Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP vol.2 escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 16
Problemas No Monte




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Quando acordo, minha cabeça esta bem pousada em um travesseiro e tem um rosto deitado próximo ao meu. Encaro confuso enquanto as lembranças enchem minha mente e seguro uma respiração entrecortada.

Felipe sabe que eu gosto dele, e me colocou para deitar ao seu lado mesmo assim. Olho seu rosto adormecido e me lembro de quando dormimos no Motel e ele me colocou ao seu lado do mesmo jeito. Na manhã seguinte aquele jeito, eu pensava que ele não gostava de mim. Agora, não tenho certeza.

Ele esta sem a camiseta e usa apenas a bermuda de ontem. Olho para o seu dorso perto do meu corpo nu e engulo em seco, não conseguindo controlar meu membro lá embaixo. Por que ele fez isso? Se sabe que eu gosto dele dessa forma, por que fez isso?

Perguntei a ele na noite passada se ele gostava de Andressa e ele disse que gostava sim. Ele até mesmo tentou beija-la na piscina, isso é um fato! Mas então, por que deixou que eu me deitasse ao seu lado de novo?

Uma vozinha na minha consciência grita que ele gosta de Andressa, mas outra um pouco mais baixa também diz que ele pode gostar dela sim... Mas que também pode sentir algo por mim também.

Começo a tremer com esse pensamento e tenho medo que ele acorde, uma vez que nossas pernas estão se tocando. Olho de novo para o seu rosto e seus lábios estão curvados em um sorriso.

Ele... Ele esta acordado?

Não sei bem porque, mas ergo minha mão para tocar seu rosto. Acordado ou não, sua mão também se levanta e ele aperta a minha contra o seu rosto. Meu coração salta com isso e fico aliviado quando a mão dele cai de novo. Ele só esta dormindo.

Afasto minha mão e olho seus lábios. Quão assustador seria numa escala de 1 a 20 se eu o beijasse agora mesmo? Ele retribuiria, mesmo sonhando? E se ele acordasse e me batesse? E se ele acordasse... E não me batesse?

A confusão se espalha em minha mente e fico confuso sobre o que fazer. Ele respira fundo em seu sonho e isso me dá forças para fazer algo.

Lentamente afasto minhas pernas das dele e desço da cama. O movimento o acorda na hora e ele abre os olhos e os gira pra mim.

Fico congelado na frente dele; nu; enquanto ele me encara atentamente. E então ele sorri levemente e dá uma risadinha aguda.

– Bom dia flor do dia – ele brinca com uma voz de quem acabou de acordar. – Tá tudo bem com você? Parece até que viu um fantasma.

O ar volta para os meus pulmões e eu me movo para pegar minhas roupas.

– Não, eu... – me interrompo. – É que... Eu... Só, não. Não, não vi.

Felipe começa a bocejar e me encara. Coloco minhas roupas quando ele termina.

– Tem algo de errado? – ele pisca para acordar. – Eu te assustei ou algo do tipo?

Gostaria de dizer que ele me assustou, mas não no sentido que ele pensa.

– Não, não foi nada disso – eu cruzo os braços e me recosto na parede. – É só que...

– Só que... – ele incentiva e se senta na cama. Os lençóis descem e vejo o volume cheio em seu short. Desvio o olhar rapidamente. – O que foi agora, Fernando?

– Você sabe onde eu dormi? – questiono.

Ele franze a testa confuso, mas assenti normalmente.

– Sim.

– Onde?

– Na cama – ele fala devagar. – Do meu lado.

Fico parado olhando para ele, gritando com meus olhos.

– E você não tem problema com isso?

Ele dá de ombros e desce da cama. Pega um dos travesseiros e joga na minha cara.

– Só se tiver pra você – ele murmura.

Quando tiro o travesseiro da frente, ele já esta entrando no banheiro e fechando a porta. Encaro o chão enquanto fico processando o que ele disse.

– Não – sussurro. – Não tem problema nenhum pra mim.

