Warmata escrita por The Vex


Capítulo 5
Capítulo 5. Romance na Cidade Grande


Notas iniciais do capítulo

Sentiram alguma esperança no título do capítulo? Pois é...



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Enquanto Ícaro se recompunha do leve susto, percebeu que o menino ainda estava lá, esperando a sua resposta. O garoto era realmente bonito para Ícaro. A pele era branca, mas não chegava a ser pálida. Os olhos eram de um castanho-escuro profundo, claramente perceptível. O cabelo, um tipo de liso empastado, estava tingido de verde, mas não o verde tradicional, era verde persa, se aproximando do azul. Pela forma de como se dispunha pelo sofá, Ícaro pôde calcular que o garoto era relativamente mais alto que ele.

— Ícaro. — Disse, tentando não parecer surpreso. Só percebeu que tinha esquecido de perguntar o nome do garoto quando ele tornou a falar:

— Você veio com o Lúcio, né? — A pergunta soou quase como uma afirmação. — Eu conheço ele. Gente boa.

Não respondeu. Não sabia o que dizer. Estava lá para acompanhar Lúcio. Não lhe ocorrera a ideia de que ele encontraria várias pessoas de sua idade, e, muito menos, que alguém falaria com ele espontaneamente. O garoto era bonito, de verdade, e não era como se Ícaro quisesse perdê-lo de vista.

— E você, como chama? —Perguntou, tentando aproveitar a brecha.

O garoto abriu um sorriso, como se esperasse aquela pergunta desde sempre.

— Leandro — disse, girando o corpo para se sentar. — E você pode me chamar de... hum... — enquanto girava, a cabeça de Leandro esbarrou sem querer na perna de Ícaro, e depois, enquanto ele se erguia, o seu cabelo ficou perto o suficiente do rosto de Ícaro para que ele o cheirasse. — Leandro mesmo. Acho que não tem apelido pra nomes como o meu.

— Leandro é ótimo — deu um risinho, tentando ser simpático.

— Quer jogar alguma coisa? — Leandro levantou-se e pegou o que parecia ser um celular na mesa de centro. Quando não teve resposta, completou: — No videogame.

— Aaaaah — exclamou —, sim, pode ser.

Leandro retribuiu com uma cara de suspeita, mas logo depois a desfez, e foi até a estante na parede pegar os controles. Trajava uma calça vermelho-escuro, levemente justa, e um suéter preto de mangas longas, cujas aberturas nas mãos tinham uma região que era um pouquinho menor, e cheio de pequenas listas no tecido, a qual ele deixava cobrindo a mão inteira, deixando somente os dedos de fora. Ligou a televisão pressionando um botão na lateral, e entregou um dos controles a Ícaro.

— Quer jogar o quê? — Perguntou, enquanto abria a bandeja do videogame.

— Qualquer coisa.

— Qualquer coisa não tem. — Leandro retrucou. — Tá bem, vem comigo — se levantou, e lhe ofereceu a mão num gesto simbólico para que ele o acompanhasse, abaixando-a lentamente logo depois.

Ícaro levantou-se e o seguiu. Leonardo percebera que Ícaro não queria jogar nada, não de verdade. Tinha tido aquilo só para ser simpático.

— Você quer alguma coisa? — Perguntou sobre o ombro enquanto desviava das pessoas espalhadas pelo corredor.

Sabia que se respondesse “pode ser” novamente, Leandro podia simplesmente se cansar dele e procurar ir fazer outra coisa, então Ícaro deu uma corridinha até as costas de Leandro, apoiou uma das mãos em seu ombro, e disse próximo do seu ouvido:

— Quero. — Nesse momento, Ícaro pensou ter visto Leandro sorrir enquanto virava o rosto para frente.

