How to Be Free escrita por Mia Miatzo


Capítulo 6
To kill a mockingbird


Notas iniciais do capítulo

Olás!
Bom, tenho que confessar que me enrolei um pouco ao escrever esse capítulo, porque eu estava totalmente sem inspiração. Depois quando finalmente consegui redigir alguma coisa (por favor não critiquem) não fazia ideia de qual nome dar a ele.
Finalmente olhando o contexto do capítulo, lembrei-me do título em inglês de “O Sol é Para Todos” de Harper Lee, “To Kill a Mockingbird”. Para quem não sabe, o título do livro é esse porque mockingbirds (na tradução em português o horrível nome de tordo dos remedos) são inocentes, não machucam ninguém. Então é errado mata-los.
Pensando nisso achei que seria o título perfeito. Vocês logo verão o porquê.
Boa leitura.



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Se meus sonhos fossem reais, provavelmente me matariam. Juro que eu mesma possivelmente faria isso caso significasse que acabaria com meus pesadelos.

Minha cabeça está perturbada com o que vi esta noite. O Pesadelo Monstruoso de novo. Mas dessa vez não me deram nenhuma escolha. Apenas o vi correr cuspindo lava fervente em direção a uma figura magra e franzina. Não fiz nada para impedir. Como poderia? Meus pés estavam colados ao chão, literalmente. E quando finalmente identifiquei a figura, com o cabelo castanho avermelhado e os olhos de esmeralda que olhavam suplicantes para mim enquanto se encolhia da fera já era tarde demais.

Acordei num salto. Sabia que não era real, mas me assustou tanto que tive que descer e pegar um copo d’água. Somente para descobrir que minhas mãos estavam tremendo e meu coração quase pulando para fora do peito.

Não posso deixar isso acontecer. Não posso. Se é amor, se é raiva, se é inveja de ter se saído melhor que eu com o Ziperarrepiante... Não sei. Talvez nunca saiba. Mas sei que de alguma forma meus sonhos despertaram em mim um senso protetor tão forte que assusto a mim mesma. E não é proteção para qualquer um. Para ele. Preocupo-me com ele de um jeito que nunca me preocupei com mais ninguém, nem mesmo com meus pais.

Devo estar delirando. Mas tenho que enfrentar isso se quiser vencer o treino e salvá-lo de si mesmo. É tanta coisa que se mistura na minha mente agora que minha cabeça dói. Mas tenho que permanecer forte. E só há um meio de fazer isso. Treinando.

Arremessar meu machado nas árvores da floresta sempre foi um jeito de me distrair, e é o que faço. Pego meu machado e saio de casa sem cerimônias.

*****

O Gronckle vem depressa contra as paredes de madeira e estou pronta para ação. Mas não sou eu quem o detém. É Soluço. O bicho praticamente cai aos seus pés como um cãozinho carente. E de alguma forma ele consegue fazê-lo deitar-se como se fosse seu animal de estimação e estivesse dando comandos. Senta, deita, rola.

Cai na real, Astrid. Ele não precisa da sua ajuda. Ele está se virando muito bem sozinho. Bem até de mais se me perguntar. E estou falando comigo mesma, então...

Pelo menos não estou falando de mim mesma na terceira pessoa em voz alta. Já imaginou como seria ridículo? Olha aí, ó. Fazendo-me perguntas de novo. Yep. Delirando.

Mas aquele garoto está muito estranho. Quer dizer, vencer uma luta com sorte tudo bem, mas estou achando que não é só sorte o que ele tem. De qualquer forma vou descobrir. Ah, se vou. Prometo a mim mesma enquanto saio da arena com meus colegas. Eles estão parabenizando Soluço pelo sucesso da luta de hoje. Se já estão o idolatrando quem sabe o que pode acontecer até o final da semana. E essa pressa em sair do treino? Muito suspeito para o meu gosto.

– Hah! – me assusto quando ele subitamente se vira para voltar a arena e “pegar seu machado”. Espere. Seu machado foi queimado na batalha com o Nadder. O que esse garoto está aprontando?

*****

Chego tarde em casa com uma má vontade que daria arrepios até em Fúria da Noite. Meu cérebro está latejando, se isso for mesmo possível. Estou cansada de pensar nas possibilidades que poderiam levar Soluço a ter um desempenho tão brilhante nas últimas lutas. E em como ele ficou tão bom de repente.

Jogo-me na cama e só fico ali de cara para o travesseiro por um tempo. Gostaria de simplesmente poder dormir e sonhar com coelhinhos fofinhos e filhotes de cãozinho, coisas de menininha. Mas sei que se fechar os olhos o que me invadirá será morte, destruição e sanguinolência. Então tento ficar acordada, brincando com meu cabelo, contanto as rachaduras do teto, passando a unha nas ranhuras do estrado da cama, qualquer coisa que me impeça de dormir.

Evidentemente não dá certo, porque sou humana e em algum momento acabo caindo no sono.

Acordo com o sol batendo em meus olhos e percebo que não fechei a janela durante a noite. Levanto-me da cama e me arrasto até ela onde olho para a posição do sol para ver que horas são. 9 horas.

