Marin fez os colares no chão flutuarem até ela e se colocarem em seu pescoço. Se queriam provocá-la, haviam conseguido e agora teriam de aguentar as consequências. Ao contrário do que ela esperava, a porta não foi aperta, foi explodida, o que forçou ela e os mais jovens a fechar os olhos um breve momento.

Mas quando percebeu já estava no chão, suas mãos sendo seguradas acima da cabeça e dentes afiados a centímetros de seu rosto. Era Mia, ou Irma, pelo que ficara sabendo, e mesmo que agora sua aprendiza agora fosse um monstro, não pôde deixar de sentir um aperto em seu coração ao vê-la. A succubu pareceu se divertir com a reação da mestra, e riu de modo cruel.

— Não se importa se formos entrando não é? – disse Irma com a voz de Mia. – A porta estava aberta. – completou com uma voz diferente, o que fez a mulher de cabelos brancos lembrar-se do que aquilo se tratava. Percebeu que Lena segurava Caleb e Hunter segurava Drica do mesmo modo que Mia fazia com ela.

Então, um Nox entrou. Tinha uma boa postura e observou devagar o hall de entrada por trás do capacete.

— Esse lugar não mudou nada. – comentou casualmente. – Acabem com eles, - instruiu ás succubus. - estarei no Salão cumprindo nossa tarefa. – e sumiu por um corredor. Salão? O que ele poderia querer com o Salão dos Genus? Marin não sabia dizer, mas era seu dever cuidar daqueles que já tinham ido.

As três succubus, quase como se tivessem ensaiado o momento, abriram suas bocas sincronizadamente e foram em direção aos pescoços dos Guerreiros. Mas Marin deu um sopro gelado que fez Irma cambalear para trás, com a frente do corpo quase congelada, Caleb absorveu o metal de seu colar, transformando sua cabeça em ouro, em seguida deu uma forte cabeçada em Lena, que caiu para o lado enquanto Drica conseguiu usar uma de suas pernas para empurrar Hunter para longe de si.

Irma avançou para Marin tão logo seu susto passou.  Marin movia habilmente sua alabarda, mas a succubu parecia ter muita experiência em lutar de mãos vazias, coisa que Mia não tinha, mas se aproveitava do corpo da hospedeira para ser esguia e rápida. Quase nenhum golpe da lâmina a acertava, e os poucos arranhões que havia em seu corpo não a incomodavam, logo eram curados.

Marin por outro lado já tinha várias feridas nas pernas, nenhuma grave, mas tinha que tomar cuidado, qualquer passo em falso e daria uma brecha para alguma veia ou artéria ser atingida. Um tanto sem saída, tentou seu melhor golpe, atingiu o queixo da inimiga de baixo para cima, girou e fincou a ponta da alabarda em seu peito. Por um segundo sentiu-se vitoriosa, mas Irma já segurava o cabo, impedindo que a mestra atingisse um órgão vital.

Vendo que não conseguia tirar diretamente a ponta de seu corpo, segurando o cabo, ela agachou-se vagarosamente. Seu corpo foi rasgado entre os seios, depois o pescoço e por fim a cabeça, quando se livrou da ponta. A fenda durou apenas tempo o suficiente para que Marin se espantasse e se desse conta que tinha dado uma grande brecha para a oponente. A succubu se apoiou no chão e chutou o tronco de Marin com as duas pernas, lançando-a com toda a força nos degraus da escada.

Quando ficou de pé, Caleb viu Lena passar o dedo por seus dentes afiados e depois sorrir para ele e lamber o sangue em seus lábios, o que teria sido algo sensual se não tivesse sido assustador. A succubu avançou para ele, e com certa dificuldade por atacar uma amiga, ele a golpeava com a espada. Ela não impedia nenhum dos ataques, deixava a arma se fincar em seu corpo e dava um golpe certeiro em um órgão vital do moreno.

Dolorido, ele absorveu o metal da espada para tentar evitar os ataques, mas ela possuía uma imensa força e mesmo revestido de metal, ele sentia a dor dos socos. Tentando mudar de estratégia, ele deu um soco em seu rosto no mesmo segundo em que ela lhe atingiu o estômago. Nenhum dos dois se moveu, mas o rapaz pôde sentir o nariz de Lena voltando ao normal debaixo de seus dedos, novamente ela sorriu, e agarrou a mão dele com uma mordida.

Caleb não sabia o que fazer, ela vagarosamente movia os dentes, como se fosse engolir seu braço como uma cobra. Tentou golpeá-la com a espada mas ela tinha os dois braços livres e afastava a lâmina com as garras. Ele estava em pânico, tentou sacudir o braço, jogá-la para longe, mas sentia os dentes dela se fincando no metal como se fosse manteiga e se movendo mais. Ela estava chegando a seu cotovelo quando desesperado, começou a socar o chão. Porém como seu braço estava sendo engolido, os golpes atingiam as entranhas da succubu, que embora parecesse incomodada, não dava sinais de que o soltaria.

