Sempre te amei. escrita por AnaClaudiia


Capítulo 78
Cativas


Notas iniciais do capítulo

Obrigada aos mais de 103 mil acessos! Valeu mesmo :)
Boa leitura!



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Por João Lucas:

Enquanto visto minhas roupas, depois de um longo e relaxante banho, tento pensar no que dizer pros meus filhos, eles estão chateados comigo... Tenho medo de que esse sentimento demore a passar! Outra coisa que me aflige é o fato de estar brigado com Du, não gosto de ficar assim com ela... E ao mesmo tempo que sinto falta da cordialidade entre nós dois, continuo bravo com minha esposa! Meus pequenos só ficaram decepcionados comigo por causa de suas palavras. Além disso, ela nem me deixou explicar, não quis saber o que aconteceu, só foi me acusando...

Quero ficar de boa com ela, mas também sinto meu orgulho pulsando nas veias.

Du que errou comigo, então ela que venha se desculpar! Se bem que, acho difícil Eduarda vir me pedir perdão... Mas um de nós vai ter que ceder primeiro, só espero que não precise ser eu!

Fico pronto e ao me olhar no espelho do banheiro percebo minha barba crescendo. Ela me deixa com uma aparência de homem mais velho, eu gosto disso. Saiu do toalete e vou em direção ao quarto dos meus filhos, eles vão dormir no lugar que antes pertencia a Maria Clara, mas que já foi todo reformado por meu pai e agora mais parece uma loja de brinquedos, tamanha é a quantidade de produtos infantis espalhados pelo cômodo.

Ao abrir a porta, vejo Eduarda e minha mãe arrumando Marta e Alfredo para dormir. Os dois vestem pijamas, o da minha filha é todo rosa e tem um gigantesco desenho da Peppa estampado na parte de cima da vestimenta, já o de Dinho é azul claro, com algumas bolinhas brancas.

Cada um está sentado sobre sua cama, Eduarda está junto de Martinha e minha mãe de Alfredinho.
JL: Será que antes de vocês dormirem, podem bater um papo comigo? - Digo, olhando para eles.

Meus filhos se olham e em seguida Marta assente que sim. Os dois tem apenas cinco anos, vão fazer seis daqui alguns meses, mas são inteligentes o suficiente para saberem sobre o que vou falar... Dá pra perceber por minha cara, quero me entender com eles!

Fixo meus olhos nos de Eduarda, ela faz o mesmo. Não trocamos mais nenhuma palavra desde que cheguei em casa e parece que não vamos fazer isso hoje.
MM: Eu ia ler uma história para eles dormirem... - Minha mãe diz, e então vejo um livro em sua mão.
JL: Não se preocupe, eu mesmo conto!

Minha mãe sai e ficamos apenas eu, meus filhos e Du. Eduarda se levanta da cama de nossa filha, dá beijo de boa noite em cada um deles e diz pra mim:
Du: Quando eles dormirem vai lá no nosso quarto, quero conversar...

Pensei que ela não quisesse falar comigo hoje.
JL: Não vai dar, eu vou dormir aqui com eles... - Olho para meu filhos. - Se vocês deixarem, é claro!
A: Oba, eu dexo! - Meu filho fala, com um sorriso no rosto. - Pode dolmi na minha cama!
M: Ah não, dorme comigo papai!
JL: Não briguem, tem João Lucas pros dois! - Eles riem, e eu também. Pelo jeito já não estão mais tão zangados comigo, o melhor de ser criança é que os sentimentos ruins passam rápido. - Amanha conversamos Du, tenha uma boa noite... - Como se isso fosse possível, penso assim que termino de falar.

