How to Be Free escrita por Mia Miatzo


Capítulo 8
A whole new world


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Finalmente chegou. O capítulo que vocês tanto esperaram. Desculpe por tê-los feito esperar o total desses horríveis cinco dias. Nossa, sou muito má. Querem ver minha risada maligna?
MWAHAHAHAHA!!!!
Dramática né? Bom, como prometido e esperado, aí está o capítulo oito.
Boa leitura.

PS: para vocês verem como não sou tão má, esse é o maior capítulo até agora em número de palavras ;)



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Dou passadas pesadas, mas apressadas, enquanto subo toda a colina de volta para a aldeia. Meu único erro foi olhar para trás. Pois quando fiz isso não percebi a fera voadora que me pegou e me arrastou quando saltei um tronco.

– AH! – grito – Deus Odin, esse é o meu fim! – penso, e tudo o que faço é gritar enquanto ele dá meia volta – AAAAAAAAH!!!!

O dragão me joga no galho mais alto de uma árvore alta e pousa em seu topo, entortando o tronco fino e me fazendo me agarrar para não cair.

Olho para cima com a raiva fulminando em meus olhos e meu sangue fervendo de ódio.

– Soluço! – digo – Me tira JÁ daqui!

– Só se você me der uma chance para explicar. – ele rebate, mas não quero saber.

– Eu não quero ouvir porcaria nenhuma que você tem pra me dizer! – insisto enquanto tento me aproximar mais do centro do tronco.

– Então eu não vou falar. – ele diz – Mas deixa eu te mostrar. – ele olha suplicante para mim – Por favor, Astrid.

Minhas opções: tentar descer a árvore e despencar de vinte metros; subir num Fúria da Noite e dar uma voltinha no que aprendi ser o dragão mais mortal de todos.

É, realmente as duas não são muito convidativas, mas que escolha eu tenho? Soluço confia em... Banguela ou o que quer que seja o seu nome. E ele deve ter bom senso o suficiente para sair montado numa besta-fera por aí. Essa foi a frase mais ridícula que eu já disse.

Suspiro derrotada e jogo meu peso para cima para subir no galho e, eventualmente, no dragão.

Ao me aproximar para tocar sua cela a criatura ruge para mim e me olha com olhos desconfiados. Soluço oferece sua mão, mas eu a afasto com um tapa e me apoiando na para dianteira da fera subo na garupa e abro os braços para não tocar nem Soluço nem a besta.

– Eu quero descer. – digo com convicção.

– Banguela, - Soluço diz a ele – desce devagar.

Banguela abre as asas e a árvore começa a voltar a sua posição original. Soluço sorri confiante para mim e me encoraja:

– Viu? Não precisa ter medo.

Mas parece que Banguela tem outros planos para mim, porque com um só bater de asas ele decola para o céu até onde não posso mais ver o chão abaixo.

*****

– Banguela! – grita Soluço para ele, enquanto tenho meus próprios problemas em me segurar para não cair no mar abaixo de nós.

– Qual seu problema, seu dragão feio? – infelizmente a única coisa que acho para me agarrar é Soluço, que está preso por dois elásticos à cela de Banguela. Então com esforço por causa de meu orgulho a ser ferido, agarro seu rosto e passo minhas pernas por sua cintura.

Soluço ri nervoso.

– Há há. Ele... ele costuma ser obediente. – a este ponto minhas mãos estão cruzadas sob seu peito e Banguela dá uma guinada para a direita – Ah, não.

Grito enquanto o dragão fecha as asas e se deixa cair na água gélida do Oceano Interno. Ele sobe rapidamente e dá mais uma volta para a direita, nos molhando de novo.

– Banguela, assim ela não vai gostar da gente amigão. – adverte-o Soluço enquanto a fera vai para baixo, se sacode da água pingando e decola em velocidade máxima para o céu novamente.

Até agora dizer que não vou gostar deles é um eufemismo.

E então ele começa a girar e tento não pensar no que comi no café.

– Pronto, lá vem ele com os rodopios. – diz Soluço enquanto o dragão cai ainda girando, como se fosse a coisa mais natural do mundo para ele – É, valeu pela ajuda. Viu, ô seu réptil inútil?

Meu mundo está de cabeça para baixo literalmente e pensando que a minha única saída é cooperar com seu segredo as palavras simplesmente escorregam da minha boca.

– Chega. – enterro a cabeça em seu ombro – Desculpa. Me desculpa. Me tira dessa coisa.

Minha voz sai mais como um ganido, cheia de remorso, mas Banguela deve ter entendido o que disse. O dragão subitamente abre as asas e o vento o empurra para cima com um último grito meu.

*****

Sinto o vento em meu cabelo me dizendo que estamos subindo. Mas dessa vez o voo é calmo e plano. Quando sinto o vapor de água em minha testa, que imagino serem nuvens, começo a abrir meus olhos lentamente.

Minhas pupilas parecem se dilatar quando vejo o pôr-do-sol mais bonito que já vi em toda a minha vida. O povo de Berk é privilegiado por ter um pôr-do-sol tão encantador, mas eu realmente nunca parei para prestar atenção desde que parei de falar com Soluço e nossas aventuras pelos morros, onde podíamos ver tudo. As nuvens, o sol, a lua, as estrelas, o infinito.