O corredor era grande, mas a cozinha não ficava lá muito longe. Antes de chegar lá, Ícaro avistou Lúcio encostado numa parede, conversando com algum garoto que ele nunca tinha visto antes. Mesmo assim, Lúcio percebera sua presença e lhe lançara uma piscadela rápida. Um cumprimento. Na cozinha, Leandro deu um abraço numa garota negra de cabelo castanho e encaracolado. Seu nome era Natália. Quando Leandro apresentou Ícaro, Natália deu um tchauzinho com a mão esquerda, e depois foi embora segurando um copo de vidro azul-escuro.

Leandro pegou dois copos iguais ao de Natália numa espécie de escorredor de louça que ficava em cima de uma divisória alta de pedra no meio da cozinha, e os entregou a Ícaro.

— E aí, quer o quê? — Perguntou, abrindo a porta da geladeira e se abaixando para enxergar as prateleiras inferiores. Ícaro conseguiu distinguir três ou quatro garrafas de bebidas diferentes, além de refrigerante, mas ele realmente odiava álcool; só vinho era suficiente para deixar ele enjoado.

— Fico com refrigerante mesmo — respondeu.

— Qual? — Leandro tornou a perguntar, e soou como um tipo de teste.

Ícaro lançou um olhar para a geladeira de novo, e não se demorou:

— Fanta.

Leandro sorriu de novo. Seu sorriso era tão meigo que enchia o coração de Ícaro de alegria. Ele definitivamente queria conhecê-lo melhor. — Se você dissesse Fanta Uva eu te deixava aqui mesmo — deu uma risada —. Mentira, mas sério, como alguém gosta de Fanta Uva? — Se agachou, e tirou uma garrafa de um litro do refrigerante que estava atrás das outras garrafas. — Vamos.

Ícaro o seguiu novamente até a sala, onde Leandro o mandou esperar enquanto ia até a rodinha. Quando seguiu Leandro com o olhar, percebeu que ele estava falando com Marcela algo que não prestou atenção, pois a música que veio a seguir o chamou a atenção.

I stepped into a room of clocks that all told different times

I stepped into a mirrored world that mirrored all our crimes

You keep picking at the scab and I’ll..

— Você vem, American Idol?

Quando Ícaro se deu por si, Leandro estava em sua frente, com a garrafa de refrigerante em mãos. Se dera conta de que tinha acompanhado a música com os lábios, e, por um momento, se sentiu um pouco envergonhado.

— Relaxa, a gente vai ficar aqui na escada mesmo — Leandro continuou.

Ícaro sentiu uma sensação que não soube descrever. Se Leandro chegara até aquele ponto, ele certamente queria algo. Fosse só amizade ou algo mais momentâneo, ele definitivamente queria alguma coisa. E Ícaro também. Sabia que estava sendo levado pela beleza de Leandro, e por ele ter sido, no mínimo, bastante simpático.

Leandro saiu, e Ícaro logo atrás deles. Subiram a escada em direção ao quarto andar, os sapatos ecoando levemente no piso de madeira. Mesmo com a porta fechada, ainda podiam ouvir o som alto vindo do apartamento enquanto subiam a escada, o que alegrava Ícaro. Numa outra ocasião, ele relutaria em sair simplesmente por adorar a música do ambiente. Mas ele tinha feito esse esforço por Leandro.

— Olha, eu vou ser direto — Leandro anunciou, enquanto se sentava na escada, de costas para a grande divisória de madeira e colocava a garrafa um degrau acima. — Eu quero ficar com você.

Ícaro tremeu. E, ali, soube exatamente o que fora a sensação que tinha sentido instantes antes. Tremeu de alegria, pois suas expectativas tinham, em parte, se concretizado parcialmente, mas também de medo. Conhecia Leandro há muito pouco tempo, e só tinha ficado com um garoto uma vez.

— E quem disse que eu sou gay? — Perguntou, dando seu melhor para não soar muito rude nem desinteressado.

— Ninguém. Só achei. — Leandro fez um sinal para Ícaro sentar-se, e ele o fez.

Ícaro ergueu os dois copos para que Leandro pudesse enchê-los. Abriu um sorriso, que significava algo como “parabéns, achou certo.”

— E então — prosseguiu, enquanto colocava a tampa na garrafa — fale sobre os seus pais.

