Estava escuro e frio. Parecia mais uma noite qualquer em Toronto, mas não. Estava mais vazia - parecia inabitada - o que com certeza era estranho. Pensei em andar, mas meus pés estavam presos ao chão -outra coisa que com certeza era estranha.- mas, ao olhar ao redor, percebi que minha visão estava se acostumando a escuridão do ambiente, então a Toronto que conheci estava de volta.

Ou não...

A escuridão se esvaneceu, dando lugar a um ônibus . Se pareci surpreso, era porque estava. Estava do lado do meu melhor amigo: John Philips - um jovem de apenas 16 anos, porém inocente demais para sua idade - usando uma toca do Mickey Mouse, que escondiam um cabelo loiro liso e bagunçado; um casaco marrom estava em seu tronco; por fim, usava uma calça jeans azul-escura.
–Ei! Ei! Oliver, está dormindo?- Ele dissera, então percebi que existia som no lugar que estávamos, então deduzi que conseguiria falar também.

–Ah, não, não... Estou bem! Estamos indo para onde mesmo?

–Não se lembra? Para aquela festa.

–Que festa?

–Daquela garota.

–Que garota?

Mas, enquanto ele movia seus lábios para dizer alguma coisa, notei que o mundo começou a se desmantelar novamente e buh!

Quando abri os olhos notei que já não estava mais junto de John - que a propósito estava dançando feito doido na pista de dança - estava sentado numa cadeira com os braços debruçados no balcão. A festa parecia estar animada para todos, menos para mim. Me levantei, mas ao fazer isso me deparei com uma garota. Essa garota estava encantadora com um vestido escarlate, que abria nas pernas, deixando a perna direita à mostra. Seu olhar estava triste, parecia estar chorando - talvez fosse por isso que sua maquiagem estava borrada - mas nada comentei, ao contrário, me permiti fitar ela um pouco mais. Nesse momento notei que seu cabelo era castanho escuro - lindo, por sinal - e que caía por suas costas, na altura dos seios, achei. Sua franja que continha nas pontinhas um tom vermelho estava partida na testa, deixando uma parte da testa a mostra, já a outra não.

–O-Olá!-Tomei coragem e disse.

–Está atrasado... Pensei que não ia vir..-E me abraçou.

Por um momento senti um calor especial em meu peito.-Desculpa, senhorita, mas estava me esperando..? Digo, nos conhecemos agora...-comentei, mas não soube se ela recebeu a notícia muito bem.

Quando disse isso, vi que ela enrubesceu.-Venha comigo.- Ela disse num tom que parecia não tolerar uma discussão, então a segui.

Entramos num quarto todo escuro, cuja a unica coisa que via era ela.

–Quer dizer que esqueceu de mim? -Ela perguntou. O tom de voz dela parecia com raiva.

–Não! Que isso! Nunca esqueceria você.-Menti descaradamente. Acho que ela percebeu.

–Mente muito mal, Oliver..-Ela se aproximou de uma estante e pegou algo e então riu.

–Desculpe, qual a piada?-Disse involuntariamente.

–Você, amor. Como se lembrar de alguém que não conheceu?

–Se não te conheço, por que "amor"?

Ela me entregou uma taça de vinho, que estava cheia e eu nem soube como.

–Forma de tratamento.

–Esclarecedor.

Ela riu novamente. Uma risada bela.

–Você é sempre tão direto assim?

Fora a minha vez de dar um risinho e colocar um sorriso no rosto.

–Sim, se lhe aprouver.

–Estamos numa festa. Vamos dançar?-Ela me perguntou e do nada uma musica lenta e romântica e lenta começara a tocar. Me aproximei dela, colocando uma mão na cintura da mesma e a outra segurando a mão dela, e então dançamos.
Dançamos coladinhos um no outro, sentindo o calor humano aconchegante e então unimos nossos lábios num ato de amor, fechando os olhos.

Logo abri os olhos.

Estava em meu quarto, deitado em minha cama. Tinha sido tudo um sonho? Ou uma pequena parte tinha sido real? Tentei lembrar-me do rosto dela, e consegui. Quando fui me levantar, achei um pedaço de papel, que estava escrito: Ramona para Olivier. Com a marca do batom dela impressa num beijo. Notei também que o meu nome estava escrito errado, mas não levei na ofensiva. Soava até legal "Olivier" dava um novo ar ao nome, até que gostei disso.

–Foi real, ou não? -Perguntei a mim mesmo afim de achar uma resposta, mas nada acontecera.

Pelo menos algo eu já tinha: o nome e o rosto. Decidi que iria encontrar essa Ramona, mesmo que agora o seu rosto já tinha sumido de minha cabeça. Só me restara um nome. Mas, uma coisa boa era que as aulas voltavam amanhã. Podia ver se encontrava-a na escola.