Desejo escrita por Clyra


Capítulo 1
Desejo - Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oooooooi *-* Mais uma fic chegando abalando Bangu :v Espero que gostem, hihi :3



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Desejo

Capítulo Único

Por Clyra

Há um lugar onde a magia é tão comum que seus habitantes sequer sabem o que é magia. É engraçado e irônico quando se compara tudo ao nosso mundo. Os humanos preferiram desacreditar nesse lugar assim que lhes contaram que ele existe. Graças a ess mundo aconteceram os seguintes fatos que eu vou lhes contar, por favor, tenha calma e preste a devida atenção.

O Sr. Noel, e toda sua boa vontade de alegrar a vida de todas as crianças do mundo em uma noite, trabalhava com a ajuda de seus fieis duendes todos os dias incansavelmente até a meia-noite de vinte e quatro de dezembro. O mundo já estava acostumado com aquela boa-ação e as crianças eram boazinhas porque sabiam que seriam recompensadas. Os pais teimavam em dizer para seus filhos que eles mesmos os presenteara, mas suas consciências sabiam da verdade.

Em uma casa especial um casal só tinha uma filha, por mais que tentassem e quisessem já não era mais possível vir outra criança por complicações no ventre da senhora que ali habitava. A menininha, com toda habilidade de uma criança de três anos, comportou-se durante o ano todo para que seu pedido fosse atendido. Ela escreveu a carta, com ajuda do pai, solicitando ao Papai Noel que ele trouxesse seu irmão para que ele pudesse ser seu eterno companheiro, dividindo tudo, e adicionou a observação de que ele não precisava ser de sangue, apenas alguém que seus pais amassem como amavam a ela. A garotinha se chamava Sakura Haruno e por ser tão nova não sabia a intensidade que seu presente traria ao outro mundo.

No mundo mágico tinha uma família chamada Uchiha que era o clã mais tradicional de todos os clãs duendes. Eles eram os únicos que tinham licença para ir ver o natal no trenó do Sr. Noel, mas não podiam atravessar a camada que dividia o nosso mundo daquele lugar, se qualquer duende fizesse isso desapareceria e sabe-se lá onde iria parar. Então todo dia vinte e quatro eles vestiam roupas brancas e sentavam-se em seus bancos ansiosos para a partida.

E enfim tudo estava pronto, as crianças já dormiam em seus respectivos lares e o barulho dos sinos do trenó podia ser ouvido se alguém quisesse prestar atenção. As renas eram novas e não estavam muito acostumadas a aquele tipo de voo. Grande foi a surpresa do Sr. Noel quando ele sobrevoava Manitoba e todos os animais deram um pinote derrubando os duendes, os presentes e ele mesmo. Seus ajudantes sumiram ao entrarem em contato com a camada de passagem e ele sentiu seu bumbum doer quando caiu na calçada de concreto. Grande foi sua surpresa ao ver que um garotinho dormia tranquilamente sobre a pilha de presentes. No casaco que o menino vestia uma etiqueta dourada dava as coordenadas de onde ele deveria se entregue.

Com todo o cuidado do mundo o bom velhinho o pegou em seus braços e seguiu para o endereço. Realmente não tinha como ir pela a chaminé seguindo a tradição, mas por ser um presente tão diferente o Sr. Noel teve certeza que a garotinha Sakura não se importaria. Como se as renas soubesse, e acreditem, há rumores que elas sabiam, o Papai Noel fora derrubado bem na rua em que os Haruno moravam. E então mais um aviso do destino apareceu: a janela da sala, onde ficava a árvore de natal, estava escancarada. Com muita dificuldade, o senhor conseguiu entrar e quando estava prestes a deixar Sasuke sobre o sofá ouviu o sussurro infantil vindo da escada.

— Ele existe...

Quando se virou o Papai Noel viu pela primeira vez aqueles grandes olhos parecidos com duas maçãs-verdes, o cabelo rosado da menininha estava bagunçado devido ao mexe e remexe da insônia causada pela ansiedade, seus bracinhos esticaram-se para tocar a barba do velhinho que se aproximou dela encantado com sua beleza.

— Presente! Presente! — O Sr. Noel soltou o seu “ho ho ho” com grande empolgação ao ver a pequena passar correndo por ele e ir até o sofá. — Meu irmão... — Seus dedinhos passearam pelo rosto do garoto o fazendo abrir os olhos. Aquilo era mágica, duas almas finalmente se encontraram para nunca mais se separarem.

