moreno estava sentindo alguma coisa quando resolveu subir a mureta de segurança? Ele conseguia pensar em alguma outra coisa que não a morte? Sentia o calor do sol em sua pele ou a brisa que lhe acariciava? Será que via algo além dos carros que passavam sob a ponte? Talvez...

 

 

Os passos ecoavam no asfalto e se espalhavam pela rua deserta. As mãos mantinham-se escondidas nos bolsos do sobretudo branco, enquanto o pescoço se escondia na gola alta da camisa. Frio? Calor? Estava alheio a essas sensações. Cabisbaixo, encarava as faixas amarelas que passavam sob seus pés.

 

O que te deprime? Um sonho impossibilitado de se realizar ou a ausência de um? Rompimentos? Certas junções? Morte?

 

Morte... A morte deprime, a depressão mata.

 

 

Ergueu o rosto e fechou os olhos, sorrindo ao sentir o vento tocar-lhe. Os braços se ergueram na ânsia por um toque, por um carinho, por um abraço; em busca de algo não alcançado. Abriu os olhos novamente.

 

O barulho do trânsito o trouxe a realidade. Seu olhar voltou para a avenida a seus pés.

 

 

O som de um miado baixo alcançou seus ouvidos fazendo-o erguer o olhar. O gato, filhote, andava levemente desajeitado pela calçada; o pêlo negro brilhava intensamente sob a luz amarelada. Sentindo a presença de alguém, virou seus olhos alaranjados para o homem e este se aproximou calmamente, envolvendo-o em seus braços.

 

O gato miou outra vez, mas já não olhava para quem o segurava.

 

Acariciando o animal tranquilamente, o homem tornou a olhar para frente. Perdeu o controle de seus pensamentos ao encontrar os olhos do moreno.

 

 

O quanto pode ser dito em um olhar? Qual o valor desse contato? Os olhos são realmente o espelho a alma?

 

Aquele homem não saberia dizer, não conseguiria dar as respostas, se elas existissem de fato. Tudo o que soube foi que não havia mais nenhum desejo de pular; a razão para tal ato era supérflua agora. Com cuidado, desceu da mureta e tornou a encarar o homem de branco.

 

Os olhares pareciam grudados; cada um decidido a desvendar o que o outro trazia escondido. O silêncio era quase absoluto, quebrado apenas pelos fracos miados, e foi após um desses que o moreno falou.

 

- Você é lindo. - Seus olhos não se desviavam um milímetro que fosse. O outro não soube o que responder, não sabia se deveria responder.

 

- Como? - Não esperava que ele repetisse, não queria ouvir novamente.

 

- Seus olhos, seu cabelo, sua pele... Você é lindo.

 

O silêncio se instalou outra vez, mergulhando ambos em seus mares de idéias e pensamentos. Outro miado foi ouvido.

 

- Eu sempre quis um gato preto... Você vai cuidar dele?

 

Piscou algumas vezes para poder entender a pergunta. As palavras anteriores ainda ecoavam em sua mente.

 

- Vou. Mas se você o quiser eu...

 

- Não. Eu prefiro que ele fique com você, assim teremos sobre o que falar quando nos encontrarmos outra vez.

 

Sua mente estava vazia. Tudo o que sentia e, agora, ouvia era o som que sua respiração e seus batimentos cardíacos produziam.

 

- Kouyou. - Lembrou-se de se apresentar, mas as mãos continuaram segurando o felino.

 

- Eu prefiro te chamar de Uruha*.

 

Não pôde evitar corar levemente ao ouvi-lo. Esse apelido já lhe tinha sido atribuído antes, porém era sempre de uma forma jocosa, totalmente diferente do jeito que o moreno falou.

 

O moreno sorriu fraternal, como se soubesse o que passava em sua mente. Aproximou-se lentamente.

 

Qual o preço de uma amizade? Qual o seu valor? O que é necessário para que ela apareça? Onde ela pode aparecer?

 

A mão passeava lentamente pelos pêlos negros, ora eriçando-os, ora alisando-os. Kouyou logo sentiu o gatinho ronronar. Assimilava todos os gestos do moreno; o olhar carinhoso, o pequeno sorriso formado quando o gato fechou os olhos, a leve inclinação da cabeça. Pequenos detalhes, encantadores.

 

Seus olhares se encontraram uma última vez. A última até que voltassem a se ver. O moreno virou-se e iniciou uma lenta caminhada, de volta a realidade opressora.

 

- Até mais, Uruha.

 

- Até... - Aos poucos o moreno se afastava, deixando Kouyou a sós com seus pensamentos e seu novo amigo. A camiseta azul dançava ao ritmo do vento, hipnotizando-o por algum tempo. - ...Aoi*.

 

O que te faz desistir de uma idéia, de uma vontade? Quão importante é a sua vida? O que um estranho é capaz de alterar em você? Qual é o seu valor?

 

 


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Notas finais do capítulo

Notas:

*Para quem não sabe, Uruha significa beleza e Aoi pode ser interpretado como azul.

Momento comercial:

Para quem gosta de lemon: Jogo de Sedução.
Para quem gosta de algo mais misterioso: Amnésia.
Para quem gosta de drama: Histórias Tortas Por Linhas Retas.
Para quem gosta de algo mais leve: Romeu Não Ama Julieta.

Obrigada.

[30/01/2010]