Patronwood - Entre luz e trevas escrita por Violet Fairhy


Capítulo 9
Capítulo IX - Herdeira


Notas iniciais do capítulo

Olá meu queridos leitores! Perdoem-me mais uma vez pela demora, eu tenho ajeitado alguns papéis para começar a trabalhar - porque antes eu apenas estagiava e já era corrido -, então agora vai ficar mais corrido ainda. Porém, eu não vou abandonar a fic, pois ela é importante demais para mim, assim como vocês são!



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Peterson havia ido me buscar no Liceu. Eu só tinha conseguido assistir às duas últimas aulas e Derek fez questão de estar por perto, ajudando-me a evitar “aqueles” olhares e a me recuperar de tudo o que acontecera. Apesar dos tremores terem passado rapidamente, meu copro ainda estava abalado com aquela energia enorme que o percorrera, porém, evitei falar sobre o assunto pedindo a Derek que me desse um tempo para pensar e assimilar aquela quantidade de revelações e informações. Queria ter visto Theo e Millie, mas eles estavam em aulas diferentes das minhas e não consegui encontrá-los no fim do horário.

Passei pela porta da frente e me encaminhei à escada ignorando o fato de meus tios estarem sentados na enorme mesa aparentemente esperando-me para o almoço.

– Violet? - chamou Aaron.

Continuei a subir.

– Ei, Violet? - agora era a voz de Zara. Parei em um degrau, mas desisti e recomecei a subir. - O que houve, querida? - suspirei, incapaz de desmerecer o tom de voz amável de minha tia.

– Pergunte ao seu marido. - olhei para ela que se mostrou confusa.

Depois desviei o olhar para meu tio Aaron que estreitou os olhos para mim.

– Não queira me desafiar. - ele avisou, sombrio. - Está de castigo, vá para seu quarto.

Balancei a cabeça indignada e corri para meu quarto, bati a porta e me joguei na cama. A raiva estava à espreita. Respirei profundamente várias vezes buscando o controle. Eu não queria machucar ninguém, nem mesmo meu tio, talvez ele merecesse um choquezinho, mas era melhor eu não pensar dessa maneira, ainda mais porque eu ainda não sabia como aquele poder vinha ou ia embora.

Bateram na porta.

– Querida?

– Pode entrar, tia. - disse me sentando e me escorando na cabeceira da cama.

– Como você está? - ela abriu a porta e me olhou por um momento, pareceu espiar o meu humor. Logo se aproximou sentando-me perto de mim. Talvez eu parece uma criatura prestes a explodir mesmo.

Apenas dei de ombros para a pergunta. Zara estendeu o braço e tocou minha bochecha.

– Aaron está passando dos limites. - seu olhar era totalmente reprovador.

Por instinto, engatinhei pelo pouco espaço que nos separava e a envolvi em um abraço apertado. Minha tia não retribuiu na mesma hora, imaginei que devia ter ficado surpresa. Culpa minha. Contudo, não demorou muito para que seus braços estivessem à minha volta.

– Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui para protegê-la. Não vou mais deixá-lo machucar você. - ela disse em tom suave.

– Não é apenas isso tia. É tudo! - inclinei o rosto para olhar para ela. - Aconteceu muita coisa hoje.

– Conte-me então e poderei ajudá-la.

Deixei meu corpo tombar na cama e mirei o teto, eu deveria contar? Por onde começaria? Bem, o começo era uma boa opção, afinal de contas.

Relatei tudo para minha tia e ao citar o nome de Derek Santinelle, uma exclamação fugiu de seus lábios.

Maravilha, toda aquela história parecia ser mesmo real. Mal sinal. Quando terminei, ela me olhava pensativa.

– Eu estou impressionada de um modo bom por você ter provado um pouco de seu poder, mas preocupada também. É perigoso se não houver controle, Violet. E quanto ao Santinelle… - ela parou de falar por um instante, fiquei atenta, esperando pelo restante. - Não.

– Não? Não o que? - sentei-me imediantamente.

Zara começou a andar de um lado para o outro.

– A história não pode se repetir, a profecia não pode se cumprir… Eu não quero perder você. - ela disse rapidamente. - Você não deve ficar perto desse garoto e nem da família dele.

