Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 14
Capítulo 13: Afeição e...


Notas iniciais do capítulo

Aqui se inicia a terceira parte da história, intitulada "Está tudo de cabeça para baixo".

Essa história não tem qualquer relação com fatos, pessoas ou lugares da vida real. É uma obra de ficção com puros fins de entretenimento.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/575707/chapter/14

Afeição e…

_Então o que aprendeu com sua viagem, senhor alien?

A mulher perguntou ainda irritada enquanto servia café.

_Vocês, mesmo sendo uma mesma raça, possuem muitas diferenças, tanto que chegam a formar culturas diferentes em cada país... Não demorou muito para me acostumar com a linguagem daquele lugar, mas devo dizer que não entendo as diferenças culturais se vocês todos são o mesmo...

_É uma questão de origem, foram povos diferentes que formaram cada civilização, se estudar um pouco da história humana vai entender... –suspirou desesperançosa-

_Ainda assim há muito que não compreendo... É completamente diferente de minha raça... –ponderou com o rosto sério-

_É meio óbvio que nós seríamos diferentes de uma raça alienígena... –disse irônica arqueando uma das sobrancelhas-

_Não estou falando disso... –franziu o cenho- Aqui... Naquele outro país também...

_O quê?

_Estava estudando sobre relacionamentos humanos, mas detectei elementos desnecessários, ou melhor, elementos nos quais não consigo encontrar funcionalidade.

_Por exemplo...- deixou a frase em aberto-

_Vocês realizam muitos gestos inúteis durante os relacionamentos... Há uma precisão tão grande do contato humano em relações? Vocês não se desgrudam, não posso entender... Soa irritante...

_Hum... Como eu posso explicar isso... –refletiu por alguns segundos- Bem... É porque as pessoas gostam umas das outras... E não tem nada de irritante nisso!

Ele a encarou com um olhar inexpressivo, como se aquela explicação fosse insuficiente e ela suspirou.

_ Aposto que também não entende isso... Escuta, seu povo é mesmo tão frio assim? Como vocês têm filhos? Você veio de um ovo por acaso? –perguntava incrédula-

_Não, eu sinceramente não entendo, caso contrário não a estaria questionando. –disse sério- E para sua informação, nós não nascemos de ovos... Nascemos de uma combinação genética feita através de um processo altamente avançado após um cuidadoso estudo dos melhores genes.

_... Certo... Não vou mais perguntar sobre sua raça estranha... Sabe não dá pra explicar assim, não que você entenda isso, já que tenta fazer tudo pela lógica! Enfim, talvez só aprenda isso através da observação, assista filmes, pesquise, leia livros sobre isso ou sei lá... –falava rápido- Não tem como explicar...

A mulher respirou e levantou-se de seu assento, virando de costas. Mas a voz do alienígena de pé, perto do sofá, lhe chamou a atenção:

_Está insinuando que eu não tenho capacidade?

_Não. –virou-se impaciente para iniciar outro diálogo- Só estou presumindo que alguém que viveu cercado por uma espécie tão fria e arrogante talvez tenha dificuldade em compreender através da lógica, aliás, isso não é algo que se compreende pela lógica, por isso mesmo que será difícil para você!

_Se não há uma explicação lógica então qual o significado?

_Ahrg... –bateu a mão na própria testa- Olha, não tenho realmente como lhe explicar isso... Sentimentos não se explicam, são um mistério entendeu? Só se pode entender quando se sente...

_Está dizendo que tenho que me sujeitar a experiências próprias da raça humana? –arqueou um dos cenhos, desgosto com a ideia-

_Experiências? Como assim experiências?

Ele a fitou por alguns segundos e ela sentiu vertigem, vindo dele, nada bom poderia acontecer.

_E-ei, por que está me olhando assim? Não sou sua cobaia, nem tente nada estranho! –recuou um passo, com repúdio-

_...

Ele voltou o olhar para o longe e ficou parado, refletindo sobre algo. Depois encarou a mulher.

