Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 75
Se não fosse amor - Cap. 32: Se for beber... Aliás, não beba.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite amores!
Espero que gostem,
Beijão!



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POV Matthew Davis

“Então ele funciona ás vezes?” O técnico que veio consertar meu telefone do escritório perguntou para mim, eu estava apoiado em minha mesa, de braços cruzados, observando ele trabalhar.

“Sim. Ele está funcionando normal e do nada fica mudo...” Expliquei para ele. “Já trocamos o aparelho umas duas vezes e continua dando esse problema.”

“Deve ser algum mau contato na fiação...” Ele disse pensativo. “Eu vou dar uma olhada lá e já volto senhor.”

“Tudo bem, sem problemas.” Assenti e o técnico abriu a porta para sair, mas esbarrou em Sophie.

“Desculpe Srta. Trammer!” Ele falou.

“Eu que peço desculpas.” Ela sorriu. “E é só Sophie, por favor.” O técnico assentiu e saiu, enquanto Sophie entrou em minha sala. “Bati na sala ao lado, mas é Brian quem está lá... Não vai para a sala da presidência?” Ela perguntou para mim.

“Não, eu gosto dessa sala. E minhas coisas já estão todas aqui, mudar agora seria só pra ter mais trabalho.” Sentei em minha cadeira.

“Bom, você quem sabe...” Ela deu de ombros. “Não faz diferença para mim, de qualquer forma.”

“E você o que quer? Aconteceu alguma coisa?”

“Ainda não aconteceu, mas vai.” Ela sentou, cruzando as pernas e eu a olhei sem entender o que ela quis dizer. “A gente vai sair para almoçar hoje, só eu e você.”

“Eu não posso Sophie...”

“Um bom motivo, por favor.”

“Eu vou almoçar com a Lindsay e o noivo dela.” Eu não tinha me importando quando havia descoberto que Lindsay iria casar. Nem estava feliz, nem tinha ficado triste... Era indiferente para mim, mas era bom que ela tenha encontrado uma outra pessoa.

“Melhor ainda, vamos jantar.” Ela se levantou animada. “Você passa pra me buscar 19hrs.”

“Não Sophie.”

“20hrs então?”

“Sophie...” Levantei. “Não vou sair pra jantar com você.”

“E por que não? Está ocupado hoje? Marcamos para amanhã, eu tenho bastante tempo livre agora.” Ela falou rindo.

“Ok... Como eu vou falar isso...” Falei sem graça e ela franziu a testa. “Eu não quero sair com você.”

“Impossível...” Ela falou incrédula. “Por que você não iria querer sair comigo?”

“Eu estou conhecendo outra pessoa.”

“Não está não.”

“Estou sim.”

“Não está não.” Ela parecia uma criança mimada sendo contrariada.

“Deixa de ser teimosa...” Bufei.

“Mas como? Quando? Quem é ela?” Ela disse com raiva.

“Você não conhece ela...”

“Está certo.” Ela assentiu. “Qual nome completo dela?”

“Ah não, você não vai mandar investigar a vida dela, nem pense nisso.”

“Ok, não precisa dizer.” Ela levantou as mãos se rendendo. “Eu descubro isso rapidinho.”

“Faça o que quiser.” Falei impaciente e voltei a sentar.

“Desde quando?” Ela perguntou e eu a olhei.

“Desde quando o quê?”

“Desde quando está saindo com essa fulana?”

“Não é uma fulana, ela tem nome. E é uma mulher muito bonita e muito interessante.”

“Bonita e interessante?” Ela disse irônica. “A gente dá esses adjetivos para uma casa, um carro... Não para uma mulher.”

“E o que você espera que eu diga?”

“O óbvio. Que vai dar o fora nessa criatura e voltar comigo.”

“Eu acho que isso é bem difícil de acontecer...”

“Engraçado... Eu acho isso bem provável de acontecer.” Ela riu com sarcasmo.