Aquilo o pegou de surpresa. Ele esperava um “me fale sobre você”, que seria infinitamente mais plausível; mas, ao invés de achar estranho, tomou como um bom sinal.

— Bem, minha mãe é vigia noturna, e tá trabalhando agora. — Tomou um gole. Esperou uma resposta de Leandro, mas quando não recebeu, continuou: — Ela é legal. Me deixa fazer as coisas que eu quero, e não fica no meu pé. Mas não é o tipo de mãe que diz pro filho: “ah, se fode aí”. Não.

Leandro riu. Era uma pessoa que prestava atenção no que as outras pessoas diziam. Que escutava. Em nenhum momento havia lhe perguntado sobre o seu pai. Mas, ao invés de mais uma pergunta, ele falou sobre a própria família; sobre o irmão mais velho, que o tinha ajudado a se assumir, e seu pai, que aceitara super bem. Talvez quem visse os dois ali sentados naquele momento, pensasse que eram amigos de longa data, pois a conversa ia fluindo muitíssimo bem. E não era como se um dos dois tivesse vergonha ou receio de falar sobre qualquer coisa. Falaram sobre amizades, lugares que gostariam de visitar, passatempos, o que os agradava, e o que os irritava. Parecia que horas tinham se passado, e que eles tomava uma garrafa infinita de Fanta Laranja. Conforme os minutos iam se passando, Ícaro ia criando uma afeição cada vez maior por Leandro. Ele não era o tipo de pessoa que chegava em outra, e ficava uma vez para nunca mais. Mas, com o tempo, veio a impaciência. Ícaro queria abraçá-lo, beijá-lo, queria fazer aquela noite valer a pena; mas Leandro não manifestava nenhum esforço para seduzi-lo. Talvez por que soubesse que já o tinha.

— Diz uma música que você goste. — Disse Leandro.

— Ai, assim, sem mais nem menos?

— É. — Ele respondeu, tirando o copo de Ícaro do degrau em que ele estava, e o colocando perto do dele. — Mas, por favor, você não me parece o tipo de pessoa que gosta de arrocha.

Ícaro deu uma gargalhada, e Leandro o acompanhou, tirando o celular do bolso. Enquanto ele pensava, Leandro mexia no celular. Ícaro queria causar uma boa primeira impressão. A música tinha de ser uma que ele realmente gostasse, mas que Leandro também pudesse gostar. Infelizmente, ele não tinha ideia do tipo de música que Leandro gostava.

— “Adeus você”, já ouviu? — Ícaro sugeriu. — Não gosto muito da metade pro fim, mas o começo é lindo.

— Não. — Leandro afirmou, e pôs ao lado de Ícaro com um movimento rápido. — É alguma dessa? — Perguntou, mostrando a tela do celular que exibia uma lista de vídeos.

— Essa — Ícaro apontou o dedo para uma das músicas, e o pôs sobre a tela do celular. Leandro deixou o celular na mão de Ícaro, girou o tronco, pegou os dois copos que estavam na outra extremidade do degrau em que estavam, e os colocou próximos a eles. Depois, pegou o celular, e o colocou próximo dos copos, com o alto-falante virado para baixo afim de deixar o som um pouco abafado.

Não demorou muito, a música começou, e Leandro se aproximou de seu ouvido. Em vez de uma palavra, Leandro lhe deu uma mordida leve. Levou a mão até a bochecha de Ícaro enquanto lhe beijava carinhosamente. Depois, a mesma mão foi até seu cabelo, deslizando lentamente por seu pescoço antes de afagar os seus fios.

Ícaro virou um pouco a cabeça para que Leandro começasse a beijar mais perto de sua boca. Sentiu a outra mão de Leandro subindo por seu peito até seu ombro, parando lá por um tempinho antes de deslizar para o outro lado do seu pescoço. Com carinho, Ícaro se afastou um pouco. O suficiente para virar o rosto para Leandro, e não deixá-lo com as mãos no ar. Virou-se, e seu tronco reclamou pela posição incômoda, mas ele não deu a mínima. Leandro, com os olhos fechados, deu um selinho em Ícaro. Depois outro, e outro. E então, suspendeu um pouco o corpo no ar para alcançar a sua testa. A mão que estava no ombro foi até a cabeça de Ícaro, e começou a afagá-la, enquanto com a outra, ele se apoiava e se colocava numa posição mais confortável.