Depois de Hunter se levantar, sua luta com Drica era a mais acirrada das três. Os dois se moviam rápido, ela causando feridas com seus machados, ele com suas garras, porém ambos logo se curavam e continuavam a brigar. Nenhum tinha medo de se ferir então não tentavam se defender, apenas atacavam o mais velozmente que podiam.

Tentando fazer aquilo pender para seu lado, Drica usou a vantagem que tinha: sua força. Jogou seu corpo em cima do oponente, aquilo o fez recuar, ela acertou alguns golpes, mas nada significativo, até que em um rápido movimento, quando ela avançou novamente, ele desviou deixando a ruiva cair no chão. Antes que sequer pudesse entender que havia caído, ela sentiu duas mãos em sua cabeça, Hunter iria quebrar seu pescoço. Em um ato desesperado, ela jogou os braços ainda segurando os machados para trás e para sua surpresa, conseguiu atingir o queixo do inimigo, e o jogou no chão a sua frente.

Enquanto ele tirava o machado de sua garganta, ela se ajoelhou no chão e pôs as mãos no rosto do oponente. Era a melhor chance que teria de testar a teoria do livro. Se aquilo era uma doença ela poderia curar. Tentava se concentrar como podia enquanto abaixo de suas mãos Hunter gritava e esperneava, balançando os braços em várias direções a arranhando.

— Não tenho tempo pra isso... - murmurou Marin com uma mão em seu tronco, deveria ter quebrado pelo menos três costelas. – Tenho que cuidar de uma coisa mais importante... – quando Irma chegou perto, ela voltou a fincar a ponta da alabarda no tronco dela, a succubu fez uma expressão de tédio ao segurar novamente o cabo da arma. Mas dessa vez, Marin tomou impulso na escada e correu até a parede onde ficava a porta e prendeu a inimiga ali, em seguida, pisou forte no chão, o que fez gelo se espalhar por aquela parede e envolver a criatura. A mulher de cabelos brancos puxou sua arma do corpo da outra, que tentava furiosamente se livras das camadas de gelo que a envolvia. – Até logo. – e foi andando pesadamente até o Salão dos Genus.

Ao perceber a parede de gelo Caleb, correu até ela e jogou Lena ali. Ela ainda tentava engolir seu braço, então fez como Marin havia feito, porém não instantaneamente, prendeu a succubu no gelo e puxou seu braço da boca dela. Respirou devagar por alguns segundos, enquanto a observava já começar a rachar o gelo, não tinha muito tempo.

Foi até Drica e Hunter e prendeu com dificuldade os braços de Hunter no chão, para que Drica se concentrasse. Ela fez algumas caretas enquanto seu rosto se curava dos inúmeros cortes que Hunter tinha feito em seu rosto, e finalmente pôde se concentrar, podia sentir aquela substância que corria pelas veias dele, fazia parte dele agora, então não podia ser delicada. Concentrou todo o seu poder no corpo do amigo, tentando reunir todo aquele vírus em seu estômago, as unhas dele voltaram ao normal, seus dentes também e finalmente...

Hunter virou-se de lado e vomitou. Os outros dois se afastaram enquanto ele tossia e vomitava mais. O que saia de sua boca era uma substância amarela como seus olhos estavam. Quando ele pareceu ter acabado, Drica bateu em seu rosto até que ele abrisse os olhos, estavam castanhos.

— Conseguiu. – disse Caleb aliviado enquanto a ruiva deitava a cabeça no peito de Hunter, que ofegava. – Rápido, a Lena... – entendendo o que ele dizia, Drica correu até Lena e repetiu o mesmo processo com ela, e quando a garota com cabelos cor de mel finalmente se livrou da prisão de gelo, caiu vomitando exatamente como Hunter.

A ruiva tentou fazer o mesmo com Mia, mas Irma apenas rosnava para ela se contorcendo para sair do gelo. Não funcionava com ela. Desistindo daquilo, voltou para os dois amigos que se recuperavam.

— Eu não queria te machucar! Eu juro que não queria, mas, mas eu não conseguia... – repetiu Lena sem parar para Caleb. Arranhões haviam surgido tanto nela quanto em Hunter e os dois pareciam confusos e abalados.

— Calma, calma, - dizia Drica. – Vai ficar tudo...

Mas foi interrompida quando Mia explodiu sua prisão de gelo, espalhando pedras geladas por todo lado e os jovens tiveram que se abaixar. Ela caiu no chão e olhou para Caleb e Drica, mas assim que estes começaram a ficar de pé, a succubu deu um grande salto e socou o teto acima da cabeça deles. A estrutura poderia ter sido abalada, rachado e ter caído segundos depois, mas já com o único soco a sala de música desabou na cabeça dos Guerreiros.

Irma ficou de pé ao lado dos escombros. Viu os grandes blocos de pedra, restos de instrumentos e nenhum movimento. Satisfeita, correu para o Salão dos Genus.

