The Roof escrita por The Escapist


Capítulo 1
The Roof - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Então é isso, it's gonna be legen... wait a minute.. dary!

Hope you like it!



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Ted ainda estava um pouco sonolento quando entrou na cozinha. Coçando os olhos, ele puxou a cadeira e sentou em seu lugar. Ficou em silêncio, tentando lembrar do que tinha acontecido na noite passada, mas não conseguiu. Não havia nada além de um grande borrão em sua cabeça. É claro que havia contrariado mais uma vez aquela velha decisão de parar de beber. O barulho de saltos no piso de madeira foi como se uma banda marcial tivesse começado a tocar em sua cabeça. Apertou as têmporas e fechou os olhos, rezando para que aqueles tambores parassem de ribombar tão perto. Logo ele sentiu o cheiro bom do perfume de sua esposa — que infelizmente naquela manhã pareceu-lhe extremamente enjoativo — e os lábios dela estalaram em sua bochecha num beijo carinhoso.

— Oh, Deus, você bebeu! — ela conclui depois de sentir o cheio de bebida que ainda emanava do marido. Ted abriu os olhos e percebeu que, a despeito da careta de nojo, ela não parecia mal humorada. Até porque, era mais provável que Robin ficasse chateada pelo fato de não ter sido convidada para a festinha. —Eu deveria ter suspeitado quando você não foi pra cama ontem, não é mesmo? — Ele deu de ombros, encarando a pergunta como retórica. Ela continuou falando sobre os maus hábitos dele, sobre a dor nas costas que ele provavelmente estava sentindo e sobre todos os detalhes de sua vida de uma maneira que nem o próprio Ted conseguiria.

Ele não conseguiu ao menos entender por que ela estava tão falante e tão nostálgica. Enquanto falava, ela ia preparando o café da manhã. A despeito dos scarpins que usava, andava de um lado para o outro na cozinha com bastante desenvoltura. Tirou o café da máquina e serviu uma caneca para o marido.

— Eu deveria te conhecer melhor, depois de vinte anos de casados, quero dizer. — Então ela sorriu, e parecia tão feliz. No momento Ted não conseguiu estabelecer nenhuma relação entre aquele sorriso e a menção aos vinte anos de casados, mas logo a seguir, sua esposa o fez lembrar-se que aquele dia não era um dia qualquer. — Vinte anos! Dá pra acreditar? — Robin suspirou, o que deixou Ted boquiaberto. — Crianças, andem logo, vocês vão se atrasar! — ela gritou, e a cabeça de Ted voltou a doer, mas dessa vez o barulho foi o de menos. Ele estava travado na parte em que lembrou que tinha esquecido que dia era aquele.

O barulho se tornou maior quando as crianças entraram e começaram a conversar. Agora parecia que a cabeça de Ted era a cidade de Nova Iorque na hora do rush. Ele não conseguia raciocinar direito.

— Eu dou carona às crianças — a esposa estava falando ainda. — Você pode buscá-los na hora do almoço? — Ele não respondeu logo. — Ted, você tá me ouvindo? Meu Deus, que ressaca! Eu espero que isso não estrague os planos de hoje à noite.

— Os planos...? — Ted perguntou debilmente e não percebeu quando seus filhos fizeram caretas e trocaram risinhos.

— Ok, não precisa me contar nada. Eu vou fingir que é surpresa, como sempre, ok? Mas eu realmente espero que você me recompense por essa cara. Amor, você está péssimo! — ele arregalou os olhos e ela deu uma risada, divertindo-se com a expressão exagerada dele. — Te vejo à noite. Te amo. Vamos, crianças.

Penny e Luke despediram-se do pai e foram embora junto com a mãe. Ao ficar sozinho na cozinha, Ted se deu conta da encrenca em que estava metido. Tinha esquecido do aniversário de casamento? Como pôde, ainda mais no aniversário de vinte anos? Ele nunca havia esquecido essa data! Precisava de um plano para resolver aquilo.

— Pense, Ted, pense! —dizia a si mesmo, enquanto colocava a louça suja na máquina. Mas não conseguiu pensar. E nem teve tempo para tanto.

Infelizmente, o aniversário de casamento não foi a única coisa que ele esqueceu naquela manhã de ressaca. Havia uma reunião marcada, e ele deveria chegar ao escritório uma hora mais cedo — o que obviamente não ia acontecer, já que ele continuava em casa.

