— Você...! — Disseram Alice e o menino bonito que havia lhe ajudado, em uníssono.

Ambos se encaravam, perplexos demais para dizer algo. Esse clima ficou até a Sra. Bloom quebra-lo, que para Alice, demorou décadas.

— Oh, então vocês já se conhecem? Que coisa maravilhosa! — exclamou feliz, sem perceber que a relação dos dois não poderia ser chamada se amizade, visto que o menino havia sido muito grosseiro com Alice.

— Ah... Sim, sim... Nós nos conhecemos quando eu estava no caminho para Petalburg... Não é...? — Sorriu nervosa, se dirigindo ao menino, e foi ai que percebeu que ainda não sabia seu nome.

O moreno, ao perceber o que Alice pretendia, achou melhor cooperar. Sabia que sua mãe não ficaria contente em saber que não foi gentil com uma donzela em perigo, como ela o havia ensinado.

—... Edward. — Completou indiferente, para o alivio de Alice, que havia prendido a respiração inconscientemente.

— Ah, claro! Eu sou muito esquecida, sabe... — Deu um sorrisinho nervoso, logo depois ficando mais calma. Resolveria seu problema com Edward mais tarde, obviamente havia algum motivo para trata-la daquela forma, e Alice não queria que a gentil Catelyn soubesse das indelicadezas de seu filho.

— Não tem problema querida! Vamos, entre logo, você e essa sua Absol. Depois eu posso dar uma olhada nela? — Perguntou com os olhos brilhando.

— Em Tsuki? Fique à vontade. — Sorriu, seguindo Sra. Bloom e Edward, que se dirigiam à cozinha, após Alice entrar na sala de estar.

Ao adentrar no cômodo, ficou impressionada do quão bonito ele era. Armários amarelos claros estavam postos pela maior parte das paredes brancas; havia uma grande janela aberta, que deixava os raios de sol iluminarem tudo. Havia uma mesa média, com quatro cadeiras, forrada com uma toalha xadrez, e sobre ela havia um apetitoso café da tarde, com um bule de chá e xícaras no estilo clássico, pães e frutas que davam a decoração final, deixando a cozinha com um aspecto vintage.

Alice acompanhou os demais e se sentou à mesa, após entregar a carta devidamente lacrada a Sra. Bloom, que aparentemente não se importou com o conteúdo, deixando-a de lado, em cima do balcão.

— Então, sua mãe havia comentando comigo há algum tempo que você pretendia se tornar uma coordenadora. — Começou Sra. Bloom, enquanto preenchia as xícaras calmamente com chá do bule.

— Sim, eu pretendo me tornar uma top coordenadora. — Respondeu sorrindo, enquanto pegava a xícara que lhe havia sido oferecida.

— Você lembra-me muito sua mãe. — um relance de nostalgia se fez presente em seu rosto por alguns instantes. — Mudando de assunto, como vocês se conheceram? — Perguntou distraidamente a Edward, que ainda não havia dito nenhuma palavra.

— Eu estava voltando para casa e Alice estava tendo problemas para capturar um Ralts. — Respondeu calmamente, enquanto bebericava o chá que lhe foi servido.

— Eu não estava tão ruim assim. Só não pretendia machucar Athena quando a encontrei, tão pequena. — Se justificou, lançando um olhar mortal a Edward que parecia alheio as palavras da menina.

— Compreendo. Suponho que você iniciou sua jornada há pouco tempo, estou correta? — Estava passando manteiga em uma torrada.

— ‘Tá sim. Ainda não participei de nenhum torneio, mas pretendo me apresentar pela primeira vez na cidade de Slateport. Eu e Tsuki treinamos combinações de movimento desde pequenas, e com a adição de Athena no time, as possibilidades multiplicaram-se. — Respondeu, enquanto acariciava o pelo branco como a neve de Tsuki, que se encontrava ao seu lado, após ter comido e se refrescado.

— Slateport? Querido, não é por lá que você deve passar para chegar a Mauville e batalhar pela sua terceira insígnia? — Se dirigiu a Edward que observava tudo com tédio.

— É sim... — respondeu desconfiado, não entendendo aonde sua mãe queria chegar.

Quando se deu conta do que ela pretendia, já era tarde demais.

— Então você não se importaria de acompanhar Alice, não é verdade? — Interrompe-o, mostrando um de seus sorrisos macabros, que diziam “Concorde ou será pior para você”. — E você, Alice, não se importaria de ter o Edward como seu companheiro temporário? — Completou, voltando com sua habitual expressão amável. — Ele pode ser bem chato às vezes, mas tenho certeza que será melhor do que ficar sozinha. — Brincou.