“Sophie...” Suspirei derrotado. “Essa história de nós dois, já acabou. Você melhor que ninguém sabe disso.”

“Só acaba quando eu disser que acabou Matthew.”

“Você por acaso já esqueceu o que me disse da última vez que nos vimos?” Ela desviou o olhar de mim, cruzando os braços. “Disse pra eu ir viver minha vida e que não podia ficar comigo.” Disse perplexo. “Viajei meio mundo pra te encontrar e você praticamente me expulsou.”

“É, mas agora eu posso.”

“Mas agora eu não quero.”

“Como não quer? Você não me ama mais, é isso?”

“Eu acredito que você deixou bem claro que não queria o meu amor.” Falei com desdém. “Disse pra viver minha vida e é o que eu estou fazendo.”

“Eu estou vendo!” Ela disse chocada. “Não sabia o quão obediente você podia ser! Foi só eu dar as costas pra você...”

“Sophie eu não vou ficar aqui ouvindo você falando essas besteiras.” A interrompi batendo na mesa. “Eu fui fiel a você durante meses! Conheci a Eleanor há apenas algumas semanas e saímos algumas vezes. É só isso.”

“Eleanor.” Ela repetiu cerrando os olhos. “Eleanor vai ter problemas...”

“Se você fizer alguma coisa, Sophie... Juro que não respondo por mim.” Disse impaciente. “Você nem me quis nem quer que eu encontre outra pessoa!”

“Eu quero você...” Ela andou ficando de frente para mim e se abaixou apoiando as mãos nas cadeiras. “Eu quero você agora.” Ela se aproximou de mim, olhando para minha boca e eu mantive o meu olhar nos seus olhos.

“O problema, é que eu não quero você.” Ela me encarou em choque e eu sabia que tinha a magoado com aquela frase, mas ela apenas sorriu e se afastou de mim andando para a porta.

“As grandes histórias de amor costumam começar com essa frase, Matthew e não terminar com ela.” Ela saiu batendo a porta.

Tudo bem, essa reação não foi nenhum surpresa, eu sabia que ela não lida muito bem com rejeições.

Eleanor Griffin era uma mulher de 33 anos, muito bonita. Loira, cabelos curtos e lisos, nos conhecemos quando ela estava terminando de fazer sua mudança para um apartamento no mesmo prédio que o meu, só que quatro andares acima. Eu estava entrando no elevador quando a ouvi gritar, pedindo que eu segurasse as portas, ela carregava uma caixa que parecia pesada demais para ela e eu me ofereci para levar. Ela é médica, cardiologista, divorciada e sem filhos. Além de ser muito inteligente, era o tipo de mulher que você conseguia manter uma conversa legal e interessante. Eu não estava muito afim de encontros, mas me parecia um tanto quanto deselegante não aceitar o seu convite para um almoço. Eu também não tinha planos de sair outro dia com ela, mas aconteceu. Não era namoro, não estava em um relacionamento sério. Saíamos quando queríamos a companhia um do outro, era tudo muito simples, maduro e nada problemático ou dramático... Eram apenas duas pessoas aproveitando um tempo livre juntos.

Eu provavelmente iria explicar para Sophie depois que não estava namorando, mas só depois. Quando ela abaixasse um pouco a bola e parasse de tentar mandar em mim como ela mandava nos funcionários da empresa. Era patética essa tentativa de reaproximação, por que quando eu quis me reaproximar e ir atrás dela, ela apenas me mandou ir embora. Ela ia aprender por bem ou por mal que as coisas não aconteciam sempre do jeito que ela queria.

Voltei do almoço com Lindsay e tinha anotado algumas coisas que deveriam ser modificadas no documento final. Para minha sorte, tinha levado quase 1hr do restaurante para o prédio, tudo graças ao trânsito. Tive algumas reuniões ao longo do dia e Brian tinha me convidado para jantar com ele e Mabel, Luke tinha ido viajar cedo de manhã para onde Kenny estava e eles voltariam juntos, então eu não estava com muita vontade de segurar vela hoje e sem contar que aquele era um desses dias que você só quer chegar em casa, tomar um bom banho, comer e só ficar deitado vendo televisão.