Seu telefone estava tocando quando ele saiu do banho. Tropeçou no tapete e soltou um palavrão enquanto procurava pelo aparelho. O nome do seu melhor amigo — e sócio — estava no visor.

— Alô?

— Ted? Onde você está, cara? Você está completamente atrasado!

—Eu sei — Ted respondeu, omitindo-se de lembrar ao amigo de quem era a culpa dele ter bebido na noite passada e agora amargar aquela ressaca desgraçada. — Eu chego aí em vinte minutos.

— Ok. Ah, Ted, feliz aniversário de casamento, parceiro.

Tinha que ser um pesadelo. Como Marshall lembrava do seu aniversário de casamento e ele não? Isso era completamente ridículo e impossível. Terminou de vestir, colocou a gravata e tentou organizar os pensamentos. Primeiro pensaria na apresentação do projeto que faria dali a poucos minutos e que seria muito importante para o escritório. Depois daria um jeito de resolver o problema do aniversário de casamento, e provavelmente precisaria de reforço para tanto, mas era para isso que serviam os amigos.

Apesar de chegar com mais de uma hora de atraso, a reunião correu bem. A apresentação do projeto de um arranha-céu para um cliente importante foi ótima e no fim eles conseguiram o contrato. Ted esperava ter a mesma sorte para resolver aquele probleminha do aniversário de casamento.

— Como assim você esqueceu?! — Marshall fechou a porta do escritório atrás de si e aproximou-se da mesa onde Ted estava. Ele encolheu os ombros, tentando encontrar a explicação.

— Eu não sei, apenas esqueci. E agora, o que eu faço? — Marshall deu de ombros. Não queria ser o cara que atira merda ao ventilador, mas em sua opinião, o amigo estava encrencado. Ainda assim, tentou animá-lo, dizendo que talvez nem tudo estivesse perdido. Afinal, Robin não era do tipo de mulher sensível às coisas comuns dos casais. Fora ela quem demorara meses até conseguir dizer “eu te amo” para Ted e geralmente ela não se importava com certas trivialidades.

Ouvir tudo isso deixou Ted um pouco mais calmo e ele acabou por considerar que um jantar num bom restaurante, flores e provavelmente uma joia seria o bastante para compensar seu esquecimento.

— É, você tem razão, ela não está esperando por nada grandioso — disse Ted, mais para si mesmo do que para o amigo. Nessa hora, o telefone em sua mesa tocou e ele levou o aparelho ao ouvido. — Ted Mosby.

Hey, tigrão! — Tigrão? Ted mal pôde reconhecer a voz animada da esposa. Eles nunca tiveram apelidos, nem nada do tipo. Geralmente Robin achava tudo isso muito ridículo.

— Robin, hey! O que aconteceu?

— Nada. Só liguei pra lembrar a você de ir pegar os meninos na escola. E também pra dizer que eu estou comprando uma lingerie pra hoje à noite. — Ele pôde ouvir risadinhas do outro lado da linha que certamente pertenciam à Lily.

— Oh, oh! Ótimo! Mal posso esperar. Ahm, eu tenho que trabalhar agora, amor, tchau. — Ted desligou antes que ela falasse mais alguma coisa. — Ela tá comprando lingerie.

***

— Ele esqueceu! — Robin falou assim que desligou o telefone. Ela não estava comprando lingerie nenhuma, estava no MacLaren’s, aproveitando o intervalo do trabalho para conversar com Lily. — Ele esqueceu! — repetiu, dando ênfase às suas palavras.

— Tem certeza? O Ted nunca esqueceu o aniversário de vocês!

— Bem, dessa vez ele esqueceu!

— Está tudo bem, querida, às vezes isso acontece — Lily tentou fazer a amiga se sentir melhor. Robin sempre fazia pose de durona, mas no fundo ela bem que gostava de todas as declarações de amor exageradas que Ted costumava fazer.

— Será que ele não me ama mais?

— Mas que ideia absurda, Robin! É claro que o Ted te ama!

— Mas ele esqueceu nosso aniversário de casamento. De vinte anos! Você mesma disse que ele nunca esqueceu antes!

