Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP vol.2 escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 6
Paranóica




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O sol fere meus olhos quando acordo e me remexo debaixo do lençol. Abro os olhos e estou encarando o teto brilhante do quarto. Presumindo pela presencia de cores fortes, eu já voltei a minha forma natural.

Sento-me no chão e olho para a cama. Esta vazia, o que significa que Andressa acordou antes do que eu. Engraçado, isso não é muito comum. Dou de ombros e começo a colocar minhas roupas debaixo do tecido.

Depois que termino, entro no banheiro e tomo uma ducha rápida, me deliciando com a agua quente da pousada. Pego um sabonete e ele deixa minha pele macia e maciça com uma cor mais saudável.

Quando termino, pego uma das muitas toalhas brancas no cabide e saio para me trocar. Visto as mesmas roupas de ontem.

E então desço o elevador para encontrar os outros.

* * *

Os três estão sentados de frente para o bar, esperando por mim. Parecem tão naturais que poderiam se misturar com os outros hóspedes. Andressa conversa em um tom alto e simpático com o barista, enquanto Eduardo a encara de um jeito melancólico. Felipe simplesmente assovia e avalia as pessoas comendo por todo o lado.

Quando encontra meus olhos, enrubesce e desvia o olhar. Não preciso de uma bola magica para saber que ele deve estar sentindo muito pelas palavras que disse ontem.

E eu também.

– Ei, pessoal – subo no banco ao lado de Andressa. – Por que acordaram tão cedo? Vamos fazer mais algum tour ou algo do tipo?

Eduardo e Felipe pensam em responder, mas Andressa ainda conversa com o barista. Ele tem um rosto jovem e parece ter mais ou menos nossa idade. Seus olhos são puxados e seu cabelo é vai até os ombros.

– Pessoal? – repito em um tom um pouco mais agudo.

Andressa ainda fala com ele, tocando seu braço a cada segundo. Eduardo suspira alto, parecendo cansado e passa a mão no cabelo preto.

– E o que é uma margarita? – Andressa pergunta com um sorrisinho animal. – Ouvi falar que é forte.

Edu bufa e o barista o encara. Andressa revira os olhos.

– Pode me falar – ela toca sua mão e aperta. – Quero muito saber sobre o que você faz.

Os olhos de Eduardo voam para a mão dos dois e Felipe, no ombro atrás dele, tem um olhar de alerta em sua expressão.

– Tudo bem, já chega – Eduardo se levanta do banco e se mete no espaço entre os dois. – Isso esta ficando ridículo.

Dessa o encara petulantemente.

– Do que esta falando? Não tem nada de ridículo.

Antes que ela termine a frase, Eduardo pega a mão do barista e a atira longe. Ele o encara assustado e depois nervoso. Edu apenas estala os dedos e algo atrás do barista pega fogo.

– Isso vai te manter ocupado por um tempo – ele murmura.

Andressa cruza os braços enquanto olha o barista pegar o extintor de incêndio.

– Qual o seu problema?

Edu a encara de volta e abre a boca para falar. Andressa espera, batendo no chão com o pé esquerdo. O barulho deixa meus ouvidos doendo e vejo Felipe olhar o pé enquanto ele sobe e desce.

– Nenhum – Eduardo enfim responde depois de um tempo, a expressão antes intensa voltando a ficar fria e distante, como geralmente ele é.

Andressa faz uma careta que demonstra decepção e então se volta para mim, os olhos perigosamente felinos.

– E você? – ela cospe a pergunta. – Tem algo pra me dizer também? Vai me julgar também?

Abano a cabeça, cansado, tentando mandar um sinal para ela que não estou alheio a tensão que ela e Eduardo têm um com o outro. Nunca estou.

– Eu só quero saber para onde vamos agora – desabafo.

A expressão dela vacila e a de Eduardo de repente fica mais firme. Pronto, agora ele é o Eduardo que eu conheço e entendo.

– Mesmo que esse resort seja realmente uma beleza... – ele começa.

– Pousada – Felipe cochicha.

Edu franze os lábios para ele.

– Por mais que seja, não podemos aproveitar. A Bruxa Denise ainda esta lá fora, preparando algum feitiço grande contra as pessoas daqui. E temos que detê-la o mais rápido possível.

– Edu está certo – Andressa leva a mão ao pescoço. – Se ela é capaz de fazer o que fez com os próprios pais e irmãos, imagina o que pode fazer com estranhos.

Cutuco a palma da minha mão com a unha.

– Então temos que procurar... Mas onde exatamente encontramos uma Bruxa?

– Têm lugares bem indicados – Felipe comenta sem ninguém ter pedido. – Cemitérios, parques, antigas bibliotecas com documentos...

– Veremos todos os pontos que pudermos – eu o corto impaciente e ele me lança um olhar magoado. Faço o que posso para desviar, mas ainda o sinto em meu rosto.

– Espera um segundo – Eduardo de repente desata a falar. – Na primeira vez que a vimos, ela estava nos aguardando naquele depósito em que Layane nos deixou. Apareceu depois de uns dois minutos.

– Então na verdade foi o oposto – Felipe estala os dedos. – Nós não a encontramos. Ela nos encontrou.

– Espera – ergo a mão. – Esta dizendo que ela esta nos... seguindo?