_O-o quê? –disse incomodada com a fixação do alien- Ah... –bufou - Não fique me encarando assim se você não tem nada pa- foi interrompida-

Não interrompida de uma maneira comum. Siv Borghild aproximou-se, segurou o queixo dela, erguendo o rosto da mulher e a beijou.

H-hã? O que...

Ela congelou, ficou completamente sem reação, seus movimentos se paralisaram. Mil e um pensamentos passaram por a mente dela como uma correnteza furiosa, mas nem um músculo se moveu. O sangue dela ferveu e ela sentiu se acumular em suas bochechas, sentiu o sangue agitado e furioso fluindo pelas veias. Sequer piscou. Os segundos que ele levou para realizar a ação pareceram mais longos do que o normal e quando ele se afastou ela ainda organizava as ideias.

_Hum... Ainda não compreendo vocês humanos...

O homem pôs a mão no queixo, perplexo. O entendimento dele estava longe de alcançar a iluminação que ele buscava.

_... Siv Borghild... O que você pensa que está fazendo?!

Ela pronunciou sílaba por sílaba num tom raivoso, o sangue ainda em ebulição fazendo o rosto dela completamente vermelho, e ele olhou-a sem interesse.

_O que pensa que está fazendo seu alien perverso?! -ela quase gritou-

_Foi você mesma quem disse que eu não entenderia caso não testasse, embora eu ainda não compreenda... –voltou a ficar perplexo-

Não acredito que fui beijada por alien!

_Por que a perturbação? –disse encarando a mulher- Isso foi apenas um experimento.

_G-guh...

A cena repassou em sua cabeça detalhando cada sensação possível, atormentando-a.

Não, não espere um minuto... Ele é humano em tudo!

_É claro que eu sou um perfeito humano de carne e osso, minha habilidade de mimetização é incrível! –disse se gabando- Não entendo sua surpresa, eu já lhe havia dito sobre isso...

_P-pare de ler meus pensamentos!

Quase gritou com a voz falha, envergonhada.

Vamos lá, acalme-se Eileen, acalme-se... Ele é só um alien... Ele não entende nada disso, estava só fazendo esses experimentos indecentes... Vamos com calma...

_O que exatamente você estava pensando?

Disse a mulher respirando fundo para achar paz interior.

_Em entender relações humanas... Mas foi um erro meu pensar que funcionaria... Afinal eu não sou um humano de verdade...

Ele parecia um tanto decepcionado consigo mesmo, mas isso não amenizou o incômodo que ela sentia no momento.

_De onde tirou a ideia que compreenderia assim? Por onde você andou?

_Eu vi muitos humanos fazendo isso em um lugar chamado “Paris”...

_Ah... –a mulher estapeou a própria testa- Então é por isso...

A cidade dos amantes, Paris... Quem diria... Logo lá...

_Não entendo o que é essa “afeição” que vocês humanos tanto têm uns pelos outros...

_Não me admira... –disse a mulher com certa ironia- Um homem que beija uma mulher tão descuidadamente não poderia mesmo entender sobre relacionamentos...

Massageou as têmporas com uma das mãos por causa da dor de cabeça que começava a surgir. Ela sentou-se à mesa da cozinha para tentar elucidar o assunto, ele também se sentou, de frente para ela, com certa curiosidade no olhar.

_Bem... Primeiro, Siv, você não vai entender o que é afeição se sair por aí beijando qualquer um. Não é assim que esse sentimento funciona... –tentava ser o mais esclarecedora possível-

_ “Funciona”? –arqueou uma das sobrancelhas-

_Faz parte da natureza humana se afeiçoar a seus semelhantes... Acho que as pessoas só precisam demonstrar que gostam umas das outras, é um gesto de carinho, amor... –esperava alguma resposta do alien-

_Então é uma necessidade da espécie?

_Pode ser considerado dessa forma, mas não exatamente... –torceu o rosto numa expressão de negação ao entendimento do homem- Deixe-me ver... –pensou- Por exemplo, numa relação entre amigos, geralmente há abraços, olhares, palavras, tudo isso constitui a afeição que um sente pelo outro, mas num relacionamento entre namorados ou noivos isso toma uma proporção diferente.

_ Então esse afeto é diferente em cada tipo de relacionamento?

