Were you really surprised? - Cobrade escrita por HJ


Capítulo 42
Capítulo 42




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– Eu tô indo. - Adiantou-se a bailarina, rapidamente. - Posso demorar um pouquinho, mas diz pra Alice que a tia Jade já vai ir ver ela.

Assim que a morena desligou o celular, tomou suas malas em mãos e partiu rumo a saída do cemitério, pensando em como o destino era inteligente: o seu voo era justamente o próximo.

– Ei! Espera aí! Jade, onde você tá indo?! - Gritou Sérgio, de longe, fazendo com a bailarina parasse.

– Isso definitivamente não te interessa, senhor. - Ela sorriu, irônica, e lembrou-se de algo. - Ah, mãezinha... A gente termina a nossa conversa outra hora.

– E a nossa, minha filha? Será que você é capaz de perdoar o seu pai?

– Mas que inferno, Sérgio! Põe uma coisa na sua cabeça: VOCÊ NÃO É O MEU PAI! Você não passa de um estranho que surgiu do nada, reivindicando uma posição que inclusive você sabe que não é sua! - Ela gritou, extremamente irritada. - Agora me deixa em paz, pelo amor de Deus! Eu tenho uma vida. E você, por escolha própria há dezoito anos atrás, não faz parte dela.

Então ela virou as costas e saiu pisando firme. Estava decidida a não criar nenhum vínculo com aquele maluco.

Por sorte, um táxi havia acabado de deixar seus passageiros na porta do cemitério e Jade já o pegou para si.

– Aeroporto, motorista!

***

Já era meio da tarde quando a família Cobreloa acordou da soneca de depois do almoço, hábito há muito tempo deixado de lado pelo lutador.

– Nossa, tinha até esquecido de como isso era bom! - Disse ele, bocejando em seguida.

– Pois eu não fico sem tirar o meu soninho. Se eu não descansar um pouquinho ao meio-dia, chega de noite e eu não me aguento de dor nas costas. - Comentou dona Quitéria, enquanto se encaminhava para a sala.

– Você teve que se acabar de tanto trabalhar, né minha mãe? Tudo por culpa minha! Como eu fui egoísta, cara! - Cobra se sentiu culpado ao encarar a mãe, tão magrinha. - Desculpa ter feito a senhora passar por tudo isso.

– Imagina, meu filho. O que passou, passou. - Ela levou a mão na cabeça do lutador e fez um cafuné. - Nem acredito que você tá aqui!

– Nem eu. - Cobra e Quitéria levaram um susto ao escutarem a voz de Robson, que voltava depois de ter sumido desde o almoço. - Pensei que você já tivesse ido.

O irmão parecia menos resistente e a voz denunciava certa emoção, bem diferente do Robson frio e revoltado que Cobra encontrara ao chegar.

– Pois é, o meu voo sai só no início da noite. Eu volto a treinar amanhã, sabia mãe? - O lutador, mesmo hesitante, resolveu ir além e tentar uma reconciliação com o irmão. - Mano, eu queria tanto que as coisas ficassem legal entre a gente de novo... Eu sinto tanto a sua falta, Robson! E, caramba, a gente é irmão! Será que a gente vai ficar velho e vai continuar assim, completos estranhos um do outro?!

– Eu queria te contar uma coisa, Ricardo... - Cobra levou um sustou quando foi chamado pelo nome. Nada de insultos, nada de mágoa. Algo havia mudado. Com um aceno, Robson chamou alguém para entrar em casa. - Essa é a minha noiva, irmão.

O queixo do lutador despencou.

– Ah! - Foi a única coisa que o Cobra conseguiu pronunciar, depois de recuperar-se do primeiro choque.

– Algum problema, Ricardo? - Perguntou a mulher, tão conhecida do lutador.

– Não, imagina... Eu fico muito feliz por vocês! - Confessou Cobra. - É que foi uma surpresa ver a minha ex-noiva e o meu irmão de mãos dadas... Você nem comentou nada comigo, Júlia.