— Ah... Claro, realmente, é um pouco ruim andar sozinha por ai... — Estava indecisa quanto à resposta, após receber dos olhos ônix de Edward um sinal de que era melhor ela negar. Mas após ponderar por alguns instantes, decidiu que a Sra. Bloom aparentava ser bem mais assustadora que o filho. Decidiu que era melhor aceitar sua proposta.

— Maravilhoso! Edward não tem nenhuma objeção, não é?

Olhou o filho. Ônix encarando ônix, numa linguagem de olhos que Alice não conseguia entender. Depois de alguns segundos, Edward desviou o olhar, fitando sua xícara agora vazia, com uma expressão de derrota.

— Não que eu tenha muita escolha... — respondeu baixo, desanimado.

— Muito bom. Bem, se me permitem, vou até o mercado comprar uns ingredientes para o jantar. Alice, você se importaria de passar a noite aqui? Temos um quarto de hospedes aconchegante. Seria uma grosseria de minha parte deixar a filha da minha melhor amiga desamparada. — Sorriu para Alice, e logo foi correspondida.

— Se não for muito incomodo, eu agradeço. As camas do Centro Pokémon são um pouco desconfortáveis. — brincou.

— Ótimo. Edward mostre a Alice o quarto. Em menos de uma hora estou de volta. — Disse, se levantando logo em seguida, apanhando sua bolsa que se encontrava pendurada num gancho e saindo pela porta da frente de casa, fechando-a ao passar.

Mal Catelyn fechou a porta, Edward já desatou a ralhar com Alice:

— Por que diabos você aceitou essa ideia maluca?

— Eu não fui a única a concordar. — Se defendeu. — Que eu bem me lembre, certo ser disse algo do tipo “Eu não tenho escolha”. Olhe para você antes de falar algo de mim. — Alice não queria brigar com o filho da sua anfitriã e futuro companheiro de jornada, mas o garoto lhe tirava do sério.

— Você não viu o olhar de psicopata que ela me mandou? Você era única que poderia negar. Eu sei que sou irresistível, mas eu não quero viajar com você. Não é nada pessoal, mas você aparenta ser metida e chata. — Disse com sarcasmo o elogio à si mesmo, mas nas criticas à Alice, completou com a maior naturalidade, como se tivesse apenas desejando “bom dia”, e não ofendido uma pessoa que acabara de conhecer, julgando-a pela aparência.

— Irresistível? — repetiu as palavras com nojo. — Metida e chata? Você por acaso já se olhou no espelho? Nem parece ser filho de sua mãe, aquela mulher gentil e educada! — Exclamou indignada.

— Ah, tanto faz. Me deixe te mostrar o quarto logo, você está me irritando. — Respondeu com irritação visível na voz.

Subiram as escadas em silêncio. Alice já estava arrependida de ter dito aquelas palavras. Oh, Deus, o que ele pensará de mim? Perguntou-se, com a consciência pesada. A menina não conseguia ficar zangada por muito tempo. Fazia parte de sua personalidade calma e doce.

Ao chegarem ao cômodo aonde Alice iria passar a noite, Edward mostrou o banheiro que ficava lá, para caso ela quisesse tomar um banho. Ia se retirar, até que Alice o chamou, sentando-se na cama devidamente arrumada.

— Olhe, acho que nós começamos com o pé errado. Sinto-lhe ter dito aquelas palavras, mas acontece que você também não foi a gentileza em pessoa. Então acho melhor nós nos acertamos, porque querendo ou não, nós iremos ser companheiros de viagem, mesmo que temporariamente. — Disse, rápido demais para seus padrões, mas sentiu que ele entendeu, ao desfazer a carranca que estava visível em sua face.

— Tudo bem... Também peço desculpas para você, realmente fui mal educado. E não é necessariamente sua culpa nos dois viajarmos juntos... Bem, talvez seja um pouco, visto que voc- — Não terminou a frase, pois uma almofada veio de encontro com seu rosto, sendo arremessada por uma Alice indignada.

— Ora seu...!

Edward saiu do quarto rindo, antes que Alice provavelmente lhe acertasse o abajur que se encontrava do seu lado, o objeto mais próximo e que mais daria dano.