Saí do banho enrolado em uma toalha e parei na frente do espelho me analisando. Sério que ela acha que eu tô parecendo um mendigo? Passei a mão em minha barba e estava talvez um pouco grande demais, mas me recusei a tirar, apenas aparei. Coloquei uma calça de moletom e joguei-me em minha cama comendo um pedaço de pizza que havia acabado de chegar e liguei a televisão e fiquei assistindo um filme de ação. Quando terminei de devorar metade da pizza, guardei o resto na geladeira, escovei os dentes e voltei para a cama, caindo no sono poucos momentos depois.

Acordei ouvindo meu celular tocar. Pisquei os olhos algumas vezes, por que havia esquecido a luz do quarto acessa e elas estavam incomodando e muito agora. Procurei meu celular por cima da cama, me atrapalhando todo por ainda estar sonolento e o vi em cima do criado-mudo, ao lado da cama. Olhei para o relógio e eram 2hrs da manhã. Vou começar a desligar esse celular quando for dormir... Vi no visor o nome de Luke. Bufei e atendi.

“Eu espero que tenha morrido alguém.” Falei mal humorado, odiava ser acordado.

“Quase isso... A Sophie...” Ele disse e eu sentei na cama de uma vez.

“O que foi? O que aconteceu? Ela tá bem?” Disse sem conseguir conter minha preocupação.

“Ela está, eu acho...”

“Fala de uma vez Luke!” Gritei impaciente.

“Um amigo meu está numa boate e reconheceu ela, parece que bebeu mais do que devia e está louca lá. Ele me ligou por que nunca tinha visto ela assim e quis saber se eu estava ciente.”

“A Sophie, em uma boate e bêbada?” Ri com sarcasmo. “Tem certeza que era ela? Ele pode ter confundido, não é a cara dela fazer isso, ela odeia esses lugares.”

“Eu sei disso, mas ele me garantiu que era ela!”

“Está bem...” Suspirei. “Me manda o endereço por mensagem, eu vou lá tirar a prova.”

“Muito, muito obrigado. Eu só vou conseguir ficar tranqüilo quando tiver noticias.”

“Eu te aviso assim quando souber algo, pode deixar.”

Levantei da cama e me troquei rapidamente, colocando uma calça jeans e uma blusa qualquer. Peguei um casaco por que estava realmente muito frio lá fora e desci o mais rápido que pude para o estacionamento, quando entrei em meu carro, vi uma mensagem de Luke com o endereço da tal maldita boate e não ficava muito longe de casa, como a essa hora não tinha trânsito, eu chegaria em poucos minutos lá. Quando enfim achei um lugar para estacionar, desci e ainda tive que subornar o segurança, por que tinha uma fila enorme para entrar e eu não estava afim de ficar esperando. Me deve 100 dólares Sophie Trammer.

Quando entrei, cheguei a conclusão de que eu estava velho e ranzinza mesmo, por que o barulho era irritante. Um mar de gente dançando e bebendo. Estava dando uma geral, me perguntando como eu ia encontrar Sophie ali naquele meio, isso é, se era ela que estava ali mesmo. E agora? Não vou conseguir achar ela nunca aqui... Tentei olhar mais atentamente para o bar, tentando reconhecer ela, olhei para a pista de dança e para os mezaninos, quando cerrei os olhos tentando ver melhor, por que não estava acreditando. Mas que porra...?! Era Sophie, com certeza era ela, dançando em cima de uma mesa, com uma calça de couro, botas e uma blusa branca, nua nas costas e rodeada de pessoas. Nem sei como cheguei lá tão rápido assim, principalmente com tanta gente no meio atrapalhando o caminho, mas após empurrar algumas pessoas, consegui ficar próximo a mesa e puxei Sophie pelo braço, fazendo ela se virar para mim.