Pela primeira vez desde esse tempo paro para por um segundo apreciar aquilo que não tenho há anos: a beleza na simplicidade das coisas.

Solto meus pés da cintura de Soluço e me atento a tudo ao meu redor. Com as mãos ainda em seus ombros, minha cabeça vira lentamente para captar os detalhes mais possivelmente esquecidos. O jeito como as nuvens se mexem com a brisa, como os respingos que elas deixam em minha pele quando passamos por elas.

Nunca me senti tão livre. Por apenas um minuto não há mais nada com que me preocupar. Meus pais decepcionados por causa da derrota, a anciã respondendo negativamente meu progresso de tantos anos de treinamento, a aldeia indo a delírio por causa de Soluço e não por minha, o jeito que Soluço repentinamente roubou minha glória, como meus amigos me deixaram de lado para reverenciar seu sucesso. Nada mais existe. Somos só eu e ele novamente. Como se tivéssemos seis anos de novo e saíssemos para explorar a ilha. Com uma exceção: que agora Banguela estava conosco, mas ele era o causador de nossa junção.

Solto uma de minhas mãos do ombro de Soluço e a passo pelas nuvens, sentindo sua textura, sua maciez. Um sonho que sempre tive e que achei que nunca realizaria. E agora posso. E com um sorriso no rosto fecho os olhos e espalmo minhas mãos para o ar, para sentir mais, cheirar mais, ver mais, descobrir tudo aquilo pelo qual me fechei.

Banguela gira, dessa vez lentamente, e nos leva para mais alto. Para além das nuvens. Para o céu noturno. E com surpresa o show de luzes da Aurora Boreal está agora ao nosso alcance, com suas cores mudando de rosa para azul, para roxo, para verde, para uma infinidade de cores que nem eu nunca soube que existiam.

Passando pelo tapete de nuvens coloridas de lilás, Banguela nos mostra a melhor visão que se pode ter de Berk, desde suas estátuas construídas no meio do mar até as casas iluminadas da aldeia subindo a colina até o Grande Salão colorido de laranja, amarelo e vermelho pelo fogo das tochas.

Abro um sorriso espontâneo pelo que vejo e agora, respondendo aos meus movimentos e tendo noção deles, entrelaço meus dedos pela cintura de Soluço e aninho minha cabeça em seu ombro, como não faço há muito tempo. Sinto-me confortável como nunca me senti antes, como se minha mãe passasse a mão pelos meus cabelos para eu dormir ou cantasse uma canção de ninar, mas sem palavras. Tudo o que sinto é meu coração batendo no ritmo do dele e pela primeira vez em toda a minha vida sinto a certeza de uma coisa que sempre me indaguei.

Eu o amo.

*****

Meus olhos estão radiantes e veem detalhes que nunca haviam notado, e imagino se é dessa forma que Soluço vê o mundo. Colorido, belo, simples, artesanal e apaixonante. Cada detalhe, cada som, cada cheiro, cada gosto, textura ou sentimento eu posso enxergar, sentir em cada fibra do meu corpo. Banguela nos mostrou um mundo novo em nossa pequena ilha e abriu meu coração para que o amor e o carinho pelos outros entrasse de novo da maneira que sempre foi. Não tenho palavras para descrever.

– Tá bom, eu admito. – digo – Isso é muito legal. É... É incrível. Ele é incrível.

Dou um tapinha amistoso no pescoço de Banguela. Mas então um pensamento me invade e não tenho como escondê-lo de Soluço.

– Mas e agora? Soluço, o seu exame final vai ser amanhã. Você sabe que vai ter que ma... – sussurro em seu ouvido – matar um dragão.

– Ah, nem me lembra disso.

Sinto Banguela se retesar sentindo seus músculos em minhas pernas. E de repente ele dá uma guinada para a direita e solto um gritinho involuntário.

– Que que foi Banguela? – pergunta Soluço, preocupado.

O dragão começa a voar parecendo bêbado e sem controle de seus movimentos.

– Ué, que isso? – pergunta Soluço retoricamente.

Banguela ruge quando um Pesadelo Monstruoso surge ao nosso lado e Soluço me adverte:

– Abaixa.

Do nada, da névoa, surgem vários dragões, cada um com carnes de cordeiro, peixes, aves, novilhos entre suas garras.

– O que tá acontecendo? – pergunto a Soluço.

– Não sei. – responde ele rapidamente – Banguela, tira a gente daqui amigão.

Banguela se livra da mão de Soluço com uma virada de cabeça e ele se retesa.

– Parece que estão carregando suas presas. – deduz Soluço.

– Ah, e nós somos o quê então? – pergunto, começando a desconfiar de nosso amigo reptiliano.

Os dragões começam a descida para o mar e passam rente a ele, desviando de pedras e rochas que eventualmente aparecem pelo caminho. Não me sinto apavorada assim há muito tempo, desde que minha mãe caiu do telhado e fraturou o baço. Meu único conforto é ter Soluço comigo e aperto mais ainda sua cintura quando Banguela nos guia até a entrada de um vulcão, em uma ilha que apareceu do nada.

