James havia levantado cedo como costumava fazer todos os dias. Tomou seu demorado banho, fez a barba, preparou o café da manhã, e enquanto fazia seu desjejum se atualizava das notícias matinais através dos jornais.

Ia saindo de casa quando notou que seu bichinho de estimação, um cachorrinho sem raça definida que havia encontrado na rua quando ainda era um filhote, estava abatido.

- Ei garoto, o que você tem hein? - disse o rapaz para o animal, como se o bichinho fosse responder.

James notou que o Almofadinhas permanecia cabisbaixo, o que não era comum. Normalmente bastava o rapaz aparecer para que o animalzinho se animasse e pulasse em cima dele sem parar, mas ali, do jeito que estava chegava a ser preocupante.

- Vem cá garoto. - o rapaz chamou, mas Almofadinhas permanecia no mesmo lugar.

Preocupado com o que poderia ter acontecido com o animal, o rapaz procurou o número do veterinário mais próximo pela internet, e marcou uma consulta às pressas.

Antes de sair, ligou ainda para seu sócio e amigo Sirius Black, com quem tinha uma loja de artigos esportivos, e informou que não trabalharia pelo turno da manhã.

Foi até o quarto, trocou a camisa de trabalho por uma casual, e quando voltou pegou o animal de estimação com todo o cuidado que pôde e o colocou no carro.

James não demorou a chegar no lugar, pois o consultório ficava a poucas quadras de sua casa

Assim que estacionou o carro, pegou Almofadinhas que estava no banco traseiro e foi até a recepção do consultório.

- Bom dia, tenho uma consulta marcada. - ele disse a secretária.

- Seu nome, por favor. - ela perguntou educadamente.

- James Potter. - respondeu.

- Um momento. Pode se sentar se quiser. - respondeu ela calmamente. James aceitou o convite e sentou com seu cachorro no colo. O rapaz afagava o pêlo do animal, como se quisesse tranquiliza-lo.

Almofadinhas era para James o melhor amigo que alguém poderia ter. Até Sirius já havia apresentado sinais de ciúmes do animal no início, mas já era tão apegado ao bicho quanto o amigo.

James estava tão concentrado em vigiar Almofadinhas, que mal ouviu quando a secretária o chamou.

- Senhor Potter. - já o havia chamado pela terceira vez.

- Hã? Sim, desculpe, estava distraído. - falou, desculpando-se.

- A senhorita Evans vai atendê-lo. Venha comigo, por favor. - ela indicou-lhe o caminho.

Com o amigo de quatro patas nos braços, o rapaz a acompanhou até a porta do consultório.

- Pode, por favor abrir a porta pra mim? - pediu.

- Claro. - ela respondeu, abrindo a porta.

Assim que entrou no consultório James deparou-se com uma linda mulher de cabelos ruivos e olhos claros que aparentava ter a mesma idade que a sua. Se não estivesse ali por Almofadinhas, na certa daria um jeito de convidá-la para sair, mas sua preocupação maior era com o animal.

- Olá, sou Lily Evans. - cumprimentou-o.

- James, James Potter. - ele respondeu, tentando a muito custo estender-lhe a mão. Ela cumprimentou-o de volta, do jeito que pôde

- E esse é? - perguntou direcionando a atenção ao animal.

- Almofadinhas.

- Nome engraçado.

- Bom, é que quando eu o achei, ele ainda era um filhote, e só queria ficar deitado nas minhas almofadas, então o batizei assim. - explicou. Ela pareceu gostar da história, já que abriu um sorriso sincero para o rapaz.

Lily perguntou quais os sintomas que Almofadinhas apresentava. James explicou que não sabia ao certo, mas tinha certeza que não estava normal, afinal o bichinho era do tipo afoito, e estava completamente o oposto, por esse motivo ele havia achado estranho.

- Bom, nesse caso, preciso fazer alguns exames para saber se é algum tipo de doença. Mas acredito que seja outra coisa, menos grave. - explicou.

Depois de feitos os exames, Lily chegou a conclusão que esperava.

- Como eu já imaginava, Almofadinhas teve uma intoxicação alimentar. - afirmou, observando atentamente os exames.

- Mas...ele não come nada a não ser a ração. - defendeu-se.

- Senhor Potter...

- Por favor, me chame de James.

