Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 11
Capítulo 10




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The shadows of your heart

Are hanging in the sweet, sweet air

I know you baby

The secrets that you hide

Control us and it's just not fair

I know you baby. – I know You – Skylar Grey.

Paro o carro em frente á casa dos meus pais, e observo a grande casa á minha frente. Essa não é a casa em que passei minha infância e a metade da adolescência, não tenho memórias ruins aqui – como se o lugar fosse me ajudar a esquecer das coisas – todas as lembranças que tenho dessa casa são boas, porém poucas. Olho para casa, que foi mais como um lugar de recuperação, do que uma casa onde uma pessoa constrói memórias. Mamãe decidiu que o azul traria coisas boas para nós, então pintou a casa de dois andares com essa cor, que ainda está nos devendo coisas boas. Mas, ela não deixa de ser linda, com um quintal que pode causar inveja e o interior dela é ainda mais extraordinário. Muito mais extravagante do que nossa antiga casa.

Aos 18 anos eu me mudei, queria encontrar meu próprio caminho, não queria ficar presa sobre os olhares de tristeza dos meus pais. E pensar nisso, me causa pensamentos autodestrutivos, pois eu não posso deixar de me culpar pela dor que eu dei a eles.

Nós morávamos na Flórida, antes de tudo. Eu realmente gostava de lá, eu sempre fui uma pessoa do verão. Era mais bronzeada, tinha mais disposição, apesar quê – antes de tudo – eu era uma pessoa diferente.

Pego o meu chaveiro na bolsa e procuro pela chave da porta da frente, a chave que meu pai customizou especialmente para mim. Diferente de todas as outras chaves, essa tem um M de cada lado na parte superior, é uma abreviação de Moore. E quando ele me entregou, disse que enquanto estivéssemos todos juntos nada poderia nos abalar.

– Mãe? – chamo, fechando a porta atrás de mim. – Pai?

Ouço risadas na cozinha e caminho em direção á ela.

– Estamos aqui, filha. – grita meu pai, não especificando o lugar, mas me dando a certeza de que estão mesmo na cozinha.

Assim que eu entro, o cheiro de chocolate me faz parar e respirar fundo, tentando capturar to o ar para mim.

– Parece que eu cheguei na hora certa. – Eu digo, olhando para a mesa que está recheada com bolos e doces de vários tipos.

Minha mãe vem ao meu encontro e me dá um abraço de urso. Encosto minha cabeça em seu ombro e deixo a ternura de seu amor entrar e trazer um pouco de calor para meu interior gelado.

– Como minha menina está? – ela pergunta, se afastando um pouco para olhar em meus olhos.

Sorrio para ela. Oh, mamãe, se você soubesse...

– Estou ótima, mamãe. E vocês, como estão? – Aponto para a mesa e olho para eles acusadoramente. – Aprontando muito pelo visto.

Meu pai ri.

– Eu não faço parte dessa bagunça, sua mãe que está tentando me incriminar. – Ele limpa as mãos, que estão sujas de farinha, e vem para perto, deixando um beijo em minha cabeça.

Ao receber todo esse carinho dos deles, sempre passa pela minha cabeça me perguntando que se, não tivesse acontecido o que aconteceu, eles seriam assim. Eu me sinto doente e ingrata, pois eles nunca, mesmo antes de acontecer tudo, deixaram de me dar carinho e amor.

Afasto esse pensamento repugnante e saio dos braços da minha mãe, vou até a mesa e pego um cupcake.

– Você nunca erra a receita, mãe. É tão injusto que eu não saiba cozinhar igual a você. – Eu digo, com a boca ainda cheia.

– Eu concordo com você, da última vez que comi um sanduiche que você fez fiquei doente.

– Ei! Vocês supostamente deveriam estar me animando aqui. – Digo enquanto vejo eles se sentarem nas cadeiras próximas a ponta da mesa.

Mamãe suspira olhando para todos os doces na mesa.

– O que você acha de tudo isso, filha? – Ela passa a mão esquerda pelo cabelo e me olha, transmitindo o seu olhar cansado. – Trabalhar para essa nova empresa está me dando tanta dor de cabeça.