_Sim, eu acredito que sim... –suspirou- Os gestos que as pessoas realizam são uma forma de sentir calor humano, entende? Demonstrar que se está ligado a tal pessoa.

_É hilário como utilizam o termo “calor” para se referir a algo que não esteja relacionado à temperatura corporal.

Ah... Como ele pode ser tão inteligente para algumas coisas e tão tapado para outras...?

_Ah... –suspirou desanimada- Mas é desse tipo de calor que eu falo... Não se trata de temperatura corporal, mas algo que se sente aqui dentro... –tocou onde fica seu coração e falou lento como se explicasse a uma criança-

_Está fazendo alusão ao “coração humano”?

Ela bateu palmas e sorriu irônica:

_Muito bem, Siv! Exatamente, é do coração no sentido figurado que estou falando, dos sentimentos!

_...

Ele continuou com sua expressão séria e um ar de dúvida, como se quisesse perguntar algo, mas permaneceu calado. A mulher respirou fundo, buscando paciência.

_ O que foi que não entendeu?

_Essa “afeição” humana não existe em nossa raça...

_Tem certeza mesmo? Vocês não têm nem um pingo de amor pelo outro? Deve haver ao menos alguém por quem sintam isso, apesar de não serem muito sentimentalistas... Nem que seja só uma pontinha, um pinguinho só de amor... –encarou-o- ... Nada?

_Não...

_Nem alguém da família, algum parente ou irmão... –jogou verde, na expectativa de alguma reação do homem-

Um sino pareceu ressoar na memória do alienígena, uma única imagem lhe veio à cabeça: um homem alto, de jaleco branco e um sorriso gentil colocando a mão sobre a cabeça dele quando criança.

http://s1281.photobucket.com/user/AisaBellvard/media/HWO/Ahcsarchildhoodform_zps8912a3c0.png.html?sort=3&o=17

Apesar de algo ter se movido dentro dele, Siv Borghild não quis admitir que havia um sentimento assim em seu interior no passado, não na frente de uma humana, só por orgulho.

_Não. –respondeu esvaziando a expressão-

Por um breve momento, Eileen tinha visto melancolia no semblante do homem, mas logo ele varreu aquela expressão e a tornou um impecável e impenetrável vazio novamente.

Não é o que sua expressão está dizendo, Siv...

Ele a fitou sério e ela se remexeu no assento, assustada.

_Ah! Você leu de novo não foi?! Eu já disse para parar com isso!

E assim mais uma briga (por parte apenas da mulher enquanto a criatura ficou calada, com um sorriso leve no rosto) começou.

_Parece-me que ainda há muito que tenho que aprender sobre os humanos... –disse pensativo- Farei mais algumas viagens...

Ele levantou-se do sofá e deixou o recinto, e a mulher concluiu num suspiro:

_E lá vai ele extorquir do governo de novo...

Ficou encarando a porta por onde o homem havia saído, pensativa. Lembrou-se da cena constrangedora que ocorreu não mais que minutos atrás, sentiu um arrepio percorrer a coluna espinhal e balançou a cabeça para afastar os pensamentos.

Mantenha sua mente ocupada Eileen, mantenha-se ocupada!

. . .

Alguns dias depois

. . .

_Você vai viajar de novo essa semana? –a mulher limpava a mesa recém-suja do café da manhã-

_Sim. –disse com o queixo apoiado numa das mãos-

_Para onde desta vez?

_Rússia.

_Por que esse país?

_Disseram que há uma história muito interessante neste lugar...

Mas a Rússia é... Será que tentarão usar armamento bélico para acabar com o Siv?

_ Por favor, não traga nenhuma ideia estranha de lá como fez quando foi à França...

Ela falou num tom de súplica e ele riu-se da mulher.

_Não se preocupe Eileen, não vou mais te usar como cobaia.

Ela suspirou desanimada prevendo que ela ainda sofreria muito com esses “estudos” dele. Ao menos ele estava de bom humor com essa viagem.

. . .