– Que? - entrelacei os dedos em meus cabelos, perplexa - Não tia, você entendeu tudo errado! O Derek não me faz mal, ele…

– Não lhe faz mal agora, mas as consequências podem ser trágicas se os dois continuarem um no caminho do outro. - ela me cortou.

– Tia, por favor… Eu pensei que poderia me ajudar. Eu contei tudo porque confio na senhora! Por favor, fique ao meu lado - lancei-lhe um olhar de súplica.

Zara pareceu ver o quanto aquilo era importante para mim, pois seu olhar se suavizou e ela se aproximou novamente, porém a preocupação ainda dominava seu semblante.

– Você gosta dele? - perguntou apenas.

– Ainda estamos nos conhecendo… - fui sincera - Mas sinto que há uma ligação muito forte entre nós. E se o que ouvi é verdade, deveríamos nos odiar, contudo, é completamente o oposto.

– A história não mente, querida.

– Mas e se ela estiver mudando, tia? Tudo bem, supondo que é tudo verdade, os fatos poderiam se tranformar oa longo do tempo. - argumentei.

– Sua vida pode correr riscos, não devemos nos agarrar a hipóteses. - ela parecia ter uma resposta para cada coisa que eu dissesse.

Eu não sabia mais o que falar. Baixei a cabeça, me dando por vencida, talvez.

– Você tem ideia da confusão em que acabamos de entrar? - sua voz soou carregada de ânimo.

Olhei para minha tia de olhos arregalados.

– Jura? - a abracei de novo, minha felicidade vindo à tona. - Obrigada por ficar do meu lado, tia!

– Ei, ei, ei. - ela chamou com um sorriso na voz. - Eu não estou dizendo sim para tudo, mas vou estar ao seu lado, sempre. Apenas confie em mim. Ainda assim, caso eu sinta que está em perigo vou interferir, esta bem? Se acontecer alguma coisa de ruim com você eu não serei capaz de me perdoar. - agora a apreensão voltava ao seu tom.

– Não vai acontecer. - disse aquilo com convicção para convencer não somente a ela, mas a mim também.

***

No dia seguinte, fui para o Liceu novamente, mas dessa vez, Peterson quem me levou.

O inferno que eu iria com meu tio depois do que aconteceu!

Eu me odiava por ainda ter medo dele, mas isso era um fato, a garotinha medrosa de treze anos jogada em uma Casa Auxilium ainda pesava dentro de mim.

Os alunos até então cochichavam quando me viam passar, eu tentava ignorar mas não era tão fácil. Não sabia até quando aguentaria aqueles murmúrios ridículos. Eu não havia feito nada contra eles para me tratarem daquela maneira tão hostil. Olhares taciturnos, caretas e ás vezes ofensas em alto e bom tom se direcionavam a mim. Era deprimente.

No intervalo encontrei Theo e Millie. Sorri ao finalmente ver rostos amigos. A menina me deu um abraço apertado.

– Que saudade, Violet! Você está bem? O que aconteceu? Eu soube…

– Deixe que ela pelo menos respire, Millie. - Theo riu e veio ele mesmo me abraçar, se demorando tempo demais com os braços á minha volta, devo acrescentar. Naquele dia estava mais frio do que o comum e ambos estávamos de braços e pernas cobertos, não senti seu contato direito, então seu toque não me incomodou.

Achando graça o empurrei de leve para que me soltasse.

– Deixe que ela respire, hein? - ri brevemente - Hipócrita.

– A vida me ensinou a aproveitar todas as chances. - ele piscou para mim. - E então, parece que as coisas andaram meio loucas para você, como esta?

– Foi o que você ouviu? - perguntei erguendo uma sobrancelha.

– Eufemismo básico. - interveio Millie.

– Eu estou bem, na medida do possível, literalmente.

– O que isso quer dizer de verdade?- Theo olhou em meus olhos, pareceu buscar por uma explicação clara.

Nos encaminhamos para o refeitório e fomos ao encontro de Derek que esperava na mesma mesa onde costumávamos nos sentar. Vê-lo finalmente deixava meu dia mais interessante. Seu olhar me prendeu até que eu estivesse bem à sua frente, ele me cumprimentou normalmente, o que me deixou um pouco chateada, tudo bem que a gente ainda não tinha nada oficial, mas tínhamos algo, certo?