Tentamos esconder o clima ruim entre nós dois, mas acho que meus filhos perceberam. Eduarda sai, então me sento junto de Alfredinho e logo minha filha se junta a nós. Ficamos os três em silêncio por alguns segundos... eu pensando no que dizer, eles apenas me olhando.
A: Você e a mamãe estão de mal? - Dinho me pergunta.
JL: Não... - Respondo, e no fundo isso é até verdade.- A gente só está triste um com o outro, ela comigo, eu com ela...
A: Pol que? - Ele sempre questiona tudo que não entende.
JL: Porque as vezes a gente se magoa com as pessoas... Principalmente quando amamos muito elas! As decepções nunca vem de quem esperamos. - Respondo. - Mas não é disso que quero falar com vocês, é sobre eu não ter aparecido pra pegar o avião!
M: Vai pedir desculpas? - Minha filha pergunta.
JL: Vou! - Respondo. - Os pneus do meu carro furaram, não foi minha culpa não ter chegado a tempo, tentei de todas as formas, mas não consegui... Mas mesmo assim, quero pedir perdão porque sei que vocês sentiram minha falta, que me queriam ali e eu infelizmente não pude estar lá. Não sou perfeito, tento ser o melhor pai do mundo mas as vezes não consigo, me desculpem por isso! - As luzes do quarto estão acesas, vejo perfeitamente seus olhos fixados em mim. - To dizendo tudo isso pra vocês saberem que são a coisa mais importante da minha vida, que não troco nenhum dos dois nem pela maior empresa do mundo...
A: Nem pela Apple? - Meu filho me pergunta.

Abro um sorriso e dou um abraço apertado nele: Por nada! Digo em seu ouvido.
JL: Vocês me perdoam?

Eles sorriem e balançam a cabeça afirmando que sim.

Pego o livro deixado em cima da cama por Maria Marta e apago as luzes, vejo Martinha e Dinho se deitando juntos na cama e então acendo os abajures para finalmente ler o título: O Pequeno Príncipe. Lembro bem dele, minha mãe sempre o lia para mim quando eu era criança... Nunca o entendia direito, não me parecia ser um livro infantil, mas mesmo assim ela lia! Marta sempre gostou de tudo que tinha a ver com realeza e, se a palavra Príncipe estava no titulo, certamente seria um bom livro!

Começo a ler e meus filhos prestam bastante atenção em mim, certamente irão dormir daqui a pouco, mas sinto que eu não vou conseguir parar de devorar essas palavras, elas fazem tanto sentido agora...

Por Eduarda:

A cama fica tão grande e espaçosa sem ele, sinto falta do aperto... Não entendo porque complicamos tanto as coisas, eu só preciso de um explicação, ouvir a verdade pra quem sabe assim pedir desculpas...

Eu agi mal, sei disso, mas no fundo faz sentido as minhas desconfianças. Foram anos vendo ele viver e trocar a convivência familiar pela empresa, sei que mudou, mas é difícil algumas semanas apagarem tanto tempo de lembranças ruins.

Pensei que conversaríamos agora, que ele viria para nosso quarto, que trocaríamos pedidos de perdão e então tudo voltaria a ser como era... Mas não, pelo jeito não será assim.

É claro que uma hora vamos nos entender, nos amamos demais para nossa história acabar assim, mas cada minuto e hora brigado com ele dói muito... Apesar disso, não vou procura-lo e implorar para que me conte o que aconteceu, isso é seu dever! Um de nós tem que seder, mas não serei eu! Lucas que venha a meu encontro...

Eu que estava olhando pro teto, me viro ficando de lado na cama. Vejo o travesseiro que deveria estar sendo ocupado pela cabeça de meu marido e meu coração aperta.

Queria dormir, fechar meus olhos e acordar amanha pra finalmente resolver tudo, mas agora estou sem sono, gastei ele passando horas dormindo durante a tarde.

A noite, pelo menos pra mim, vai ser bem longa...

Por João Lucas:

Ao contrário do que pensei, eles se mantiveram acordados até ouvirem a palavra fim. Em alguns momentos, tive que explicar o determinado significado de alguma palavra, mas acho que os dois entenderam a história direitinho.

Minha filha acabou dormindo junto do irmão, sorte minha que fiquei com a cama dela. Me deitei ali, mas apesar de tudo ser extremamente confortável, não consegui dormir.

Algumas citações do livro não saem da minha cabeça, ficam indo e voltando o tempo todo... Uma fábula tão linda, que faz pensar e refletir sobre a vida, uma história que muitas vezes é confundida como infantil, mas que na verdade ensina muito adulto.

"E eu não tenho necessidade de ti.

E tu não tens necessidade de mim.

Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo... "

Eu tenho necessidade de você Eduarda, tu me cativou... Pra mim és a única no mundo e sei que pra você também sou! Penso isso, e ao olhar no relógio vejo que já são quase 3 horas da manha, eu deveria estar dormindo!

"Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música."

Reconheço cada passo seu, nem preciso olhar pra saber quando tu está chegando... Ao seu lado tudo parece mais iluminado, mais colorido e feliz. Que droga, por que não paro de pensar essas coisas?

