Por João Lucas

Estamos eu e Eduarda deitados na cama. Ela parece cansada e ainda está um pouco ofegante. Fazemos silêncio. Apenas nossas respirações são ouvidas no quarto.

Queria dizer alguma coisa, perguntar se ela se lembrou de algo, mas percebo que não. Só de olha-la sinto que Du está com vergonha de mim.

Aposto que ela quer sair daqui o mais rápido possível, fugir de meus braços...

Ficamos mais alguns minutos sem dizer nada, até que Du decide falar:
Du: Isso não podia ter acontecido... Né?

Eu já conheço essa história...
JL: É, mais aconteceu... E por um simples motivo. - Digo, sorrindo.
Du: Qual? - Pergunta, e sorri timidamente.

Eu já tive esse diálogo com Eduarda na nossa primeira vez. Estamos tendo as mesmas falas, e sinto que dessa vez posso concertar totalmente a burrada que fiz no passado. Mesmo que Du já tenha me perdoado...

Eu me viro para olha-la, pego suas mãos e dou um delicado beijo nelas.
JL: Aconteceu porque você me ama, do mesmo jeito que eu te amo. - Sorriu. - Tu não se lembra, mas a gente casou, formou uma família... Passamos por muitos percalços nesses dois anos, mas mesmo assim sempre fomos muito felizes. É muito bom te ter na minha cama novamente, poder sentir o calor do seu corpo. Mas eu te quero por completo... Volta pra mim Eduarda! Tenta se lembrar...
Du: To tentando Lucas... Mas é tão difícil! Eu acredito no que você me diz, mas ao mesmo tempo não consigo me recordar de nada. Tudo me parecesse estranho. Essa casa, essa cama, essa vida...
JL: Sabe... - Digo, deixando as lágrimas caírem. - Doeu tanto quando você não quis pegar os nossos filhos no colo!
Du: Desculpa. É que eu não sei fazer isso, nunca peguei!
JL: Não tem segredo Du. Eles já são grandinhos, é mais fácil... Você já fez isso várias vezes, podia tentar!

Du fica calada por alguns segundos, até que resolve me fazer uma pergunta:
Du: Eu sou uma boa mãe?
JL: A melhor de todas. Eu não escolheria outra pros meu filhos!

Dou um beijo em sua testa, e lhe puxo para deitar sobre meu peito. Eduarda estranha no começo, mas logo relaxa e se permite dormir ouvindo os sons de meu coração.

No meio da noite, acordo ao ouvir um choro de bebe. Estou quase me levantando da cama, quando sinto Du fazendo isso primeiro. Fico parado, em silêncio, e depois de alguns minutos dela ter saído do quarto percebo que o choro dos bebes está diminuindo.

Vou até o quarto de meus filhos, na ponta dos pé pra não fazer barulho, e ao chegar lá vejo Eduarda ninando Martinha.
Du: Chora não... - Diz, imitando uma voz infantil. - O que você quer, em? Ta com fominha?

Du coloca nossa filha sobre o trocador, e confere sua fralda:
Du: Hm... É isso! Vou te trocar... - Minha esposa pega os lencinhos umedecidos e enquanto limpa Martinha diz: - Como é seu nome mesmo? O Lucas disse que é alguma coisa com inha...

Já estava achando que sua memória havia voltado. Mas pelo visto não...

Apesar disso, não me permito ficar triste! Ela não se lembra da nossa história, nem dos nossos filhos, mas mesmo assim o instinto materno fala mais alto!

Pode não ser hoje, nem amanha, mas Eduarda vai se lembrar. Tenho certeza disso!