– Violet? - Theo chamou assim que nos sentamos.

– Ah sim, desculpe. - desviei os olhos de Derek. - Eu disse aquilo porque em relação a tudo o que é possível, eu estou bem, mas em relação ao que é impossível, ou pelo menos era, eu estou confusa e um pouco assustada. - muito assustada.

O fato de alguém conseguir sentir o poder de um raio percorrer seu corpo e jogar uma pessoa longe sem nem ao menos usar as mãos, não era lá o que podemos chamar de normal. Isso estava me atormentado. Era como se sentir o que senti estivesse destruindo cada pedra da muralha que eu havia construído para me manter longe de todo o conto de Patron. Conto que se tornava cada vez mais real, eu tinha que reconhecer.

Droga.

– Não se preocupe, nós a ajudaremos a passar por tudo isso. - ele colocou uma mecha de cabelo solta atrás da minha orelha.

Senti-me um pouco desconfortável com aquele gesto que parecia tão íntimo e pelo canto dos olhos vi as narinas de Derek inflarem.

– Poderia parar de tentar a cada segundo que pode colocar as mãos nela. - ele comentou fuzilando Theo com o olhar.

– Como é que é? - Theo se virou para ele estreitando os olhos. - Porque não cuida da sua vida?

– É exatamente esse o meu intuito, meu caro. - Derek sibilou entre dentes - E acho que você deve tomar cuidado com o modo como fala comigo ou vou quebrar a sua cara!

– Derek! - intervi. - Para de dizer essas coisas! E vocês dois, parem com essa briga ilógica!

– É o que deve se esperar de um transponível às trevas que em breve se tornará um dominante! - ralhou Theo com um sorriso mordaz nos lábios.

– Cale a boca, St’Soldat! - Derek agora assumira um olhar raivoso.

– Parem! - Segurei o braço de Derek e tentei puxá-lo para longe.

– Arranjar brigas, Theo? Sério isso? Papai vai lhe matar! - Millie fazia o mesmo com o irmão. - Nós não fazemos esse tipo de coisa. - completou ela olhando para mim e fazendo um gesto para que eu entendesse que falaríamos mais tarde.

– Acalme-se. O que há com você, Derek? - olhei diretamente nos olhos verdes dele, buscando o olhar instigante, atraente, doce e perigoso ao qual eu estava costumada. Aos poucos, a raiva pareceu sumir.

– Desculpe… Eu não consegui me controlar. Eu… - ele ficou sem palavras pela primeira vez desde que o conheci, acariciou meu rosto de leve e então saiu do refeitório pisando forte.

***

No dia seguinte, Derek não foi ao Liceu, achei muito estranho levando em conta seu ultimo comportamento, mas eu não sabia como contatá-lo, então a não ser que ele viesse me fazer uma visita secreta, eu não o veria até a segunda-feira.

Conversei apenas cm Millie, pois segundo ela, o irmão estava em casa. Theo recebera um espécie de castigo do pai por conta da discussão com Dereck.

Isso me fez pensar que Dereck também poderia estar sendo castigado, além de mim é claro, mas por motivos diferentes. Era uma situação cômica, para não dizer trágica.

Millie explicou-me sobre termos que ouvi saírem da boca de Theo. Ela disse que quando alguém é transponível à um lado, significa que está inclinado àquela escolha, à luz ou às trevas, no entanto, se alguém é dominante, significa que já escolheu que rumo a seguir na batalha fria existente em Patronwood.

Preocupou-me o fato de Theo expor que Dereck era simpático às trevas e pior, que logo as escolheria por definitivo. Como ele pode? Dereck não é uma pessoa ruim, eu não enxergo escuridão em seus olhos. Ele pode ser esquentado, mas vil, não, não pode ser. Não quando ele consegue me acalmar como ninguém faz, não quando tinha o objetivo de contar-me a verdade quando todos preferiram escondê-la de mim.

Pensando bem... Não. Não pode ser. Eu me recuso acreditar nisso.

