Sentimentos não percebidos. escrita por Gabs


Capítulo 16
Capítulo 16 - O Fim




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Depois do Natal Lilian foi na sua antiga casa pegar alguns pertences antes que Petúnia vendesse tudo. Seus amigos insistiram em ir junto, mas ela negou os pedidos, sabia que era algo que tinha passa sozinha, queria se despedir daquele lugar, dos seus pais, das recordações tristes que tinha daquele lugar, queria deixar espaço apenas para as coisas boas, para os bons momentos, para as boas memórias.

Conversar pela primeira vez sobre a morte dos seus pais tinha ajudado a diminuir a dor. Por mais óbvio que pudesse ser escutar de outra pessoa que a culpa não tinha sido dela a vez querer acreditar naquilo, apesar de no fundo, ainda ter uma voz gritando com todas as forças que a culpa era dela.

Lilian sentiu o primeiro impacto quando aparatou nos fundos da casa dos seus pais o jardim antes tão cuidado – seu pai era apaixonado por flores – estava completamente destruído. Ela não podia acreditar que Petúnia tinha deixado aquilo acontecer. Por Deus, custava vim uma vez ao dia molhar as flores?

A casa estava quase que completamente vazia. Petúnia claramente já tinha feito a limpa. Lilian não duvidada que a nova casa da irmã estivesse sendo montada com alguns móveis e itens da casa dos pais delas. Pelo menos, pensou ela, as coisas não iriam simplesmente para o lixo.

Se despedir da casa estava sendo uma tarefa mais difícil do que Lilian tinha imaginado, cada cômodo tinha tanta história, tantos momentos. Se fechasse os olhos ainda podia ouvir a risada dos seus pais vindo da cozinha, sua mãe cantarolando alguma música enquanto pintava no quarto de cima, o cheiro de charuto do seu pai enquanto ele assistia aos jogos na sala de estar...

Quando chegou sem eu quarto foi inevitável pensar sobre o dia da morte deles.

Os quatro tinham discutido mais cedo. Petúnia se recusava a chamar Lilian para o seu casamento. As duas disseram coisas horríveis uma para outra, Lilian acabou exagerando e jogando verdades desnecessárias na irmã, ao ponto que seus pais interferiram na briga e eles nunca se metiam na briga das duas.

Mas, naquele momento Lilian não viu por esse lado, apenas enxergou seus pais defendendo mais uma vez Petúnia. Eles a mimavam demais. Amavam as duas, mas Petúnia sempre teve tratamento especial, os cuidados com ela eram exagerados, na opinião de Lilian. Então ela ficou brava com os pais, por protegerem demasiadamente Petúnia e subiu irritada para o quarto.

Seus pais tentaram se despedir antes de sair para o jantar com pais do Válter – noivo de Petúnia. Eles odiavam sair sem se despedir da filha, achavam um mau agouro. Nem mesmo quando estavam brigados um com o outro saiam sem se despedir. Mas, Lilian estava tão furiosa que não se importou com a tradição dos pais, apenas se recusou a abrir a porta do quarto para dar tchau.

No momento em que escutou o carro dando partido arrependeu-se imediatamente. Toda a situação era tão estúpida. Via seus pais poucas vezes por ano e ainda perdia tempo discutindo por bobagens.

Eles sempre mimaram a Petúnia não tinha porquê discutir sobre isso a essa altura da vida. Ela tinha sido a filha mais velha, e tinha seus problemas de insegurança e confiança, além de ser bastante tímida. Tudo bem que essa atitude dos seus pais estava tornando-a em um ser humano absolutamente mandão e irritante, mas aquilo não tinha nada a ver com ela...

Esperou seus pais chegaram na sala de estar não queria pedir desculpas pelo seu comportamento, mas esse momento nunca chegou. Eles saíram mais cedo do jantar dispostos a conversar com Lilian antes dela dormir e sofreram um terrível acidente de carro no caminho.

E desde então Lilian nunca deixou de se perguntar se a culpa tinha sido dela. Se ela não tivesse quebrado a tradição e se despedido deles, se ela não tivesse brigado com eles, se ela não tivesse brigado com Petúnia eles ainda estariam vivos?

