- Não Barry, eu estou ótima. – a garota falava com a escova de dentes ainda na boca. – Não posso jurar, é contra a minha religião. – argumentou. - BARRY! – retirou a escova de dentes da boca. – Eu não comemoro o natal, eu sou judia e não vou passar oito dias comemorando o hanukkah porque eu nunca comemorei. – suspirou. – Você não precisa vir aqui, eu estou bem. Feliz natal. – não esperou resposta, apenas desligou.

Ela não estava bem.

Essa era a verdade. Precisou se esforçar muito para terminar de escovar os dentes sem derramar nenhuma lágrima. Continuou se esforçando da mesma forma durante todo o caminho até a sua cama e enquanto se deitava.

Oliver estava morto há exatamente um ano e ela ainda não havia conseguido recolher metade dos pedaços de seu coração, de sua alma. Felicity conseguira construir um muro entre ela e todas as outras pessoas. Ninguém notava tudo o que ela passava, ela nunca deixaria.

Fechou os olhos com força, não queria chorar. Estivera fazendo um excelente trabalho em entorpecer o seu corpo a qualquer sentimento que o mundo pudesse lhe proporcionar. Continuava atrapalhada com as palavras, não tinha como mudar isso, porém, cada sorriso, cada abraço, cada risada, cada palavra, cada ação, cada parte de si era vazia sem ele ali.

Após alguns segundos, começou a sentir as pálpebras pesarem. Os sonhos eram seus momentos de preciosidade, momentos onde, muitas vezes, ela podia vê-lo. Momentos pelos quais ela ansiava, desejava e implorava. Onde podia fugir da depressão dos dias interpretados e onde ela podia relembrar de cada feição do rosto que ela tanto amava.

Por isso, deixou que Morfeu a levasse, sem fazer alarde. Que melhor forma de comemorar o hanukkah do que com o seu Oliver.

Ela reconhecia aquela paisagem das imagens que conseguira pela internet. Haviam uma multidão de pessoas atrás de si, apesar de não poder ver, ela sabia. A sensação de pânico começou a assumir o seu corpo.

Seus olhos desceram da paisagem para a imagem no centro, entre o semi círculo de pessoas e o penhasco. Um homem estava ao chão, um homem com uma espada enfiada em seu peito. Seus olhos enchiam de lágrimas tão rapidamente quanto o vermelho tomava conta do branco. O sangue manchando a pureza da neve.

Já não havia mais ninguém ali, apenas o homem que estava dando os seus últimos suspiros, o homem que lutava com todas as forças que tinha para sobreviver, enquanto ela assistia, parada no mesmo lugar, apenas parada.

- Eu te amo. – as palavras saíram dos lábios de Oliver, os lábios manchados de sangue. – Por favor, diga alguma coisa. – implorou.

Ela precisava dizer alguma coisa, precisava. Ele estava ali, morrendo, em sua frente. E ela não conseguia dizer nada, sequer se mexer. Seu corpo era mais pesado que o normal. E assim, ela assistia Oliver morrer.

Mais uma vez.

Ela não dizia nada. Ele soltava o último suspiro e ela caia aos prantos. Seus joelhos sediam e as lágrimas invadiam o seu rosto. Os gritos eram altos demais, as dores destroçavam o seu corpo e ela desejava morrer também.

Ela não conseguia ser a mesma Felicity Smoak sem Oliver Queen.

Um grito ecoou pelas paredes de seu quarto. Um grito desesperado e seguido por soluços. O seu grito e os seus soluços. Seu cabelo estava pregado em seu rosto suado, e seu corpo tremia como uma criancinha com medo do escuro.

Felicty puxou o seu travesseiro, agarrando-o com toda a força que seus braços possuíam. Encaixou o rosto no objeto macio e chorou. Soluço após soluço, seu corpo tremia cada vez mais, e os soluços aumentavam. Mais lágrimas, mais dores, mais medos, mais desespero.

- Pare. – uma voz grossa soou em seu ouvido, provocando um arrepio e cessando suas lágrimas imediatamente.

- Oliver? – levantou o rosto, encontrando um homem encapuzado a sua frente.

- Não podia vê-la chorar dessa fora. – a mão do homem tocou a sua bochecha. – Não podia deixa-la assim em pleno hanukkah. – ele começou a movimentar o polegar, fazendo um carinho em seu rosto.

- Co... como vo... – o polegar dele a calou.

- Eu não deveria estar aqui. – sussurrou. – Ninguém sabe que eu estou vivo e tem que continuar assim. – admitiu. – Ou Ra's matara a todos vocês. – sussurrou. – E eu não posso deixar você, Roy, Diggle, Laurel ou Thea morrerem. – seus lábios estavam bem perto dos dela.

- Oliver, eu preciso te dizer uma coisa. – começou. – Eu preciso que você saiba que antes de partir, quando você disse que me amava e eu não te respondi. – seus olhos estavam em lágrimas novamente. – Eu preciso que você saiba o que eu sinto muito. Eu deveria ter dito que eu... – o dedo dele a calou novamente.

- Não diga nada. – murmurou ainda mais perto. – Não ainda. – seus lábios estavam a poucos centímetros um do outro. – Eu vou voltar Felicity... – escutar a sua voz saindo daqueles lábios era tão reconfortante. – E quando eu voltar, eu vou ser aquele que você quiser que eu seja. Eu só precisava que você não sofresse mais. – sua voz estava muito baixa.