Siv ficou o dia todo fixado num livro, e depois estava com alguns papéis, escrevendo, a mulher estranhou o comportamento passivo dele, geralmente a enchia de perguntas e não a deixava em paz por ler os pensamentos dela o tempo todo.

_Esses papéis aí não são seus relatórios, são? –arqueou o cenho-

_... Claro que não... –respondeu seco, encarando a mulher com descrença- Não utilizaria métodos tão inseguros para criar um relatório importante... Caso contrário, poderiam ser queimados, roubados, copiados...

_Ah... –observou curiosa-

Ele voltou a ler algo, concentrado e com um mau humor explícito na face.

_Porque está de mau humor?

_... –ele parou de ler o papel para encará-la- Do que está falando?

_Vamos, Siv, não preciso ler pensamentos para sentir seu mau humor de longe...

_Não estou de mau humor, não existe “mau humor”, estou apenas trabalhando.

_... Lendo livros?

_Estou aprendendo a linguagem do próximo país que irei, agora me deixe em paz.

Acho que até mesmo aliens ficam de mau humor... Talvez seja estresse pela viagem...?

. . .

Siv passou o dia todo lendo aquele e outros livros, assimilando com rapidez e facilidade a linguagem russa. Sempre com a mesma expressão séria. Eileen foi trabalhar, quando voltou ele ainda estava lá, sentado lendo.

Foi um dia entediante, mas logo que a madrugada chegou, a mulher deleitou-se em seus sonhos, já o extraterrestre não se encontrava em nenhum cômodo da casa.

. . .

Ele estava sentado sobre as telhas da casa de Eileen. Observando o céu e as estrelas do lugar alto. Com um ar monótono e melancólico.

_Irmão... –disse curvando a boca para baixo- Não creio que ele possa me escutar agora … -suspirou cansado- Mesmo assim… Eu gostaria de poder entender os humanos... Com a mesma paixão que você tentava...

Fazia um monólogo enquanto encarava o céu estrelado.

_Eu quero saber mais sobre estes humanos que você tanto adorou, tem muito que ainda não compreendo… Seria essa ânsia de entendê-los o mesmo que você sentiu naquela época…? Queria enxergá-los por dentro, eles parecem seres simples, mas ao mesmo tempo se fazem complexos… Quero entender o que eles intitulam de “alma humana”… Não importa quantas vezes eu leia os pensamentos deles, não consigo ler isso... É uma essência que existe apenas em forma imaterial...

_Eu pensei que seria simples realizar essa tarefa quando me chamaram... –baixou a cabeça, encarando as telhas- Porém... –torceu o rosto em confusão- Aquela humana, Eileen estava pensando em um “irmão” quando me perguntou sobre afeição... Ela não pode ler mentes, ainda assim...

_... Se você estivesse aqui, já os teria entendido… Mas eu também posso, por mais que me tome algum tempo… Graças a tudo que aprendi com você… Estou tão cansado disso tudo... Espero vê-lo em breve, Meldevich...

. . .

No dia seguinte, pela manhã, pouco antes de Eileen Sanders sair para o trabalho, um carro preto do governo estacionou à sua porta. Era Allen Garchovsky, o Secretário do Ministério de Relações Exteriores.

A mulher o recebeu propriamente, já imaginando a quem era direcionada aquela visita. O secretário entrou sem acompanhamento dos dois guarda-costas que vieram com ele no carro.

Sentou-se no sofá e foi atendido por Eileen enquanto esperavam o alienígena dar as caras.

_Queria conversar, humano? –Siv disse descendo as escadas-

_... Sr. Borghild... –o secretário levantou-se-

_O que deseja? –disse o extraterrestre com um leve e cínico sorriso no rosto-

_Devemos discutir sobre as condições de sua viagem... O ministro não pôde vir, então eu o representarei por hoje...

Ou esse Ministro é muito ocupado ou ele está com medo de falar com o Siv... Sempre que o assunto tem a ver com o ministério de relações exteriores, só ouço falar do secretário, mas nunca desse ministro...

_Creio que já discuti as condições de viagem com o seu presidente...