Me levanto da cama e caminho até a porta, tropeço em alguns brinquedos, mas felizmente não caio. Olho para meus filhos, eles não parecem ter acordado então sigo meu caminho pra fora do quartinho deles.

Ando pelo corredor e quando percebo já estou parado na frente da porta do meu antigo quarto, onde agora minha esposa descansa.

Fico ali encarando a entrada e o único barulho que escuto é o da minha respiração. Sinto vontade de chamar Eduarda, de conversar com ela agora, mas acho que, as 3 horas da manha, não é o melhor momento.
JL: Eu sou um besta, a Du deve estar ferrada no sono e eu aqui pensando nela...– Sussurro.

Desço as escadas e vou em direção a cozinha, pelo menos os remédios fizeram efeito, meu pé não dói mais... Acendo as luzes e decido preparar um copo de leite quente pra mim, quem sabe isso não me ajude a dormir!

Por Eduarda:

Talvez meu sono seja a única parte em mim que permanece rebelde. Só aparece na hora em que não deveria... Hoje a tarde eu estava cochilando pelos cantos, agora me sinto uma coruja.

Me sento na cama e pego meu celular, já são 3:10 da manha.
Du: Não deveria ter dormindo a tarde toda... - Digo a mim mesma.

Mas a verdade é que isso não é o motivo da minha insônia, só não durmo porque minha consciência pesa! Quanto mais penso, mais percebo que estou errada...
Du: Não amanhece nunca, quero o sol logo! - Digo, olhando pras janelas fechadas.

Dizem que conforme o tempo passa a maturidade vai aumentando, agora me sinto uma criança. Seria tão fácil se eu fosse lá e simplesmente pedisse desculpas, mas ao mesmo tempo que é simples, se torna tão difícil...

Orgulho idiota!

Me deito novamente na cama, quando escuto algumas batidas na porta.
Du: Lucas?
M: Não mamãe, é a gente!
A: Pode entla?

São meus filhos, ao ouvir suas vozes sorriu.

Me levanto e vou até a porta para abri-la, assim que faço isso vejo os meus dois pequenos me olhando com um sorriso no rosto.
Du: Vocês não deveriam estar dormindo? - Pergunto.
M: Você também! - Martinha responde.

Eles entram no quarto e vão se jogando na cama.
Du: Então quer dizer que nós três perdemos o sono? - Falo, enquanto me deito no meio deles.
A: Não, eu tava dolmindo, a Maltinha que me acoldo!

Será que Marta voltou a implicar com o irmão? Já ia repreende-la por fazer isso, mas ela se explica.
M: Mas eu só acordei ele por um good motivo!
Du: Aé? Qual seria?
A: Malta falou que você plecisava de um conselho! E a gente tá aqui pla isso...

Eles falam seriamente, mas estou me segurando para não rir. Que tipo de conselho duas crianças me dariam?
Du: Me diz, qual é conselho que vocês tem pra me dar?
M: O papai ta triste... Você não devia brigar com ele! - Minha filha diz.
Du: Eu também to triste com seu pai... - Me abro com eles. - E comigo mesma, com o que falei, com tudo... É complicado!
A: Pol que é complicado? Se você ta tliste com ele, pala de esta e plonto!
Du: Não é tão fácil assim, ele também tinha que parar de ficar triste comigo! - Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que uma ideia passa por minha cabeça. - Foi o pai de vocês que te mandaram aqui?
M: No, o papi nem sabe... Ele me acordou sem querer e eu vi que estava com cara de triste! A mesma cara que você tá!
A: Dai viemos aqui convelsa! Você não pode deixa ele assim, a culpa é sua!
Du: Hã? O que o pai de vocês falou? Eu não fiz nada de errado, como assim a culpa é minha?!
A: Ninguém mandou você caipilas ele...

Tá, agora está ficando sem sentido.
Du: Eu o que? - Pergunto a Alfredinho.
A: Você caipilas ele!
Du: Eu caipiras ele? - Começo a rir.
M: É cativas bobão! - Minha filha fala olhando pro irmão. - Você cativou o papai!
A: É, isso mesmo... E você é etelnamente lesponsável pol aquilo que cativas. Tava esclito no livlo!