Zara havia me dito que quando não se sabe de algo, aquilo não existe para nós, mas no momento que descobrimos, passa a existir. O que aconteceu na clareia, aquela explosão de energia que eu causei, teria ocorrido se eu não soubesse? É exatamente isso que Dereck planeja? Que eu use meus poderes sem ter o controle? Não quero desconfiar dele… Eu… Eu gosto dele. Não pode ser isso.

Muitas perguntas sem respostas. Estou de volta ao início do labirinto.

– Ai ai. - suspirei. Aquele era o meu “bem-vinda” à manhã anuviada de sábado assim que consegui parar de pensar e abri os olhos, voltando à realidade. Se continuasse com o martírio das dúvidas, eu iria enlouquecer, literalmente.

– Bom dia, dorminhoca! - minha tia disse assim que deu duas batidinhas rápidas na porta e entrou no quarto - Eu tenho algo a lhe mostrar, mas creio que pelo menos em parte já não é segredo. - seu sorriso era o de quem descobre uma arte que alguma criança aprontara.

– Han? - franzi o senho, confusa.

– Depois do café lhe conto. Você vai se interessar! - ela piscou para mim.

Ri intrigada, corri para o banheiro e tomei um banho rápido, me vesti com um moletom que havia trago, uma calça quente de pijama e meias.

– Eu não entendo essas roupas que você trouxe, é como se estivesse voltando para a cama. - ela tombou a cabeça de lado vindo se colocar atrás de mim e pegando delicadamente a escova de minha mão para pentear-me o cabelo.

– É esse o estilo dos jovens antissociais das colônias que preferiam passar o dia livre em casa lendo ou assistindo bobeiras no Salão Comum ao invés de sair para dar um passeio. - expliquei - Aliás, hábitos muito antigos pelo que eu já li, ano 2012 ou 2014 se não me engano.

– Então não pretende sair hoje? - ela escovava minhas longas mechas.

– Com esse tempo e esse frio? - fiz uma careta - Nem na porta. Além do mais, estou de castigo, lembra? - bufei.

– Admira-me você concordar assim.

– Eu não concordo plenamente, mas fui deseducada com tio Aaron. - baixei os olhos - Se papai me visse falando daquele jeito, não iria gostar, mesmo sabendo que minha intenção era defendê-lo.

Minha tia me olhou por um momento através do espelho da penteadeira e eu não deixei de notar a semelhança entre nós. Ambas tínhamos o cabelo loiro e cumprido, pele pálida, além de olhos claros, embora os dela fossem de um azul do céu limpo e claro e os meus, de águas tempestuosas do oceanos, quase violetas, acho que serviram de inspiração para meus pais escolherem um nome, aliás.

– Você é uma boa menina. - ela disse apenas e sorriu.

Descemos para o café. Aaron não estava presente, havia ido ao centro de Patronwood resolver alguns assuntos, segundo Zara, melhor assim, eu não queria vê-lo. Comi torradas deliciosas e tomei um copo de leite quente, era o suficiente, embora houvesse fartura sobre a mesa: três sabores de bolo, diversas frutas, pães, geleias e queijos. Não pude deixar de pensar em meus colegas da Casa Auxilium vivendo com tudo contado e regrado, um dia se eu pudesse, ajudaria-os. No fim das contas, mesmo com toda a maluquice deste lugar, eu havia tido sorte por estar aqui hoje e sou agradecida por isso, principalmente, por ter tia Zara.

Como prometido, depois do café da manhã, minha tia me levou ao seu quarto para me mostrar o que queria. Lembrei-me da última vez em que estivera lá, fuçando nas coisas por causa da minha curiosidade.

– Você já esteve aqui antes, não? - ele perguntou como quem conseguia ler meus pensamentos.

– Hmmmm, então… - comecei a me explicar.

– Não há problema. - Zara deu uma risada. - Venha.

Ela abriu a porta escondida que se mesclava com a parede e vi uma grande sala, havia muitas prateleiras nela, um armário em mogno, uma mesa no centro e um sofá do lado.

– Aqui eu preparo algumas poções. - minha tia dizia naturalmente. - Em sua maioria são mais como espécies de chás, gosto de usar ingredientes raros que encontro na floresta e um pouco de, digamos, encanto. - ela sorriu.