Querido leitor, não existe força maior do que o amor. Acredite nisso.

O menino olhou a sua volta e não encontrou rosto conhecido exceto o do Papai Noel, mas aquele não passava o conforto que ele tanto procurava.

— Minha mãe... — O homem mais velho olhou lá para fora. Ele não conseguiria entregar todos os presentes se continuasse ali.

— Ouça pequeno, essa é sua família agora. — Os olhinhos negros encaravam a garotinha sem prestar muita atenção nas palavras do mais velho — Eu não posso ficar aqui, mas você está em boas mãos. Se não estivesse, você nunca seria o presente. Estou indo, mas volto no próximo natal. Sejam bons meninos. — Com um rápido carinho na cabeça dos dois, um suspiro e um sorriso reconfortante ele se despediu e saiu pela janela.

Talvez você pense que o Papai Noel é um pouco insensível, mas ele não é. Seus companheiros Uchiha fariam falta, mas as crianças do mundo precisavam continuar ganhando seus presentes e incidentes como esse aconteciam a todo instante no mundo dele para que tudo de repente parasse, por isso o Natal prosseguiu.

No dia seguinte à chegada do pequeno Sasuke, o senhor e a senhora Haruno acordaram e desceram as escadas encontrando Sakura e o garoto comendo biscoitos, que sobraram do dia anterior, sentados no sofá. Quando pediram uma pequena explicação, Sakura apenas disse que o Papai Noel o trouxe e o Uchiha os entregou a etiqueta dourada.

Eles o amaram como um filho e o protegeram como tal. O Sr. Haruno, que Sasuke descobriu se chamar Kizashi, mas que insistiu em ser chamado de papai, o levava para jogar bola, soltar pipa e tudo o que garotos faziam, mas o menino parecia sempre se fechar e preferir a companhia da irmã. A Sra. Haruno o alimentava, contava histórias e preparava chocolate quente nas noites frias, Sasuke tinha um carinho especial por ela.

Então assim as duas crianças seguiram ganhando coisas do mesmo valor, aprendendo as mesmas lições, comendo as mesmas refeições, brincando juntos, mas algo incomodava o íntimo do pequeno ex-duende.

Quando chegava o natal e a casa dos Haruno era a única em que as crianças estavam de pé a meia-noite, só Sakura recebia o seu presente desejado. O motivo? Sasuke ainda tinha sangue de duende e assim não estava dentro do regulamento de desejos da fábrica do Papai Noel.

Sakura ainda era pequena demais para entender aquela “injustiça”, mas assim que ela completou seus sete anos percebeu que o irmão era bonzinho o ano todo e merecia ganhar um presente tão bom quanto o seu. Assim ela passou a juntar seu próprio dinheiro e comprar para ele o melhor que conseguia, mas mesmo com essa iniciativa da irmã, aquilo ainda parecia remoer Sasuke internamente.

Como sempre prometia, o Papai Noel voltava no ano seguinte. E com o seu retorno também chegava os anos de idade das crianças que já não eram tão crianças assim. Para Sakura, o velhinho já não parecia tão interessante assim. Para Sasuke, ele era o cara que o privava de desejos que podiam ser magníficos.

Com a idade os dois passaram a se afastar um pouco. Sakura se interessava pela cozinha, por lendas, pelos livros, pela medicina, por tudo a sua volta. Sasuke se interessava por ele mesmo, por seu passado e de onde vinha, mas os livros de duendes não ajudavam muito em sua pesquisa, para ele aquele conteúdo era utópico demais. Ele acreditava que se pedisse ao senhor Noel, ele o ajudaria ou até mesmo o levaria para uma jornada. A verdade é que o garoto desconhecia as regras e por isso pensava que tudo era fácil de ser resolvido.

As caminhadas que as crianças Haruno cotidianamente faziam juntos, agora eram tão raras que quando as faziam os dois pareciam colegas de escola depois das férias. Sakura gostava de saber que seu irmão se interessava em conversar mais com ela do que qualquer menina e, na maioria das vezes, se pegava comparando ele com todos os garotos de sua rotina. Não tinha muita coisa para falar, Sasuke era diferente de uma maneira tão boa que nenhum cara no mundo poderia ser páreo para ele. Pelo menos em seus pensamentos era assim e isso lhe dava o benefício da confusão.

