Se o Amor é uma Ilusão, Deixe-me Ser Iludida escrita por snow Steps


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Peço perdão pela demora, eu estava na roça durante estes dias (literalmente falando).
Quero agradecer imensamente à recomendação linda da BiaM, que me pegou de surpresa.
Estou adorando os reviews de vocês, e o número de leitores e favoritos apenas cresce! Não sei mesmo como mostrar minha gratidão por isso.
Por último, feliz dia do escritor atrasado a todos vocês! Sem leitores, não há como existir um autor realizado.
Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/575472/chapter/25

O dia seguinte amanheceu nublado, mesmo assim todos fizeram questão de ir à praia. Nos dividimos em grupos e entramos nos carros, entre risos e conversas entusiasmadas. Porém não os acompanho em palavras ou expressões de alegria. Apenas observo quietamente os olhares furtivos de reprovação, os murmúrios discretos e até algumas risadas maldosas.

Aguento tudo tragando a saliva amarga, contudo não tão amarga quanto ver Marco voltar a sua rotina natural, sem nenhuma pedrada ou arranhão. Afinal de contas, ele apenas cumpriu outra vez o papel dissimulado de um Marco Lorenzo Vittorelli.

Após várias e várias perguntas confusas de Nat e Gabi, resolvo inventar uma mentira para elas enquanto dirigimos até a orla de Búzios. Elas ouvem tudo atentamente:

_ Perdi minha virgindade com ele. No final, percebi que isto foi sempre o que desejei e não havia motivo para fugir disso. Apenas segui o fluxo, como diz o nosso bom e velho funk.

Gabriela simula um semblante contrariado, e Natasha bate palmas.

_ Fez bem, linda. Agora você pode seguir em frente pra outra. Marco não é do tipo “para ficar”. Ele é igual a papel higiênico, a gente tira um pedaço, usa e joga fora.

_ Mas dessa vez, acho que foi ele quem tirou um pedaço de mim... – Digo, fatigada.

_ Não era exatamente isso que você estava esperando, não é mesmo Nora? – Pergunta Gabi me olhando pelo retrovisor, em tom condolente.

Antes que minha boca se mova para projetar uma resposta, vejo um Grand Livina branco bastante familiar dividir a pista ao nosso lado, e meus olhos se paralisam na imagem de Tomas com ambas as mãos no volante, o cinto afivelado e o olhar se revezando entre a rua e os retrovisores.

_ Diligência européia – Sussurro para mim mesma, sem conseguir evitar um sorriso de canto.

_ O que disse, querida? – Indaga Gabriela.

De repente minha imagem azeda quando Allais entra no campo de visão no banco do carona, ajeitando seus longos cabelos loiros naturais numa trança comum.

_ Não era assim que eu imaginava as coisas, Gabi. De fato, não era assim.

Chegamos à praia de Ferradura que mantém um tom lúgubre e manso, com nuvens roxas esparsas no céu. A enseada, que evidentemente possui um formato de ferradura, abriga uma margem de ondas ralas e calmas, com as mansões à beira-mar despontando nos morros verdejantes em volta. Alugamos alguns guarda-sóis (inúteis por sinal) e cadeiras, esparramando as tangas pela areia fina. Sento de pernas cruzadas e me mantenho com a saída de banho, porque de olhares repreensivos já basta. Meu único objetivo é permanecer aqui parada até a hora de voltar para casa, feito um monge hindu em meditação. Natasha e Gabriela logo se dispersam com os outros rapazes a procura da cerveja de cada dia, e o restante forma uma roda sobre a areia e joga papo fora. Os observo de esguelha, de um por um: Leonardo com suas piadas, Matheus com sua prancha de stand-up, Bernardo com o iPhone na cara, Allais com sua trança nojenta, Tomas que está olhando para mim... espera, como? Volto os olhos rapidamente e por um décimo de segundo se conserva o fio da meada onde nossos olhares se cruzam, aturdidos e nervosos. Tom de imediato abaixa o rosto e eu desvio o meu para o horizonte, soltando um arquejo.

Ele estava me observando. Sim, tenho certeza.

_ Vem pra cá, Nora! – Grita Natasha segurando duas latas de cerveja nas mãos, indicando para me unir à roda.

Ergo as sobrancelhas e me convenço de que é a melhor opção, pois me isolar deles não os farão mudar a ideia que formaram sobre mim. Levanto da areia e estico as pernas com dificuldade, pois o sangue retido nas articulações faz meus pés adormecerem.

_ Eita que a noite foi booa – Debocha Leonardo, provocando risos contidos.

Engulo em seco e o ignoro, dobrando minha tanga e a colocando debaixo do braço. Quando dou o primeiro passo, sinto um quilo de areia escorrer dentre as dobras do pano e cair sobre minhas pernas.