Franzi a testa sem acreditar no que ela falou por último.

Os chás que ela fazia para mim deveriam vir dali, talvez tivessem algum encanto para acabar com dores de cabeça sim, dipirona. Pensei, irônica.

Chás, Ingredientes raros... Okay! Poção, encanto… Ops!

– Eu não posso crer que você tenha esse nível de ceticismo, Violet. Já viu tanta coisa, querida. - ela tocou meu ombro convidando-me a entrar em seu… Como chamar isso?

– Olha, é difícil de assimilar tudo isso, está bem? - me aproximei das prateleiras e examinei os potes de vidro em diversos formatos e tamanhos, alguns contendo líquidos de cores variadas, outros com folhas, cascos de arvores, flores, outros com pedras e alguns que eu nem me arriscaria a dizer do que se tratava. Em algum deles poderia muito bem ter aquela gosma horrorosa de Nelpudo.

– Tia, você é bruxa? - a pergunta saiu de minha boca antes que eu pudesse detê-la. Olhei para ela de olhos arregalados e mordi o lábio. - Desculpe, eu…

– Tudo bem. - ela riu novamente pegando dois frascos de uma das prateleiras, depois abriu o armário e tirou de lá de dentro um vaso de barro com terra. - Eu sou uma patrona ou uma patron, se você preferir querida, não uma bruxa. Aliás, bruxa é muito antiquado. - ela balançou a cabeça. - Observe.

Aproximei-me cautelosa. Tia Zara colocou o objeto sobre a mesa e adicionou o conteúdo transparente de um dos potes nele.

– O que é isso? - ergui a sobrancelha.

– Água, ora. - ela riu.

– A senhora está com muita graça hoje, tia. - revirei os olhos com humor.

Logo depois ela jogou o segundo líquido, que era lilás, dentro do vaso.

– E isso? Não vai me dizer que é suco de uva super descolorado.

– Não, não, essa é a essência do que eu quero. Porém, o maior truque está aqui. - ela disse levantando uma mão, em seguida, fez um gesto sobre o vaso, como se estivesse liberando algo que não podia ser visto.

Afastei-me num rompante para o que veio em seguida. Algo começou a brotar na terra numa velocidade incrível e logo estavam lá, violetas lindas em cor vibrante.

– Como…? - retornei ao meu lugar não conseguindo me impedir de tocar para ter certeza de que eram reais.

– Poder. - ela disse com um ar presunçoso, aquilo era diferente de tudo o que eu já havia visto nela, o que me levou a dizer:

– Não precisava dessas coisas, não é mesmo? - apontei para os frascos.

– Não. - ela sorriu. - Eu poderia fazer essa flor nascer sem a necessidade de usar água ou essência e seria extremamente simples. Porém, mais poder teria que ser liberado, não faria nenhuma diferença para mim, mas sou contra o uso fútil se posso me valer do que a natureza dispõe. - ela olhava a flor com intensidade. - Há muito o que se pode fazer sem precisar de nenhum ingrediente, por outro lado, também há poções demasiado poderosas que precisam dos itens necessários, as quais, apenas dois patronos conseguem realizá-las sem eles... - ela deixou a frase no ar. - Aqui nessa sala, Violet, eu tenho praticamente todas as espécies de ingredientes raros existem dentro de Patronwood e fora dela, mas preciso de algo seu. - as violetas regrediram voltando para dentro da terra e que ficou seca de novo, como se nada tivesse acontecido.

– O que? - engoli a seco.

Ela pegou algo dentro de uma gaveta do armário.

– Uma mecha de cabelo. - Zara veio até mim e muito suavemente pegou uma mecha do meio do meu cabelo e cortou alguns centímetros. - Isso. - ela parecia ter uma caixinha de cristal especial para o momento pois colocou a mecha lá dentro e a guardou no alto do armário.

– Pra que precisa disso, tia? - a olhei de esguelha.

– Não quero que se assuste, querida. É para o seu bem, caso precise encontrá-la algum dia.

– Encontrar-me? - eu estava confusa.

Ela apenas assentiu com a cabeça e sorriu, porém, seu olhar não transmitia o mesmo sorriso.