Deuses, estou atrasada! Corro para pegar minha armadura e minhas botas e me apresso para arrumar o cabelo. Quase esqueço meu machado encostado na parede, mas assim que percebo breco bruscamente e dou meia volta antes de sair correndo em direção à arena novamente.

Pelo menos não tive nenhum sonho essa noite. Já é um progresso, mas não contemos vantagem antes do tempo. Chego na arena quando Bocão já está abrindo a jaula do Nadder e me sinto quente ao perceber que a anciã está assistindo e viu que me atrasei. Nada legal.

Quando a fera é solta vem cheia de fúria em nossa direção e sou a primeira a desviar de seus espinhos venenosos. Analisando minhas vantagens: um machado, determinação e agilidade. Um bom começo.

Mas olhando pelas desvantagens: dormi mal, acordei tarde, não tomei café da manhã e minhas costas doem por causa da posição em que estava deitada. Hoje realmente não é meu dia.

Vejo o dragão se aproximando e num instinto jogo meu machado que ricocheteia em sua armadura de escamas e voa para longe. Rolo para o lado e vou busca-lo, mas quando volto o bicho desmaia aos pés de Soluço.

De novo não.

*****

Não tomei café, não almocei direito, mas pelo menos o jantar deve ser reforçado. Ou seria se não estivesse tão concentrada em que assim que Soluço colocou os pés no Grande Salão todos correram para sua mesa e me deixaram sozinha.

Tudo bem. Não deveria estar xingando-o em silêncio, afinal por quantos anos deixei-o sozinho? Mas não é nada legal quando seu ex-melhor amigo rouba todos os seus amigos da sua mesa. Parte de mim quer ir até lá e ficar com ele, mas a parte racional de meu cérebro sempre falou mais alto e parece que meu bumbum está colado ao banco.

O que mais eu deveria fazer além de tentar ser legal? Mas eu nunca fui boa nisso e sinceramente, hoje não é o melhor dia para mim. Então, deixe pra lá por uma noite.

Amanhã ele vai ver.

*****

– Esse é o Terror Terrível. – diz Bocão quando abre a jaula, mas nada sai de lá além de um tilintar de uma pequena portinhola.

Um pequeno dragão verde está nos encarando com seus grandes olhos reptilianos. É meio esquisito pra dizer a verdade.

– Ah, isso não faz nem cócegas. – diz Cabeçadura, mas para sua surpresa e de todos os outros o dragãozinho voa em seu nariz e começa a mordê-lo com uma força espantosa para aquelas pequenas mandíbulas.

– Tira daqui. Tira daqui. – um flash de luz vai em direção ao bichinho que o segue como um brinquedo – Ai, tá doendo. Tá doendo muito.

Ao levantar meu olhar, lá está Soluço com o escudo refletindo a luz solar e um sorriso no rosto quando consegue prender o dragão de volta na jaula.

– Nossa, ele é melhor do que você Astrid. – observa Cabeçadura, o que me faz ter mais raiva dele e de mim mesma.

Isso é pelas mentiras. E isso pelos segredos. E esse outro por não querer me dar ouvidos.

Arremesso meu machado contra as árvores, de novo, e de novo, e de novo. Se for o meu jeito de ficar calma dane-se. Ouço o farfalhar de folhas atrás de mim e dou uma cambalhota para logo ficar de pé e pronta para atirar. Somente para encontrar Soluço me olhando com aqueles grandes olhos verdes cheios de ternura.

Ele está segurando alguma coisa, mas não tenho tempo de ver o que é antes que ele se vire e corra floresta adentro. Tento segui-lo, mas ao virar a pedra ele já desapareceu.

*****

Fico mais uma hora na floresta. Depois vou comer e só então voltar pra casa. Pelos meus cálculos, até onde os barcos que conseguem retornar vão, meus pais devem chegar amanhã e deve estar tudo pronto para sua volta.

Caminho em silêncio pela aldeia, mas escuto um barulho quando passo pela ferraria. Deve ser só um Terror, digo a mim mesma. Mas minha curiosidade fala mais alto e vou checar. Se for alguém, as únicas pessoas que estariam na ferraria a essa hora seriam Bocão ou...

– Soluço? Você tá aí?

A janela de atendimento se abre e um garoto desajeitado sai de dentro.

– Astrid? Oi, Astrid. Oi, Astrid. Oi, Astrid. – repete ele nervoso.

– Olha, eu não costumo julgar ninguém, mas você tá esquisito. – falo da boca pra fora quando ele se contorce para trás e formo uma carranca – Mais do que o normal.

Ele ri, mas é levantado contra a parede e arremessado para dentro. Corro e abro as portas, mas não tem nada lá. Nem Soluço, nem Terror, nem nada.

Aquele peste desapareceu. Mas juro pela minha honra que vou descobrir o que está acontecendo. E vai ser amanhã.


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Notas finais do capítulo

Bem, leitores. Espero que tenham gostado. Considerações finais sempre as mesmas.
Comentários? Seguidores? Favoritos? Recomendações (espero ansiosamente por uma)?
Entenderam o porquê do título? Pensem um pouco se não.
Beijos e até semana que vem.
Mia