Lily queria contradizê-la, argumentar que aquilo era ridículo e Ted jamais deixaria de amar a esposa. Ele era um tipo bobalhão romântico que acreditava em felizes para sempre, não era? Só que aquele esquecimento meio que o colocava numa situação difícil. Até uma mulher como Robin ficaria com o pé atrás diante de tal acontecimento. Vinte anos é tempo demais para que passasse simplesmente ao acaso. Talvez a velha chama do amor estivesse esmaecendo no coração de Ted. Lily riu da breguice de seu comentário e isso não ajudou em nada a sua amiga. De repente, a vontade de Robin foi pedir uma cerveja e beber para aliviar (um pouco) aquela sensação estranha de que algo em seu casamento perfeito não estava funcionando bem. Mas lembrou-se — com certa ajuda de Lily — que logo estaria no ar, apresentando as notícias da tarde no Metro News 1 e não seria nem um pouco interessante que fizesse isso bêbada.

***

Ted estava nervoso. Não. Estava apavorado. Ele, que sempre fora o cara a pagar os maiores micos em nome do amor, não sabia o que fazer. Primeiro tentou conseguir uma reserva de última hora no restaurante preferido de Robin, o que obviamente não deu certo. Fazer reservas de última hora era uma contradição tão grande que ele sentia vontade de socar o próprio rosto apenas por ter semelhante ideia. Conseguiria um lugar para jantar — isso não seria exatamente difícil, afinal, estavam em Nova Iorque! —, mas esse não era o problema. O problema era que, não importava qual fosse o lugar, Robin saberia que ele escolhera em cima da hora. Consequentemente, ela saberia que ele não havia planejado aquela noite, motivo pelo qual deduziria que ele esquecera o aniversário deles. Se ao menos conseguisse ter uma ideia genial...

— Já sei! — Barney falou e Ted rolou os olhos, ligeiramente arrependido de ter convocado os melhores amigos para tentar ajudá-lo. Eles se esforçavam, é verdade, mas as ideias de Barney geralmente atrapalhavam mais do que ajudavam. — Você tem que surpreender a Robin! Leve-a a um motel e faça sexo com ela. — Ted abriu a boca, por um segundo, perplexo demais para responder. E o pior foi ver Marshall acenando em concordância. — It’s gonna be lengendary!

— Você está brincando, não é?

— Não!

— Barney! Nós somos casados há vinte anos, não é como se faltasse sexo nesse casamento! — Ted respondeu, embora tivesse jurado a si mesmo que não o faria, que não gastaria seus argumentos com Barney. Como sempre, falhara em sua decisão.

— Exato, Ted, vocês estão casados há vinte anos, é um tempo longo demais! Quem fica casado por vinte anos? — Barney deu de ombros, com um sorriso irônico em resposta à sua própria pergunta. Depois continuou: — Vocês caíram na rotina!

— Nós não caímos na rotina!

— Desde que os meninos nasceram, vocês vivem do básico, nada de diferente, nenhuma novidade. É como comer todo dia a mesma comida. Aposto como você sempre dorme e até ronca depois!

— Isso não é verdade! — Ted se defendeu, indignado.

Dois dias atrás

Robin estava tentando dormir, mas a locomotiva roncando ao seu lado tornava essa tarefa um pouco difícil. Claro que houve toda aquela conversa de na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte os separe e tal. Mas naquele momento ela quase sufocou Ted com o travesseiro, tentando lembrar exatamente em qual parte dos votos se encontrava “aguentar o ronco dele durante a madrugada”.

— Ted? — chamou, cutucando o ombro dele devagar. Como ele não deu sinal de vida, a não ser roncar um pouco mais alto. — Ted? — repetiu e novamente não obteve resposta. Irritada, Robin deu um tapa forte no ombro de Ted, ao menos tempo que levantou o tom de voz. Dessa vez ele acordou, e o susto foi tão grande que ele se levantou de repente e tão rápido que rolou da cama e caiu de bunda. Atordoado, Ted levantou, engatinhando de volta à cama, passou as costas da mão na boca para limpar um pouco de baba que já descia.

— O que aconteceu?

— Você parece um trem!

— Essa não é a questão! — Ted tentou mudar o rumo da conversa. — Vocês estão aqui para me ajudar, lembra? — Tanto Barney quanto Marshall assentiram, depois ficaram um instante em silêncio, como se pensando em alguma maneira de tirar o amigo dessa roubada. Por fim, Barney voltou a falar.

— Eu posso cuidar das crianças, no caso de você resolver ir pro motel.