Foram muitos dias se questionando tudo isso. Para Petúnia não havia dúvidas a culpa tinha sido exclusivamente de Lilian. O casamento foi adiado, mas ela mudou-se para a casa que dividiria com Válter, não conseguiria viver na casa dos seus pais, principalmente com a assassina dele.

Lilian mal conseguia se recordar do enterro, todas as lembranças daquele momento em nebulosas, ela se afastou de tudo e de todos. Foi nesse estado que Alice e Marlene a encontraram depois de semanas e mais semanas sem dar notícias. Elas a ajudaram a se manter em pé, a seguir em frente.

Tentar seguir em frente, sair do luto é mais difícil do que podemos imaginar. Negação, isolamento, raiva, barganha, depressão... ela já tinha passado por todos esses estágios.

Merlim. Lilian não tinha ideia de onde estaria se não fosse seus amigos lhe apoiando, a fazendo rir, a fazendo ter esperanças sobre um novo dia, mesmo quando ela se negava a pensar em um futuro e tudo parecesse tão frio e sombrio.

James Potter tornava tudo mais leve ainda.

Lilian tinha prometido a si mesma que nunca mais iria planejar nada, porque o futuro era tão incerto e a vida tão erradica, mas ela não conseguia parar de pensar no quanto gostaria de passar dias e mais dias sentindo o abraço caloroso e os beijos de James Potter. Seria esse um sinal de que finalmente estaria passando pela aceitação? Questionou-se.

...

Lilian Evans tinha passado uma vida inteira naquela casa. Aprendeu sobre tantas coisas naquele lugar, se divertiu com Petúnia, amou imensamente seus pais, e todos esses momentos foram reduzidos a cinco caixas. Ela sentiu a necessidade de guardar aquele lugar para sempre, mas de que adiantaria se eles jamais voltariam?

Ela fez um feitiço para que as caixas diminuíssem de tamanho e a colocou em sua maleta (que tinha um feitiço de extensão) e deu adeus aquele lugar onde tinha sido tão feliz.

...

Olhou a placa de cimento no chão “Andrew e Ellie Evans, amados pais”. Conjurou um buquê de lírios e colocou em cima.

—Sinto tanta falta de vocês. Eu daria absolutamente tudo para que estivéssemos agora reclamando do quão ruim é a programação da tv no fim do ano.

Foram meses muito difíceis sem vocês. Se não fossem meus amigos... não sei o que seria de mim. Sei que gostariam que Petúnia e eu finalmente nos uníssemos após essa tragédia, mas, sinto que talvez tenhamos nos afastado para sempre. Está sendo difícil para nós duas. Ela me culpa muito e eu também me culpo.

Todos dizem que eu não deveria como me culpar, que eu não causei o acidente, mas eu não me despedi... isso era uma tradição, nossa tradição. Talvez, eu me sinta culpada por não ter dito um adeus digno do meu amor por vocês. Sinto que a última coisa que tenham escutado de mim foi que eu os odiava. Eu não os odeio. Nunca odiei. Eu amo. Amo tanto que dói saber que nunca mais vou vê-lo, que nunca mais vou poder estar com vocês, que vocês nunca vão conhecer James.

Sim, James. Sai agora pouco de casa e não consegui parar de pensar no quanto vocês gostariam dele e do quanto ele gostaria de vocês. Estou conhecendo uma versão muito diferente daquele que contei para vocês nos últimos anos.

Eu nunca imaginei que ele pudesse ser tão emotivo, carinhoso, seguro... apaixonante. Apesar, da nossa aproximação ter sido causada por uma grande estupidez dele. Não esperava que eu pudesse me apaixonar...

Depois da morte de vocês a última coisa que eu queria era amar outras pessoas, porque se eventualmente vamos perde-la então porque amar?

Mas, eu acho que a vida é exatamente sobre isso, não é? Sobre amar. Porque se não amarmos, apesar de tudo, o que sobra? O que fazer no tempo livre? O que nos motiva? Viver sem amar é viver? Ou apensar esperar o dia seguinte aguardando que a dor passe?

Sei lá... eu fico pensando sobre todas as coisas que vocês vão perder. O casamento da Petúnia, o meu casamento, nossos filhos..., mas, no fim, analisando bem, vocês tiveram um boa vida, certo? Se amaram e nos amaram imensamente. Isso é bom, certo? Tudo bem, que Petúnia e eu não fomos as melhores filhas, mas vocês fizeram o melhor de vocês. Vocês tiveram uma boa vida.