_ Que delíííícia – Continua Matheus, e desta vez as pessoas não disfarçam suas gargalhadas.

Meus lábios se envergam para baixo, assim como minha face que não desgruda dos meus pés. Inevitavelmente as lágrimas se acumulam nas pálpebras e molham meus cílios, e respiro fundo para que elas se comportem dentro dos olhos. Esta é minha nova vida, minha nova reputação. Juntei-me a um ninho de cobras, que agora mais do que nunca se demonstram como as pessoas mais falsas do planeta por não levantarem um dedo a meu favor e defesa. Penso em como Natasha e Gabriela são capazes de deixar aquela humilhação passar em branco, sem ao menos falar um trocadilho de volta. Por que eu não quero um super-herói ou um advogado para me proteger, apenas alguém no mundo que diga a eles que eu não sou o que pensam. Que uma garota ingênua e nerd pode sim cometer uma gafe de vez em quando, sem precisar se rechaçada daquela maneira. Afinal, quem ali não tivesse ainda errado que atirasse então a primeira pedra.

_ Por que vocês estão falando desse jeito da minha namorada? – Ressoa uma voz vigorosa e firme, em meio aos risos. De repente todos se calam, inclusive meus pensamentos. Ergo a face para frente e pisco os olhos, que deixam as gotículas de lágrimas se derramarem pelas bochechas.

Como num filme romântico, Marco desponta em meio a roda, de pé, com a expressão séria e os traços esbanjando revolta. Ele encara todos e repousa o olhar verde-oliva sobre mim, que permaneço a metros de distância deles, segurando a tanga dobrada sobre o peito como um manto.

_ Como assim, Lorenzito? – Interroga Isabella e Renata, quase em uníssono.

_ Namorada?! – Exclama Natasha, boquiaberta.

_ Endoidou, maluco?! – Retruca Matheus, indignado.

Eu também quero dizer algo, porém estou tão atônita que não consigo formular nenhuma frase.

_ Estamos tendo um caso há um tempo, o.k.? Nada que interesse à vida de vocês – Marco continua, resoluto.

O silêncio reina novamente sobre a praia tranquila, exceto pelas gaivotas que sobrevoam o céu. Marco vem ao meu encontro pisando sobre os outros que estão sentados na areia, como se fossem montes de esterco. Ele me abraça pelos ombros e me dá um beijo na testa, levando-me para longe deles.

_ O q-que foi isso, Marco? – Interrogo, com a voz embargada pelo choro entrecortado.

_ Não posso permitir isso – Ele responde, ainda carregado de raiva.

Lanço um olhar para trás e vejo, despedaçada, Tom nos contemplando, seu rosto tão atordoado quanto dos outros. Levemente meneio com a cabeça por debaixo do braço de Marco, ressentida. Nós vamos até um quiosque, e nos acomodamos numa das mesas. Marco pede uma garrafa de água para mim e a atendente me serve num copo com gelo, enquanto ainda me mantenho absorta nos pensamentos.

_ Prometo que agora eles o deixarão em paz. – Garante Marco, confiante.

_ O que você acabou de fazer? – Pergunto baixinho.

_ Oi?

_ O que você acabou de fazer? – Repito, levantando o tom da voz.

_ Ah, Nora... eu fiquei revoltado com a situação e foi a primeira coisa que me veio em mente. Eles estavam humilhando você, Nora. Tenho o dever de protege-la agora, depois de tudo que fez por mim.

_ Você não tem ideia do que acabou de fazer, então.

Marco forjou um semblante consternado.

_ O que há de tão grave em ser minha namorada? Quer dizer, não quero soar arrogante, no entanto sou o mais desejado da faculdade e agora ninguém terá coragem de falar um ai...

_ Não, Marco, não! – Grito inesperadamente, derrubando o copo d’água. Ponho minhas mãos sobre o rosto e deixo que as lágrimas ferventes me molhem sem nenhum escrúpulo. – Você não entende. Nunca entendeu. Eu sempre fui apaixonada por você Marco, desesperadamente apaixonada... – Faço uma pausa para despejar soluços sufocantes. – Deixei de gostar de um cara muito especial para correr atrás de você e... e... e agora não o posso ter, porque você jamais irá me querer... e ninguém mais vai também porque sou sua n-namorada! Viu o estrago que fez na minha vida?

O pranto toma conta de mim, e a dor aperta forte debaixo da garganta. Os olhos azuis de Tomas se fundem na minha dor, e eles se repetem como uma curta-metragem na memória. Não sei o porquê, mas eu gostaria de voltar no tempo mais do que nunca e estar novamente naquele jardim de inverno, e dizer ao inglês que eu estava feliz de estar ali por ele, e somente ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Se o Amor é uma Ilusão, Deixe-me Ser Iludida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.