- Tudo bem... James, as vezes a ração pode ter vindo contaminada. É muito comum isso acontecer, mas tratado corretamente não há risco nenhum para o animal. - uma onda de alívio tomou conta do peito do rapaz. Gostava demais de Almofadinhas, e só de imaginar que pudesse ser algo grave fazia um frio correr em sua espinha.

- Entendo... - ele continuaria a falar, se não fosse o insistente celular da ruiva.

- Pode me dar só um minutinho? - pediu.

- Claro. - disse educadamente.

- Obrigada. - respondeu, e pegou o celular. - Oi fala rápido que estou em uma consulta.

Enquanto Lily falava ao telefone, o rapaz voltava a acariciar o pêlo de Almofadinhas, mas não pôde deixar de prestar atenção no que a jovem falava ao telefone. Pelo que entendeu, alguém a convidava para sair, mas pelo visto a ruiva insistia em não ir, até que foi vencida pelo cansaço.

- Desculpe. Minhas amigas são terríveis quando querem. - James achou engraçado o jeito como a ruiva referiu-se as amigas, mas entendia perfeitamente o que ela queria dizer.

- Isso porque não conhece os meus. Ninguém aguenta aqueles caras por muito tempo. As vezes é preciso estar bêbado para aturá-los. - Lily se permitiu rir do comentário feito pelo rapaz.

Depois de medicar o animal, e passar as instruções necessárias, Lily deu alta a Almofadinhas.

[...]

No caminho de volta ao carro, o celular de James começou a tocar sem parar.

O rapaz colocou o animal no banco traseiro do carro e com um pouco de raiva atendeu a ligação.

- O que quer, Sirius?

- Bom dia pra você também meu amigo! - rebateu marotamente.

- Bom dia ... de novo Sirius, o que quer? - perguntou um tanto seco.

- Primeiro quero saber como está o meu amiguinho de quatro patas. - continuou a perguntar sem dar trela para o humor do moreno.

- Agora está bem, foi medicado e estou indo pra casa. - James disse, entrando no carro.

- E o que o veterinário disse que é? - indagou do outro lado da linha.

- Veterinária, e linda por sinal!

- Teu cachorro ai moribundo, e você cantando a veterinária. Toma jeito Potter! - Sirius nunca pedia a oportunidade de soltar uma gracinha para o amigo, por pior que fosse a situação.

- Vai dizer o que quer ou não? Sei que não ligou pra saber do Almofadinhas. - foi direto.

- Bom, o que vai fazer sábado a noite? Frank vai comemorar o aniversário dele em uma boate nova, e Alice chamou umas amigas pra nos fazer companhia. - explicou.

- Não sei.

- Ora Potter, não saímos juntos há muito tempo. Vai ser legal, até o Remo que vive para os estudos vai.

- Tá, ta bom, eu vou! - ele respondeu, e Sirius se animou.

James desligou o celular, e deu partida no carro, seguindo em direção a sua casa.

[...]

No sábado durante o dia, Sirius não parava de falar a respeito das amigas que Alice convidaria para o aniversário de Frank.

A boate em que seria feita a festa era nova na cidade, e por isso nos fins de semana estava sempre cheia.

Sirius tinha certeza que se não gostasse de pelo menos uma das amigas de Alice, na certa não lhe faltaria companhia para o resto da noite.

James só estava indo porque foi praticamente obrigado pelo amigo. Por ele poderiam comemorar em qualquer outro lugar, um que fosse calmo e tranquilo.

Na hora marcada, Sirius chegou à casa de James. O rapaz estava impecavelmente arrumado, os compridos cabelos pretos como a noite bem penteados. Parecia um verdadeiro gentleman.

James estava num estilo menos formal, o que não o deixava menos elegante.

- Então está pronto? - Sirius perguntou com um ar divertido, encostado no vão da porta de entrada.

Os dois amigos saíram no carro de James, já que Sirius pretendia não voltar pra casa naquela mesma noite.

- Deveríamos ir no seu carro. Eu posso pegar um taxi. - James disse, mas mais parecia uma reclamação.

- Ah não meu amigo. Seu carro é muito melhor que o meu. A mulherada vai cair em cima quando nos vir chegando no possante! - Sirius respondeu divertidamente.

- Marque bem o que eu vou dizer. - James começou. - Eu ainda vou ver o senhor Sirius Black caído por uma mulher.