Sem afastar Leandro, Ícaro aproveitou para se por numa posição confortável também. Ficou de frente, assim como Leandro, que agora beijava seu cabelo, e fazia um tipo de cafuné com as duas mãos. Ícaro levou a mão até as costas de Leandro, e cravou os dedos de leve na pele dele. Quando Ícaro estava prestes a se levantar para ficar mais ou menos na mesma altura que ele, Leandro desceu com vários selinhos da testa até a boca. Depois, avançou um pouco contra o rosto de Ícaro, em sinal para que ele abrisse os lábios. Ícaro abriu, e, quando sentiu os lábios molhados de Leandro nos dele, ele ascendeu ao paraíso.

Ícaro deslizou a língua para dentro da boca de Leandro, e acabou encontrando a língua dele, que estava prestes a fazer o mesmo, porém, recuou. Num instante, Ícaro já estava com os braços em torno de Leandro, quase devorando-o. As mãos de Leandro, que tinham saído de sua cabeça, pousaram novamente em seus ombros, afastando-o um pouco.

— Há quanto tempo você não beija? — Perguntou gentilmente, encostando a própria testa na de Ícaro.

— Uns dois anos — não havia motivo para mentir. — E, para falar a verdade, só foi uma vez. Foi tão ruim assim?

— Tava bom até você começar a me comer, literalmente — Leandro deu uma risada. — Pensei que ia ser estuprado aqui mesmo.

Ícaro sorriu. Não sabia se estava aliviado ou com vergonha. Na duvida, sorriu. Sutilmente, Leandro se levantou e o levou para cima, até o pátio do quarto andar onde ficavam as portas dos apartamentos daquele nível. Leandro se sentou de costas para uma amurada que era uma espécie de continuação do corrimão da escada, e pediu que Ícaro ficasse de frente para ele, as pernas cruzadas. Leandro suspendeu as próprias pernas e as pôs em volta dele.

Leandro se encostou na mini parede de madeira, com o bumbum um pouco acima do chão por causa das pernas em volta de Ícaro.

— Quem falou em estupro? — Riu.

Not today — Leandro proferiu, e, com as mãos em volta do corpo de Ícaro, ergueu o corpo, e sentou em suas pernas. — Se doer, me avise.

Para que as pernas não doessem tanto com o peso de Leandro, Ícaro as relaxou mais que o normal, formando um espaço vazio no meio das coxas, onde Leandro se acomodou. — Assim é melhor?

A resposta de Leandro veio em forma de um selinho. Dessa vez, quando Ícaro abriu a boca para que a língua de Leandro entrasse, não se desesperou. O beijo foi suave e calmo. Depois, outro selinho, e então, Leandro pôs a cabeça sobre o ombro de Ícaro, e pôs-se a afagar seu cabelo com uma das mãos, enquanto lhe dava um meio abraço com a outra. Ícaro colocou as duas mãos em volta das costas de Leandro, uma na altura da barriga, e outra no ombro. O pressionou levemente contra o peito, e foi deitando lentamente. Quando suas costas atingiram a madeira fria, a mão de Leandro que afagava seu cabelo serviu como um tipo de amortecedor para a sua cabeça. Ali, com Leandro sobre o seu peito, Ícaro se esqueceu totalmente de Lúcio e da festa. Esqueceu-se que estava deitado no chão, ignorou o chão gelado, e não deu a mínima para o fato de possivelmente já ter passado da meia noite. Ali, ele se esquecera de si mesmo e de todas as outras coisas, com exceção de duas:

Ele estava com alguém e, talvez, acima disso, estava bem.


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Notas finais do capítulo

2bjs.



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