“O que você tá fazendo aqui?” Ela disse incrédula, com a voz enrolada.

“O que eu estou fazendo aqui? O que você está fazendo aqui?” Falei com raiva. “Tá bêbada! E quem é esse pessoal todo?”

“Eu sei lá...” Ela deu de ombros rindo.

“Está ridícula aí em cima, desce agora que eu vou te levar para casa.” Falei e ela franziu a testa.

“Ei!” Ela chamou um cara do outro lado da mesa. “Acha que eu sou ridícula?” Ela perguntou para ele que riu maliciosamente, a olhando de cima a baixo.

“Com toda certeza que não...” Ele tentou se aproximar dela e eu o segurei pela blusa.

“Mais um passo e você é um homem morto.” Disse entre os dentes e o cara levantou as mãos em forma de rendição.

“Calma, amigo!” Ele disse rindo.

“Não sou seu amigo.” O empurrei. “E você...” Olhei para Sophie. “Desce. Agora.”

“Por que eu faria isso?” Ela disse arrogantemente.

“Porque eu estou pedindo com jeitinho para você descer.” Falei ironicamente.

“Não tô muito afim...” Ela deu as costas para mim e eu a puxei de volta, a colocando por cima do meu ombro, ela pegou sua bolsa em cima da mesa e fui andando em direção a saída.

“Me solta!” Ela falou batendo as pernas e dando murros em minhas costas. Bati com força na sua bunda e ela gritou. “Ai!”

“Se você não parar quieta, a próxima vai doer mais.” Disse impaciente, mas pelo menos ela se calou.

“Eu posso andar com as minhas pernas agora?” Ela disse quando saímos daquele pedacinho do inferno.

“Você consegue?” Falei com sarcasmo.

“Eu estou congelando aqui fora!” Ela reclamou e eu bufei, a colocando no chão e ela cambaleou se segurando na parede. “Tem dois de você na minha frente...” Ela falou rindo e eu revirei os olhos. Tirei o meu casaco e coloquei nela, a pegando no colo. “Eu consigo andar...” Ela protestou.

“Não duvido disso, mas nesse momento você não está em muitas condições.”

“Você acha que eu estou bêbada, mas eu não estou.” Ela virou meu rosto para o seu. “Eu estou completamente sóbria.” Ela terminou a frase demorando o triplo de tempo que levaria se realmente estivesse sóbria.

“Eu estou vendo...” Disse irônico e ela ainda falou algumas coisas sem sentindo, meio embaralhadas, até chegarmos ao meu carro.

A coloquei no chão e tirei a chave do bolso, desativando o alarme e destrancando as portas, abri a porta do passageiro e a ajudei a entrar, só foi preciso o tempo de eu dar a volta para entrar no outro lado do carro para que ela caísse no sono, toda enrolada no meu casaco. Isso será cômico se não fosse trágico. Ri do meu próprio pensamento e dirigi até seu condomínio. Estacionei na garagem e depois de muita luta, consegui tirar ela de dentro do carro, ela conseguiu ir andando se apoiando em mim e devo admitir que fiquei impressionado por ela conseguir andar de salto mesmo bêbada. Ela se encostou na parede do elevador de olhos fechados e eu não sabia se ela tinha dormido de novo ou não, mas não mexi nela até as portas abrirem. Ela começou a andar para fora do elevador, se segurando nas paredes e cambaleou algumas vezes, fiquei ao seu lado garantindo que em qualquer passo em falso eu estaria ali para segurá-la. Ela parou ao lado da sua porta revirando a bolsa e eu passei sua frente colocando a chave na tranca e ela me olhou confusa.

“Ainda tenho a chave.” Respondi calmamente.