Curta demais para nós que ficamos, mas uma boa vida. E, não é exatamente isso que desejamos para as pessoas que amamos? Uma boa vida. Eu amo vocês imensamente e sinto tanto falta de vocês, mas eu sei, ou pelo menos, estou tentando acreditar que vocês completaram a missão, que vocês ficaram felizes com o que realizaram.

...

Lilian estava tão leve quando apareceu na frente da porta da casa da irmã. Petúnia provavelmente iria lhe expulsar, mas ela precisava seguir em frente e isso significava conversar com Petúnia. Ao contrário do que pensou a sua irmã não lhe xingou ou lhe expulsou... a abraçou.

A ruiva não se lembrava da última vez que tinha abraçado Petúnia. Provavelmente tinha sido antes da carta de Hogwarts. Havia uma vida antes e depois da carta de Hogwarts.

Petúnia achava que a Sra. Thomas, a vizinha da frente, iria lhe oferecer outro gato quando ouviu a companhia tocar. Mas, ao abrir a porta se deparou com Lilian. Sua irmã mais nova. Ela odiava Lilian, era o que dizia a si mesma.

Mas, aquele tinha sido o primeiro natal sem os seus pais e sem Lilian e por mais que tenha se sentido à vontade na casa dos seus sogros sentia falta da família. Ela não percebeu quando abraçou Lilian, mas assim que notou rapidamente se afastou.

—O que você faz aqui?

Perguntou colocando o tom mais grosso que conseguia. Mas, a ruiva nem notou ainda estava atordoada com o abraço.

—Já peguei as coisas na casa dos nossos pais. Achei que você iria querer a chave.

Petúnia assentiu e discretamente abriu a porta para que Lilian entrasse.

A casa de Petúnia era exatamente como ela sempre achou que seria.

—Estou fazendo um chá.

Petúnia disse se dirigindo à cozinha. Lilian ficou ali na entrada da casa, questionando-se se deveria aquilo tinha sido um convite ou simplesmente um comunicado, uma indireta de que estava atrapalhando. Resolveu arriscar e foi em direção a sala de estar.

Petúnia estava nervosa. Tinha ido visitar seus pais no Natal. E, não conseguia deixar de pensar nos últimos momentos com eles.

—Ela é sua irmã e sempre será. Não importa quantas vezes vocês briguem, o quanto sejam diferentes, o quanto se ignorem, no final do dia ainda serão irmãs.

Sua mãe tinha dito assim que entraram no carro naquela noite.

—A culpa é dela. Ela é a estranha da família. Uma verdadeira aberração.

Retrucou contrariada.

—Não fale assim da sua irmã! – Seu pai havia advertido – aberração é duas pessoas tão parecidas que compartilham o mesmo sangue sequer sentarem para se ouvirem. Vocês só gritam uma com a outra. Quando começaram a se ouvir vão perceber o quanto se parecem.

—Não entendo porque somente eu estou ouvindo o sermão...

—Porque você não convidou sua própria irmã para o casamento e nem para conhecer seus sogros!

...

Não acredito que estão saindo mais cedo do jantar por causa da Lilian. Eles são meus sogros, por Deus. Não podemos fingir ser uma família normal por alguns minutos?

—Estamos indo embora porque não vamos corroborar com sua atitude. Não te obrigamos a convidar sua irmã para o casamento, mas certamente não vamos ficar aqui fingindo que você não tem uma irmã.

Disse Andrew Evans irritado e ele nunca se irritava.

—Mãe!

Chamou Petúnia implorando. Os três estavam no estacionamento.

—Desculpa querida. Sei como é importante para você, mas não podemos ficar aqui fingindo que não temos uma filha. Você não pode cortá-la da sua família só porque as duas tem desavenças. Não pode fingir que ela não existe. Quando sei pai e eu morrermos ela vai ser a sua única família. Ela vai ser a única pessoa que vai entender seu luto, porque ela vai ser a única pessoa que vai passar pelo mesmo. Eu só espero que não esperem a nossa morte pra finalmente passarem a cuidar uma da outra.

Foi a ultima coisa que ouviu dos seus pais – que ela e Lilian deveriam se entender, que as duas eram parecidas.

