Tenho que confessar que estou
 um pouco perdido no meio de toda essa história .
O fato que uma mera humana poder me ver e me tocar realmente me perturbou.
Nunca estive tão próximos deles assim
Minha vida era simplesmente a de um anjo da guarda .
O anjo da guarda dela ...
De Elizabeth .

Observei-a crescer , falar as primeiras palavras , dar os primeiros passos ... Estive com ela até seus 12 anos de idade quando sua mãe morreu .
Recebi ordens de me afastar.
Claro que nunca concordei com isso , querendo ou não Elizabeth ainda era uma criança . Uma criança que sofreu muito até agora .
Mas não pude fazer nada , estou aqui apenas para obedecer .

Larguei o meu “cargo” de anjo da guarda e passei a ser apenas um anjo .

Até que finalmente havia recebido novas ordens
A de levar embora o Senhor Carlton .
Aquele nome não era estranho , mas eu realmente não queria acreditar que fosse o pai de Elizabeth .
Até que a reencontrei .
Depois de tanto tempo, quando eu a observei da janela da sala de aula percebi o quanto estava mudada , Havia crescido ... Mas o semblante sério e triste que sempre carregou dês da infância continuava o mesmo .

Naquele dia quando senti ela me olhando , sabia que ela não via o “nada” como todos os outros , mas sim que ela via um anjo , no caso ... Eu .
Mas eu tinha que tirar isso a prova .
Fui até o cemitério .
Me senti perdido quando soube que ela tinha esse tipo de “poder” sobre mim.
E logo minhas ordens mudaram .
Eu devia dar um jeito nisso .
Ela poderia representar um perigo para nós .
Para ser mais exato ...
Fui mandado para matá-la .
Alguém que ouve , vê e sente anjos não pode ficar aqui ...

 Anjos não tem sentimentos a não ser a compaixão pelo próximo.
Mas quando soube que devia tirar a vida da pessoa que cuidei por tanto tempo comecei a sentir algo dentro de mim me incomodando e isso até o presente minuto não passou . Pelo contrário continua aumentando .

Elizabeth queria me fazer seu amigo ... Era difícil explicar a ela que isso não vai e nem pode acontecer .
Comecei a ver isso depois da morte do seu pai .
Ela estava cansada de ficar sozinha .
E precisava de alguém .
E esse alguém era eu .

Eu não podia de fato recusar isso a ela .
Quer dizer eu podia ... Mas não conseguia .

Estávamos em sua casa
Ela estava sentada com um caderno na mão e rabiscava algo
E eu observava o movimento da rua .

Mas me distrai quando vi o porta retrato em uma cômoda , havia uma foto dela quando tinha 5 anos .

Elizabeth sempre foi uma criança encantadora ...
Olhei agora para ela ...

Respirei fundo ...

Ela continuava encantadora .

Deus ...Olha no que eu estou pensando !
Fui mandado para matá-la e não para falar de como ela era ...

Travei uma batalha dentro da minha mente .
Até que parei quando vi Elizabeth me encarando.

- Algum problema Castiel? – Ela me perguntou preocupada
- Não nenhum ... – respondi
- Não entendo porque é tão sério . -
Ela me surpreendeu com aquela frase , então sem saber o que dizer simplesmente fiquei quieto .
- Também não sei porque é tão calado . Qual o problema em conversar comigo Castiel ?

O que ela estava fazendo afinal ?
E sei que não deveria me sentir assim mais eu me sentia encurralado diante de suas perguntas .

- O que está fazendo ? – perguntei a primeira coisa que me veio em mente .
- Nada ...
A encarei , estava mentindo .

Ela suspirou .
- Um desenho ...
- Um desenho ? – Perguntei e me aproximei dela
Com um reflexo rápido ela puxou o caderno para si me impedindo de ver .

- Posso ver ? – Perguntei
Ela ficou vermelha
- Não está muito bom .
- Não foi que eu te perguntei.
Elizabeth sempre desenhou perfeitamente .

Um pouco relutante ela me entregou o caderno.

E me surpreendi ...Ela havia me desenhado.

Ela provavelmente se incomodou com meu silencio.
Com certeza esperava que eu dissesse alguma coisa, desviou o olhar  e falou:

- Desculpe... É que eu não tinha idéia mesmo sobre o que desenhar.

- Está ótimo... – Disse e ela me encarou
- Sério? Não ficou bravo?
- Sim e não...

Ela sorriu.
Toda vez que Elizabeth sorria algo estranho acontecia dentro de mim e eu não fazia a menor idéia do que era .
A única coisa que eu posso afirmar é que não consigo me enganar eu gostava de sentir aquilo .
Elizabeth soltou o caderno ...Se ajeitou na cama e deitou.
Abraçou um travesseiro e começou a encarar algum ponto qualquer do quarto .