– Eu falei que tinha ficado noiva de um cara que gostava de mim de verdade. Por acaso, esse cara é o seu irmão. - Ela sorriu. Parecia feliz ao constatar aquilo.

– Quando você fez tudo aquilo, Ricardo, eu fui quem ficou mais furioso. Todo mundo pensou que fosse por vergonha de ser teu irmão, por seu o novo "homem da casa", por ver o nosso pai morrer de desgosto, por...

– Tá bem, Robson, eu já entendi! Não precisa lembrar todos os meus feitos, por favor. - Cobra baixou a cabeça, envergonhado do seu passado.

– E era sim, por tudo isso. Mas tinha algo a mais, que os outros não nem imaginavam: eu já amava a Júlia. Eu conheci ela quando vocês começaram a sair e comecei a me envolver, por mais que eu tentasse evitar. Era difícil ver vocês dois juntos, ela me enxergando como se eu não passasse de uma criança, mesmo a nossa diferença de idade sendo de só 4 anos. Aquilo tudo doía demais! Mas doeu mais ainda quando você fez ela passar por todo aquele sofrimento. Parecia que eu tava sofrendo junto, sabe? Por isso eu comecei a te odiar mais que todo mundo.

A família ouvia a tudo pasmada. Dona Quitéria parecia estar sabendo dos detalhes apenas agora, pois ouvia tudo atentamente, e Cobra ainda estava tentando engolir o fato de que seu irmão tinha ficado de olho na Júlia enquanto ela ainda o namorava. Júlia estava segurando a mão do noivo, vez ou outra deixando uma lágrima cair.

– E quando você voltou, eu fui direto falar com ela, que tinha chegado do Rio hoje cedinho. A Júlia me contou que tinha falado com você e que você parecia arrependido. Ela disse que talvez valesse a pena perdoar.

– Ô meu irmão... - O lutador correu para abraçar Robson, que se assustou com a súbita demonstração de carinho. Com a voz meio embargada, Cobra declarou: - Eu prometo que não vou te decepcionar, mano!

– Desculpar por ter te tratado tão mal, cara... Eu senti sua falta. - Sussurrou Robson, enquanto chorava discretamente.

A mãe dos rapazes olhava tudo de longe, emocionada.

– Parece mentira que os meus meninos se acertaram... Muito obrigada, meu Deus! - Ela suspirou, saudosa. - Ah, se o pai de vocês estivesse aqui pra ver isso, meus filhos...

– Bom, parece que a família tem muita novidade pra pôr em dia, não é mesmo? - Comentou Júlia, enquanto sentava-se no sofá, sendo seguida pelo resto do pessoal.

E assim o resto do dia passou, em meio a risadas e histórias contadas. Cobra apenas ficava triste quando olhava para as mãos entrelaçadas da Júlia e do irmão. Não por inveja, longe disso. Mas por o coração apertar ao lembrar que, até pouquíssimo tempo, sua mão estava entrelaçada com a de uma certa bailarina por aí.

***

O dia já estava quase amanhecendo quando Jade finalmente jogou-se na cama do quarto no hotel que havia reservado. Resolveu que iria tirar um cochilo antes de ir ver como a pequena Alice estava, pois seria uma falta de educação chegar em um local naquele horário. Em seguida, iria para a Companhia para mais um dia de trabalho, afinal o Dimitre não é de deixar seus bailarinos sem ocupação e já estava montando o próximo espetáculo. Depois de sair da Companhia, passaria no apartamento do Cobra para pegar o resto das suas coisas que tinham ficado por lá, já que naquele horário, tanto Cobra quanto a Karina estariam na Academia.

Contra vontade própria, flagrou-se pensando no lutador. Tinha ansiado junto com ele por aquele momento, pela volta ao Muay Thai e agora... Agora restava imaginar a felicidade do vagabundo, já que não estava lá para compartilhar com ele.

***

Mal o celular despertou e Jade já estava de pé, indo na direção da Instituição de Caridade. Ao chegar lá, procurou pela assistente social. Assim que a encontrou, não conseguiu segurar a preocupação:

– Como é que a Alice está?