E então dezembro chegou pela décima terceira vez desde a chegada de Sasuke. Sakura continuava sendo uma boa garota, Sasuke continuava sendo um bom duende. Ela desejava e conseguia, ele desejava desejar. Os dois voltavam da casa de um amigo da escola quando perceberam que as ruas já estavam iluminadas graças às luzes dos postes e a decoração de natal. A garota abraçava a cintura do irmão como sempre fazia e ele a mantinha embaixo de seu casaco para aquecê-la. Ambos usavam tocas e luvas, mas quando juntos sempre pareciam precisar do calor um do outro. Tudo ocorria normalmente como qualquer noite de inverno para os dois, até que Sakura avistou um visgo enfeitando o galho da árvore em frente à casa dos Hyuuga, seus vizinhos, e ela não perderia a chance de ensinar a Sasuke o que tinha aprendido com suas amigas.

— Sasuke...

— Hm?

— Você sabe o que dizem sobre os visgos? — Ele olhou para cima encontrando a planta e voltou a encarar a irmã tontamente.

— Não.

— Quer saber?

— Hm. — Aquilo era o suficiente para ela contar.

— Quando um casal passa por debaixo dele é obrigado a se beijar para celebrar a ressurreição de um deus que eu esqueci o nome...

— Se você esqueceu o nome ele não é importante.

— Ah, mas também é uma tradição de natal. Você não vai querer quebrar uma tradição dessa data não é?

— O que tenho que fazer?

— Eu já disse... — Sakura ficou nas pontas dos pés e olhou firmemente dentro dos olhos negros do irmão — Me beijar.

Sasuke tratou aquilo com displicência e delicadeza. Era só um beijo, mas era o primeiro beijo de sua melhor amiga e irmã. Um de seus dedos contornou a boca dela enquanto sua outra mão segurava firmemente a nuca arrepiando os pelos da garota. Ele já tinha feito isso antes, ela estava excitada com a novidade. A cabeça de Sakura pendeu levemente para o lado. Houve um encontro de narizes e um toque de dentes, mas nada tirou a magia do momento. Ela tinha a certeza para sua dúvida, Sasuke tinha dúvidas para sua certeza. Os dois estavam perdidos em seus sentimentos. O rapaz separou-se gentilmente e a olhou nos olhos, os verdes pareciam mais intensos e convidativos. Ele pigarreou baixo e afastou-se com as bochechas coradas.

— Vamos para casa... — Sakura balançou a cabeça e voltou a andar ao lado dele, agora evitando contatos físicos. Poucas palavras relevantes foram trocadas entre os dois até meia-noite. Com as doze badaladas do relógio antigo que ficava na sala de estar, chegou também a determinação do futuro de Sasuke.

O Papai Noel já não entrava pela chaminé como fazia nas outras casas, a residência dos Haruno sempre tinha portas abertas, os pais sentados no sofá e as duas crianças sentadas na escada esperando por ele. O velhinho sempre trazia o presente de Sakura, mas grande foi a surpresa dos outros três — menos da menina — quando ele chegou de mãos vazias.

— Não me olhem assim, eu também me surpreendi quando recebi o pedido de Sakura. Falando nisso, mocinha, você tem certeza de sua escolha? — Sasuke encarava a irmã querendo saber o que os dois falavam, mas ela apenas sorria e acenava positivamente com a cabeça sem olhar para ele.

— Na verdade, quando Sasuke chegou, eu pedi na carta que nós dois fossemos iguais, dividíssemos tudo, mas não foi exatamente isso que aconteceu. Então, somente uma vez, eu quero que ela tenha seu desejo de natal realizado.

— Sendo assim — o bom senhor olhou para o rapaz — o que você deseja, meu jovem?

