Gostava tanto de você escrita por Daughter of Zeus


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Voltei ♥



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Todos me tratavam com a pena da qual eu tentara fugir por tanto tempo. O Pedro parou até mesmo de tirar sarro de Lucas comigo. Eles me olhavam como se um olho tivesse caído ou como se tivesse perdido um braço em um acidente. A cada olhar atravessado eu mordia os lábios, querendo gritar pra eles por favor pararem com isso. A Júlia e a Natália passaram todo o dia da segunda penduradas em mim, fazendo piadas idiotas pensando estar ajudando. Só que, sabe, elas não estavam. Já é difícil o suficiente perder a família toda e ser tirada à força do lugar que sempre chamara de lar... não precisava que todos constantemente me lembrassem disso.

        Não falei com ninguém durante todo o período da manhã. Absolutamente ninguém. Não respondi as primeiras tentativas de comunicação de Lucas, então, após um tempo, o garoto contentou-se com somente andar ao meu lado, em silêncio. Ocasionalmente ele apertava o meu braço ou deslizava os dedos por uma mecha de meu cabelo rebelde. Os outros, entretanto, não pareceram perceber que a última coisa que eu queria fazer no momento era conversar. Eles me receberam na sala de aula falando, e assim fizeram-me deixá-la. Minha cabeça zumbia, dolorida, quando o relógio deu 12h40 e finalmente pude ir para casa, andando sob o sol que já não era tão quente quanto meses atrás, mas ainda fazia-me suar por estar sob sua presença por quase meia hora.

      Tranco-me no meu quarto. Vítor agora comprava comida de verdade, além daquelas coisas com gosto de papelão que chamava de refeições congeladas, mas não sentia fome ou disposição para cozinhar. Minha cabeça doía. Estava irritada. Irritada com minha mãe, por me abandonar antes mesmo que eu tivesse idade para memorizar seu rosto. Com meus amigos, por terem me enchido o saco por todo o dia enquanto o que eu precisava era de um pouco de paz. De Joaquim, pela pessoa detestável que parecia ser. Até com Vítor eu estava ressentida... como ele podia ser tão frio, tão... indiferente?

       Um bolo de informações dominava minha mente. Tudo estava acontecendo tão rápido. Beijos e drinques e beijos e matemática e beijos e então minha mãe morre. Sentia falta das paredes descascadas do lar, da monotonia e sensação de segurança dentro do lugar. Estava com saudade das Irmãs. Da Irmã Dora, doce, calma, maternal, porém severa. De Nina. Da ausência de tantos sentimentos conflituosos dentro do meu peito, quando os que o dominavam eram o ressentimento, o tédio e algum fiapo de esperança. Tão pouco, comparado ao turbilhão daqueles dias. Não podia mais aguentar tudo aquilo. Não queria mais aguentar. Pensei em juntar meus pertences (que, após meses morando com meu irmão, já não eram tão poucos assim) e voltar para o lar, mas, mal concluí o pensamento e ri da ideia. Voltaria para lá desamparada, com Vítor tendo minha guarda, abrindo mão de um ensino obviamente superior pelo quê? Se eu bem conhecia Nina, ela já estaria longe do lugar no mesmo dia em que completasse dezoito anos (sabia disso, apesar de não ter conseguido falar com ela nem uma vez desde minha partida; enviara três cartas desde então, mas não recebera resposta de nenhuma. Não sabia o telefone do lar, e, mesmo tendo procurado na internet, em uma das vezes em que Vítor me emprestara seu notebook, nada fora encontrado).

    O abrigo que me acolhera não mais podia ser, por mim, chamado de lar. Eu teria que me virar com o que estava disponível no momento.

    Após resolver do modo mais rápido possível alguns exercícios propostos pela professora de química, entrego-me ao sono acumulado da noite sofrida. Felizmente consigo tirar, mesmo que por poucas horas, todo o tormento que rodeava minha cabeça, voltando à realidade somente com a voz de Vítor chamando meu nome, quando já estava quase anoitecendo.

— Hm - Resmungo, sem estar completamente acordada.

— Uma garota ligou no meu celular atrás de você – diz ele, abrindo a porta do meu quarto - Pediu para que eu dissesse para retornar a ligação quando pudesse.