* * *

Encontramos Dessa e Edu no balcão do bar. Dessa vez o barman é ruivo e um pouco mais feio. Olho para a cara de Andressa e me pergunto o que Eduardo teve que fazer para espantar o que ficava antes dele.

– Então, gente – Felipe se espreguiça no balcão e levanta dois dedos em formato V. – Grande dia hoje!

Andressa mal olha para ele e a expressão de Eduardo é seca.

– Eba? – ele dá de ombros. – Escuta, hoje é a nossa ultima chance de derrotar aquela Bruxa. Eu não quero saber dessas suas palhaçadas pelo resto do final da tarde, esta me ouvindo?

Felipe engole em seco, se sentindo como uma criança novamente. Encontra meu olhar e pisca de lado. Minha pulsação fica nervosa.

– Já temos algum plano de base? – eu limpo a garganta. – Alguma manobra de ataque?

Andressa assenti.

– Vamos entrar pelo estacionamento da escola que Eduardo falou ontem – ela diz. – Por um azar, os alunos ainda vão ter aula essa semana, então temos que ser discretos e entrar pelo estacionamento dos fundos.

– E quanto a Denise? Já temos algum plano de ataque contra aquela vadia?

– Denise é muito volátil, mas também é muito esperta – Eduardo começa a dizer. – Um ataque planejado daria tão errado quando um ataque não planejado. E ela ainda consegue lidar com todos nós separadamente. Sempre consegue derrubar todos nós no mesmo instante.

– Nem todos – Andressa se apressa em dizer.

Engulo em seco e olho de lado para Felipe. Ele nos olha de volta de maneira expressiva.

– Felipe – digo e o olho intensamente. – Tem algo que queira nos contar?

Ele franze o cenho e não devolve meu olhar.

– Se tem algo? – ele balança a cabeça. – Acho que não?

– Mesmo? – o tom de Andressa é ríspido. – Nem mesmo sobre sua habilidade conveniente de ser imune aos poderes de uma Bruxa?

Tanto eu como Felipe olhamos para ela, surpresos.

– Pois é, queridinho – ela sorri maliciosamente. – Eu estou de olho em você há algum tempo, também. Desde que Anna disse que você tem uma habilidade conveniente para a nossa missão eu fiquei me perguntando. Qual seria essa grandiosa habilidade? E então eu descobri. Você é imune a qualquer feitiço ou Bruxaria. É por isso que ela vive correndo de você quando nos enfrenta. Quando Fernando me disse que você tinha passado pela barreira, eu saquei na hora. Você é imune a Bruxaria. E é por isso que essa sua espada consegue repelir tudo o que ela faz.

– Não – ele balança a cabeça, os olhos cheios. – É verdade sim que sou imune aos feitiços dela e que sou capaz de quebrar um feitiço – ele confessa, mas seu tom fica firme. – Mas minha espada não tem nada a ver com isso. Valquíria é banhada em bronze e é por isso que nenhum feitiço penetra a lamina. O bronze é mortal para as Bruxas.

Olho para Felipe, ainda surpreso com sua inteligência e surpreso por ele ter dado um nome a sua espada. Deve ser coisa de espadachins.

– E por que não nos disse nada disso antes? – Eduardo questiona.

Felipe ergue um pouco o queixo para ele.

– Não achei necessário contar.

Andressa solta uma falsa risada e bate palmas falsas; isso assusta Felipe um pouco e sei que ele esta com receio de levar outro tapa.

– Não achou necessário? – ela sibila. – A Vadia tenta nos matar mais de duas vezes e ainda nos separa com algum feitiço que chega até a borda da cidade e você ainda não acha necessário nos contar?

Felipe inala pelas narinas e vejo Eduardo e Andressa se juntando para começarem a bater nele. Porém, dessa vez não posso deixar que chegue nisso.

– Pessoal, pessoal – eu os interrompo. – É exatamente isso o que ela quer, nos separar. Se fizermos isso sozinhos, ela vai ficar com vantagem. Não podemos a deixar conseguir o que quer hoje!