Sem resistir, a mulher colou os lábios nos dele.

Aquele era seu presente de natal. Estar com ele, pelo menos mais uma vez. Lábios sobre lábios. Sua pele queimava onde entrava em contado com a dele. O cheiro se impregnava em seus lençóis, em seu travesseiro e em seu corpo.

Ela não precisava dizer nada, aquilo era o suficiente, ela podia sentir o amor entre os dois, era algo quase palpável ali. Ele não precisava fazer promessas, aquilo era o suficiente, ele sabia que não poderia deixa-la depois disso.

(...)

Oliver tinha que ir embora, por esse motivo, afagou o rosto da mulher que amava e beijou os seus lábios, para que ela pudesse acordar.

- Eu tenho que ir. – sussurrou. – Mas eu vou voltar, voltar de vez. – a mulher abraçou-o firmemente.

- Eu sei e eu vou esperar. – apertou-o ainda mais.

- Até mais. – murmurou com os lábios colados nos dela.

- Até mais Oliver. - deram um último beijo de despedida.

Ela o observou partir, com a certeza em seu coração, de que ele voltaria e seria em breve. A tristeza havia se dissipado. Felicity não era Felicity sem Oliver Queen. Agora podia ser a mesma de antes, pois seu coração havia sido reconstruído em apenas uma noite.

Aquele havia sido o melhor presente de hanukkah que recebera.

(...)

A mulher girava em sua cadeira, de novo e de novo. Mais um ano se passará, e nada de Oliver Queen aparecer novamente. Quer dizer, ela havia visto sua sombra durante meses após tudo aquilo, foram poucas vezes, contudo, nunca chegara a passar tanto tempo sem vê-lo depois daquele dia.

- Felicity! – Roy exclamou, fazendo com que ela se sobressaltasse.

- Oi...

- Você vem para a festar na casa do Dig? – a mulher assentiu.

- Vou sim. – murmurou. – Só preciso puxar uns relatórios sobre o roubo do banco em Central City para o Barry, ele está tentando entender porque o FBI tomou conta do caso, nada de mais. – sussurrou, voltando sua atenção para o computador.

- Tudo bem, te vejo lá. – piscou, antes de subir as escadas.

A mulher invadiu o sistema do FBI com poucas dificuldades, copiou os arquivos, apagou os rastros e enviou os arquivos para Barry. Já estava mais de uma hora atrasada e tinha prometido que encontraria com eles.

Pegou suas coisas e subiu as escadas lentamente. Não estava muito animada, esse era, mais uma vez, o último dia que ela realmente vira Oliver e isso a incomodava. Estava quase saindo abrindo a porta quando um barulho alto a assustou. Felicity abaixou-se, e desceu, ainda abaixada e silenciosamente, as escadas.

Oliver Queen estava ali.

Ele estava bem vestido, bem penteado e segurava uma grande sacola de tecido.

- Não vai me convidar para o natal da família Diggle? – havia um sorriso enorme em seus lábios.

Felicity correu em sua direção, tudo o que estava em suas mãos foram deixados pelo caminho. Tudo o que ela queria era pular nos braços do homem que ela amava. E foi o que ela fez.

Pulou, abraçou e beijou toda a extensão do rosto másculo do homem, enquanto ele a apertava contra si e deixava que o cheiro dela invadisse o seu corpo. E então, finalmente os lábios se tocaram. Um beijo cheio de paixão, saudades e amor.

- Eu estou de volta. – a voz do homem estava embargada, sentira tanta a falta da mulher. – Estou de volta para ficar. – então, ela deixou de segurar as lágrimas e chorou, agarrando-o ainda mais.

- Eu te amo. – beijou-o novamente. – Eu te amo, eu te amo, eu te amo. – agora ela podia dizer, agora ela podia colocar para fora.

- Eu gostaria muito de passar o resto da noite aqui, só eu e você. – murmurou contra os lábios da mulher. – Mas é natal para uns, e hanukkah para você. – selou-a rapidamente. – Precisamos comemorar em grande estilo.

A mulher o agarrou ainda mais forte.

- Não, não e não. – sussurrou, sem querer se afastar. – Vai ficar aqui comigo. – um suspiro pesado saiu dos lábios dele.

- Tudo bem... – encostou os lábios no pescoço dela. – Eu não me incomodaria com isso. – colou ainda mais os corpos. – Quer dizer, eu trouxe alguns presentes, mas posso dá-los amanhã.

Felicity bufou. Aquilo não seria justo. Tudo bem que ela queria que Oliver estivesse ali, com ela e apenas ela. Porém, Diggle e Roy mereciam saber que ele estava de volta e tinha Thea, até mesmo Laurel.

- Vamos logo. – colou os lábios mais uma vez. – Antes que eu mude de ideia e te tranque no meu apartamento por uma semana. – tentou se afastar, mas ele a puxou de volta.

- Que tal nós irmos até o jantar e passarmos o resto da semana trancados no seu apartamento? – a mulher gargalhou.

- Pegue sua sacola, papai Noel. – brincou. – Que se você for um bom menino, eu posso pensar no seu caso. – o homem a apertou fortemente, mais uma vez.

Ela estava errada, o presente que ganhara no ano anterior, não chegava aos pés do presente que ganhara esse ano. O hanukkah estava se tornando um excelente feriado para se comemorar, agora mais do que nunca.