Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP vol.2 escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 18
Mal Entendido




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Enquanto continuamos andando, olho de relance para o lado e Felipe também. Sem explicar bem porque, começamos a rir. Apoio minhas costas em uma arvore parada no meio do caminho e Felipe cruza os braços, respirando fortemente.

– Isso foi bizarro – ele ri.

– O que? Aquele cara? – eu aponto com o queixo para indicar o garoto de moletom verde. – Eu achei engraçado a expressão dele.

Felipe funga com o nariz.

– Acho que ele cheirava fortemente a café – ele comenta. – Mas o mais engraçado foi ele procurando o suposto namorado... Que podia estar com outro cara.

Tento rir com ele, mas sinto minha testa franzir.

– Isso não foi engraçado. Foi um pouco triste, eu acho.

Felipe revira os olhos.

– Não vem com essa – ele chia. – Acha mesmo que pessoas como ele realmente se importam com isso.

Meu sorriso some de vez.

Pessoas como ele? – eu repito. – Você quis dizer, gay?

O sorriso nervoso dele também se desfaz.

– Sim, essas pessoas – ele diz.

– Gays – corrijo.

Ele me encara de um jeito torto.

– Eu não sou preconceituoso – ele vai logo dizendo. – Só não gosto de ficar rotulando, tá legal? É como se eu colocasse algum adesivo na sua cabeça com os dizeres LOIRO e aí todo mundo começaria a te chamar de loiro.

– Mas eu sou loiro – protesto. – E eles são gays – dou de ombros. – Não vejo diferença.

Felipe respira fundo e agita as mãos na frente do rosto, gesticulando que não quer mais tocar no assunto.

– Sabe, acho que também não gosto de rótulos – comento. – Parece até mesmo um palavrão.

Felipe acena com a cabeça e dá dois passos que o deixam na minha frente. Mas então, acho que pisa em algo e isso quase faz com que seu corpo caia com tudo no chão.

Ele me observa apenas encarando e eu começo a rir. Ele revira os olhos e se coloca em pé sozinho, limpando as próprias roupas.

– Nada engraçado, Matos – ele cospe no chão.

Continuo rindo enquanto vejo um pouco de folha na frente de seu cabelo. Ergo a mão para tirar e toco em sua testa sem querer.

Olho para seu rosto e ele olha para o meu, confuso.

– O que foi? – ele sussurra.

Engulo em seco e abaixo minha mão para o seu rosto.

– Você tá me assustando.

E então eu faço. Aproximo meu rosto do dele e meus lábios roçam os seus. Sinto a pressão de meus lábios no seu por alguns segundos. Depois sinto o peso do soco na minha cara.

Não vou com tudo para trás, apenas cuspo o sangue da minha boca e arregalo os olhos de volta para Felipe. Ele esta com os olhos arregalados também – mas de raiva. Dá dois passos na minha direção, me segura por um ombro e dá outro soco. Com esse eu quase me desequilibro.

– Que merda você pensa que esta fazendo? – ele guincha. – Por que me beijou?

Eu faço uma careta com a dor e sinto o mundo ao meu redor. Estou sentindo dor. Mas não é o soco, sei muito bem disso. Encaro Felipe nos olhos.

– Você sabe bem porque – ofego.

– De que merda você esta falando, Matos?!

– Eu gosto de você! – guincho. – Você sabe bem disso, você sempre soube disso!

Os olhos dele saltam ainda mais para fora das órbitas e ele me olha de um jeito como se dissesse “inacreditável”.

– Como é? – ele arfa. – Você é gay?!

– Não! – solto na mesma hora. – Mas gosto de você, Felipe, não finja que não sabe.

– Fingir o que? Eu não sabia que você era gay!

– Eu não sou gay!

Seus olhos escurecem e ele olha de minha boca ferida até seu punho.

– Ah, não? – seu tom tem um sarcasmo cruel. Ele não quer fazer piadas, mas esta fazendo do mesmo jeito. – E o que estava tentando fazer agora mesmo? Tirar uma carie do meu dente?

Meu peito arde com o tom de suas palavras.

– Mas e... – eu gaguejo. – Ontem você me disse que já sabia de tudo. Que sabia que eu gostava de você.

Ele balança a cabeça, mas uma claridade passa pelos seus olhos.

– Eu não estava falando de mim! – ele guincha. – Estava falando da Andressa!

Franzo a testa.

– Andressa?

– Eu pensei que você gostasse dela! – ele grita. – Achei que estivesse puto comigo por ter tentado beija-la na beira da piscina.

Engulo em seco.

– E eu estava puto com você – minha voz é seca; Felipe encara com o queixo erguido.

– E pelo visto pelas razões diferentes – ele balança a cabeça. – Como é que... Como é que eu não percebi isso antes?

Meu coração se aperta. Ele não sabia de mim. Ele nunca soube em nenhum momento meus sentimentos. Ele interpretou tudo errado... Assim como eu interpretei tudo errado.

– Achei que esse tempo todo – ele continua. – Você tinha se aproximado de mim pra me derrubar, pra me tirar do caminho e ficar com a Andressa.

– O que te fez pensar isso?

– Vocês dormiram na mesma cama na nossa primeira noite na pousada – ele aponta, mas eu balanço a cabeça.

– Não dormimos – eu digo. – Eu virei um animal e tive que dormir no chão.

Ele pisca, perplexo e agora acredito mais nele. Porém, algo ainda passa pela minha cabeça.

– Mas e todas aquelas vezes em que você me fez dormir na sua cama – eu digo. – Ontem mesmo...

– Por que você era um animal! – ele guincha. – Por Deus, achei que você ficava inconsciente quando se transformava em um animal!

– Eu não fico! – retruco. – Fiquei acordado o tempo inteiro! Todas as vezes em que você me tocava, todas as vezes em que me abraçava!

Ele balança a cabeça, retorcendo o rosto com uma expressão de nojo e sinto uma pontada no peito novamente.

– Isso nunca foi o que você pensou!

– Mas eu acordei pelado do seu lado!

– E daí! – ele guincha. – Eu não dou tanta importância pra essas coisas! Eu disse pra você que eu não me importava! Achei que você também não se importava, mas agora que eu sei que você é...

– Eu não sou!

– Claro que é – ele suspira. – Ou se não é, então deve estar muito confuso pra querer me beijar! Mas eu não me importo!

Penso em suas palavras e ele deve estar certo. Eu devo estar confuso. Devo estar vendo as coisas de um jeito totalmente diferente. Não posso ser o que estou pensando.

Posso?

– Eu não acredito nisso – ele sussurra e olha para mim. – Te achei o máximo desde a primeira vez que te vi. Até mesmo brinquei comigo mesmo de que queria me tornar igual a você, mas agora...

– Está com medo de virar um gay?

Ele me olha friamente.

– Então você admite que é gay? – ele sussurra.

Fico pálido e ele bufa, girando o corpo para começar a andar.

– Felipe, espera! – começo a ir atrás dele. – Sinto muito, sinto muito mesmo... Eu interpretei mal, foi tudo um mal entendido.

– Sim, e foi mesmo! – ele se vira de repente e me fuzila com os olhos. – Foi muita estupidez sua achar que eu iria me tornar gay pra ficar com você!

As palavras dele cortam profundo dessa vez com o olhar que ele lança para mim e sinto meus pés pararem de andar. Ele continua andando e resmungando, mas para quando vê que não o estou seguindo.

Quando ele olha para o meu rosto o seu também embranquece e sinto escuridão da floresta me tocar na mesma hora.

Com o coração partido, me torno um lobo na sua frente.


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