Analisou a irmã mais nova à distância... seus pais tinham errado. Elas não nada parecidas. Lilian vestia-se como uma moribunda, não tinha e nem tentava ter a classe que outrora a mãe delas tinha tentado ensinar. Não! Ela sempre queria fazer as coisas perigosas. Não atoa tinha sido chamada para aquela escola de lunáticos.

Uma voz na cabeça dela alertou sobre o quão magra e cansada Lilian parecia. Mas, Petúnia tratou te ignorar a tal voz. Embora tenha colocado mais cookies de aveia na travessa.

Lilian deu um sorriso triste quando viu os cookies de aveia. Eram os seus preferidos e nem mesmo os elfos de Hogwarts conseguiam fazer cookies tão perfeitos quanto os de sua mãe.

—É a receita da mamãe. Peguei o livro de receita.

Disse Petúnia quando Lilian pegou um cookie.

—Achei que não iria querer as receitas dela, afinal você sempre foi um desastre na cozinha.

Lilian sorriu.

—Lembra daquele natal em que papai e eu ficamos responsáveis por fazer a sobremesa?

—Pior English Trifle da história.

Petúnia comentou sorrindo com a lembrança.

O silêncio reinou por alguns minutos.

—Fui ao túmulo deles. Ainda não tinha ido, desde...

Petúnia assentiu.

—Fui no natal. É estranho.

—Muito.

Concordou Lilian.

—Como você está?

Perguntou a ruiva.

—Bem. Estamos bem. Foi mais complicado no início. Agora parece que finalmente...

—Eu sei. Comigo também.

As duas se encararam por breves segundos. “Ela vai ser a única pessoa que vai entender seu luto, porque ela vai ser a única pessoa que vai passar pelo mesmo”. As palavras de Ellie martelavam na cabeça de Petúnia.

—Sabe... Eu sinto muito por... por ter te culpado. É mais fácil processar tudo quando se tem alguém em quem colocar a culpa.

Lilian engoliu em seco. Não disse nada. Sentia que se falasse algo começaria a chorar. Petúnia a compreendeu.

—Passei o natal com a irmã do Válter... ela conseguiu superar você.

Petúnia disse. Lilian sorriu. Entendeu o que ela quis fazer com aquela implicação.

—Nós só damos valor quando perdemos.

Lilian retrucou rindo.

—Mas, não perdemos, perdemos?

—O papai sempre deixou bem claro que seríamos irmãs para sempre então acho que não.

As duas sorriram uma para a outra. Havia muitas coisas para dizer e tantas outras para resolver, mas elas se sentiam energizadas em saber que a outra estava bem, que elas estavam ficando bem... elas ficariam bem. E quem sabe um dia seriam amigas novamente. Eles ficariam felizes – as duas pensaram.

...

Lilian sorriu quando viu James a esperando na entrada da casa dele. Ele ficava andando de um lado a outra da rua, claramente preocupado com ela.

O moreno não tinha aceitado muito bem não ter acompanhado Lilian, mas a mãe dele o obrigou a ficar. “Tem certas coisas que ela tem que passar sozinha para superar o luto. Quando ela precisar de você ela virá, não se preocupe. O luto não é uma caminhada fácil, filho”.

Ouvir a mãe o fez entender as motivações de Lilian, mas não o deixou menos preocupado. Achava incensado que a ruiva voltasse sozinha a casa dos seus pais. Acreditava que estava forçado demais e que iria se machucar.

—Desde quando está me esperando?

Lilian perguntou com um sorriso carinhoso no rosto. Ele esperava que ela estivesse com os olhos marejados de chorar, então ficou surpreso quando viu o sorriso dela.

—Muito tempo. Como foi?

Perguntou aproximando-se dela. Precisava saber se ela estava bem.

—Eu estou bem, James. Foi um bom dia. Dizer tchau para aquela casa, para as memórias dolorosas.... me fez bem. Me sinto mais leve. Mais disposta.

—Tem certeza?

Questionou analisando aqueles olhos verdes que ele tanto amava. Ela apenas balançou a cabeça positivamente antes de abraça-lo com força. Se perde no abraço deveria ser considerado uma das sete maravilhas do mundo.

Lilian sentiu as costas de James relaxar quando ela o abraçou. Ela se afastou entrelaçou os dedos aos dele e entraram na casa.

—Lily!