“A chave do apartamento você pode ter, mas sair pra jantar comigo você não pode.” Ela me empurrou, tirando a minha chave da porta e colocando a sua, ou tentando, pelo menos, mas ela não conseguia acertar o buraco da fechadura.

“Foi você que me deu essa chave...” Disse tentando não rir das tentativas frustradas dela destrancar a porta.

“Pois eu quero de volta.” Ela abriu a porta de uma vez e caiu no chão.

“Você tá bem? Machucou?” Perguntei preocupado e ela continuou deitada.

“O chão tá tão confortável...” Ela disse rindo e eu sentei ao seu lado no chão, rindo também.

“Você é uma bêbada engraçada. O que me impede de te deixar aqui no chão e ir embora?” Disse com diversão.

“Um pouco de gratidão?” Ela olhou para mim ainda rindo. “Eu já cuidei de você uma vez quando você estava bêbado, esqueceu? E eu não estou bêbada, estou levemente alterada.”

“Ah claro, levemente alterada.” Fingi concordar e me levantei a ajudando a levantar também. “Eu fui um bêbado assim tão chato igual você?”

“Você foi insuportável. E pesa uma tonelada, sofri pra te carregar...” Ela conseguiu ficar em pé segurando em mim e eu fechei a porta. “Sem contar que você vomitou em cima de mim.”

“Não vai vomitar em cima de mim, não é?” Implorei.

“Não. Não sou fraquinha igual você, você bebe igual mulherzinha.” Ela falou debochando e antes que eu pudesse responder, ouvi latidos e Baby veio correndo para cima de mim junto de outra cachorra, que rosnava para mim.

“E aí garotão!” Falei enquanto fazia carinho nele, mas a outra cachorra ainda continuava rosnando para mim, mostrando os dentes enormes. “Ela vai arrancar meu braço?” Perguntei para Sophie.

“Cristal, não!” Ela disse tentando fazer uma voz autoritária, mas parecia ter dado certo, por que Cristal parou de rosnar e choramingou.

“Eu sou pai do seu namorado Cristal, tem que tratar bem.” Falei e ela se aproximou cautelosa e eu fiz carinho nela também, que retribuiu lambendo minha mão, olhei para Sophie, que estava praticamente dormindo em pé. “Tudo bem, hora de ir dormir...” Ela assentiu em silêncio e fomos para o quarto.

Sophie sentou na cama e eu entrei em seu closet, procurando por um pijama qualquer. Em meios as camisetas que ela usava para dormir, encontrei uma minha antiga, que eu tinha esquecido aqui e ela tinha tomado posse por que era confortável para dormir e segundo ela, ‘Cheirava a Matthew Davis’. Sorri e peguei uma outra camisa para ela e um short. Voltei para o quarto e ela já estava deitada na cama.

“Sophie, espera, troca de roupa pelo menos...” A puxei levemente pelo braço e ela sentou resmungando.

Entreguei a camisa para ela, ela tirou sua blusa, a jogando no chão e vestiu a camisa que eu tinha lhe dado. Depois entreguei o short e ela pegou, abrindo o botão da calça e parou pensativa.

“Não dá pra pegar uma calça de moletom para mim?” Ela me perguntou.

“Qual a diferenç a entre esse short ou uma calça? Só se troca logo Sophie...” Falei já impaciente. Ela olhou para o short, depois para a sua calça e enfim para mim.

“Então vira de costas.”

“Virar de costas? Pra você tudo bem eu ver seus peitos, mas não posso ver você de calcinha, é isso?” Falei com sarcasmo.

“Vira de costas.” Ela disse séria e eu bufei, virando de costas. “Pronto.” Ela falou e quando eu virei para ela de novo, ela já estava toda enrolada.

“Bom, já está entregue, está inteira e viva... Então boa noite.” Falei, ela assentiu e virou de lado.