Ele dá de ombros.

– É uma possibilidade, não é?

Andressa assenti.

– Se isso é verdade – ela olha na direção do saguão. – Então isso só pode significar uma coisa.

* * *

Depois de dez minutos, nossas coisas já estão no carro e estamos agindo naturalmente ao entrar no jipe. Porém, é só um disfarce. Nossos olhos estão atentos a qualquer coisa ao redor na floresta, ou a qualquer rosto pálido a espreita.

– Tem certeza que isso vai dar certo? – Felipe pergunta enquanto Edu estaciona o carro. – Quer dizer, ela vai mesmo aparecer?

– Não sei, gênio – Eduardo bufa. - Achei que o espertinho aqui fosse você.

– Achei que os caçadores a mais de dez anos aqui fossem vocês – ele retruca.

Espio pela janela do carro, mas não vejo nada além da entrada vazia do condomínio ao lado. E olhando aquele ponto fico esperando, sem saber bem por que, que o garoto de ontem apareça de novo.

– Meu Deus – Andressa suspira. – Se ao menos vamos fazer isso, ao menos ajam como profissionais.

Nós três nos viramos para encara-la.

– Desculpa, como? – Felipe dá uma risada sarcástica. – Dessa, por que não guarda essas garras e...

Ela ergue as sobrancelhas e por algum motivo isso faz com que ele cale a boca e engula em seco.

– Eu tenho um plano – ela sussurra e lança um olhar para fora. – Volto em um minuto! – e então ela abre a porta e saí.

Encaramos confusos enquanto ela da à volta no carro e para bem em frente ao capo. Primeiro funga e franze a testa, passando os olhos por ele e então examina algo que não conseguimos ver.

Felipe balança a cabeça.

– O que diabos...

– Calado – Edu manda e volta a olhar para ela.

Andressa então abafa a mão na frente do rosto e chuta a frente do jipe com um pouco de força demais. Edu solta um grunhido de raiva, mas ela bate de novo.

– Droga de carro! – ela sibila. – Por que não roubamos um decente da próxima vez, hein? – ela lança um olhar para Eduardo.

– Do que ela esta falando? – Felipe sussurra. – Tem algum problema com o carro?

– Acho difícil – o tom de Eduardo é tão confuso quanto o nosso.

– Mas que merda de carro – ela continua gritando e então nos olha. – Ei, pessoal, um de vocês acha que é homem o suficiente para vir me ajudar?

Olhamo-nos confusos, mas então Edu abre a porta num rompante e pula para fora, deixando ela aberta. Ele caminha até Andressa e os dois fingem se esforçar para abrir o capo.

– Não estou entendendo nada. A Andressa sozinha consegue levantar o capo, por que ela teve que pedir a ajuda do Eduardo?

Felipe espelha minha expressão.

– Eu realmente, realmente, não sei também.

E então nós dois olhamos para cima. Edu e Dessa estão virados para nós, nos olhando significativamente. Edu levanta a camiseta um pouco e pega sua arma. Dessa sinaliza com os dedos e olha para a esquerda.

Sigo o olhar dela e vejo uma forma pálida se rastejando na direção dos dois. É Denise. Tem os olhos frios e uma das mãos parece ter alguma espécie de tique, porque não para de ir para frente e para trás.

– Agora – sussurro e Felipe me encara.

– O que?

Mas não paro pra me explicar e salto do carro com tudo, assustando Denise. Ela me encara por um segundo e Andressa e Eduardo se viram na mesma hora. Quando pensa em bater em retirada, me movo como um míssil para impedir seu caminho.

Denise olha para mim assustada e depois para os ameaçadores Andressa e Eduardo. Surpreendentemente, ela ri alto.

– Me encurralaram – ela grasna. – Que inteligentes.

Mas Dessa, que não esta com tempo para gracinhas, a agarra por trás pelo cabelo, passando uma de suas pernas na dela, para que ela caia estatelada no chão.

Denise arfa e Eduardo se move com tudo em seu caminho, mirando a arma em sua cabeça.

– Nós finalmente descobrimos – ele tem um sorriso malévolo no rosto. – Você não consegue lutar contra mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

A expressão dela é derrotada enquanto Felipe se junta a nós, a espada cravada na palma das mãos.

– Fazíamos ideia que você estaria nos espionando de novo – Dessa chuta uma de suas pernas e ela cai novamente no chão. – Então decidimos te pegar no seu próprio truque.

– Game over, vadia – eu fico bem acima dela. – Pode ir nos contando o que você vem planejando dessa vez.

Ela engole em seco, mas ao erguer os olhos para me encarar de volta uma curva de sorriso nasce bem no canto do lábio.

– Tudo bem, eu mostro.

E então um vento começa a rodopiar por todo o lugar.

Edu aponta a arma para a cabeça dela.

– Sem mais truques! – ele grita.

Denise pisca e a arma voa longe.

– Isso não é um truque – ela sibila e seus olhos brilham. – É magia!

A velocidade do vento aumenta e sinto meus pés se desgrudarem do chão. Tento ver algo, mas só consigo localizar Felipe puxando meu pé para me manter no chão ao seu lado.

Um impacto faz os pelos do meu braço se arrepiarem e de repente, eu estou voando para bem longe.


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