Sirius, Remo e Marlene que estavam na casa dos Potter’s a abraçaram.

—Como foi?

Perguntou Marlene era a mais preocupada junto com James.

—Foi muito bom. Libertador eu diria.

Os amigos a olharam desconfiados. Quem era aquela pessoa positiva que tinha tomada o lugar da amiga? Olharam para James em busca de respostas, mas ela apenas deu de ombros, demonstrado que sabia tanto quanto eles sobre a mudança comportamental de Lilian.

—Pronto. Já podem parar de esperar que eu comece a desabar.

Lilian disse com um tom irritado para os amigos que ficaram apenas olhando para ela desconfiados.

—Juro. Estou bem. Não foi fácil, mas estou bem. Foi um bom momento para mim. Visitei o tumulo dos meus pais, conversei com Petúnia. Foi um dia cansativo, mas me sinto bem.

Explicou ela.

—Foi vê Petúnia?

Marlene foi a primeira a absorver todas as informações.

—Bom, sim. Ela é a única pessoa além de mim que sabia como era perder meus pais. Achei que seria legal conversar com ela.

—E como foi?

Remo questionou.

—Surpreendentemente agradável. Ela me abraçou quando me viu. Tomamos chá e conversamos pela primeira em uma vida.

—Crianças, deixem Lilian em paz. Ela provavelmente teve um dia intenso. Deixem-na descansar. Pode subir para seu quarto querido eu seguro eles aqui.

Dorea Potter comentou. Lilian sorriu agradecida e subiu em direção ao quarto que dividia com Marlene.

Lilian

—Sério. O que diabos aconteceu naquela visita?

Alice perguntou pela milésima vez. Apenas revirei os olhos.

—Já contei para vocês inúmeras vezes. Não sei mais o que querem que eu faça.

Nenhum dos seus amigos parecia acreditar na mudança comportamental dela. O que era completamente ridículo na opinião dela. Aquela visitar tinha provocado novas sensações nela, coisas que ela tinha até esquecido que poderiam sentir, como esperança e felicidade. Ela não se sentia mais culpada em viver, mesmo que isso significasse uma vida sem os seus pais.

Ela estava leve. Ela tinha finalmente entendido que apesar de terem morrido muito antes do que o desejado eles haviam tido uma vida feliz e desejariam que ela também tivesse. Então ela tinha parado de ficar se culpando em se sentir feliz, em se sentir viva.

Seus amigos olhavam isso com desconfiança, acreditavam que ela estava forçando para que eles não se sentissem mal por não terem ido com ela. Dorea parecia ser a única que acreditava piamente em Lilian, talvez porque ela tivesse passado pelo mesmo.

—Eles só precisam se reacostumar a ter você de volta. Seus amigos passaram os últimos meses tendo que pisar em ovos com você é estranho para eles que você tenha voltado a ser você, principalmente porque eles não tiveram participação nenhuma nisso.

A sra. Potter tinha me dito antes de voltarmos para Hogwarts. Ela só não tinha falado o quão chato era essa situação as vezes.

—Às vezes – Lilian disse irritada – se uma pessoa parece bem, age como se estivesse bem é porque ela está bem. Por Deus, vocês já me cansaram. Claro que sinto saudade dos meus pais, claro que daria tudo para tê-lo de volta, mas eu aceitei a morte deles. É um saco que eles tenham morrido, mas eles morreram e eu não posso passar o resto da minha vida infeliz por algo que eu não posso mudar. Então, por favor, por favor, parem de agir como se eu estivesse ficando louca!

Alice e Marlene se olharam assustadas quando Lilian saiu brava do quarto.

—Talvez devêssemos escutar a sra. Potter e acreditar que ela está de fato bem.

Marlene disse em dúvida para Alice.

—Só fico preocupada com ela. Tenho medo que a qualquer momento ela desabe.

Alice comentou preocupada.

—É, mas não podemos ficar tratando-a como se fosse quebrar a qualquer momento, podemos?

Marlene perguntou. Mas, nenhuma das duas tinha a resposta.

....

Descer com raiva até o salão comunal não ajudou na minha irritação naquele dia, pois Sirius e Remo me viram e já vieram preocupados em minha direção.

—Lily! O que aconteceu?

Perguntaram super preocupados. Eu estava de saco cheio daquela preocupação excessiva.