— Não, obrigado. Se eu precisasse de uma babá, você seria a última pessoa do mundo em quem eu confiaria pra isso, Barney — Ted rebateu e Barney fez uma expressão de profunda ofensa. — Eu acho que eu tô mesmo ferrado. Obrigado por tentarem ajudar — a voz de Ted soou tão desanimada que por um instante os amigos sentiram um impulso de abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem. Impulso este que, felizmente, foi bravamente repelido por Barney.

— Um último conselho, budy! Qualquer coisa que você for fazer: ponha um terno! — Barney deu uma piscadela, que foi acompanhada por um gesto da mão que imitava um gatilho. Ted rolou os olhos, repassando mentalmente, pela enésima vez, as razões pelas quais mantinha Barney como amigo por tanto tempo.

A reunião de emergência foi interrompida, pois Marshall precisava voltar ao trabalho e Barney — Barney na verdade precisava voltar para a coisa com que ele geralmente gastava a maior parte do tempo, embora isso fosse uma espécie de mistério. Novamente sozinho, Ted tentou pensar em algo que fosse menos miserável do que um jantar improvisado em um restaurante qualquer. Mas todas as suas ideias envolviam pelo menos quatro horas de voo.

Durante os primeiros dez anos de casados, foi relativamente fácil. Ele tinha sempre um par de passagens de avião para algum lugar surpreendente. Geralmente, Ted passava o ano todo planejando, fazendo manobras e mais manobras para que Robin estivesse de folga nos dias que antecediam a data e assim pode levá-la para alguma viagem. As lembranças de cada uma eram as melhores, como a cara de surpresa de Robin quando se deu conta de que não ficaram nos Estados Unidos, mas cruzariam a fronteira para o Canadá, quando viajaram para Niagara Falls no primeiro ano de casados. No quinto ano, eles foram ao Brasil e Robin foi apresentada a uma exótica bebida que a deixou tremendamente feliz. No aniversário de dez anos, o destino foi Las Vegas — fizeram de conta que tinham acabado de se conhecer e casaram novamente, mas a segunda lua de mel foi marcada pelos enjoos constantes e no ano seguinte eles tinham dois bebês no apartamento.

A chegada dos gêmeos de surpresa trouxe muitas mudanças para a vida dos dois. Para Ted era um sonho se tornando realidade de uma vez, mas para Robin ainda era um desafio. Os dez primeiros anos foram de muitas conversas sobre o assunto e todas as maneiras possíveis de evitar uma gravidez — que aconteceu mesmo assim! Ainda era difícil, ser pai fazia a tarefa de construir prédios parecer simples, mas eles estavam conseguindo. Juntos, e isso era o mais importante.

A lembrança veio a calhar, porque era justamente a hora de ir buscar os filhos na escola. Ted resolveu tirar o resto do dia de folga para pensar melhor no que fazer. Os gêmeos estavam esperando em frente à escola. Luke ocupado em jogar aquele joguinho viciante, enquanto sua irmã tagarelava. Toda empacotada num casaco com capuz cor de rosa e protetores de orelha, Penny correu de braços abertos, balançando a mochila que levava nas costas, assim que reparou na presença do pai. Ted a ergueu do chão e girou no ar, tal como fazia desde... desde sempre! Só que Penny estava crescendo e ele não era mais nenhum garoto, por isso sentiu uma pontada de dor nas costas ao devolver a filha ao chão.

— Ei, você cresceu depressa, hein! — Ele puxou o gorro da cabeça da filha e bagunçou os cabelos castanhos. Penny reclamou e recuperou o gorro. — Vamos nessa, budy? — Ted chamou pelo filho. Luke era sempre mais quieto, apenas sorriu e caminhou, obediente, para o carro. — Então, como foi o dia de vocês? — Ted perguntou depois que todos já estavam acomodados e com o cinto de segurança.

Awesome! —Ted rolou os olhos, considerando que talvez sua filha estivesse passando muito tempo com tio Barney.

Depois ele perguntou o que as crianças tinham feito na escola e se seguiu uma extensa explicação, pormenorizada, do dia escolar de Penny. Luke contribuía com uma ou outra observação, geralmente discordando sobre o nível de dificuldade das lições. Houve ainda uma discussão entre os gêmeos sobre a identidade de um possível mijão da turma.