_É preferível que o relembremos do que foi preestabelecido. –disse seco-

O alien fitou o homem com um olhar de desagrado, apesar de continuar com um sorriso de leve no rosto. Os dois ficaram se encarando por alguns segundos. Eileen sentiu-se pressionada só de assistir à cena.

É só impressão minha ou eles dois desenvolveram algum tipo de rivalidade? Sempre que ambos estão na mesma sala o clima parece ficar denso...

_Devo salientar que é devido aos seus comportamentos ameaçadores que estamos tomando precauções, Sr. –disse o secretário sem titubear- Em sua última viagem, perturbou a ordem pública criticando as pessoas e destruindo uma moto que o atingiu. Tivemos muito trabalho para encobrir os acidentes e sua indiscrição, mas não podemos fazer isso sempre... –ajeitou os óculos-

Espera aí! Não estou acompanhando o raciocínio! Como assim perturbação de ordem pública? Espero que ele não tenha saído por Paris fazendo “experimentos” nas pessoas... E como acidente de moto? Ele não mencionou nada disso, além do mais... Não, não, eu nem me surpreendo mais... Mesmo com um acidente ele saiu ileso, era de se esperar de um extraterrestre...

_Não foi “perturbação da ordem pública” apenas pontuei algumas críticas e aconteceu de alguns humanos ouvirem e se incomodarem pelas verdades ditas, e... Eu não quebrei veículo de locomoção algum, aquela máquina frágil que se entortou ao colidir com meu corpo. –esclareceu- Preciso lembrá-lo de que meu corpo possui uma constituição muito além da constituição humana? Não possuo a mesma resistência falha de vocês.

_Não é relevante o que o Sr. possui ou não, o fato é que causou problemas para toda a comissão que o acompanhava na viagem, e os líderes daquele país reclamaram conosco, por isso vim salientar alguns pontos importantíssimos antes de fazer a próxima viagem.

O Secretário exerceu sua autoridade que era relativa visto que o alien poderia desobedecê-lo, mas consegui exercer certa pressão. O alienígena suspirou.

_O que vocês querem exigir de mim desta vez?

_Discrição.

_Eu já tenho feito isso, pode ver pela aparência que porto.

_Sim, poderíamos até confundi-lo com um humano normal pelas aparências–disse com certa ironia na voz- Porém, fora sua aparência original há comportamentos que o Sr. não dever demonstrar.

O estrangeiro encarou o secretário com um olhar afiado. Os dois ficaram se encarando por algum tempo, quase se podia ver faíscas saindo de seus olhares. Eileen ficou com medo de algum confronto violento se iniciar ali, principalmente por saber qual seria o resultado entre uma luta Humano versus Alienígena. O Secretário então se pronunciou:

_Devemos conversar em um local mais apropriado...

E lançando um olhar de perfil para a mulher, os dois saíram dali, Eileen não quis ouvir o resultado daquilo. Apesar de aquele secretário ser jovem, era um homem ranzinza demais. Não gostou do modo como ele a encarou, como se ela fosse inferior, como se representasse um estorvo.

Essa viagem ainda vai trazer muitos problemas... Tenho um mau pressentimento sobre isso...

. . .

E alguns dias depois, o alien partiu novamente em viagem, desta vez, Comandante Gilbert não foi o único a acompanhá-lo, o dito Secretário do Ministério de relações exteriores foi para a Rússia também, só que não no mesmo veículo.

Num jato executivo do governo foram Gilbert, o cabo Blake e mais alguns soldados, intérpretes linguísticos e o alienígena, enquanto no jato particular do Secretário do Ministério das relações exteriores foi sozinho.

. . .

Dentro do jato do governo

. . .

Siv Borghild observava as nuvens através da janela, concentrado e tranquilo.

_Sr. –o comandante Gilbert, sentado ao lado dele chamando-lhe a atenção-

_Hum?

_Aqui estão os protocolos para quando fomos desembarcar... O governo solicita sua cooperação, para evitar problemas...

O homem entregou folhas de papel encadernadas. Siv passou os olhos rápidos pelo papel.

_Não deveriam se preocupar com sua segurança? Soube que este país para o qual vamos teve algumas desavenças com outro país no passado...