Em outro momento da vida eu provavelmente sentaria com eles e conversaria sobre o quanto eles me irritavam com aquele tipo de comportamento, mas eu já tinha dito conversas demais naquele sentido, então apenas bufei e sai da Torre da Grifinória.

...

—Não estou em um bom dia, James.

Disse assim que ele se sentou ao meu lado no lago negro.

—Jura? Então é isso que essa postura defensiva e brava significa?

Inevitavelmente sorri. Odiava o efeito que James estava conseguindo ter em mim. Ele me abraçou.

—Só estamos receosos com você.

Bufei.

—Eu sei e amo vocês por isso, mas... é cansativo ter que ficar provando toda vez que eu me sinto bem.

James assentiu. Mas, ela duvidava muito que ele de fato a tivesse entendido. Não era a primeira vez que eles tinham aquela conversa.

—É difícil pra nós diminuir o ritmo, mas estamos tentando. Juro que estamos.

Era engraçado pensar em como aquele último ano estava sendo louco. James havia se tornado o porta voz do grupo. James Potter era o integrante designado para acalmá-la.

—É engraçado saber que estamos tentando?

—É engraçado pensar que estou aqui com você sobre essas coisas.

James beijou o topo da cabeça dela.

—Gosto de pensar que fazemos bem um ao outro.

Eles faziam e como faziam.

Desde que começaram a se aproximar James tinha parado de agir como um completo babaca. Ele disse que queria provar que podia me surpreender, que podia ser um ser humano melhor. Ela começou a se dar uma chance. Uma chance de ser feliz.

Os dois ainda namoravam oficialmente. James estava tentando dar um tempo para Lilian.

Estava mais fácil ter esperança e pensar em um futuro depois de encerrar o ciclo com seus pais, mas quando parava para analisar o cenário político e civil da comunidade bruxa morria de medo por ela e por seus amigos.

Entrelacei meus dedos aos de James.

—Vai ficar tudo bem.

Disse ele como se pudesse ler os pensamentos dele. E, Merlim, ela esperava que ela tivesse razão.

...

Semanas depois

Desde que meus pais tinham morrido eu não recebia muitas cartas então quando minha coruja de aproximou de mim com uma carta no bico fiquei com medo do que aquilo poderia significar. Deus, o que será que tinha acontecido com Petúnia.

Abri rapidamente a carta, apesar das mãos tremendo, mas não era uma notícia ruim, era um convite para o casamento. Fiquei encarando aquele envelope creme por alguns segundos sem conseguir acreditar. Petúnia estava me convidando para o seu casamento?

—Você não está falando sério, não é?

Sirius perguntou quando me viu confirmando a presença e que eu levaria um acompanhante.

—Ela é minha irmã é claro que vou no casamento dela.

—Mas, é a Petúnia. Ela é um ser humano horrível!

Exclamou ele.

Suspirei. Sirius entendia como era ter uma relação ruim com irmãos, mas diferentemente da relação dele com Régulo um dia Petúnia e ela tinham sido amigas e o último encontro das duas tinha sido o mais civilizado em anos. Além disso, Petúnia era para o bem e para o mal a única família que lhe restava.

—Ela não é a pessoa mais fácil do mundo, mas tem seus momentos. Além disso, quando nos vimos depois do Natal ela foi super cordial até me pediu desculpas pelas coisas horrendas que me disse.

Sirius balançou a cabeça. Por mais que tentasse ele não a compreendia.

—Sua quase namorada aceitou ir no casamento da irmã maluca dela.

Disse Sirius assim que James sentou-se ao lado dela.

—O quê?

Perguntaram Alice e Marlene que também estavam chegando.

—Ela mandou um convite e estou respondi que aceitava.

Nos trinta minutos seguintes tive que ouvir dos meus amigos sobre o quanto minha irmã era má comigo.

—Vocês não entendem. Não possuem irmãos... Sei que minha relação com Petúnia é complicada, mas ela é minha família, é a única família que me restou.

—Pensei que nós fôssemos sua família.

Marlene argumentou.

—E são! Mas, são a família que eu escolhi. Petúnia é a família que eu nasci. Crescemos juntas. Fomos confidentes por anos. Quando eu era pequena ela cuidava de mim, fazia tranças no meu cabelo... depois que a carta de Hogwarts chegou nossa relação mudou, mas... eu a amo. Até mesmo quando eu a odeio.