– Desculpe, você é a...? - A mulher se assustou com a presença repentina da bailarina.

– Jade. Jade Gardel. A senhora me ligou ontem para contar que a Alice estava doente e chamando por mim. - O olhar da Jade denunciava sua aflição. Não estava nem se reconhecendo. Tudo aquilo por uma criancinha?

– Ah, sim! Perdoe-me, senhorita, mas são tantos nomes, tantas ligações, tantos problemas para resolver que a minha cabeça acaba não dando conta. - A assistente social suspirou, parecendo cansada. Ficou alguns minutos refletindo sobre o que dizer e finalmente lembrou-se de quem era Alice. - Na verdade, não é nada muito sério. Ela ficou um pouco indisposta, com dor de cabeça, enjoo, e não parava de falar na tia Jade, que queria ver a tia Jade e tudo mais. Achei melhor ligar para a senhorita e avisar.

– Claro, fez muito bem. Será que eu posso ver ela um pouquinho? - Perguntou Jade, ansiosa.

– Por favor, siga-me.

A assistente social guiou a bailarina por um caminho que Jade lembrava-se vagamente, parando na porta do quarto da pequena Alice.

TIA JADE! – Gritou Alice, um pouco alto de mais para uma criança doente, antes mesmo que a bailarina passasse a porta. Exibindo seus dentinhos em um grande sorriso, ela comemorou: - Você veio!

– Vou deixar vocês a sós. - Despediu-se a assistente social, também sorrindo. - Muito obrigada por ter vindo, senhorita Jade.

Jade retribuiu o sorriso e entrou no quarto.

– É claro que eu vim, pequena! Eu não podia deixar você doentinha e sozinha, não é mesmo? - Jade sentou-se na beirada da cama e recebeu um olhar divertido e um riso travesso. - Espera aí... O que você tá aprontando, Alice?

– Não conta pra ninguém... - Ela baixou o tom de voz. - Mas eu nem tô doente de verdade!

– Alice! Mentir é feio, sabia? - Jade fez cara de brava, mas isso não intimidou a baixinha.

– Ah! Para, tia Jade! Uma mentirinha dessas não faz mal. Vai dizer que nunca mentiu? - Alice arqueou as sobrancelhas, desafiadora.

– Tá bem, você venceu. - Jade lembrou das incontáveis vezes que enganou a mãe e não teve como manter a sua pose de santa. - Mas que isso não se repita, certo? Eu fiquei muito preocupada, Alice, de verdade! Posso saber por que você resolveu mentir desse jeito?

– Você sumiu. - A expressão da menina mudou de repente e ela baixou o olhar triste. - E eu fiquei com saudade. O único jeito do pessoal daqui liberar as ligações para a gente é em caso de doença, aí eu fiquei "doente" e eles ligaram pra você. - Ela encolheu as pernas e abraçou os joelhos, tentando esconder os olhos marejados. - Desculpa se te incomodei... É que eu senti sua falta. E eu fiquei com medo que você esquecesse de mim.

– Ai Alice... - Jade puxou a criança para um abraço, se sentindo a pior das pessoas. - É claro que eu não vou me esquecer de você, pequena, nunca! Eu esqueci foi de te avisar que eu estava saindo em uma turnê e ia ficar um tempinho fora. Perdoa a tia Jade, vai!

– Você foi numa turnê?! Tipo, turnê de verdade?! - Os olhinhos se ergueram novamente, cheios de curiosidade e animação, deixando a tristeza para trás. - Conta tudo!

– Ah, foi incrível, Alice! Sério mesmo, eu conheci muita gente bacana, muito lugar que eu nunca pensei que ia conhecer... E as apresentações foram um sucesso! Todas praticamente lotadas!

– E o tio Ricardo foi junto? - Perguntou Alice, inocente. - E por que ele não tá aqui? Que estranho, vocês não se desgrudam...

– Pois é, pequena... O tio Ricardo não foi comigo, mas a gente acabou se encontrando na apresentação no Rio. Aconteceu um monte de coisa lá e a gente não tá mais junto. - Jade concluiu com a voz mais baixa que o normal.