Andressa revira os olhos, mas Eduardo esfrega o rosto. Felipe me olha e sorri educadamente para mim, gesticulando um “obrigado” com os lábios. Meu sorriso de resposta é estonteante.

– Você esta certo – Edu se coloca para frente. – Então, agora que sabemos que um de nós é imune, eu recomendo que usemos Felipe como isca.

Meu rosto esfria e me viro para encarar.

– Eu não quis dizer isso!

– Mas é a escolha mais sensata – Eduardo franze a testa. – Ele é imune.

– Mas isso não quer dizer que não possa ser morto – sibilo. – Não podemos atirar ele simplesmente pra isso.

– Ninguém esta atirando ninguém pra nada, Fê – Lipe diz atrás de mim. Avalio sua expressão e sei que é familiar; já a vi em várias de minhas missões e não gosto delas.

– Não – eu bato no balcão de granito. – Você não vai se sacrificar.

– Tem razão – ele sorri ironicamente. – Eu não vou me sacrificar. Eu vou chegar bem perto daquela vadia até que dê tempo pra vocês mata-la.

– Nesse tempo você pode acabar morto – digo.

– De qualquer forma ela não vai conseguir o que quer – ele rebate. – Eu não vou deixar ela escapar dessa vez, acredite em mim.

Suspiro e minha visão embaça um pouco. Não vou chorar, digo a mim mesmo. Pisco um pouco e vejo que Andressa esta me olhando de maneira compreensiva. Ela sabe, agora vejo isso em seu olhar.

– Nós também não vamos deixar que ela o mate – Dessa diz, sem fuzilar os olhos para ele nem uma vez. – Ela não vai conseguir nada além da própria morte essa noite.

* * *

Eduardo estaciona o jipe do lado de fora da escola e olhamos o grande portão que separa o estacionamento dos fundos da rua. Andressa é a primeira a pular, as pernas graciosas passando sem dificuldade pela rede elétrica. Eduardo a segue escalando um pouco e pegando impulso para pular por cima da rede.

Sou o próximo e estou prestes a me jogar de um jeito felino quando uma mão toca meu braço. Olho para o lado e Felipe esta me encarando.

– Obrigado por mais cedo – ele sussurra. – Ninguém nunca me defendeu como você fez.

Eu sorrio e afago seu braço com a outra mão, ficamos de frente um para o outro.

– Não foi nada – eu digo. – Você é um membro do Pack agora. Estamos juntos nessa.

Os olhos dele brilham com minhas palavras e seus lábios se separam na minha frente. Olho para eles e fico me lembrando de não querer beija-lo enquanto ele dorme. Mas agora ele esta aqui, acordado e sóbrio na minha frente.

Abro meus lábios também.

– Vocês vêm ainda hoje? – Andressa chama do outro lado.

Largo o braço de Felipe e ele deixa minha mão cair no ar. Viro-me para o portão e sinto minhas pernas pegarem um impulso animal.

Caio do outro lado com um pé, depois com o outro.

– Metido – Andressa murmura.

Ergo a cabeça para olhar Felipe pulando. Ele caí de joelhos e quando se levanta fica um pouco desequilibrado. Como daquela vez, saindo do helicóptero de Layane, eu o agarro.

Ele me olha com familiaridade e nos viramos para os outros.

– Tudo bem, pessoal – Edu respira fundo e encara a todos nós. – Denise é uma Bruxa incrivelmente poderosa. E é poderosa demais para ser má. Inclusive hoje. Não podemos deixar que ela saia viva dessa, me entenderam?

Todos balançamos a cabeça e seguimos Eduardo pelo estacionamento até uma trilha nos fundos dele. Vai nos levar direto para o alto do monte.

Porém, quando começamos a entrar nela, seguindo os passos de Eduardo, um vento sibila e de repente eu não encontro nada na minha frente.

Olho para Felipe atrás de mim seus olhos também estão arregalados. Nos encaramos por um bom tempo até que eu pergunte algo, mas uma risada crépida e caquética soa por toda a montanha e eu começo a tremer.

– Não vai ser tão fácil assim, Caçadores!


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