Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 4
Mas eu não falo Alemão!




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Fomos dormir bem tarde e eu teria que acordar muito cedo, para a minha alegria a maldita reunião que Richard marcou iria começar em poucas horas. Deixei Luke dormindo e fui me arrumar, sem a menor coragem. Optei por um look básico, saia lápis preta, blusa de alça branca e blazer preto. Além de, claro, saltos pretos e acessórios prateados. Deixei os cabelos soltos ondulados, uma maquiagem básica, mas batom vermelho. Preparei uma vitamina rápida e desci para a garagem.

Quando subi para o andar onde ficam as salas de reunião, Emily já estava me aguardando no hall de entrada. Passamos alguns tópicos que iriam ser tratados na reunião quando meu celular começou a tocar, era uma mensagem de Richard dizendo que não iria poder com. Achei ótimo na verdade, cada encontro com Richard era uma discussão e seria maravilhoso passar um fim de semana tranquilo.

Alguns minutos depois, os investidores saem do elevador. Eram três, um ruivo, alto e magrinho, o outro era loiro, só um pouco mais baixo, porém mais forte, a mulher era um pouco menor que eu, loira também, olhos claros, muito bonita. Andei na direção deles para cumprimentá-los.

“Bom dia! Muito prazer, sou Sophie Trammer.” Falei sorrindo educadamente, os três me olharam com uma cara confusa. Eles falaram algo em um idioma que eu não entendi nada. “Um minuto.” Tentei sorrir e fui até onde Emily estava. “Que diabo de língua é essas que eles falam?”

“Eu-eu não sei...” Ela falou nervosa. “É Alemão talvez?!”

“Alemão??!!” Esbravejei. “Meu Deus... O que eu faço Emily?” Vi Matthew chegando e vindo em nossa direção.

“Bom dia!” Ele disse todo sorridente.

“Péssimo dia...” Falei.

“O que houve?”

“o que houve?” Repeti a pergunta sarcástica. “Nada demais, só que aquele imprestável do Richard marcou essa reunião com essas criaturas e eles nem falam nossa língua.”

“De onde eles são?”

“Eu e Emily achamos que são Alemães...” Cruzei os braços.

“É só esse o problema?”

“Matthew eu falo inglês, português, espanhol, italiano, francês, russo e sueco. Mas adivinha, não falo alemão. Não sei dizer se quer um bom dia.”

“Sophie...” Ele falou com um sorriso ‘molha calcinha’. “Relaxa.” Ele saiu andando em direção aos investidores e os cumprimentou falando a mesma língua estranha deles. Emily e eu ficamos boquiabertas. Ele falou algo e se distanciou deles voltando para onde nós duas estávamos. “Vem, você tem que se apresentar. Eu vou ser seu tradutor hoje.” Ele pegou no meu braço de leve e voltamos para próximo deles. “Herren, das ist Sophie Trammer, PräsidentdesUnternehmens.” Ele disse e eu só fiquei sorrindo com cara de tonta, fingindo que estava entendendo tudo.

“Não estou entendendo o que está falando...” Falei tentando conter minha voz de raiva.

“Eu só disse que você se chama Sophie Trammer e que é a presidente. Estes são Joseph Keller.” Ele apontou para o ruivo. “Saymon Schleyer.” Ele apontou para o loiro, “E Magda Norma”, ele apontou para a mulher.

“Diga a eles que é um prazer conhecê-los e que estamos honrados com a oportunidade de fazer negócios com eles.” Matthew falou umas coisas esquisitas e aparentemente eles gostaram de ouvir, pois abriram um sorriso para nós. O loiro, mais forte disse algo impossível de entender. “Traduz, por favor.” Olhei para Matt, agora mais calma.

“Ele disse que é um prazer para eles conhecer você e...” Ele torceu o nariz. “E que vocêé ainda mais bonita pessoalmente.”

“Quem diria... Levando cantada de alemão... Ele não pode ser pior do que os caras que eu já sai” Falei tentando conter uma risada. Mais alguns minutos conversando, dirigimo-nos até a sala reservada para nós e como era um projeto de muito tempo, eu iria apresenta-lo e Matt iria traduzir para os gringos. A proposta era, basicamente, investir no ramo de beleza e estética. Joseph, Saymon e Magda eram famosos nessa indústria, e ter o nome deles ligado ao da Trammer iria ser ótimo para nós, até por que não deixava de ser uma ótima oportunidade de fazer nosso nome ser conhecido e se fixar no mercado internacional.

“Então, basicamente, o nosso foco são as mulheres que além de mães e profissionais, são femininas, independentes... Queremos fazer com que os serviços sejam rápidos, que elas possam, por exemplo, ir fazer o cabelo na hora do almoço, ou as unhas em 30min...”. Magda falou algo olhando para mim, que óbvio não entendi. Olhei para Matt tentando discretamente pedir socorro.