James segurou minha mão por baixo da mesa. Merlim, como eu o amava.

—Não vai falar nada sobre essa loucura James?

Questionou Sirius, ainda sem acreditar.

—Particularmente não gosto muito da sua irmã, principalmente por causa do sofrimento extra que ela te causou com a morte do seus pais de vocês, mas, entendo que seja uma relação complicado e se você sente que precisa ir ao casamento dela eu acho que você deveria.

Beijei James agradecendo pela compreensão.

—Merlim! Quando vocês se tornaram esse tipo de casal? Sempre achei que esse seria o papel de Frank e Alice.

Remo alfinetou.

—Eles não são um casal Remo. Não namoram oficialmente.

Alice comentou olhando diretamente para mim. Olhei assustada para Alice que apenas sorriu em troca.

...

Terceira Pessoa

James Potter estava nervoso. Desde que começou a quase namorar com Lilian deu um tempo para que ela resolvesse seus problemas internos antes de se comprometer oficialmente, mas agora ela parecia bem, estava, inclusive, aceitando ir ao casamento da irmã. Isso não significava que eles finalmente podiam namorar?

Ele não sabia, mas estava disposto a arriscar. Naquela noite tinha planejado um jantar especial com Lilian em um restaurante em Hogsmeade.

—Não, não e não. Sou monitora não posso ser vista fora do castelo. Ainda mais em Hogsmeade!

—É um restaurante. Ninguém vai nos vê. Os donos são amigos dos meus pais se algum professor aparecer por lá eles vão nos acobertar. Confia em mim.

Pediu forçando o olhar de cervo abandonado. Ela suspirou. Sentindo que sua parte racional estava avaliando a situação James a Beijou. Para lembrá-la das vantagens de estar em um jantar romântico com ele.

—Merlim, como eu odeio você.

Ele Sorriu. Tinha conseguido convencê-la.

...

Lilian e James tinham uma conexão incrível. Quanto tempo eles perderam gritando e irritando um ao outro enquanto poderiam simplesmente ter momentos tão maravilhosos quando o que estavam tendo no jantar.

—Merlim, como eu sou apaixonado por você.

Declarou-se James após Lilian contar a história do dia em que Sirius e ela se perderam na Torre da Grifinória.

A ruiva se assustou com a declaração. Eles ainda não haviam falado aquelas palavras um para o outro. Sabiam, é claro, do que sentiam, mas aquelas palavras perderam um pouco de sentido para Lilian depois da morte dos pais e James tinha receio que ela interpretasse errado a declaração.

—Não achei que seria capaz de sentir essas coisas novamente até o momento em que nos aproximamos.

James levantou-se da mesa para beijá-la. Merlim, ele não sabia como tinha conseguido sobreviver tanto tempo sem beijá-la.

—Namora comigo?

O moreno ficou bravo com a falta de autocontrole. Ele tinha todo um discurso planejado para aquela noite e em um beijo ele simplesmente soltou.

—Eu estava me perguntando porque você estava tão nervoso... Era seu plano me amolecer dizendo estava apaixonado por mim e me pedi em namoro?

—Sinceramente? Meu plano era bem mais elaborado, mas eu vejo você, beijo você e simplesmente escapa.

Lilian encarou os olhos castanhos de James, ele amava os olhos de James, amava a segurança que percebia neles, a vida que emanava deles... É claro que ela queria namorar com ele. Merlim, ele já tinha sonhado com o casamento deles!

—Sim. Aceito namora com você, James. Apesar de achar que meio que já estamos fazendo isso.

Disse ela sorrindo. E ele a beijou novamente.

—Não tem mais sobre o que pode acontecer?

Perguntou James. Precisava saber que ela tinha certeza da decisão, que o “sim” dela não era porque ele a estava forçando.

—Tenho. Muito. Mas, acho que terei medo onde quer que eu esteja e me sinto bem melhor quando estou com você. James... você me faz bem. Quando estamos juntos sinto que podemos vencer tudo e todos.

—Eu sinto o mesmo.

Eles se beijaram e continuaram se beijando pelo resto da noite. As surpresas boas e ruins que o amanhã reservava para eles não importava, desde que tivessem um ao outro.


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