- Meu caro, o dia que isso acontecer será o mesmo dia em que eu ganhar na loteria.

- Mas pra você ganhar teria que jogar. - retrucou.

- Exatamente. Isso nunca irá acontecer! Não sou homem de me amarrar em ninguém, Potter!

- Que seja, agora vamos antes que Alice nos mate por chegarmos atrasados. - James deu de ombros.

Ambos saíram da casa do moreno em direção ao local da festa.

A boate ficava em um bairro bem movimentado da cidade.

Pessoas andavam de um lado ao outro despreocupadas com o trânsito. Uns dançavam ao som de boa música, outros apenas conversavam. Pessoas de todos os tipos ali se misturavam.

Sirius era só sorrisos para mulheres, tanto as desacompanhadas como também as acompanhadas. Nenhuma passava despercebida por seus olhos.

Assim que entraram no local, James de longe avistou seu amigo Frank.

- Parabéns meu camarada. - o rapaz disse cumprimentando-o.

- Obrigado meu amigo! Que bom que vieram.

Frank o cumprimentou de volta, e Alice teve praticamente um ataque com ambos por terem chegado depois do horário previsto.

- A sorte de vocês dois é que as minhas amigas ainda não chegaram! - exclamou nervosa.

- Calma, calma, minha querida! - Sirius disse sedutor. - Já chegamos, e vamos abalar o coração das suas amigas solteiras.

- Sirius, eu não quero que você dê em cima das meninas, eu as chamei apenas porque quero apresentar uma delas ao James.

- Nossa, isso acabou de partir meu coração, Alice!

- Não seja dramático. Todos sabemos que você não é homem de se prender.

Sirius levantou as mãos rendendo-se ao comentário feito pela amiga.

James já não prestava mais atenção na conversa, pois o rapaz olhava agora em direção a porta de entrada.

Uma jovem ruiva acabava de adentrar ao local. James percebeu ser a mesma pessoa que estivera com ele dois dias atrás, a veterinária que cuidou de Almofadinhas, a mulher que o rapaz disse à Sirius ser linda.

Quando deu por si, já caminhava em direção a moça.

- James vem aqui. - Alice disse, voltando a atenção do rapaz.

- Eu preciso ir ali...

- Não, vá depois. As minhas amigas chegaram - a jovem insistiu.

Quando olhou novamente em direção da ruiva, ela já não estava mais lá.

Vencido pela insistência de Alice, o jovem a acompanhou até onde as outras moças estavam, e surpreendeu-se ao notar que uma delas era a veterinária.

- James, essas são: Marlene, Katie, Lily, e Justine. - a jovem os apresentou.

- Senhorita Evans! - exclamou ele sorridente. Alice achou estranho o amigo conhecer uma de suas amigas pelo sobrenome. - Nos encontramos de novo.

- Espera, vocês se conhecem? De onde?

James explicou que fora Lily quem cuidou de Almofadinhas quando o levou ao consultório veterinário. O rapaz pediu licença por dois minutos e foi até Sirius que já paquerava uma outra mulher na pista de dança.

- Potter, me deixa dar em cima da mulherada!

- Sirius lembra da veterinária que te contei, a que cuidou de Almofadinhas? - o rapaz pareceu procurar em sua mente a conversa.

- O que tem a ruiva gostosona?

- Ela é uma das amigas da Alice!

O rapaz adiantou-se para olhar a mulher de perto, e constatou que o amigo estava certo, a ruiva era realmente linda.

- Se não soubesse que você ficou afim dela, eu com certeza a conquistaria essa noite. - James apenas revirou os olhos, e voltou para o lugar que estava antes.

O rapaz conversava distraidamente com a jovem, quando Sirius chegou onde ambos estavam.

- Então essa é a tal ruiva que você disse ser gostosona? - o moreno remexeu os óculos nervosamente pelo comentário feito pelo amigo. Lily pareceu surpresa, e Sirius simplesmente os deixou ali novamente.

A ruiva agora olhava para o rapaz como se esperasse uma explicação.

- Eu posso explicar.

- Ótimo, estou ouvindo.