“Ela quer saber o seu ponto de vista pessoal como consumidora.” Matthew disse me olhando calmo.

“Pessoalmente falando” Olhei diretamente para ela. “Não quero ser vista apenas como ‘a chefe’, ‘a empresária’. Eu acho que nós mulheres conquistamos muitas coisas ao longo dos anos, mas o que não conseguimos admitir é o quão nos sentimos frágeis a maioria do tempo. Quando me olham, eu espero que vejam uma profissional, competente que ama o que faz, mas antes de mais nada eu quero que me vejam como uma mulher bonita, elegante... Nós nos arrumamos para nós mesma e para o resto do mundo, por que queremos ser elogiadas e desejadas. Eu não quero que pensem nesse projeto como uma futilidade, mas sim uma necessidade, nós temos esse desejo de nos sentir bem com nós mesmas e quando uma mulher consegue essa segurança, não há nada que ela não possa fazer. Eu acredito que podemos fazer qualquer coisa que homens façam e tudo ainda, de salto alto.” Terminei meu breve discurso um pouco antes de Matthew e quando ele terminou de traduzir para eles o que eu havia dito, os dois rapazes sentados a mesa olharam para ela. Era notório quem tomava as decisões naquele grupo. Ela se levantou, olhou para Matthew e para mim.

“WirwerdenTeil dieses Projektszusein”. Ela disse e estendeu a mão. Olhei para Matthew e ele estava sorrindo.

“Fechamos negócio!” Ele disse animado. Eu estendi a mão para ela também e respirei aliviada.

Depois de muito tempo planejando investir em algo assim, agora o projeto iria sair do papel. Após alguns minutos e depois de algumas cantadas do alemão que Matthew se recusou a traduzir para mim, ele os acompanhou até uma grande varanda que tínhamos no andar e ficaram conversando, só Deus sabe o que, Para minha surpresa, Luke saiu do elevador e foi andando em direção a mim.

“Olha só quem acordou!” Falei indo até ele.

“Estava muito tedioso em casa sem você, já podemos ir almoçar, estou morrendo de fome.”

“Vamos em um minuto, só tenho que me despedir daquele monte de gente...” Olhei para a varanda em que os quatro conversavam alegremente, como se eles se conhecessem há anos.

“Quem são?”

“Uns sócios que conseguimos pra um negócio novo. Você não imagina o sufoco que eu passei, eles são Alemães e não falam nossa língua, não entendem uma palavra do que eu falo.”

“Alemães e feios né, credo.” Matt aparentemente pediu com licença e veio andando para onde estávamos. “Menos esse daí heim... Eu totalmente casava.”

“Com o loiro ou ruivo?”

“Que loiro ou ruivo o quê sua doida. Esse moreno que tá bem na sua frente.” Matthew já estava a uma distância bem próxima de nós dois e levantou uma sobrancelha quando ouviu o comentário de Luke. “Aliás, que belo moreno... Já dormiu com ele?” Olhei para Matthew, completamente, envergonhada pelo comentário. “Tem certeza de que esse é alemão? A bunda dele não é de alemão, com certeza.” Matthew me olhou com diversão.

“Luke esse é o Matthew, novo vice presidente.” Disse visivelmente sem graça. “Ele é americano, fala nossa língua e ouviu todos os seus comentários.”

“É um prazer enfim lhe conhecer Luke.” Ele disse educado como sempre e com aquele sorriso terrível.

“O prazer é meu.” Luke disse rindo. “Matthew você já levou cantada de um gay antes?”

“Já, mas pela primeira vez me sinto honrado.”

“Eu não retiro o que eu disse Sophie.” Luke se virou para mim. “Eu totalmente casaria com ele.”

“Você ainda vai me matar de vergonha um dia desses” Dei um tapa no seu braço.

“Não me agrida em público!” Ele tentou fazer uma voz brava, mas ele estava se controlando pra não rir da situação. Os investidores foram embora e ficamos ainda na empresa conversando. Aparentemente, Matthew não tinha ligado para os comentários inapropriados do Luke e após liberar Emily decidimos ir almoçar.

“A Sophie falou muito sobre você.” Matthew disse enquanto sentávamos a mesa do restaurante escolhido.

“Não acredite em nada do que essa louca falou, é tudo mentira!”

“Mas é muito ingrato mesmo viu... Tratar mal assim quem só de dá amor” Fiz beicinho. Luke começou a rir e me abraçou.

“Essa mulher...” Ele disse ainda sem me soltar. “É a pessoa mais maravilhosa que existe” Ele me olhou sério e me deu um beijo na testa, sorri em resposta.

“Você sim que é maravilhoso.” Segurei em sua mão.

“Vocês parecem um casal recém-casados!” Matt disse com divertimento.

“Nós somos praticamente um casal!” Respondi rindo. Após alguns minutos de conversa, Luke pediu licença para ir ao banheiro, deixando Matt e eu a sós por uns instantes.

