Gostava tanto de você escrita por Daughter of Zeus


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora. Mas é que agora é estudar, estudar, estudar hahaha



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— Poxa, Mia, que coisa - disse Lucas, a voz saindo chiada do outro lado da linha - Eu sinto muito mesmo.
— Uhum - Resmunguei.
Havia ligado para explicar que não iria mesmo no cinema com ele. Tentara evitar contar tudo no começo da chamada, mas depois de uma insistência básica de sua parte para que eu nos encontrássemos no shopping, acabei abrindo a boca. Acabou saindo até mesmo o lugar onde passara onze anos da minha vida. Ele não falou nada pelos minutos em que fazia meu discurso, sob a supervisão constante de Vítor, já que, como não tinha um celular, usava o dele. Seus olhos exalavam desaprovação e um tiquinho de sarcasmo, além de, vez ou outra, um tanto de preocupação.
— Eu nem sei o que dizer - Lucas continuou. Dei de ombros antes de me lembrar que ele não podia me ver.
— Então não diga nada - Falou Vítor um pouquinho alto demais, comprovando minhas suspeitas de que tinha um ouvido biônico.
— Vítor! - Grunhi. O nome de meu irmão (principalmente em tom de censura) era a coisa que eu mais vinha falando ultimamente. Ele não podia simplesmente se comportar?
— Seu irmão não gosta mesmo de mim, não é? - Lamentou-se Lucas.
— Não é isso - apertei os olhos para Vítor, trocando o celular de orelha - Ele só é meio ciumento demais - Não acrescentei que seu ciúme se devia mais ao fato de ele querer estar no lugar de Lucas, e não uma proteção fraternal.
— Deve ser - um silêncio instalou-se na linha. Vítor assoviava ao meu lado, uma musiquinha estranhamente enjoativa e familiar - Você... quer que eu vá aí ficar com você?
— Não - Falei, talvez um pouco rápido demais. Quer dizer, a última coisa que eu precisava era dele e meu irmão juntos. Vítor com certeza lançaria alguns comentários sugestivos bem diretos.
— Ah, tudo bem - Ele soou um pouco magoado.
— Não que eu não queira te ver - me apressei em dizer - Mas quero ficar um pouco sozinha, ok?
— É claro. Eu te entendo. Digo, se fosse a minha mãe eu... - Lucas parou, obviamente se tocando de como seu comentário se parecera com um dedão na ferida - Desculpe.
— Não foi nada - Mordi a parte interna da bochecha, novamente com aquela ardência idiota nos olhos.
— Bem... talvez possamos fazer alguma coisa amanhã.
— Talvez - Disse, somente para não magoá-lo. A minha vontade de sair de casa no momento era praticamente zero.
— Então... até.
— Até.
— Beijos, Mia. Já estou com saudades.
— É, eu também. Beijos.
— Tchau - E desligou.
— É, eu também - Imitou Vítor, jogando as mãos para cima e fazendo uma voz ridiculamente fina - Não convenceu nem a mim, Mia querida.
— Cale a boca - Entreguei o celular para ele, me jogando no sofá novamente.
— Como sempre educada e simpática - meu irmão se sentou ao meu lado - Brilhante como um raio de sol.
Revirei os olhos.
— Você realmente não se sente nem um pouco mal com tudo isso? - Perguntei, ligando a televisão e tirando o volume. Um personagem qualquer de um desenho animado dançava na tela, mudo.
— Com o que?
— Pelo amor de...
— Tá bom, Mia - ele se virou de frente pra mim, tirando minha atenção da porca cor-de-rosa na TV - O que você quer que eu faça? Ela nos deixou. Quando papai morreu, não moveu um dedo para impedir que nos separassem. Amélia, eu nem sabia seu nome até chegar o testamento e toda a história do suposto assassinato que cometeu. Essa mulher nunca gostou de nós. Deixou o dinheiro porque não tinha mais ninguém. Ela foi a causa desses onze anos que estivemos separados. Não vou prantear sua morte, minha querida.
— Qual era o nome dela? - Foi o que perguntei depois de alguns segundos. Não estava chorando. Sentia as lágrimas entaladas na garganta, mas elas não saíam. Somente me sufocavam e abafavam minha voz.
— Eu... era Rosa - Vítor mordeu o lábio inferior, fazendo-me, por um segundo, esquecer de todo aquele transtorno e só admirar o ato. Até que me dei conta...
— Rosa?
— Bem, na verdade era Rosalina. Não me pergunte de onde diabos os pais dela tiraram esse nome, mas...
— Rosalina. Então é por isso - Passei um dedo sob o olho direito, por onde uma lágrima finalmente havia escorrido.
— Hein?
— Rosalina. Minha boneca, não se lembra? - Funguei.
— Boneca?! - Ele arqueou uma sobrancelha.
— Sim. A que o papai me deu, bem antes de morrer. Ele disse que o nome dela era Rosalina. Da boneca, quero dizer. Ele nunca me disse o nome da mamãe. Mas você já tinha uns seis anos, deveria se lembrar. Na verdade, isso é muito estranho, Vítor, era a minha idade de quando o papai morreu e eu me lembro de praticamente tud...