Após sua discussão de reconciliação, Alice tomou um banho, se vestiu com uma roupa leve; um shorts preto na altura dos joelhos e uma camisa alaranjada com mangas três quartos, e uma sapatilha branca leve. Deitou-se na cama, e reparou melhor no quarto em que se encontrava: Paredes revestidas de um papel de parede bege floral, deixando o ambiente neutro com um ar clássico, que aparentava estar em todos os lugares daquela bela casa. O cômodo não era muito mobiliado, se fazia presente apenas uma cama com colcha branca, uma cômoda com três gavetas e um tapete felpudo, ambos brancos. Havia também uma janela, por onde raios solares alaranjados entravam, deixando o quarto de hospedes encantador.

Ao anoitecer, Alice desceu as escadas ao chamado de Catelyn, que dizia que o jantar estava pronto. Ao chegar à sala, viu Tsuki brincando com o Staraptor que supôs ser o mesmo daquela vez, pertencente a Edward, a quem o chamava Áquila. O Pokémon águia estava pousado numa espécie de suporte, preso à parede.

— Áquila gostou da sua Absol. — Comentou Edward, ao adentrar no cômodo e ver Alice observando os pokémons brincando, distraidamente.

— Áquila... — repetiu, absorvendo o nome. — Por quê?

— Significa águia em latim. Bem... Eu não sei bem o motivo disso, só achei que combinava com ele. — Riu. — E por que “Tsuki”? — Perguntou de volta, se referindo à Absol, que agora estava parada ao lado de Alice, recebendo uma caricia nos pelos.

— No xintoísmo, Tsukuyomi é o Deus da lua. Pelo fato dela ser do tipo dark e ter uma espécie de meia lua na face, achei que combinaria essa brincadeira de nomes. — Explicou.

— Compreendo. Bem, é melhor irmos para a cozinha, ou a Sra. Bloom ficará irada. — Respondeu, dando um meio sorriso da expressão de desagrado que se formou no rosto de Alice.

Eles estavam se dando muito bem. Comparado ao inicio da tarde, já eram praticamente melhores amigos.

Ao chegarem à cozinha, se depararam com uma mesa posta com um farto jantar, com vários pratos que aos olhos de Alice, pareciam todos deliciosos. Catelyn realmente havia se empolgado com a ideia de ter a hospede de sua melhor amiga de infância.

Sentaram-se e logo cada um se serviu. Estavam em silêncio, até Cat comentar:

— Vocês pretendem partir quando? — Perguntou, enquanto tomava no copo um suco de uva, que havia acabado de servir para todos.

— Bem, eu gostaria que fosse amanhã, bem cedo. Está tudo bem para você? — Perguntou Edward à Alice, para surpresa da mesma e da mãe do garoto.

—... Por mim está tudo bem, Edward. — Respondeu corando.

— Vejo que vocês já se acertaram. — Um sorriso malicioso se formou em seus lábios, mas que nenhum dos dois presentes no cômodo perceberam. Mas que rapidamente foi substituído por um verdadeiro. — tudo bem então, acordarei a ambos bem cedo, para tomarem um café reforçado. Agora terminem o jantar e vão dormir! — Completou, se fingindo autoritária.

Edward resmungou algo como “Nós não somos crianças”, mas que foi ignorado totalmente por Cat. Após esse curto diálogo, o jantar transcorreu calmamente, com de vez em quando alguém elogiando um prato ou comentando algo ocorrido na cidade.

Depois de terminarem o jantar, Alice subiu, deixando Edward e Catelyn arrumando as coisas. A menina argumentou, dizendo que era seu dever ajuda-los a arrumar a cozinha, mas Cat respondeu que ela era visita e que havia pouca bagunça, deixando a menina sem escolha. Desejou uma boa noite para mãe e filho, se dando por vencida.

Ao chegar ao seu quarto temporário, tomou um banho de gato, escovou os cabelos úmidos e vestiu seu pijama costumeiro. Deitou-se na cama e pensou sobre os acontecimentos do dia.

Havia brigado com Edward como se conhecessem há tempos, e não apenas há um dia. Da mesma forma que haviam discutido se reconciliaram, até interagindo de maneira civilizada e rindo. Imagino como será o decorrer do caminho até Slateport. Creio que nós nos mataremos. Pensou, dando um sorrisinho mínimo.

Adormeceu com o pensamento de que ela e Edward virariam bons amigos. Sonhou seus sonhos de menina, novamente, ganhando sua tão vangloriada taça e título de top coordenadora. A diferença agora era que além de sua família estar presente na cerimônia de premiação, havia dois pares de olhos ônix a observando, com sorrisos nos rostos parecidíssimos.