_Não precisamos nos preocupar, temos acordos e estabelecemos um pacto de confiança. Os conflitos entre os dois países acabaram há muito tempo...

_... Entendo...

_O que me preocupa na verdade é o atentado que o Sr. sofreu outro dia... –disse o comandante franzindo o cenho-

_Foi uma forma muito desonrosa de tentar me fazer cair em uma armadilha, mas não funcionou... –o alien comentou sério-

_Como eu já lhe disse, estamos investigando sobre o incidente, não foram ordens do presidente, nem dos ministros, pode ter sido algum terrorista, mas seria extremamente difícil uma informação sobre o... Senhor ter vazado assim, então é possível que alguém do governo o tenha feito, e quando falo em alguém, quero dizer uma pessoa com grande influência, para ter acesso às informações sobre você...

O cabo Blake que escutava a conversa se remexeu no assento enquanto o Comandante falava.

Subitamente, o jato balançou, assustando Gilbert e os agentes que estavam ali. Mas logo eles se recompuseram e voltaram a prestar atenção a outros assuntos.

De repente, o jato voltou a oscilar, fazendo com que os soldados estranhassem. Comandante Gilbert levantou-se irritado.

_Eu irei checar o que está acontecendo na cabine do piloto! -apressou o passo tomando cuidado para não cair-

Ele abriu a porta da cabine e entrou, correndo até o local onde estavam sentados o piloto e o vice-piloto.

_Hey, o que está acontecendo com...-tocou no ombro do piloto e assombrou-se-

O piloto da aeronave deslizou da cadeira de caiu para o lado, desacordado. Pior, o homem estava com os olhos brancos e espumando pela boca, como se houvesse convulsionado e da mão dele, caiu uma seringa vazia, e o vice piloto encontrava-se no mesmo estado.

_Mas o que...?!! –quase gritou-

O jato começou a perder altitude rapidamente, Gilbert correu até o assento do piloto e começou a utilizar suas habilidades de pilotagem para estabilizar o jato. Enquanto pilotava, pegou o rádio da cabine de comando e avisou:

_Aqui é Gilbert Lorran, preciso que alguém venha à cabine de comando me auxiliar, a situação é séria, preciso de alguém que saiba como pilotar aeronaves!

Todos se levantaram de impulso e uma murmuração começou, os soldados se desequilibravam. Somente o alien continuou sentado, observando a confusão, com um olhar de desconfiança.

_Sr? –o cabo Blake correu até a cabine de comando- C-comandante? –assustou-se ao ver os dois corpos caídos no chão-

_Cabo, alguém armou para nós, venha me ajudar, tenho que estabilizar esse jato...

Enquanto Gilbert tentava manter o veículo, o cabo Blake olhava aterrorizado para o piloto e vice piloto, checou os sinais vitais e percebeu que estavam mortos, imergiu em seus próprios pensamentos, ignorando a realidade à sua volta.

O... O chefe havia dito que tentaria outros métodos para matar o alienígena... Ele disse que eu deveria vir nessa viagem e tentaria por o plano em ação na Rússia... Já estamos viajando há duas horas, mas ainda não chegamos ao destino... Por que agora...?

Ele está pensando em me matar junto?

_Blake! Blake, me ajude aqui! –chamava o comandante sem olhar para trás, concentrado no painel de pilotagem à sua frente- BLAKE!

O soldado saiu de seus pensamentos, desesperado, apesar de ouvir os clamores de seu comandante, não pôde reagir e repentinamente, caiu. Gilbert ouviu o barulho do corpo do cabo se chocando com o chão, nesse momento, tirou os olhos do painel de controle, e viu o cabo desfalecido.

_O-o quê? –voltou-se rapidamente para o painel-

Pegou o rádio e voltou a chamar os passageiros:

_Preciso de alguém aqui rápido, qualquer um, venham imediatamente!

Suou, estava tentando manter o jato nos ares. Logo alguns soldados vieram, checaram o companheiro e tentavam entender o que acontecia.

Gilbert começou a sentir-se tonto, e enjoado, e em pouco tempo, seus músculos fraquejaram a ponto de ele não mais conseguir manter as mãos firmes no volante. Alguns segundos depois, desfaleceu.