    Concordo com a cabeça, crente de que era alguma das meninas do colégio que não se contentara em me encher o saco somente em pessoa.

— Estou pensando seriamente em te comprar um celular. Todo mundo tem um, acho que te faria bem.

— Legal.

— Aí você poderia conversar com essa tal de Nina ou com suas outras amiguinhas quando quisesse.

— É – respondo, jogando-me na cama – Espere. O que você disse?

— Que poderia conversar com suas am...

— Não. Qual é o nome da pessoa que estava me procurando hoje?

— Acho que era Nina, algo assim.

— Vítor! - Exclamo, maravilhada, me sentindo verdadeiramente feliz em muito tempo.

— O que foi?

— Me empreste seu celular, tipo, agora? Por favor?

— Para que esse desespero todo? - Meu irmão quer saber, com um riso surpreso, mas já tirando o aparelho do bolso dianteiro da calça social preta.

— Nina, Nina, Nina! - Exclamo eu, tomando seu celular de sua mão, a animação transbordando-me.

— Quem é essa Nina, Amélia? O que está acontecendo? - Pergunta, desorientado.

— É a minha melhor amiga do mundo todo - digo, já acessando as últimas chamadas à procura de um número desconhecido que pudesse pertencer à Nina – “Pai”? – Questiono, alarmada com o nome de contato de quem recebera a ligação mais recente.

— É o apelido de um cara do escritório, não sei bem o porquê, mas acho que o fato de ele cuidar da vida de todos como se fossem seus filhos caçulas tenha algo a ver com isso. O número da garota é esse - ele indicou - com o final 1312.

    E então, a única coisa que importava era que eu encontrara minha melhor amiga. Por alguns segundos todos os dramas dos últimos dias estiveram em segundo plano. Nina era um marco sólido em minha vida, e eu a teria de volta em pouco tempo.

— Alô? - Disse uma voz feminina, mas não a que eu esperava ouvir.

— Oi - respondo, tentado não soar decepcionada – É o celular da Marina?

— Da Nina - a voz riu, e uma ponta de ciúme perfurou meu peito. Seria ela a nova melhor amiga? - Calma, vou chamá-la - Após alguns segundos batendo os pés de inquietação sob o olhar curioso de Vítor, ouço um “Mia?” extremamente desconfiado.

— Marina! - Grito. Posso imaginá-la perfeitamente nesse momento, a expressão sarcástica no rosto moreno, afastando o telefone da orelha. A conheço tão bem que quase posso vê-la.

— Onde você está? Você está bem? Esse cara que diz ser seu irmão... como ele é? Você está indo à escola? As pessoas são horríveis como a gente imaginava? E quan...

— Nina, calma. Também senti a sua falta.

— Eu senti saudade cada maldito dia em que estivemos separadas - E então, a culpa de não ter tentado encontrá-la com mais fervor caiu sobre mim. Eu me esquecera de que, para Nina, eu também era a única pessoa que ela tinha.

— Onde você está? – Pergunto, franzindo os lábios.

— A três quadras do lar. Estou morando com uma... amiga.

— É essa que está me substituindo? - Questiono, tentando fazer parecer que estava brincando, mas até eu pude ouvir o ressentimento em minha voz.

— Para de ser idiota, sua bocó - e aí estava a Nina de sempre - Eu só... escuta, precisamos nos ver.

— Eu... eu não posso sair daqui assim, Nina - meus olhos buscaram pelos de Vítor, procurando uma confirmação. Ele, como eu imaginava, balança a cabeça em negativa - Me desculpa, eu...

— Qual a distância daqui até aí?

— Eu não sei, menos de quatro horas de viagem, eu acho - Ouvi palavras sendo sussurradas longe do bocal, mas não pude entendê-las.

— Me passa o endereço - Pede ela.

— O quê?

— O endereço. Vai, mula, vai rápido - Informo a cidade, rua, e o número do apartamento onde residia, ainda meio perdida.

— O que acabou de acontecer aqui? - Pergunta Vítor, parecendo confuso, quando eu lhe entrego o aparelho prateado.

— Parece que teremos visitas.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora, galeris. Pretendo voltar a postar regularmente. Beijão.



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