Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP vol.2 escrita por Matheus Henrique Martins
– Felipe, que bom que se juntou a nós – Anna acena com a cabeça para ele. – Eu já estava prestes a te chamar, por favor, junte-se a nós.
Enquanto ela fala ele anda monotonamente até uma poltrona no canto da sala, medindo-nos com os olhos claros. Ele flagra meu olhar e ergue uma sobrancelha loira para mim. Desvio o olhar dele rapidamente uma vez e depois o olho de relance de novo.
Eu me lembro muito bem de Felipe, mas muito pouco. Também havia chegado há uns dois anos atrás, quando Anna e Layane estavam recrutando o mundo ao redor de La Iglesia.
Ele tinha chegado exatamente como os outros, tímidos e perdidos, não acostumados a ver tantas armas e pessoas com habilidades sobre-humanas.
Costumo muito ignorar os “calouros”, por assim dizer, mas me lembro de tê-lo visto treinando com uma espada de madeira uma vez, com um bando de garotos da idade dele.
– Então, gente – Anna nos chama a atenção. – Não sei se conhecem bem o Henrique, mas ele esta na escola de espadachins.
– Tem razão – Andressa funga. – Não conhecemos mesmo ele.
Anna a repreende com o olhar.
– Olha, eu não vou ficar perdendo meu tempo aqui – ela se enfurece. – Quanto mais minutos vocês se revoltam com minhas decisões, é mais tempo para aquela Bruxa vadia conseguir o que quer.
Andressa e Eduardo suspiram ao mesmo tempo, e se olham de lado confusos.
– Tudo bem, então – ele se coloca para frente. – Prossiga.
– Ótimo – Anna respira fundo. – Eu fui informada a uns três dias pelo reitor da classe de espadachins que Felipe teve a melhor classificação nos treinos.
Andressa dá de ombros.
– Olha, sem querer ser uma chata – seu tom é sincero. – Mas eu não vejo grande coisa ele ter se saído bem em um treinamento.
– Ela tem razão, não vai adiantar de nada isso para nós – Eduardo apoia.
Olho de lado para Felipe para ver sua reação, mas ele está apenas quieto, tocando a lambada de um dos livros de Anna. Este é verde e tem um símbolo que mais parece uma folha na capa. Ele não parece que vai seriamente ler o livro, mas o encara atentamente.
É sensato da parte dele conseguir disfarçar tão bem.
– Nós sabemos disso – o tom de Anna é cansativo. – E não foi apenas a habilidade dele de espadachim que nos chamou a atenção.
– Então foi o que? – questiono e vejo pelo canto do olho que Felipe levantou o olhar do livro.
– Ele tem um dom muito peculiar – Anna sorri enquanto diz. – Que é tão sutil que pode servir de grande ajuda para a missão de vocês.
Andressa e Eduardo se viram para avalia-lo e, aproveitando que todos estão atentos a ele, o encaro também. Felipe nos olha de volta de um jeito irônico e então gira os olhos castanhos para Anna.
– E que nós combinamos em mantê-la em segredo – ele diz com os dentes cerrados.
Anna assenti de volta para ele.
– Por hora – ela acrescenta.
Felipe murcha na poltrona com isso.
– É, sim, por hora.
– Então, pessoal. Agora que já contei sobre a missão, sobre a Bruxa e ainda coloquei um novo integrante para a missão de vocês, será que podem, por favor, não me fazerem mais perguntas?
Andressa ergue a mão por pura provocação.
– Eu tenho uma pergunta – o sorriso dela aumenta a cada palavra dita.
Anna suspira.
– Fale, Andressa?
– Que veiculo vamos usar para ir a Vallywood? – seus olhos brilham com a pergunta.
Anna dá de ombros e olha de lado para Layane. Esta por sua vez suspira e se vira para nós quando chega à porta.
– Essa é a ultima vez! – ela solta um grunhido para nós.
Ela saí e Andressa bate palmas. Eduardo a cutuca e sorri de leve.
– Ela sempre fala isso, mas vamos enrolar ela na próxima vez também – seus olhos escuram brilham.
– Com certeza! – Andressa e ele comemoram.
– Eba, um helicóptero! – Felipe se junta a nós. – Isso não é demais?
Porém, o sorriso (muito raro) de Eduardo some e Andressa joga o cabelo por sobre o ombro de modo rude.
– Claro, muito divertido – ela dá um sorriso fraco.
Felipe engole em seco e desvia o olhar para a janela, parecendo saber que obviamente ele não foi convidado para nossa pequena comemoração.
Quero ignorar ele também, mas não consigo.
– Eu acho que vai ser divertido – comento em um tom mais alto que o de Andressa.
Ela e Eduardo me encaram e eu finjo que nem dou bola. Até porque, Felipe também esta me encarando, com um toque de desconfiança.
– Acha mesmo? – ele questiona.