— Mas ele não fez xixi na calça! — Luke defendeu.

— Fez sim! — teimou Penny.

— Não fez, não! Foi o Robert Leroy que jogou água na calça dele.

— Crianças, crianças, mesmo que o coleguinha de vocês tenha feito xixi na calça, não é legal ficar rindo dele — falou e olhou pelo retrovisor para a expressão séria de Penny. — Ouviu, Penny? — Ele a viu assentir lentamente. — Ótimo!

Penny e Luke ficaram em silêncio por um tempo, enquanto o pai dirigia, também calado, pensando. Ainda pensando. Mas tanto pensamento não estava adiantando de muita coisa, pois Ted continuava sem nenhuma ideia. Para piorar a situação, o trânsito estava totalmente parado, já passara mais de vinte minutos e mal saíra do lugar — nessas horas sentia falta de andar de metrô, mas com duas crianças e toda a bagagem que tinham que carregar sempre que saíam de casa, fora praticamente obrigado a se render e comprar um carro espaçoso.

— Nós podemos ficar na casa do tio Barney, papai? — Penny perguntou; sua vozinha aguda quebrando o silêncio do carro.

— Por quê?

— Você vai sair com a mamãe hoje, não vai?

— Oh! — Derrotado, Ted encolheu os ombros. Até sua pequena filha estava cheia de expectativas, o que ele ia fazer? — Ahm, não, sweety, vocês não ficarão com o tio Barney.

— Por quê?

— Porque vocês vão ficar com o tio Marshall e a tia Lilly.

— Mas por que não podemos ficar com o tio Barney?

Nove anos antes

Era o primeiro aniversário de casamento depois que os gêmeos nasceram e Ted estava preparando uma surpresa para Robin. Pretendia levá-la para jantar no mesmo restaurante onde a pedira em casamento, o que, guardadas as devidas proporções, seria o melhor que poderiam ter, quer dizer, depois de todas as despesas e o trabalho com as crianças. Por falar nelas, ele não poderia sair para jantar se não tivesse com quem deixar os bebês. Por isso Barney foi chamado. Na verdade, Lilly foi chamada, mas ela estava ocupada com seu próprio filho doente — o que consequentemente significava que Marshall não sairia de perto deles —, por isso Ted foi praticamente obrigado a aceitar a ajuda de Barney. Ainda que a ideia lhe causasse calafrios.

Aquela também era a primeira vez que deixariam os filhos aos cuidados de outra pessoa e isso foi um pouco mais difícil para Ted do que para Robin. Ele ainda relutou quando Barney colocou Penny no carrinho, ao lado de Luke, depois pegou as duas bolsas com as coisas deles.

— Barney... — começou, mas foi interrompido.

— Não se preocupe, Ted. Tudo vai ficar bem, it’s gonna be lengendary, certo, budy? — Ele fez cócegas na barriga de Penny e Ted ainda quis lembrar ao amigo que ela era uma garota! Por fim, apenas deu mais recomendações para que ele ligasse caso alguma coisa acontecesse.

Nada aconteceu. Ao menos durante a noite. O jantar foi incrível, apesar de Robin ter precisado insistir para que ele não ficasse ligando de hora em hora para Barney. De uma maneira estranha, ela confiava mais nele do que Ted, e acreditava que ele realmente telefonaria se alguma coisa anormal acontecesse.

— Além disso, o que poderia acontecer? Ele não vai perder as crianças!

Mas foi exatamente isso que aconteceu.

Ted telefonou de manhã cedo, mas Barney não atendeu ao telefone. Até aí nada demais, já era algo de costume — exceto é claro, pelo fato de que ele tinha seus filhos. Ele tentou novamente e novamente, e depois de cinco ligações sem reposta, começou a ficar preocupado. Ele e Robin praticamente voaram até o apartamento de Barney. Ted bateu na porta várias vezes até que seu amigo abriu, e assim que botou os olhos em Barney, soube que alguma coisa havia acontecido.

— Ted? Robin? O que vocês estão fazendo aqui tão cedo? — Barney perguntou. Tinha ficado parado no meio da porta, como se quisesse impedir a entrada.

— Nós viemos buscar as crianças — Ted falou, fez menção de entrar, mas o amigo continuava bloqueando a passagem.

— Ainda estão dormindo.