“E eu como sempre, me surpreendendo com você...” Matthew disse, mais como um pensamento do que como um comentário.

“Desculpe, não entendi.” Falei sinceramente.

“Todas as minhas primeiras impressões sobre você estavam completamente erradas.”

“Eu poderia saber quais primeiras impressões você teve de mim?” Recostei-me na cadeira e apoiei as mãos nos joelhos. Ele sorriu e se endireitou também.

“Quando você me derrubou aquela manhã...”.

“Eu não te derrubei, você que me empurrou.” O interrompi e ele me olhou feio.

“Quando você ME DERRUBOU” Ele enfatizou bem essa parte. “Eu pensei em você como uma mulher realmente interessante e divertida.”

“É um ponto de vista bem peculiar...” Falei pensativa. “E quando me conheceu no trabalho?”

“Bom... Quer que eu diga a verdade mesmo?” Ele olhou receoso. Fiz que sim com a cabeça. Melhor me preparar pra o que estar por vir. “Achei que estava enganado. Você age de uma forma que faz com que as pessoas se mantenham afastadas de você e então eu vejo você com o Luke... Seus olhos brilham quando olha pra ele e vice versa.”

“É diferente com ele. Ele é a única pessoa que me conhece por inteiro, sabe de todos meus erros, defeitos e mesmo assim me aceita. Ele já me salvou de todas as formas que se pode imaginar...”.

“Bom... Acho que existem mesmo amores de todas as formas.”

“Eu acho que o temos um pelo o outro vai além de um simples amor de casal. Nós nos respeitamos, sabemos dar espaço pro outro, nos protegemos e temos muito carinho. Relacionamentos começam e acabam o tempo todo, nem casamentos duram pra sempre, o que Luke e eu temos sim, é pra sempre.” Matthew estava com a testa enrugada e eu percebi a mancada que tinha dado. “Perdoe-me, não é algo que se diga a uma pessoa que está prestes a casar. Foi apenas um pensamento, ponto de vista pessoal meu, nada generalizado.”

“Não se preocupe.” Ele sorriu. “Eu gosto quando você é sincera.”

“Eu gosto de ser sincera.” Sorri em resposta. Luke voltou e sentou a mesa. Almoçamos e conversamos durante o resto da manhã.

“Nós podíamos marcar de sair a noite!” Luke disse animado.

“Por mim já ta marcado!” Respondi com o mesmo entusiasmo.

“Desculpem, hoje eu não vou poder, vamos marcar outro dia? Tenho um encontro hoje.”

“Outro encontro via skype?” Perguntei tentando disfarçar o sarcasmo na minha voz.

“Encontro via skype? Como isso funciona?” Luke perguntou confuso.

“A minha noiva ainda não se mudou pra cá, então estamos tentando dar um jeito disso funcionar.”

“Uau... Complicado heim?”

“Nem me diga.” Matthew levantou-se.

“Então nos vemos segunda Sophie?”

“Claro, nos vemos segunda.” Sorri educadamente,

“Luke, foi um prazer te conhecer, espero que tenhamos oportunidade de nos ver em breve.”

“Igualmente Matthew, o prazer foi meu!” Luke e eu ainda ficamos um pouco no restaurante jogando conversa fora e uns minutos depois, fomos para casa.

O resto do nosso fim de semana foi bem tranquilo. Tínhamos decido sair de noite, mas acabamos desistindo por que nossa preguiça falou mais alto que a vontade de sair. Ao domingo saí para um encontro. Ricky Andrews, engenheiro e um gato. Nos conhecemos em um jantar de negócios há uns meses atrás. Ah tempos ele me convidava pra sair e eu finalmente resolvi aceitar, não tinha nada a ver com eu não conseguir tirar Matthew da minha cabeça... Ta bom, talvez um pouco a ver. Saímos para jantar e honestamente, um dos piores encontros da minha vida.

“O cara só sabia falar de como ele é lindo, gostoso e de como tem mil mulheres que dariam tudo pra ter saído com ele. Você acredita nisso?” Sentei no sofá e tirei as sandálias de salto.

“Você deveria ter dito: Querido, eu sou Sophie Trammer e você deveria estar de joelhos agora me agradecendo por ter saído com você.” Luke disse sentando de frente a mim.

“Meu Deus o beijo dele... Luke você não tem noção. Eu me senti como se tivesse me afogando em um mar de saliva.” Torci a cara de nojo lembrando do momento.

“Ai que horror!” Luke gritou.

“Foi uma noite perdida. Deveria ter ficado em casa, eu tinha sido mais feliz!” Levantei, peguei minhas sandálias e fui andando para o quarto.

Tomei um banho, coloquei uma camisola e me deitei na cama. O celular vibrou alertando uma mensagem do meu pai:

Reunião amanhã às 14hrs!

Maravilha... Decidi que era melhor ir dormir, amanhã ia ser um longo, e põe longo, dia.


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