Motivos para as ruas

Por: Mindstel

Já havia se cansado a tanto tempo das perguntas que os fizera seguidas e seguidas vezes, tentando achar as respostas que seu pai parecia querer esconder, ao invés de lhe dar a resposta em simples palavras a escondiam como a senha de um cofre na mansão, as sete chaves.

Lembrava-se de perguntar certa vez o significado de uma palavra difícil enquanto enrolava-se em cobertores pobres nas calçadas frias que tanto se identificavam com as gotas grotescas da chuva, geladas ainda mais quando vinham junto ao granizo, perguntas sobre significados era aquilo que o seu pai mais ignorava.

Que dor isso me dá. Concluía em seus pensamentos, os pés descalços sentiam a friagem a torturar cada um dos seus minúsculos dedinhos. Que dor isso me dá.

Em alguns cantos pedia comida, migalhas de arroz, dando tudo por apenas uma refeição que pudesse ser repartida por dois, apenas ela e seu pai seriam os consumidores no fim das contas.

Os olhinhos arderam quando perceberam a ignorância do mais velho qual havia pedido o alimento e lágrimas lhe escaparam pelo rosto, os pensamentos era algo que não queria reproduzir no momento, e pela frieza e escuridão foi-se embora novamente, procurando pelo pai no quarteirão vizinho.

Naquela tarde ambos passaram sem comer, não era a primeira vez e a garota aproveitou o silêncio para perguntar o motivo de ter nascido nas ruas, o pai a olhou com um sorriso triste e a pergunta parecia ressoar em cada canto da sua cabeça.

“Eu não estudei, mas eu te quis quando te vi abandonada em uma caixa de papelão nas ruas, decidi juntar-me a você pequena, apesar tudo”.

Estudo e abandono eram duas palavras que a pequenina não reconhecia, mas ela sentiu algo impossível em suas condições, queria descobrir o significado e queria realizar o seu estudo, queria sair das ruas, queria saber como é ficar entre uma casa quente e confortável.

Ela sentiu vontade pelo estudo.