Fiquei parado apenas a olhando, por algum motivo não conseguia simplesmente sair e ir embora. Tirei o celular do bolso e enviei uma mensagem para Luke, dizendo que Sophie já estava em casa e dormindo.

“Vai ficar aí parado em pé por quanto tempo?” Sophie falou e eu me assustei, por achar que ela estava dormindo.

“Só avisando para o Luke que você está bem, ele estava preocupado.” Respondi e coloquei o celular de volta no bolso.

“Parece que é um estado permanente...” Sophie se virou para mim visivelmente sonolenta. “Vocês preocupados.”

“Não pode ser simplesmente agradecida por ter pessoas que se importam com você?”

“Não dá pra agradecer por um fardo.” Ela falou séria. “Ia ser tudo mais fácil se eu fosse sozinha no mundo, como eu deveria ser.” Ela fechou os olhos e eu fiquei sem entender o que ela quis dizer.

“Por que saiu e bebeu tanto assim?” Perguntei.

“Porque eu sou um nada. Um nada com muito dinheiro e poder.” Ela bocejou e virou novamente dando as costas para mim. “Mas por algum milagre eu consigo fazer com que isso pareça ser uma coisa boa.” E caiu no sono.

Quando vai se dar conta de que é o tudo para algumas pessoas? Suspirei e sente na beira da cama a olhando dormir. Eu não estava com raiva por ela ter bebido ou tentado se divertir, embora eu ache que tem formas mais interessantes e menos auto-destrutivas de se fazer isso, por que pela minha experiência com porres, a manhã seguinte é sempre um inferno. Mas meu primeiro instinto era sempre protegê-la e eu percebi naquela hora que não importa que ela tenha errado em ir embora, em ficar longe por tanto tempo e por querer exigir algo de mim, Sophie sempre seria importante para mim e isso era um fato irrevogável.

Inclinei-me um pouco, tentando voltar a cobrir seu corpo com o cobertor que caiu para os lados quando ela se virou. O puxei até seu ombro distraidamente até que quando ia cobrir suas pernas, parei por um momento. O que é isso? Vi uma marca no final da sua panturrilha, levantei com cuidado a coberta e tinha uma cicatriz que ia até quase a sua coxa esquerda. Isso não estava aí antes, com certeza não estava! Ela continuava a dormir tranquilamente e eu fiquei olhando para aquela marca por mais tempo que o necessário, com certeza. Como ela conseguiu isso? Era por isso que ela estava andando normal agora? Ela se operou? Mas se ela se operou, por que não contou para nós? Ou eu era o único que não sabia? Era por isso que ela tinha ficado fora tanto tempo? Mil perguntas, mas nenhuma resposta. E eu não sabia se fazer essas perguntas para ela, era cruzar algum limite, por que se isso não fosse nada demais ela já teria dito algo sobre. Eu tinha que conseguir essas respostas de uma forma sutil, mas não tinha idéia de como conseguir isso. Sentei ao seu lado, esticando minhas pernas na cama e em algum momento entre meus pensamentos e dúvidas, caí no sono.

Quando acordei a cama estava vazia e o cobertor de Sophie agora estava sobre mim, sentei na cama, ainda um pouco sonolento e levantei saindo do quarto. Ela estava sentada em um banco e com a cabeça deitada no balcão da cozinha, segurando uma xícara em uma das mãos e tinha trocado os shorts que eu tinha lhe dado ontem por uma calça, provavelmente para esconder o que ela não queria que eu visse, mas não estava disposto a tocar nesse assunto agora, só iria assustá-la, precisava preparar o terreno primeiro. Os cachorros correram para mim assim que me viram e começaram a latir enquanto eu tentava dividir a atenção entre eles dois, mas Cristal sem dúvidas, era a mais barulhenta.

“Cristal, eu juro, se você não se calar eu corto sua língua fora!” Sophie resmungou sem se mover.