Eu a encaro, deixando claro só pelo meu olhar a minha opinião.

– Você já sabe o que eu acho mamãe. A senhora não precisa disso. – Pego em cima da mesa um doce recheado de castanhas. – Você é ótima no que faz, e poderia abrir seu próprio negocio.

Mamãe balança a cabeça deixando claro que não quer entrar nesse assunto mais uma vez. É a vez de papai suspirar, compartilhando da mesma opinião que tenho.

– Enfim, o que vamos almoças hoje? – Eu pergunto, animada.

Depois de ver meus pais aos domingos, comer é a minha segunda parte preferida.

– Eu sei que vai ser muito difícil para sua barriga aceitar isso, mas não vou cozinhar hoje. Vamos almoçar fora. – Diz mamãe.

Acho que papai percebe meu sorriso sumindo e minha expressão de indignação.

– Oh, pobre menina em fase de crescimento. – Ele murmura.

***

Após esperar mamãe e papai ficarem prontos, um debate dificílimo decidindo para quais restaurantes iríamos, cerca de uma hora depois, nos sentamos contentes no centro do restaurante de comida Japonesa.

Minha barriga nesse momento sorrindo, sendo comida Japonesa a minha favorita.

Fazemos os pedidos e entramos em uma conversa acalorada sobre o noivado de Kat.

– Quando ela me ligou para contar sobre o noivado eu fiquei tão feliz. Mas, é claro, que eu já sabia que isso, mais cedo ou mais tarde, iria acontecer. – Diz mamãe.

Eu sorrio, imaginado como Kat vai estar animada no dia do casamento.

– Eu confesso que fiquei surpreso. – Fala papai. – Eu imaginei que estaria recebendo a notícia de que vocês duas estariam se casando, em nome da amizade de vocês, vocês nunca se desgrudam.

Eu e mamãe rimos, um pouco alto demais, fazendo olhares se virarem em nossa direção.

Dois garçons chegam, trazendo a comida e as bebidas e nesse momento, por dentro, eu já estou abrindo o sorriso do Gato da Alice no país das maravilhas.

Pego o copo de suco que é colocado na minha frente e dou um pequeno gole, quando estou prestes a coloca-lo na mesa, meu olhar passa pela entrada do restaurante e meu corpo congela.

Parado na recepção, com a mão nas costas de uma mulher de cabelo castanho, está Brian.

Brian.

Só com a menção de seu nome meu estomago se revira. Um sentimento de traição se estabelece em meu corpo e com a mão tremula, deixo o copo cair.

Olho para a bagunça que causei, mas não ligo para meu jeans e suéter molhados de suco de uva.

– Elizabeth, você está bem? – Ouço meu pai perguntar, com aflição em sua voz.

Percebo que o copo está estilhaçado no chão.

Forço minha garganta tentando encontrar a minha voz.

– Sim, vocês sabem como sou desastrada.

Arrasto minha cadeira para trás e dou um passo para o lado oposto do copo. Passo minhas mãos pela minha roupa molhada, com vergonha do que causei.

Olho ao redor rapidamente e vejo as pessoas olhando, e me sinto fraca com todos aqueles olhares em cima de mim.

– Vou ao banheiro me limpar. – Digo aos meus pais e saio antes que eles possam dizer mais alguma coisa.

Ando depressa olhando somente para frente, não querendo ver as expressões daqueles que olham.

Entro no banheiro e corro para a cabine mais próxima. Encosto-me á porta respirando fundo, sentindo as raízes do pânico prendendo meus pés no chão.

Imagens do dia em que contei tudo para meus pais entram e se misturam com meus pensamentos.

Pessoas por toda a casa, policiais, médicos e psicólogos e os vizinhos que foram se acumulando do lado de fora.

Sussurros vindo de todos os cantos, penetrando nas paredes, penetrando em meus ouvidos.

– Coitadinha, como deve está sofrendo.

– Oh, seu próprio tio. Como ela aguentou esse tempo todo!

– Como seus pais não perceberam? Oh, pobrezinha.

Sinto minhas unhas fincando em minha pele. As veias de meu pulso saltarem.