– Mas por que? Vocês não gostam um do outro? - Perguntou a criança, confusa.

– Eu nem sei mais, Alice. Coisa de gente grande, deixa pra lá! - Tentou encerrar o assunto a bailarina.

– Ihh, não vem com essa de "gente grande"! Eu já tenho sete anos, tá bom? SETE! Já sou quase adolescente! Eu sei de quase tudo, só não sei porque duas pessoas que se gostam não ficam juntas.

– Ah, com sete anos você deve saber de quase tudo mesmo... - Ironizou Jade. - Vem cá, isso tudo é torcida pelo meu namoro, Alice?

– Na verdade, o tio Ricardo é muito lindo e eu tava esperando que ele viesse com você hoje... Fiquei meio decepcionada. - Confessou a menininha, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

ALICE!! - Exclamou Jade, rindo descontroladamente.

– Que foi?! Eu senti falta daquela visão sim, e daí?! Será que eu vou ter que repetir que eu já tenho SETE anos?!

– Só você pra me fazer rir desse jeito, Alice... - Disse Jade, enquanto enxugava as lágrimas.

– Mas e aí? Não tem volta mesmo? Posso perder as minhas esperanças de ver vocês dois juntos de novo? - Ela fez uma carinha triste.

– Acho que sim, Alice. Até porque não é primeira vez... É muito triste pra mim dizer isso, pequena, mas parece que eu e o tio Ricardo não nascemos pra ficar juntos. - Jade piscou repetidas vezes quando sentiu seus olhos marejarem, mas voltou a gargalhar quando Alice comentou:

– Pelo menos se ele não tá mais com você... Eu tenho alguma chance!

***

– ... e é por isso que eu quero usar referências circenses no nosso próprio espetáculo. Unir os malabarismos e acrobacias do circo e os movimentos do balé clássico tem tudo pra dar certo. - Dimitre falava para os seus bailarinos. Encerrando seus discursos, direcionou-se para Jade e para o John: - Acho que já está mais do que provado que vocês deram muito certo juntos, por isso eu não tenho dúvidas de que vocês serão os meus próximos protagonistas. - Os dois bailarinos se olharam, contentes por repetirem a parceria. - E como nós buscamos referências nas acrobacias do circo, nesse espetáculo nós vamos utilizar cabos para a suspensão dos bailarinos, para a realização de passos aéreos realmente "nas alturas". Nós vamos começar os nossos ensaios justamente com os cabos, para ver se vocês se adaptam. Jade e John, vocês primeiro!

– Opa... - Jade murmurou, enquanto ia na direção dos tais cabos.

– Algum problema, Jade? - Perguntou John, estranhando o nervosismo da parceira.

– Eu tenho um certo medo de altura e... Ai meu Deus! Olha a altura desse negócio, John! - A bailarina se apavorou.

– Calma, Jade. Nem é tanto... Deve ter só uns três metros. - Comentou John, com naturalidade.

– Ah, claro! três metros, né?! Quase nada! - Debochou Jade, enquanto outros profissionais a prendiam no cabo.

Depois de alguns segundos, o cabo começou a ser alçado. Durante a subida, o equipamento da bailarina falhou.

O cabo se desprendeu.

E ouviu-se apenas um grito antes do corpo da Jade cair desacordado no chão.


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Notas finais do capítulo

Oii, meus amores! Estou devendo algumas satisfações, certo?
Bom, primeiramente eu não postei por um motivo que vai parecer meio fútil para muitos de vocês, mas que me atrapalhou bastante. Acontece que eu moro no Rio Grande do Sul e, na minha cidade em especial, andou fazendo muuuito frio e ficava ruim até de digitar. O frio passou, mas chegou um problema de saúde e eu não tinha como postar. E agora, tudo ficou para trás e eu devia estar decorando algumas fórmulas de física, porém eu resolvi escrever este capítulo porque vocês são os melhores leitores do mundo e seus comentários são simplesmente divos!
Tô com saudades e espero encontrar vocês nos reviews! Beijinhos!



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