– Bem. Quer aprender alguma coisa? - ela gesticulou para as prateleiras, onde só agora eu percebi haviam livros antigos e grossos.

– Eu? - balancei a cabeça dizendo que não.

– Tudo bem, então, hoje não.

Saímos da sala e fiquei observando enquanto minha tia passou a mão sobre a fechadura e ouvi m clique. Aquilo estava realmente acontecendo?

– Tia, isso é… Loucura. - entrelacei os dedos sobre o cabelo.

– Do que mais precisa para acreditar? - ela me olhava claramente sem conseguir me entender.

– É estranho. Como isso pode existir? Como alguém pode ter… poderes? - me sentei na cama de casal sentindo-me cansada.

– É assim que nós somos, foi assim que nascemos, Violet. Você precisa aceitar quem você é. - sua voz era calma e condescendente.

– Eu quero ser normal. Só isso. - abracei a mim mesma.

– Mas você é, querida. Aqui, junto com sua família, seu povo. Quem disse que sem poderes é normal? Para nós, isso é que se torna uma quimera. Vamos, tente, olhe para aquela garrafa. - minha tia apontou para uma das garrafas de vinho na pequena adega dela e do meu tio, do outro lado do quarto. - Quebre-a.

– Que? - olhei para ela.

– Olhe para ela, concentre-se, imagine-a se estilhaçando. Libere seu poder. - ela veio se sentar ao meu lado.

Olhei para a garrafa. Como aquilo seria possível? Eu havia feito algo em Serein, algo ruim, que fez com que Dereck fosse parar do outro lado da clareira, mas lá não consegui ter controle de absolutamente nada. Foi como se acontecesse por espontânea vontade… O poder.

Seria possível mesmo existir em mim? Seria possível ter controle? Se eu obtivesse o comando, não machucaria ninguém! Isso era promissor!

Meus olhos não deixaram a garrafa e eu percebi que queria que ela se quebrasse, queria ter o controle sobre o que quer que existisse dentro de mim. Um arrepio conhecido percorreu meu corpo quando a garrafa começou a balançar fazendo um barulho rápido sobre o móvel de madeira, após, não era apenas ela, mas todas as garrafas estavam balançando e vibrando.

– Apenas uma, Violet. - Tia Zara advertiu.

Mas aquilo continuou. Parecia que aquele lugar, onde as garrafas estavam, estava sofrendo uma espécie de terremoto, o barulho ficou mais alto. Eu fazia aquilo!

– Concentre-se! - minha tia falou, agora sua voz parecia perturbada, contudo, eu já não me importava se ela estava lá, só queria que a garrafa se quebrasse, queria conseguir! Uma sede estranha de vitória pairava sobre mim.

Ouvi o grito de tia Zara quando uma delas voou em nossa direção e se chocou com violência contra a parede.

– Violet!

Vamos, se quebre, é você que eu quero estilhaçada, vamos!

Outra garrafa saiu do lugar atingindo o teto.

– Violet, pare!

Quebre, sua maldita! Você! Quebre! Agora!

Mais barulho de vidro quebrado.

– Violet! - respirei fundo e arregalei os olhos para Zara que estava à minha frente segurando-me pelos ombros. - Pare.

Todo e qualquer som cessou naquele instante.

Minha mente clareou de repente e pude perceber o que eu fizera.

Levantei da cama e sai correndo daquele quarto em direção ao meu, onde me tranquei pelo resto do dia e no domingo seguinte.

Minha vida.

Minha bolha.

***

– Querida, o que aconteceu ontem… - minha tia começou, assim que entrou em meu quarto.

A noite havia sido horrível, com pesadelos pavorosos, no estilo Violet se transforma em um monstro.

– Desculpe. Só não me faça fazer aquilo de novo. - disse firme, enquanto terminava de fazer uma trança no cabelo. Dali a uma hora eu deveria estar no Liceu.

– Sou eu quem lhe devo desculpas. Eu só queria que você acreditasse em si mesma. - ela explicou olhando-me através do espelho.