— Eu me lembro dela, sua tonta - Vítor me interrompeu, meio rápido demais. Parecia impaciente - Mas não seu nome.
— Mas eu...
— Tenho memória curta, Mia. Chega.
Eu me calei. Estava pensando naquela imunda e maravilhosa boneca que agora habitava meu guarda roupa. As vezes eu a pegava e a segurava com um misto de amor e nostalgia, perdida em memórias. Ela já viera nomeada. Rosalina. A doce, linda, Rosalina. A prova que papai nunca a esquecera totalmente. Ele morreu amando a mulher que fugira com outro. E ela morreu com o peso de ter abandonado uma criança e um bebê recém nascido. A vida era tão injusta.
— Eu queria que isso não tivesse acontecido - chorei, com raiva da porca por toda aquela alegria que a fazia se jogar no chão dando risadas. Alegria que me era negada - Queria que a mamãe não tivesse ido, e que nenhum dos dois tivesse morrido. Estaríamos juntos agora. A mamãe ia fazer pipoca e o papai contar uma história.
— Mia, com a nossa idade, acho pouco provável que estaríamos ouvindo histórias - Argumentou, mas com um tom de voz gentil.
— Não importa. Estaríamos todos juntos - Chorei.
— Ah, Mia - ele me abraçou desajeitadamente no pequeno sofá, nos derrubando, comigo caindo bem em cima dele - Agora está tudo bem. Shhh, você está bem. Estamos bem.
— Nós n-n-não estamos b-bem - Gaguejei, sem conseguir conter o choro. Seus braços envolviam minha cintura, mas os meus estavam cobrindo meu rosto, numa tentativa ineficaz de fazer com que sua camisa não ficasse toda suja de ranho. Não que ele estivesse parecendo se importar.
— Claro que estamos bem - Falou, coa a voz calma e suave.
— Não, não estamos. Está tudo tão confuso. Se o papai e a mamãe estivessem vivos nada disso estaria acontecendo.
— Isso o que, Mia? - Vítor segurou meu rosto a alguns centímetros do seu, para que pudesse olhar em meus olhos. Sua testa franzido e a boca contorcida transformavam seu rosto em uma carranca.
— Isso tudo. Não se faça de idiota.
— E por que isso não deveria estar acontecendo? - Limpou algumas lágrimas com o polegar.
— Sério, Vítor? Talvez porque seja errado?
— O que é que é errado? - Eu odiava como ele sempre me fazia falar, perguntando coisas óbvias só para me torturar.
— Olha, isso está me irritando. Mesmo - apoiei os cotovelos no sofá, de modo que sua cabeça estava bem entre eles - Você sabe o que. Eu gostar de voc... - Percebi que era a primeira vez que admitia em voz alta que realmente gostava dele. Inferno, era a primeira vez que admitia pra mim mesma.
— Então você gosta de mim, hein? - Ele sorriu.
— Eu não... ah, Vítor. Isso é tão confuso - Reclamei.
— Não precisa ser - Vítor se empurrou para cima, fazendo-me escorregar e ficar exatamente na altura de seu rosto - A gente tem um dinheiro legal agora. Poderíamos ir embora. Um lugar novo, uma casa nova. A casa que você quiser, no lugar que quiser.
— O Lucas...
— Psiu. Esqueça ela. Você não gosta dele de verdade.
— Claro que gosto - Protestei. E era verdade. Eu gostava. Provavelmente.
— Não gosta não, meu amor. Você é minha - Sua respiração batia no meu rosto.
— Não, Vítor, eu...
Ding-dong. Pulei de cima dele numa fração de segundo, mas não rápido a ponto de a campainha não ter soado novamente. Corri até a porta, e, sem nem mesmo verificar quem era naquele visor pequenininho que Vítor disse se chamar "olho mágico", eu abri a porta. Lá estava Júlia, com os lábios formando um biquinho, e uma característica mancha de tinta no olho esquerdo.
— Eu vim assim que Lucas me disse.
— O que?! - Perguntei, atônita.
— Me desculpa! - ela se jogou no meu pescoço, me abraçando tão forte que perdi o fôlego - Eu sei que disse que precisava ficar sozinha... mas eu quis ficar com você. Não deve ser fácil, mas eu vou te ajudar, tá?
— Eu... tá- Não sabia onde colocar as mãos no meio daquele aperto. Acabei dando tapinhas nas suas costas.
— Desculpa se cheguei em hora ruim - Segui seu olhar, até encontrar Vítor, sentado no sofá calmamente, como se nada houvesse acontecido segundos antes. Eu provavelmente estava com os olhos vermelhos e as faces coradas, mas ele não tinha um fio de cabelo fora do lugar.
— Você chegou em uma hora maravilhosa, Ju - Garanti. E, no final, eu nem sabia se era verdade mesmo.


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Notas finais do capítulo

Tentarei postar com mais frequência. Até.



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