Viramos e giramos pelo caminho, até passar pelo vermelho fervente da lava e Soluço diz para si mesmo:

– O que é que o meu pai não daria pra ver isso?

Os dragões soltam suas presas em cima da névoa vermelho sangue e elas mergulham no nada, enquanto Banguela nos esconde atrás de uma rocha.

Recuamos e Soluço ironiza:

– Ah, que legal saber que toda a nossa comida é jogada num buraco.

Noto algo incomum.

– Mas eles não tão comendo nada.

Logo que acabo der falar um único Gronckle voa singelamente sob o buraco gigantesco e regurgita um pequeno peixe. Indefeso e distraído a tudo, nos assustamos quando uma enorme bocarra sai de dentro da névoa furiosa e engole o dragão sem dó nem piedade.

– Hah! – exclamamos juntos.

– O que é... aquilo? – são as únicas palavras que conseguem sair da minha boca.

Meus olhos que brilhavam com a magia de voar de repente ganham um tom de pavor, medo a aquela coisa demoníaca que ao voltar-se para seus comandados, os outros dragões que se encolheram de medo na sua presença, e vira os seis olhos, três de cada lado da cabeça, diretamente para nós.

– Tá na hora de sair daqui amigão. – diz Soluço para Banguela – Já.

Percebendo que o Fúria da Noite não soltou suas presas assim que chegou, o monstro ataca para tomar à força, mas Banguela é mais rápido em decolar conosco para o topo do vulcão. Uma horda de dragões nos segue tentando escapar, mas alguns são pegos pelos trituradores de carne que são os dentes daquele bicho.

*****

– Mas é claro. Isso faz todo o sentido. – digo para Soluço quando pousamos no solo de Berk – É como uma colmeia gigante. Eles são os operários e aquilo é a rainha, que controla eles. – desço da cela e começo a correr para a aldeia - Temos que falar com o seu pai.

– Não. – diz Soluço e me alcança, ficando na minha frente – Ainda não. Vão matar o Banguela. Astrid, a gente tem que pensar antes. Com calma.

Essa é a maior idiotice que já ouvi toda a minha vida. Temos prioridades.

– Soluço, nós acabamos de encontrar o Ninho dos Dragões. – falo para que ele volte à realidade – Aquilo que nós, Vikings, buscamos desde que viemos pra cá. E você quer guardar segredo? Hah, pra proteger o seu dragãozinho de estimação? É isso?

– É isso. – ele responde quase imediatamente, sabendo sua resposta desde sempre.

Meu semblante se esvai. Passei minha vida toda lutando contra dragões e nunca parei para pensar por que atacavam nossa aldeia. Achei que fosse pela comida, e realmente era, mas nãos pelos motivos que pensamos. E quando Soluço, com todo o seu jeito carinhoso, preocupado, caridoso e dócil parou para descobrir essa questão eu o faço recuar de sua decisão?

Não. Não é assim que a banda toca Astrid. Você sabe muito bem disso.

– Tá bom. – digo relutante – E o que a gente faz?

Ele encara o chão pensativo e vira seus olhos profundos como a floresta cheios de compaixão e agora também de medo por seu amigo e por suas decisões para mim.

– Só... só me dá até amanhã. Eu vou pensar em alguma coisa.

– Tá legal.

Ele se vira para desengatar seu traje de voo e tomo uma decisão inesperada e quase desesperada, pois meu cérebro está se coçando para fazer isso.

Dou um soco em seu ombro.

– Isso é por me sequestrar. – digo antes que ele proteste. Ele olha para Banguela por ajuda, mas o dragão só solta um grunhido, como se dissesse: “não, você se vira”.

Em seguida, surpreendo a mim mesma.

Beijo sua bochecha.

– E isso... – demoro um pouco pela resposta – é por todo o resto.

Começo meu caminho para o vilarejo e volto meus olhos só o suficiente para ver seu rosto uma última vez antes de sair correndo. Não por vergonha, ou por medo, mas por prazer de chegar em casa e repassar tudo o que aconteceu hoje.

O melhor dia da minha vida.


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Notas finais do capítulo

Hey!
Então o que acharam? Achei que foi o melhor capítulo que já escrevi e espero que tenham gostado dele tento quanto eu. Essa é a minha parte favorita do filme e não só porque Soluço e Astrid começam seu romance nesse ponto, mas porque é onde os dois descobrem um mundo novo revelado por Banguela, pois nem mesmo Soluço sabia de tudo o que ele lhe mostrou e ficou tão surpreso quanto Astrid.
Meus sentimentos por tê-los feito esperar, e justamente por causa do mundo novo minha segunda opção para o capítulo era “Astrid goes for a spin” o título original da canção de quando Soluço e Banguela a levam para dar uma voltinha pelos céus. Mas acabou ficando esse mesmo, o titulo da música de “Aladdin”, de quando ele e Jasmine voam no tapete mágico e descobrem um mundo novo, assim como em CTOSD.
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Beijinhos galera e até semana que vem.
Mia