— Barney... — Ted entrou, mesmo precisando praticamente empurrar Barney, e Robin foi logo atrás. Olhou para um lado, olhou para o outro e não havia sinal das crianças. Sem querer se precipitar, Ted foi ao quarto, mas ainda não encontrou os filhos. — Onde estão as crianças?

— Ted, eu posso explicar...

— Como assim pode explicar? Onde estão os meus filhos?

— Eu não sei... eu... — Barney começou a gaguejar e foi imediatamente interrompido por Robin.

— Você não sabe? O que você quer dizer com você não sabe? Você perdeu os meus filhos? — Ted teve que segurá-la para que ela não avançasse com unhas e dentes para Barney.

Foi um grande alvoroço. Barney tentava explicar o que havia acontecido, enquanto Robin gritava e Ted se dividia em tentar segurar a esposa e controlar a si mesmo, impedindo-se de, ele próprio, agarrar o amigo pelo colarinho e jogá-lo pela janela. Depois de muita confusão e gritaria, eles foram acabar no Maclaren’s, onde encontraram Penny e Luke, cada um em sua cadeirinha, agasalhadas e protegidos, de olhinhos arregalados, enquanto Carl, o barman, dava a mamadeira, revezando-se entre um e outro. Demorou um pouco até conseguirem chegar a uma conclusão sobre o que acontecera na noite passada. O fato é que Barney aparecera com os gêmeos, o que atraíra uma atenção considerável para ele; ele encontrara uma garota, ficara conversando e de repente, não estava mais a vista. Carl explicou que, como sabia que era aniversário de casamento de Robin e Ted, resolveu levar os bebês para sua própria casa. E não, eles não tinham dado nenhum trabalho, haviam dormido a noite inteira sem nenhum problema.

Quando eles voltaram para casa, Barney ainda estava em maus lençóis. Com os filhos novamente sob seus cuidados, Ted estava mais calmo; Robin, porém, conseguira ficar ainda mais furiosa. Ela estava tão brava, que mesmo sabendo que os gêmeos não podiam ainda entender o significado das palavras feias que a mãe dizia para o tio Barney, ele achou por bem tapar os ouvidos das crianças, especialmente de Penny.

E foi assim que Barney nunca mais pôde ficar sozinho com as crianças sem supervisão de um adulto responsável.

— Vocês não podem ficar com o tio Barney porque vão ficar com a tia Lilly. — A explicação sem sentido deixou a pequena Penny pensativa. Enquanto isso, seu pai voltava a dar atenção ao trânsito.

Finalmente conseguiriam chegar ao apartamento. Ted deu comida as crianças e as deixou ver um pouco de tevê — geralmente assistiam as notícias da tarde para poder ver a mãe —, enquanto ele continuava tentando ter uma ideia sensacional para aquela noite. Tentou — mais uma vez — fazer uma reserva em três restaurante diferentes, um dos quais era o Carmichael, o mesmo de onde ele roubara aquele trompete azul, alguns anos atrás, pouco antes de beijar Robin pela primeira vez. Aparentemente, vinte anos não fora o bastante para que seu pequeno crime fosse esquecido, o nome Mosby ainda era recusado no restaurante. Depois de desligar o telefone, desanimado, Ted sentou-se no sofá e ficou se lamentando. Isso chamou a atenção das crianças.

— Qual o problema, papai? — Luke perguntou, visivelmente preocupado.

— Eu queria levar a mamãe pra jantar fora, mas não consegui uma reserva em nenhum dos restaurantes que ela gosta — Ted explicou. Luke franziu a testa, um pouco sério, de um jeito que fez Ted rir um pouco.

— Por que isso é tão importante? — o garotinho perguntou.

— Porque é nosso aniversário de casamento.

— Eu sei, mas por que é tão importante que você leve a mamãe pra comer fora? — Ted abriu a boca, mas não conseguiu articular uma frase. Para ele, as crianças ainda muito pequenas para entender... bem, entender certas coisas. Ele geralmente ficava muito desconcertado com a esperteza dos gêmeos. — A mamãe adora quando você cozinha pra ela. Por que você não cozinha?

— Luke, não é assim... — Ted começou, mas não soube o que dizer para explicar ao filho. Ele nem sabia exatamente o que tinha que explicar, afinal. Antes que ele pudesse pensar mais, Penny falou:

— A gente te ajuda! — ela se ofereceu.

— Vamos fazer o jantar mais delicioso do mundo! — Luke emendou, animado.