“A sua mãe está de ressaca, é melhor não incomodar por que ela tem uma leve tendência a ser uma assassina.” Falei rindo e Sophie olhou para mim por cima do ombro e sua cara não era nada boa. “Anotou a placa do caminhão que te atropelou?” Disse com diversão.

“Porque não pega logo uma faca e me mata, vai ser mais agradável.” Ela falou emburrada e voltou a deitar a cabeça no balcão.

“Se não consegue lidar com a ressaca, não beba. É simples.” Andei sentando em cima do balcão. “Não foi uma boa menina ontem.”

“Eu sei.” Ela levantou a cabeça apoiando o queixo na mão. “Sophie má, Sophie muito má.” Eu ri da forma que ela falou.

“E aí como está?”

“Eu já tive dias melhores...” Ela resmungou e olhou para os cachorros que estavam se mordendo e correndo atrás um do outro, Baby esbarrou na mesa e derrubou um jarro, que por sorte, não quebrou. “Eu não consigo mais lidar com eles dois.” Ela bufou.

“São sempre animados assim?”

“Não eram, estavam se comportando bem até. Mas nos hotéis que eu ficava sempre tinha uma área para eles ficarem e correrem a vontade, aqui não tem... Acho que estão com energia acumulada.”

“Husky é uma raça de grande porte, precisa de espaço e ainda mais você com dois, vão pirar aqui trancados.”

“Eu sei... Mas já estou tentando resolver isso.” Ela me olhou séria. “Sobre ontem... Aliás, hoje mais cedo...”

“Não precisa se preocupar, eu entendi que você não quer se apegar agora e pra mim foi bom como aconteceu.” Falei me fingindo de sério.

“Desculpe... O quê?” Ela falou confusa e eu continuei na minha atuação.

“Ah, vai dizer que não lembra...” Eu ri e ela fez que não com a cabeça. “Não lembra da madrugada de sexo selvagem que tivemos? Achei que você não ia conseguir sentar por um bom tempo...” Sua expressão de surpresa e choque era muito engraçada e eu contive a gargalhada. Ela revirou os olhos entendo que eu estava apenas zoando com ela.

“Imbecil...” Sophie resmungou. “É isso que dá querer ser educada, ia agradecer por ter me trazido para casa e é assim que você retribui a minha boa vontade.” Ela falou séria. “E faz o favor de falar mais baixo, essa sua voz tá me irritando hoje.”

“Não culpe minha voz, culpe sua ressaca.” Pulei do balcão. “E por nada.” Gritei perto do seu ouvido e ela me fuzilou com os olhos. Saí rindo em direção à porta. “Lembre-se dessa dor de cabeça quando quiser beber de novo...”

“Foda-se Davis.” Ela resmungou e eu saí rindo, fechando a porta.

Enquanto eu estava no carro, dirigindo para minha casa, fiquei divagando sobre Sophie. Eu fui o primeiro a criticar a sua ausência, não nego isso, estava cego de raiva e frustração por achar que finalmente tínhamos conseguido nos resolver e ela ter jogado tudo para o ar dessa forma, mas... E se ela teve outro motivo para ficar fora todo esse tempo? Ok, uma cirurgia na perna não ia levar um ano, no máximo alguns poucos meses e ela deveria ter dito algo para nós... Mas eu também não sabia se eu era o único desenformado do grupo, vai ver mais alguém sabia. Porém, se ela fosse contar algo, seria para Luke, com certeza e eu não acreditava que Luke conseguiria não nos contar nada, ele parecia tão preocupado quanto o resto de nós com a ausência de Sophie e sua falta de notícias. Eu preferia achar que tinha sido injusto com ela todo esse tempo e que ela realmente tinha tido bons motivos para ficar fora do que continuar acreditando que ela era esse ser humano sem coração que tinha nos deixado um ano sem praticamente, nenhuma notícia sobre ela. Eu preciso descobrir o que aconteceu nessa viagem... E eu vou descobrir.


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