Conheço bem essa frase, acho que muita gente já a ouviu... Mas meus filhos são tão pequenos, como podem entender seu significado?
Du: Vocês sabem o que isso quer dizer?
M: Acho que sim! - Marta responde. - O papai explicou o que é cativar, significa criar laços, transformar uma pessoa em alguém especial... Né?
Du: Sim, é sim... - Digo, começando a ficar emocionada.
A: Você é uma pessoa especial plo papai, ele foi cativado pol você!
M: É, e agora a mamãe e responsável por ele! Não pode deixar o papi triste, nem ele você...

E um livro escrito a mais de 70 anos atrás faz um sentido gigantesco nos dias atuais, crianças de apenas 5 anos me fazem refletir... a idade das coisas é tão relativo, a sabedoria vem da onde menos esperamos.
M: Eu vi o papai descendo as escadas, deve tá na cozinha...
A: Você vai lá fala com ele?

Por João Lucas:

Eu deixei meu leite tempo demais no micro ondas, ao invés de "Leite quente" fiz um fervendo...

Me sento à mesa e com uma colher fico mexendo o líquido do meu copo, quem sabe assim ele esfria mais rápido. Estou bem distraído com essa tarefa, quando escuto passos vindo em minha direção.

Eduarda...
Du: Tomando leitinho? - Ela aparece na minha frente, com um tímido sorriso no rosto, e puxa uma cadeira para se sentar a meu lado.
JL: Eu não estava conseguindo dormir e dizem que isso ajuda...
Du: É, eu também perdi o sono!
JL: Se você quiser, posso fazer um pra você também... - Falo, olhando pro copo.

Minha esposa empurra o objeto pro meio da mesa e em seguida se senta no meu colo. Fico sem reação, não esperava uma mudança tão repentina de atitude.
Du: O motivo na minha insônia é você, a cura dela também! - Eduarda passa os dedos delicadamente por minha barba, até chegar na minha boca. Ela acaricia meus lábios e diz olhando em meus olhos. - Me desculpa?

Fico encarando sua boca, minha vontade é agarra-la agora e esquecer tudo, mas assim seria tão fácil...
JL: Desculpar pelo que? Por ter falado o que não devia pros nossos filhos ou por ter pensado o pior de mim?
Du: Por nenhum desses motivos!
JL: Então você acha que tá certa?
Du: Não, eu acho que errei! Mas o meu pedido de desculpas foi por ter te cativado... - Ela sorri. - E você também tem que se desculpar comigo, porque me cativou da mesma forma! Eu não sei o que aconteceu, mas tanto faz, não importa! Só quero sentir seu abraço e seus beijos de novo. Detesto ficar brigada com você, talvez um de nós esteja errado, mas dane-se, tanto faz! O problema de amar muito alguém, é que as vezes os erros ficam tão menores que o bem que essa pessoa nos faz... Tenho necessidade de ti!
JL: Andou lendo O Pequeno Príncipe também? - Digo, começando a esboçar um sorriso.
Du: Já li, mas não foi hoje... Lembrei dessa história porque duas pessoas, também pequenas, escutaram ela do pai! - Ela sorri para mim.
JL: Entre 100 mil pessoas, pra mim você é única, isso significa que tu me cativou... Mas não precisa me pedir desculpas, isso não é ruim, dá mais sentido a minha vida!
Du: Obrigada! - Ela volta a encarar meus lábios.
JL: Obrigada! - Lhe respondo.

Eduarda, que ainda está sentada sobre meu colo, vai aproximando sua boca lentamente da minha.

Um pedido de desculpas, virou obrigada. Isso faz mais sentido, só tenho a agradecer a Eduarda, assim como ela a mim. Claro que terão algumas explicações depois disso, mas ser grato a ela é tão mais fácil... Tantas coisas ela me deu, tantas coisas eu dei a ela. Formamos uma família juntos, uma vida, uma história... Isso é tão maior que nossos erros!

Meus lábios tocam os dela e sinto minha esposa passando a mão por minha nuca. O beijo que começou calmo e delicado fica mais intenso a cada segundo, nossas bocas estão praticamente se engolindo. Eu me levanto, com Du ainda em meu colo, e começo a caminhar rumo as escadas.

Isso foi uma reconciliação? Não tenho certeza, ainda me sinto um pouco chateado, mas agora a única coisa que importa é esse momento.


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Notas finais do capítulo

Hoje a tarde, antes de escrever a fic, estava arrumando meus livros até que encontrei um com uma citação de "O pequeno Príncipe" acho que foi um sinal haha Amo essa história, é tão linda...
Espero que tenham gostado da fic de hoje, amanha tem mais! :)



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