Reencontro. escrita por Guilherme Emilioreli


Capítulo 1
Capítulo 1




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A tarde nublada parecia tornar tudo e todos um tanto quanto melancólicos. Enquanto a vista pela janela do minúsculo apartamento ainda era chuvosa e uma xícara de café repousava pacientemente naquela modesta escrivaninha, eu me perdia em pensamentos. Pensamentos estes os quais divagavam entre essa e uma dimensão já há muito esquecida. Pensamentos os quais pareciam preparar-me para o que viria a seguir. Enquanto aquela preguiçosa toalha ainda mantinha meus negros cabelos ensopados, alguém adentrava o tão velho prédio, no qual vivia minha vidinha miserável.

A campainha tocara uma. Duas. Três vezes, até que eu conseguisse me levantar e atender à porta. Um homem esperava pacientemente enquanto todas as trancas e cadeados eram abertos para que pudéssemos nos ver, após todos os longos anos. Seus cabelos loiros eram realçados pelas íris azul-claro dos olhos. A pele tinha o mesmo bronze de sempre, embora estivesse mais musculoso agora.

Sentamo-nos no sofá velho. Por todo o lado só se via poeira e mofo. Tudo havia mudado de uns tempos pra cá. Desde o dia no qual eu decidi largar a universidade local e viver de maneira autônoma, ainda não havia tido nenhuma conversa com aquele homem de aparência agora austera, outrora um jovem cheio de energia.

Os assuntos divergiam enquanto o tempo passava e a chávena de café se esvaziava. E eu notava em suas mãos e rosto as marcas de idade as quais começavam a aparecer, embora somente resultassem em realçar seus traços. Reparei em suas mãos, um pouco trêmulas, e não pude conter um pequeno sorriso de canto. Nenhum elo dourado se mostrava a repousar em seu dedo anular.

Nossos olhares se cruzaram. Um pequeno sorriso travesso se mostrava em seus lábios também marcados pelo tempo. Sabíamos todos os riscos de retomar à nossa antiga paixão. Contudo, nada mais importava. Meu apartamento estava distante de tudo o que pudesse nos afetar de qualquer forma. Nada nos atingiria. Somente nós dois estávamos a fazer o que quiséssemos sem pressão alguma que nos afetasse de qualquer maneira.

Aquele foi o primeiro dia, e após ele, muitos vieram. As conversas principiavam-se mais cedo e terminavam a altas horas. O tempo parecia voar enquanto falávamos um com o outro. Ambos sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, ocorreria o inevitável. Em dois meses, quase vivíamos a conversar, fosse a qual lugar um dos dois escolhesse. E naquela madrugada de terça-feira, aconteceu.

Sua camisa branca, molhada pela inesperada chuva da volta para casa já repousava em um canto. Nossos olhares se encontravam cada vez com mais frequência. Parecia que vencer aquela pequena distância seria algo difícil demais pra nós dois. Os segundos os quais antecediam nossa primeira troca de carícias em quase um mês de conversas deixavam-nos distantes demais um do outro até que, após o que parecera uma eternidade, se consumou.

Ele tomou-me pelos braços e selamos nossos lábios. Sentia seu corpo junto ao meu, aquecendo-me enquanto o vento frio entrava displicentemente pela janela. Eu realmente gostaria que o tempo tivesse parado naquele pequeno instante. Um momento para sempre ser lembrado. Momento que eu carregaria em minha memória até o instante de minha morte. Ele se despediu, disse-me que tinha algum compromisso urgente. Seu celular vibrava em cima da mesa de centro. Enquanto saía pela porta, eu sabia que algo havia mudado. Embora eu não soubesse o que era. Palavras jorravam em minha mente, contudo não sabia o que dizer. Tudo o que conseguira sair dos meus recém aquecidos lábios fora:

- Até logo, Dobe.

Ele parou por um momento. Pareceu reconhecer o cumprimento assim como reconhecemo-nos ao nos reencontrarmos a algumas poucas semanas.

- A gente se vê, Teme.

Foi tudo o que disse. E então, finalmente, meu velho amigo desceu as escadas, rumo à chuva a qual marcara meu dia. Chuva a qual marcara, enfim, nosso verdadeiro reencontro.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. :3