– A que custo? E se a senhora tivesse se machucado? Como seria? Não pensou em como eu poderia me sentir? - as perguntas soaram mais como acusações do que eu estava disposta a fazê-las soar. - Quer o meu poder também, como tio Aaron? Pode pegar pra você! Só não me use, não faça eu me transformar em um monstro! - as lágrimas chegaram aos meus olhos. Levantei-me e caminhei até janela.

– Não Violet! Em nenhum momento eu quis isso, por favor, acredite em mim! Nunca seria capaz de usá-la, nunca. - sua voz tinha um tom de súplica e senti sua mão pegar meu braço, virei-me para ela. - Você não é um monstro, querida.

– Quando aquilo ascende dentro de mim, é nisso que me transformo. - baixei a cabeça sentindo uma lágrima escorrer.

– É apenas uma fase. - ela ergueu meu queixo limpando meu rosto.

– Aconteceu isso com a senhora? - perguntei sentindo um resquício de esperança, afinal, hoje ela possui o total controle sobre seu poder, ao menos é o que parece.

– Você é diferente. - ela fez uma pausa procurando as palavras - Não ocorre da mesma maneira.

– Claro que não, conseguiu dominar desde cedo, não é tia? - eu não podia acreditar que as evidências sobre o que aconteceria comigo só aumentavam.

Eu seria pior que as trevas e esse era um futuro medonho.

– Bem, sim, mas você precisa compreender…

– Que eu sou transponível às trevas? - minha voz subiu algumas oitavas.

– Não! Não repita isso! Quem falou isso para você? - seu rosto assumira uma expressão dura. - Não importa, você não é! Você vai conseguir controlar, eu garanto. - ela abaixou-se um pouco para que seus olhos ficassem ao mesmo nível que os meus. - Confie em mim.

– Eu disse que confio. - afirmei e Zara sorriu, olhando-me com ternura. - Eu não confio em mim. E o que quer que esteja dentro aqui dentro é mais forte do que eu. - tentei explicar calmamente apesar de ver a tristeza que passava a tomar o rosto de minha tia - Esse tal poder, torna-me o que não sou! O que não quero ser! Por isso, não vai sair, não vou usá-lo, porque nunca poderei controlá-lo.

Peguei minha mochila e sai do quarto. Fui direto para o carro, pedi para Peterson se apressar e então nos encaminhamos para o Liceu.

***

Aquele dia não começou bem e eu tinha um agouro de que também não iria terminar. Dereck não apareceu novamente, nem Theo e nem Millie tinham aula comigo. Aliás, vale ressaltar que não consegui prestar a mínima atenção naquelas aulas, mas pelo pouco que ouvi, a professora, Miss Blench, estava contando algo sobre os Amérliord, ao ouvir esse sobrenome, senti que a turma olhava para mim, mas continuei a encarar o livro. A única parte que assimilei e que me interessou foi quando ela narrou sobre os poderes do povo Patron o que fez-me esperar os alunos saírem para conversar com Blench.

– Com licença, professora. - chamei ao me aproximar de sua mesa.

– Violet, que surpresa. - ela disse antes mesmo de erguer os olhos de suas anotações. Quando se levantou, sorriu calorosamente para mim. Poucos professores assumiam esse atitude, geralmente, possuíam expressões antipáticas para comigo.

– Preciso fazer-lhe uma pergunta. - mordi o lábio.

– Claro, fique a vontade, ficarei feliz se puder ajudá-la.

– A senhora falou sobre os poderes do seu povo. - pigarreei. - Do nosso povo. - custava-me admitir aquilo. - O tipo de poder que cada pessoa tem é que escolhe que posição essa pessoa irá assumir?

– Bem, eu não sei se entendi muito bem, é uma pergunta um tanto vaga, mas vamos ver. Como você já sabe, a árvore, os galhos, ramificações e folhas são a representação da quantidade de poder do patrono, porém, esse poder não surge já predestinado à luz ou às trevas. É sobre isso que deseja saber? - ela ergueu uma sobrancelha precisando de uma confirmação para continuar. Assenti coma cabeça. - Então, não é o seu poder que diz quem você é, é exatamente o contrário, ele se desenvolve dependendo de quais são os instintos do indivíduo.

De todas as respostas que ela poderia me dar, essa era a que eu mais temia. Se o que havia dentro de mim era ruim, se eu tinha grande chance de ser pior do que Malaver, então eu era uma pessoa perversa, cruel… Eu estava destinada a ser má e estava guardado dentro de mim.