~*~

Depois de deixar seus aprendizes, Marin foi até o Salão o mais rápido que pode, chegou abrindo a porta de supetão. O que viu ali a deixou confusa. Vários frascos estavam espalhados no chão, onde o General estava sentado, derramando o conteúdo dos frascos em uma espécie de bola de areia. Os dois se encararam um segundo, e quando derramava o conteúdo do último frasco na esfera, Marin se jogou em cima dele, os dois saíram rolando pelo chão.

Apenas uma gota do líquido havia tocado a bola, o resto se espalhou pelo chão. Enquanto rolavam, ele a chutou bem onde Irma havia chutado, causando dor na mestra, que se encolheu no chão. Rapidamente, o General correu até a esfera, murmurou algo que Marin entendeu como “vai ter que funcionar desse jeito” e a jogou na parede dos Genus, acertando um ponto entre uma um homem com metade da cabeça raspada identificado como Castiel e a estátua de uma senhora identificada como Olivia.

Nada aconteceu.

— Acho que seu plano falhou. – disse Marin ficando de pé e voltando a segurar a alabarda.

— Não exatamente. – sussurrou ele sacando sua espada.

Os dois lutaram por um bom tempo, Marin estava machucada, mas a adrenalina a mantinha de pé. Até que em um determinado momento, o chão tremeu levemente e Marin conseguiu uma vantagem, derrubou a espada do inimigo e o atacou, não conseguia feri-lo por conta da armadura, mas conseguiu atordoa-lo e o fez cair no chão. Colocando a lâmina de sua arma em seu pescoço, ela começou a recitar o encanto para e exorcizá-lo.

— Bu kelimelerin sayesin... – mas foi interrompida. Irma entrou no cômodo de um salto e chutou seu rosto, o que a arremessou par ao outro lado do Salão, parando aos pés do corpo de Carter.

~*~

Drica ainda tinha as mãos sobre a cabeça quando percebeu que não foi esmagada por toneladas de pedra. Olhou ao redor e viu que estava dentro do chão, um espaço suficiente apenas para que os quatro ficassem ali encolhidos.

Lena os havia salvado, ela ainda tinha os braços esticados de quando fez o chão engoli-los. Ela respirou fundo duas vezes e se apoiou na parede.

— Essa foi por pouco. – disse Caleb.

— O que fazemos agora? – perguntou Drica.

— Oh não... – murmurou Hunter levando as mãos à cabeça. – Os animais... Nós os atacamos, até as corujas... Quase matei Damon...

— Eles não estão em condição de lutar. – falou o líder.

— Você é o menos ferido aqui. –disse a ruiva. – Em vários sentidos.

Alguns segundos se passaram enquanto os quatro ofegavam no escuro e Hunter e Lena se lamentavam de seus atos como succubus, até que Caleb encontrou a resposta.

— Fusão corpórea. – pronunciou ele e recebeu um olhar estranho dos amigos. – Meu corpo é o mais forte aqui, ainda tenho muita magia e...

— Uma fusão de quatro mentes, Caleb? – disse a ruiva. – Não é sequer sustentável pra nós, você morreria.

— É aí que você entra, me mantém vivo enquanto lutamos com seu poder.

— Isso é loucura...

— Sabemos fazer isso rápido e estamos lutando contra o tempo!

— É arriscado demais. – opinou Hunter.

— E que outra escolha nós temos? – para aquela pergunta nenhum dos três tinha resposta. A fusão os faria mais fortes e poderosos, já haviam praticado muito, eram capazes.

Lena foi a primeira a se mover. Ficou de joelhos e inclinou a cabeça, seguida por Caleb, Hunter hesitante e Drica mordendo os lábios. Respiraram devagar até fazerem isso em sincronia, e estenderam suas mentes. Um turbilhão de lembranças e medos se espalhou em cadeia por todos, mas não recuaram. Conheciam a sensação de tocar na mente um do outro, apenas tentaram se apegar a isso e ignorar as informações eu ainda não tinham.

Caleb e Drica acalmaram os dois que haviam acabados de se curar, e Lena e Hunter transmitiram toda a agitação que ainda sentiam.

Em sua mente, Caleb abriu os olhos. Estava novamente naquele lugar que misturava a aurora com o translúcido e viu seus amigos ali a sua frente, fendas os separavam. Drica e Lena deram as mãos para Hunter, e os três começaram a flutuar. Caleb estendeu as mãos para as duas e as puxou, mas Drica parecia muito leve, ela não pousava, mas apertando mais sua mão, Caleb a fez pisar em sua mente com os outros dois. Milhares e milhares de pensamentos rodaram por suas mentes, medos sentimentos e sensações, criando novos ao se chocarem, até que encontraram um em comum que os fez pararem e se fixarem. “Marin”.

No abrigo, Caleb se levantou firmemente, abrindo caminho para a superfície enquanto ficava de pé, e o fechando ao sair do abrigo, deixando os amigos seguros. Ficando de pé sobre os escombros ele abriu os olhos. Em sua mente, os quatro seguraram ainda mais forte as mãos uns dos outros.