– Com certeza – eu me levanto e levanto os dois braços para o alto. – Pode apostar!
Demora alguns segundos, mas um sorriso brota nos lábios de Felipe. Eu sorrio quando vejo isso.
– Uhul! – Anna comenta a meia voz. – Quanta alegria para um lugar só.
* * *
Mal posso acreditar que chegamos tão rápido em Vallywood quando o helicóptero de Layane desce em um depósito todo cinzento com caixotes em todo o alto dele.
O vap-vap-vap constante silencia quando ela o pousa e desliga o motor. Eduardo se levanta e abre a enorme porta lateral sem nenhum esforço e desce. Andressa saí logo em seguida, dando um salto felino. Eu vou logo atrás deles, caindo de joelhos.
Eduardo esta se espreguiçando e olhando ao redor do lugar quando Layane desce pelas portas da frente de modo natural. Andressa para na beirada da laje, parecendo pensativa.
– Tudo bem – Layane começa a convergir até nós. – Vocês sabem chegar até Vallywood sozinhos?
Eduardo olha o relógio de pulso.
– Não vamos demorar muito – ele comenta. – Acho que lá para o fim de tarde já vamos ter chegado.
– Tudo bem, então – Layane parece estar prestes a dizer algo, mas então franze a testa. – Onde esta o Felipe?
Nós todos olhamos para dentro do helicóptero e ele esta parado na porta lateral, em pé, encarando hesitante o chão.
– Só pode estar de brincadeira comigo – Eduardo cospe no chão. – O que esta esperando seu zé mané?!
Felipe apenas semicerra os olhos para ele.
– Nada – sua voz saiu um pouco rouca.
Andressa que vem andando vagamente até nos dá uma risada gutural ao ver a cena.
– Isso é perfeito – ela joga o cabelo por sobre o ombro. – Nossa incrível arma secreta tem medo de altura? – ela funga. – Estou muito decepcionada.
Layane é a única que o encara de um jeito gentil e ao mesmo tempo constrangido. Será que se arrepende de ter sugerido ele para nossa missão?
– Eu não tenho medo de altura, se é isso que estão pensando – Felipe funga e nos olha de cima.
– Ah, não? – Andressa ri. – Então pule!
Ele engole em seco e seu olho esquerdo apenas pisca de um jeito muito estranho.
Fico repentinamente apreensivo e vou para frente do helicóptero.
– Fêh, o que você tá fazendo? – Andressa questiona.
Eu apenas a ignoro e olho para Felipe.
– Pode pular – asseguro. – Não vai doer tanto quanto parece que vai.
Ele me fuzila com os olhos.
– E se doer?
– Não vai – eu pisco para ele. – Confia em mim.
Felipe me olha outra vez e finalmente toma coragem, pegando impulso. E então, de forma dramática ele pula. Acaba caindo em pé perfeitamente, mas se desequilibra um pouco para o lado.
Eu o seguro pelo braço antes que ele caia e nossos olhos se encontram.
– Finalmente – Andressa expira e bufa para nós dois. – Já pode largar – ela me olha e vejo que ainda estou segurando o braço de Felipe. Desvencilho-me dele enquanto ele ruboriza.
– Bom, agora que estamos todos em terra firme – Layane faz sua piada sem graça. – Tomem cuidado – ela nos avisa. – Essa Bruxa que vocês terão que lidar não é nem o terço do que Anna disse a vocês.
Eu franzo a testa para ela.
– O que quer dizer com isso?
– Estou dizendo que não vai ser nada fácil – ela começa a convergir para o helicóptero e se vira. – Ela não é só uma Bruxa com habilidades incríveis, ela é uma Bruxa incrível com habilidades incríveis para o mau.
E então com isso ela entra no helicóptero e parte, sumindo no céu azulado e brilhante daquela tarde.
Começamos a nos preparar.
– Ok, Vallywood fica para o sul, certo? – Andressa pergunta, exclusivamente a Edu.
– Tipo isso – ele cruza os braços. – Só temos que pensar em um jeito de chegar até lá, e antes do sol se por – ele me lança um olhar inquisitivo.
Eu apenas engulo em seco.
– Por que antes do pôr-do-sol? – Felipe questiona.
Fico rubro e Andressa faz uma careta.
– Por que não pergunta menos e fica quieto?
Ele a encara sem temer.
– Porque eu vim ajudar e não ser o pequeno saco de pancadas de vocês.
– Ah, jura? – Eduardo ri alto. – Não foi o que pareceu a alguns segundos atrás?
Enquanto eles falam e vão aumentando a discussão, reviro os olhos. E nesse exato momento, vejo uma pequena neblina cinzenta vinda de um buraco no meio do chão.
– Pessoal – chamo, retesando meu corpo na hora.
– Eu completamente não acredito que a Anna te ache digno de qualquer coisa – Andressa cospe. – Olha só pra você! Parece uma criança!