Sentei-me ao seu lado .
Elizabeth tinha pequenos vestígios de lágrimas nos olhos.

- Castiel ... Sabe o que falta para tudo ficar completo ?
Eu a encarei . Não sabia ao certo sobre o que ela falava .
- Eu morrer – Ela deu um sorriso fraco da sua ironia

E um nó se formou em minha garganta . 

A lágrima que passeava pela sua Iris verde deslizou pelo seu rosto .

Sem pensar muito puxei-a para mim e a deitei em meu colo acariciando seu cabelos .
Como costumava fazer quando ela era pequena e estava triste .
A grande diferença entre aquela época e o agora , é que ela nunca soube que eu estava lá com ela .
E que eu não sentia esse frio no estomago como o que estou sentido agora .

- Isso não vai acontecer Elizabeth –  Falei
- Como sabe ? – Ela perguntou me olhando nos olhos .
- Eu não vou deixar .

Pronto , estava tudo acabado ... Havia acabado de assinar minha sentença contra o céu , e eu nem mesmo sabia porque disse aquilo. Era como se outra pessoa tivesse tomado conta do meu corpo e estivesse se passando por mim . Mas eu não podia voltar atrás ... Estava falando de Elizabeth .
Mas por favor ... Peço que não me perguntem porque estou a protegendo tanto ... Prometo que quando descobrir eu conto a vocês !

Alguns minutos depois ela havia adormecido .
De vagar acomodei-a sobre o travesseiro e me levantei.
Me observei pelo espelho .
Com certeza estava louco de vez .

- Talvez uma loucura que vale a pena Castiel . -
Pelo espelho vi o reflexo de Anna .

Ela era um anjo que resolveu trocar tudo para ser igual a todos os outros humanos .
Agora havia conseguido sua graça de volta e vivia fugindo ... Todos a queriam morta !
Menos eu ...

Talvez fosse o único anjo no qual ela confiasse ...

- O que faz aqui ? – perguntei
- Senti falta de conversar com alguém – Ela respondeu indo em direção a Elizabeth que permanecia dormindo .
- Ela cresceu ...
- Sim ... – respondi indiferente
- Virou uma linda mulher ... – Ela terminou a frase

Estava tentando absorver o que Anna queria dizer sobre “Virou uma linda mulher”

Acho que ela leu meus pensamentos ...

- Castiel , ela deixou de ser uma garotinha a muito tempo ... Você está demorando para ver isso ...
- O que dizer ? – Perguntei
- Quero dizer que Elizabeth não é a mesma , não tem mais cinco anos e você não zela por suas noites de sono .

Fiquei em silencio .
Anna estava certa .

Novamente olhei para Elizabeth .
- O que vai fazer ? – Anna perguntou
- Sobre o que ?
- Pretende matá-la ?
- Talvez isso não seja da sua conta , você deixou de parte ao assuntos do nosso pai a muito tempo – respondi grosseiramente
- Felizmente já estou acostumada com você Castiel . Mas esqueça por um momento as ordens de nosso pai ... E você ? Quer mesmo fazer isso ?

Fiquei em silencio ...
Eu não podia ...
Ou melhor , eu não queria ...
- Ouça seu coração Castiel ...
- ....-
- Você tem um ... É só acreditar nele .

Terminando de dizer Anna sumiu .   

Minutos depois apareceu Uriel .

- Castiel sabe o que tem que fazer ...
Não respondi .
- Tem dois dias ...


Precisava pensar ...

Deixei Elizabeth e fui para a colina mais alta da cidade ...
Onde o crepúsculo começava ...

Apenas fiquei lá pensando sobre o Anna havia dito .
Sobre a minha promessa a Elizabeth .
E sobre a minha desobediência ...

Eu podia acabar com aquilo ... Matar Elizabeth e tudo voltava como antes .
Mas eu não estaria feliz em fazer tal coisa, me sinto mal só de pensar ...
Mas também podia desobedecer ...
E viver como Anna... E um dia ser encontrado e castigado...
Pelo menos Elizabeth estaria bem... Afinal...
Eu havia chegado à conclusão de que o que aconteceria comigo não era nada ao que aconteceria com  a ela...

Talvez se eu simplesmente contasse a verdade ?
Dizer que eu não queria fazer isso ... Que não há motivos para Elizabeth morrer ...

Ilusão ...
Quando você é mandado fazer uma coisa ...
Ela tem que ser feita ... Custe o que custar ...

Eu sei que não deveria me importar com ela ...

Pensei muito a respeito de tudo ...
E agora havia tomado a minha decisão .
Eu iria fugir dali ... Com toda certeza estou indo contra meus princípios mais eu tinha que fazer ...
Eu a esqueceria de uma forma ou de outra não queria ser o responsável ...
Eu não queria ver o sangue de Elizabeth derramado em minhas mãos .