Senti um buraco profundo em meu estômago e o início de uma ânsia que procurei disfarçar.

Miss Blench de qualquer maneira percebeu algo, pois continuou:

– Pelo que conheço de você Violet, não vai acontecer como está pensando.

– Como sabe em que estou pensando? - perguntei nervosa. - É o seu poder?

– Não. Consigo ver o medo em seus olhos. Preste atenção, quando alguém tem muito poder e ainda não sabe o suficiente sobre como tomar as rédeas, sobre como fazê-lo aparecer ou sobre como detê-lo, é difícil controlá-lo, mas isso não significa que irá ser levada às trevas ou esteja condenada à elas. Pode se tornar um problema sim, caso você nunca esteja no comando, contudo, eu acredito que conseguirá administrá-lo. Você é forte e capaz e no seu caso, há um porém. - ela sorriu. - A família também pode influenciar bastante, sua identidade foi formada muito antes de tudo o que a rodeia agora e o que há aqui dentro - ela colocou a mão sobre meu coração. - é o mais forte dos poderes. Seu coração é bom, Violet. É exatamente isso que deverá predominar.

– Obrigada, Miss Blench. - suas palavras deixaram-me mais aliviada, embora o medo da perda de controlo ainda me colocar em estado de aflição.

Despedi-me da professora e caminhei em direção ao banheiro, o primeiro estava cheio e no Liceu, era bom eu evitar lugares cheios, olhares raivosos e palavras ofensivas. Philip era prova disso. Quando ele me atacou no meu primeiro dia, deixou claro com seu comportamento que não exitaria em fazer novamente. Resolvi que usaria o banheiro mais afastado, minha mente dizendo estranhamente para onde eu deveria ir e como imaginei, o lugar estava vazio.

Girei a maçaneta, mas antes de atravessar a porta ouvi pingos no chão. A torneira... Pensei.

Entrei e tremi ao girar na ponta dos pés em meio àquele barulho contínuo. Fiquei inerte.

O corpo de uma aluna se encontrava completamente ensanguentado na grande pia, seus membros foram decepados e o pescoço quase – o sangue pingava no chão - e os enormes olhos pretos da menina estavam arregalados. Eu não a conhecia mas tive a impressão de tê-la visto pelos corredores.

Um nó tomou minha garganta, não conseguia me mexer, o ambiente estava excessivamente frio.

Ergui meu olhar e notei que no espelho havia algo escrito com o que só poderia ser o sangue da garota:

“Heries sygnat adventum adventum nova. Joien us. Aut yungere ad eam.” Uma seta apontava para baixo, para o corpo.

Por alguma razão inexplicável, consegui entender cada palavra e elas diziam: "A chegada da herdeira marca o advento de uma nova era. Junte-se a nós. Ou junte-se à ela."

Como alguém poderia cometer tamanha crueldade? Meus olhos arderam e minha ânsia voltou, eu não podia nem ao menos gritar por conta do pavor que estava sentido. Apertei meu estômago.

– Precisamos sair! – eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

– Dereck! - minha própria voz saiu falhada. Estiquei os braços e ele me aninhou em uma abraço forte e protetor.

– Você fez isso! - um homem que entrara no banheiro seguido da diretora Laurier acusou-me.

Balancei a cabeça infinitesimalmente.

– Não, não, eu juro, não fui eu! - á essa altura eu já estava me derramando em lágrimas desesperadas.

Laurier levou as mãos á boca, chocada, assim que viu a cena por completo.

– Não foi ela. - ela disse logo depois. - Leia a inscrição. - Foi ele e quem quer que o esteja apoiando. Precisamos nos proteger e nos preparar. - ela me olhou de forma excruciante. - O Liceu está em alerta.


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Notas finais do capítulo

AAAAA e então? O que vocês acham que vai acontecer?????
O Liceu está em alerta! OH GOD! O que isso significa?
E esse poderes da Violet fora de controle com o ceticismo dela só estão dando problema né? Por um lado ela devia acreditar mais em si e por outro, coitada, tem muita coisa para assimilar!
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