Os soldados ficaram agitados, um deles assumiu o volante, mas não sabia como pilotar, os outros correram, mas quando chegaram à cabine dos passageiros, todos exceto o alien estavam desmaiados. Os soldados logo caíram no chão e o jato voltou a perder altitude.

O alienígena levantou-se, de cenho franzido e observou os humanos caídos pelo local. Olhou em direção à cabine em meio à turbulência com desconfiança.

. . .

Na casa de Eileen

. . .

A mulher finalmente estava sozinha de novo. Quando chegou do trabalho, a casa estava vazia, e de alguma forma ele sentia falta da comoção que sempre tinha ali por causa do alien.

Suspirou, estava cansada do trabalho, foi um dia chato. Quando havia se trocado para descansar, sentou-se no sofá com sua xícara de café na mão, ligou a Tv, mas não estava dando atenção à tela, estava pensativa.

Um mau pressentimento havia pesado em seu coração o dia todo. Não entendeu se foi fruto da preocupação dela com a viagem ou uma premonição. Não breve algo lhe chamou a atenção.

[Urgente: Um jato governamental caiu na Rússia!] a âncora do telejornal anunciava.

Eileen levantou o olhar lentamente para olhar as imagens dispostas na tela, com um assombro no coração.

[O jato executivo do governo que havia partido há cerca de quatro horas atrás, foi perdendo altitude e caiu numa região perto da cidade de Tomsk. De acordo com a informação, representantes importantes do país estavam no jato fariam uma visita ao presidente russo para estabelecer acordos comerciais, não se sabe o número de mortos e feridos, mas os peritos acreditam que não há possibilidade de haverem sobreviventes pelo estado no qual o jato foi encontrado]

Uma imagem de uma estrutura metálica, totalmente contorcida e em chamas foi mostrada na tela.

[Não se sabe os estragos que foram causados à população local, as investigações procederão, voltaremos com a notícia quando obtivermos mais informações]

E depois a tele jornalista passou a falar de assuntos triviais. Eileen perdeu a força e deixou a xícara de café escorregar por entre os dedos, caindo no chão, espalhando café por todo o tapete de veludo...

_Ah...

Esse não era o jato que o Comandante Gilbert estava...? Não, não tem como... Isso ser verdade... Não tem jeito de... Um jato do governo pilotado por profissionais, numa missão tão importante...

Mas... Como um veículo pôde ficar naquele estado...? Eu... Vou ligar para o comandante Gilbert e ele vai me atender...

Ela pegou o celular e ligou para o número do comandante salvo em seu telefone. Fora de área.

Ah, é! Que burrice a minha... Não se podem deixar esses aparelhos ligados em aeronaves... É perigoso, por isso ele não atendeu...

Ela sorria enquanto um desespero interno se apossava dela. Foi desfazendo o sorriso do rosto, assustada.

Não pode... Se esse era o jato do governo daqui então... Comandante Gilbert, todos aqueles soldados e... Siv... Todos eles estarão...

Não teve coragem de terminar aquela sentença nem no pensamento.

[Voltamos agora com mais informações sobre o jato caído, o jato foi identificado como do país...]

Eileen não tirou os olhos da TV, ouvindo angustiada às notícias cruéis.

[Foram encontrados dois corpos na cabine de comando. Acredita-se que os dois corpos sejam do piloto e copiloto, ainda não há informações sobre o restante dos passageiros...]

Não tem corpos...? Eles sumiram? Todos sumiram...?Como...?Não...

Siv, se estiver me ouvindo, responda... Por favor...

Não houve resposta. Nem um sinal. E a notícia continuou a passar, mas a mulher não conseguia prestar atenção, não ouvia mais nada. Sua visão ficara embaçada e podia sentir as lágrimas se formando.

Gilbert Lorran, Siv Borghild e todos os agentes do governo dentro daquele jato, estavam mortos.

Que futuro espera por Eileen? O que o governo fará? Um triste caminho se teceu... Para onde levará esse desastroso futuro?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Human World Observation" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.