— E se você quer tanto comer fora, é só colocar a mesa no telhado! — Penny sugeriu, inocente. Ted ficou um instante apenas olhando de um filho para o outro, pensando na grande sorte que era tê-los e em como aquelas duas crianças eram sua vida e em como ele amava Robin por ter aceitado mudar tudo em que ela acreditava sobre ter filhos para poder dar a ele aquela família.

— Ok, kids, vamos fazer o melhor jantar, ever!

Dizer é, em geral, mais fácil do que fazer. E Ted pôde sentir isso na pele. A disponibilidade de Penny e Luke em ajudar com o jantar era inversamente proporcional a capacidade que os dois tinham para efetivamente fazer alguma coisa — o que poderia ser explicado facilmente pelo simples fato deles terem nove anos!

Luke deveria ficar responsável pelas batatas, mas Ted mudou de ideia depois que o garoto quase acertou o rosto da irmã com a faca. Ficou imaginando a gritaria de Robin sobre o quanto ele era maluco por deixar que o filho usasse uma faca. Enfim, ele mesmo assumiu as batatas e enquanto as descascava, Penny conseguiu derramar farinha por praticamente toda a cozinha — além dos próprios cabelos.

Talvez a comida que estavam preparando não ficasse a mais saborosa, mas havia algo de especial naquilo e era isso que ele queria mostrar a sua mulher. O quanto eles haviam construído durante aqueles vinte anos.

(...)

Robin estava decidida a não criar nenhum caso por causa do esquecimento de Ted. Ok, era um problema que ele, que nunca esquecia a tal data, tivesse resolvido deixar passar justamente o aniversário de vinte anos. Era muita falta de sorte. Mas ela tinha que considerar que ele andava com a cabeça cheia de preocupações. Era o trabalho, as crianças, a idade. É verdade, Ted não era mais nenhum garotinho de trinta e poucos anos! Riu ao pensar nisso. Ela também não era mais uma mocinha.

Cansada como estava, tudo em que pensava era chegar em casa, jantar, depois ver um pouco de tevê com o marido, receber uma massagem nos pés, colocar as crianças na cama e dormir. Ou seja, agir como o casal de meia idade que eram.

Girou a chave na fechadura, já preparada para a tempestade Penny correr para recebê-la. Mas a recepção foi tranquila. Não houve tempestade, nem mesmo um ventinho. Tudo parecia calmo, não havia nem ao menos sinal das crianças. Ou melhor, havia. Assim que deixou a bolsa em cima do sofá, Robin encontrou uma folha de papel na qual havia um desenho feito, provavelmente, por Luke. Era uma seta, apontando em direção ao terraço, e abaixo, a palavra “roof” (telhado), pintada com letras cor-de-rosa. Robin percebeu que havia outros desenhos semelhantes colados no chão.

Curiosa, Robin passou pela janela e subiu a escada que levava ao telhado. Aquele telhado de tantas histórias e tantos momentos passados.

— Surpresa! — o coro soou assim que ela pisou no telhado. E lá estava: uma mesa posta, Ted com um sorriso bobo no rosto e um trompete azul nas mãos. Penny e Luke achando tudo muito divertido. Robin ficou olhando para os três por segundos que pareceram eternos. Sentiu os olhos úmido e tratou de segurar as lágrimas.

Antes de conhecer Ted, achava que jamais teria algo semelhante àquela família, a simples ideia na verdade a assustava. Mesmo depois de casados, ela ainda sentiu-se insegura por muito tempo. Mas naquele instante, tinha certeza que se voltasse no tempo, faria tudo exatamente igual.

— Feliz vinte anos de casados — Ted disse, sorrindo e entregando o trompete. Robin recebeu o excêntrico presente, com a mesma surpresa da primeira vez que ele fizera semelhante gesto, porém, as dúvidas de então já não existiam. — Eu te amo, Scherbatsky.

— Eu te amo, Ted Mosby.

— Kids, fechem os olhos! — Obedientes, Luke e Penny cobriram os olhos com as mãos, mas não deixaram de abrir uma brechinha entre os dedos para espiar o beijo dos pais, ainda que isso os obrigasse a fazer caretas.

A comemoração não planejada foi a melhor de todas, afinal. Não precisavam de muito. Eles tinham um ao outro. Uma família. E o telhado.


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