Felipe semicerra os olhos para ela.
– Crianças carregam espadas? – ele levanta uma barrada da calça e tira uma bainha enorme. – Acho que não.
Eduardo bufa. A neblina continua subindo, rodopiando acima do buraco no chão como um mini tornado.
– Pessoal – chamo de novo.
– Por que não se mostra mais um pouco útil e se joga do...
– PESSOAL!
– O que?! – eles guincham os três ao mesmo tempo para mim.
Aponto a neblina e eles seguem o meu olhar. Eduardo pula de susto e retira arma do bolso de trás. Andressa fica parada, mas vejo suas mãos paradas ao lado do corpo, preparada para qualquer coisa. Felipe, já com a bainha, a retira em um segundo, revelando uma afiada e ameaçadora espada de bronze.
– Que merda é essa? – Andressa questiona, olhando a neblina de forma cautelosa.
Eduardo dá de ombros e mira no meio da neblina.
– Não faço a menor ideia, mas seja o que for – ele destrava a arma. – Vai levar um tiro na cabeça.
– Não – Felipe diz repentinamente e eu o olho. Parece estar se concentrando em fazer algo.
De repente, ele pisca e olha para trás, o lado oposto de onde a neblina vem.
Sigo seu olhar e vejo uma mulher de cabelo castanho nos encarando de braços cruzados. A expressão em seu rosto é fria e ela nos olha meio com um desprezo.
– Caçadores – ela ri sem erguer um sorriso, de jeito pavoroso. – Nunca vi uns de perto.
Andressa e Edu, que não a tinham escutado, se viram abruptamente.
– Você! – Eduardo aponta arma. – Você é Denise Lawren.
Ela pisca para ele e de repente Eduardo esta no chão, a arma sendo atirada para bem longe. Andressa se coloca na frente dele, erguendo os punhos em modo de combate.
– Esse não é mais meu nome – ela murmura melancolicamente. – Não mais – e então, de um jeito mais firme: - Não nessa vida.
Seus olhos embranquecem e uma faísca saí de sua mão. Ela vem com uma rapidez, mas de repente é repelida por um Felipe ainda mais rápido.
– Olha só – Denise ri para ele. – Temos um espertinho entre nós.
De repente, Andressa, que ficou parada até agora, desaparece. E sei bem o que isso quer dizer. Denise simplesmente não se mostra surpresa e escuto ela murmurar algo inteligível.
– Ele não é o único espertinho – sua voz vem da direção de Denise e de repente ela aparece atrás dela, pegando-a pelo pescoço com um mata leão.
Vejo a Bruxa tentar resistir, mas Andressa aperta ainda mais o braço contra o seu pescoço.
– Cadê sua magia, hein? – ela ri. – Cadê sua maldita...
– Andressa cuidado! – Felipe se joga para frente.
Mas é tarde demais. Uma sombra escura se joga contra Andressa e ela é derrubada com facilidade. Quando tenta se levantar, Denise que enfim esta livre se torna outra sombra e se entrelaça em Andressa, mantendo ela no chão.
A sombra que antes se jogou contra Dessa toma a forma de Denise e ri de um jeito malévolo.
– Regra número um de uma Bruxa – ela ergue um dedo. – Sempre tenha uma apólice de seguro... Ou uma sombra, no caso.
Ela se vira para nós dois e sorri de orelha a orelha. Espero por seu ataque, mas pende a cabeça para o lado e encara Felipe de um jeito estranho.
– Como sabia que eu estava atrás de vocês?
Felipe não responde e corta o ar com a espada.
– Como você sabia que íamos pousar aqui? – ele retruca.
Ela sorri e ergue a mão. Preparo-me para mais algum truque de Bruxa, mas nada acontece. Olho para Felipe, mas ele não parece surpreso.
– Opa – ele começa a andar até ela. – Parece que os poderes de alguém estão falhando.
Denise solta um grunhido de frustração e começa a correr. Quando Felipe acelera o passo, penso que ele esta correndo atrás dela. Porém, ele para ao lado de Andressa e corta a sombra.
Ela some no ar e Andressa se levanta do chão.
– Valeu – ela arfa.
– De nada – Felipe sorri e descansa a espada no ombro.
Mas Andressa não responde e corre até Eduardo.
– Você esta bem? – ela pergunta, tocando seu rosto.
Ele abre os olhos e se senta no chão.
– Estou vivo – ele responde com um suspiro.
Giro para olhar Felipe e ele não esta olhando a cena. Esta olhando para mim. Estou prestes a perguntar o que foi, quando de repente meus joelhos travam e sinto minha pele toda formigar.
Caio trôpego no chão e antes de desmaiar consigo ver uma espécie de faca cravada em meu abdome, o sangue se espalhando por toda minha camiseta branca.
Escuto vozes chamando meu nome antes de cair na inconsciência.
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