James explicou que seu amigo Sirius era o tipo de pessoa que fazia piadas com tudo, e sempre que tinha a oportunidade de deixá-lo sem graça, fazia sem pena. Lily não pareceu acreditar muito na história que o moreno havia lhe contado, mas como já havia gostado de sua companhia desde o dia no consultório, não deu tanta importância

Somente com o findar da festa que James notou que passou a noite inteira conversando com Lily.

Ambos estavam tão entretidos um com o outro, que mal prestaram atenção nos outros ao redor. Conversavam sobre os mais diversos assuntos.

Quando o sono finalmente tomou conta de Lily, a jovem decidiu ir embora, e James ofereceu-lhe uma carona.

Enquanto a ruiva despedia-se dos amigos, o rapaz procurava por Sirius, mas este já não estava mais no local. Na certa teria arrumado uma companhia feminina.

No carro não foi diferente. O assunto continuava fluindo, porém dessa vez era mais íntimo.

- Vamos lá Potter, me conta.

- Por que me chama pelo sobrenome?

- Porque achei bonito, ora. E não fuja do assunto, me conta logo, você e aquele seu amigo têm um caso as escondidas, não tem?

- Quê? Ficou louca de vez? Quantas você bebeu essa noite?

Lily pareceu pensar na resposta, mas fez uma careta quando lembrou.

- Melhor deixar isso pra lá. - ela disse.

- Melhor mesmo, até porque eu não tenho interesse nenhum em homens, mas sim em uma mulher específica. - retrucou.

- Ora, ora, ora, e quem é a sortuda? - perguntou marota.

Ele parou o carro em uma calçada qualquer e a fitou intensamente. Seus olhos penetraram os dela quase como um transe, e quando Lily menos esperou, James segurou seu rosto e a beijou.

[...]

Um ano depois.

Era por volta das quatro da madrugada. James dormia tranquilamente como não fazia há muitos meses por conta de tantas coisas que tinha para fazer, mas seu sono fora interrompido por Lily que o acordou aos gritos.

- Acorda Potter! Anda, levanta dessa cama.

- Hã? O que houve?

- É o Harry, eu acho que ele quer nascer!

- Quê? - perguntou em desespero ao ouvir a noiva gritar de dor. - Mas já?

- James eu vou falar pela última vez, levanta dessa droga dessa cama, antes que meu filho nasça sem pai!

Foi o suficiente para o moreno dar um pulo da cama. Pegou a bolsa que já estava pronta em cima de uma poltrona e ajudou a ruiva a entrar no carro. Somente quando também ia entrando no carro que lembrou-se que estava descaço e vestia apenas o short de dormir.

Correu para pegar uma muda de roupas e o tênis.

Não se importou em vestir a blusa pelo avesso, o que o preocupava era o estado raivoso em que Lily estava, parecia outra pessoa.

Assim que deu entrada no hospital, a ruiva fora encaminhada para a sala de preparação, enquanto o moreno começou a ligar para os amigos, começando por Sirius.

James assistiu todo o parto e não pôde deixar de se emocionar quando pegou seu pequeno Harry no colo pela primeira vez.

- Oi garoto, aqui é o papai. - o moreno sussurrou, brincando com a pequena mãozinha do bebê.

No dia seguinte, Sirius chegou bem cedo ao hospital, e ficou esperando ansiosamente a hora de poder visitar os amigos e o novo membro da família Potter.

- Deixa eu ver esse garotão! - ele disse ao entrar no quarto em que o casal estava.

Lily olhou para James como se o apressasse em dizer algo.

- Érr... - o moreno pigarreou, e continuou. - Sirius, eu queria lhe fazer uma pergunta.

- Diga, sou todo ouvidos. - o outro respondeu, pegando o bebê no colo com todo cuidado.

- Sabe, Lily e eu estávamos pensando se você não gostaria de ser o padrinho do Harry.

O rapaz havia ficado tão feliz, que não parava de dizer ao menino que lhe ensinaria todos os truques para conquistar as meninas. Abraçou o amigo com tanta vontade que quase chorou.

- Sirius, se você não soltar o meu noivo, eu realmente vou achar que vocês têm um caso pelas minhas costas.

- Comadre o que eu posso fazer se o seu homem me ama?

- Muito engraçadinho Sirius. Não amor, não temos nenhum caso romântico. Só tenho olhos para você. - retrucou James, e naquela brincadeira os três ficaram até a hora em que a ruiva teve alta e todos foram para casa.