Uma gota de suor desce pelo meu pescoço me causando calafrio, me lembrando de que eu tenho que me manter calma.

– É um ataque de pânico, se mantenha calma, não pense, não pense. – sussurro para mim mesma.

Respiro com dificuldade, a cada vez que uma memória diferente aparece.

– Eu preciso que você me conte com detalhes o que seu tio te lhe fez, Elizabeth. – Falou o delegado, me fitando com os olhos penetrantes.

– O que você quer dizer com “Se tornar invisível”, Elizabeth? – Me perguntou a minha psiquiatra.

Balanço a cabeça de um lado para o outro murmurando cada vez mais alto.

– Não me olhem, não me olhem. – começo a abaixar a voz então, e a tremer compulsivamente.

– Elizabeth? – Escuto ao fundo, no meio das profundezas de minhas memórias. – Elizabeth!

Volto para a cabine do banheiro, escutando claramente a voz que me chama agora.

Coloco minhas mãos a minha frente e as vejo diminuindo o tremor. Levanto as mangas do meu suéter e vejo grandes vergões vermelhos, causados pelas minhas unhas.

– Elizabeth, me responde! – Ouço, e dessa vez reconheço a voz de Brian, com um toque de desespero.

Suspiro e abro a porta da cabine, me encostando ao batente.

– O que você está fazendo aqui? O banheiro masculino é ao lado. – Eu digo, com minha voz ainda fraca.

Ele me olha intensamente, como se estivesse tentando descobrir todos os meus segredos pelos meus olhos. E de certa forma, acho que ele consegue.

– O que aconteceu? – Ele pergunta, chegando mais perto.

Eu olho para minhas botas.

– Coisas.

– Que tipo de coisas? – Ele é insistente. – Olhe para mim. – Diz, colocando a mão em meu queixo e levantando minha cabeça.

Tiro sua mão do meu queixo e dou um passo para trás, me sentindo irritada.

– Coisas que não tem nada a ver com você.

Sinto-me uma idiota ao mesmo tempo, porque até onde eu me lembro, eu não tenho nenhuma relação com ele. Ele é livre.

Vejo seu olhar descer pelos meus braços e o acompanho, para descobrir que ele está olhando para os arranhões em meus braços.

Desço as mangas da minha blusa rapidamente e dou a volta nele, indo para a pia lavar o rosto.

– Você tem que confiar em mim, Elizabeth. – Ele me olha pelo espelho.

– Eu mal o conheço.

– Mas pode conhecer. – Ele dá um passo para frente.

– Igual a morena que está com você? Muito obrigado, Brian, mas já estou atolada de merda. Não preciso de mais problemas.

Brian se aproxima mais, colocando as mãos em cada lado da pia, me prendendo.

Sinto um arrepio subir por minha espinha.

– Ela é uma velha amiga.

Eu dou risada, tentando me desvencilhar dele, mas é muito forte.

– Então é assim que você quer ser meu amigo.

Sinto-o passar seu nariz pelo meu cabelo, aconchegar seu queixo contra meu ombro.

– Eu não quero ser só seu amigo, mas aceito se você só quiser me dar isso. Você sabe disso.

– Eu não sei de nada Brian. – Me viro e fico frente á frente com ele. – Você não sabe de nada.

– Por que você é tão difícil, menina dos olhos de âmbar?

Perco-me em seus olhos e deixo que ele vague nos meus, me aquecendo.

– Porque a vida me fez assim.

– Você não me ligou. – Ele muda de assunto.

Eu coloco as mãos em seu peito tentando afasta-lo, e percebo o erro que cometi.

– Eu não sei se posso ser sua amiga.

Ele coloca seu corpo com o meu e deixa sua boca a um centímetro da minha.

– Eu juro que tentei me controlar. – Então me beija não delicadamente como da primeira vez, mas forte.

Eu me sinto perdida do momento que sua boca se encosta com a minha, em questão de segundos estou experimentando sensações que não senti nem na primeira vez em que ele me beijou.

O empurro para trás, e saio do seu alcance rapidamente. Destranco a porta do banheiro e saio sem olhar para trás.

Puta merda, eu estou muito ferrada.


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