A incerteza ainda assombrava cada partícula do corpo de Sasuke. Ficar ali significaria ainda ter alguém que confiava e que lhe ensinava coisas boas ao seu lado, mas ir significaria ter todas as suas dúvidas respondidas. Com a impulsividade infantil que ainda tinha, Sasuke escolheu o que lhe parecia mais obstinado:

— Quero saber o meu passado, de onde venho, o que faria se Sakura não tivesse me tirado do meu mundo... — Os olhos azuis do senhor Noel arregalaram-se, Sakura sentiu o peso do mundo nos ombros, os senhores Haruno não sabiam exatamente o que aquilo significava e Sasuke parecia certo de sua escolha, mesmo que dentro de si um furacão de sentimentos tomasse conta de tudo e desregulasse qualquer pensamento.

— Sasuke... Se você quer mesmo isso deve saber que não poderá voltar. Você se tornará duende de novo e duendes não podem habitar a Terra. — Um nó formou-se em sua garganta, mas ele concordou. — Então é melhor se despedir, acabei de ganhar mais um trabalho para essa noite. Vou te esperar lá fora.

Os pais foram os primeiros a se despedir. Um excesso de lágrimas, que na opinião de Sasuke era desnecessário, foi derramado pela mãe, enquanto o pai o orientava a seguir sua vida de maneira justa. Sakura continuava diminuta na escada encarando seus dedos. Ele a beijou e a abandonou em um só dia e aquilo a confundia mais do que todas as questões de física da escola.

Sasuke andou até a irmã quando, finalmente, se livrou do abraço da mãe. Sua mão se embrenhou no cabelo rosado e ela o encarou. O brilho verde-esperança sumiu dando lugar a um verde-chá opaco. Ele queria descobrir o que o verde-musgo que rodeava a retina da garota significava, mas temia ser desapontamento e por isso o ignorou.

— Sakura... Obrigado. — Uma batida no coração da menina falhou, ela o abraçou com força como se quisesse que ele não partisse.

— Fique... Por favor... Eu prometo que todos os nossos dias serão divertidos. Prometo te ajudar no que você quiser. Prometo deixar você desejar no próximo natal... Mas não vá. Por favor. — Sasuke sentiu cada pedaço de si desmoronar, mas ele já tinha desejado e não tinha como desistir agora. — Se você ir eu vou me sentir tão sozinha... — O rosto oval da garota coube perfeitamente entre suas mãos, ela fechou os olhos enquanto implorava em sussurros entrecortados para ele ficar.

— Seja feliz — Ele beijou suas pálpebras fechadas e caminhou em direção à porta, ouviu o choro das duas Haruno, sentiu os olhos do pai queimar em suas costas e então girou a maçaneta.

O Papai Noel o esperava, mas tudo não parecia tão mágico como antes. As luzes já não brilhavam tanto. Ele deixou que o senhor o cobrisse com um pó e sentiu um formigamento estranho em suas orelhas. Elas estavam pontudas.

— Isso é normal, afinal, você é um duende. Venha, criança, preciso terminar as entregas. — Sasuke olhou para trás e viu Sakura ser amparada pelos braços protetores dos pais — Ela melhorará, meninas sabem se curar de corações partidos. — Os olhos negros o fitaram exasperadamente — Ah, o beijo embaixo do visgo... Uma tradição de natal e todas elas passam por mim.

O trenó sumiu pela madrugada. Sasuke finalmente realizaria seu desejo, mas já não se sentia tão confortável.

Sakura passou meses sendo a boa garota, mas já sem a animação de antes, apenas por obrigação. Pensava em o que desejar ou escrever para ter seu irmão de volta. Sentiu-se volúvel, desleixada, amargurada, vazia. Sentiu-se horrível. Sentiu-se como uma suicida. Quem é que entrega a escolha de ir para alguém que quer que fique?

Mas, claro. Os propósitos dos desejos e do destino não são os nossos propósitos, cabe a nós deixa-los traçar seus próprios caminhos e seguir a correnteza.

Sasuke e Sakura deviam ficar juntos e foi isso que aconteceu.

“Querido Papai Noel,

Sou Sakura Haruno e sei que se lembra de mim. Não quero desejar mais nada, mas quero uma correção. Há exatamente um ano que o senhor realizou meu desejo concedendo que meu irmão realizasse algo que queria e ele o fez. Acontece que ao leva-lo quebrou o meu primeiro desejo. Eu disse que queria um irmão para ser meu companheiro e que dividisse absolutamente tudo comigo, então, consequentemente, o desejo dele também era o meu como todos os outros desejos durante esses treze anos. Pergunto-me: por qual motivo ainda estamos separados? Afinal, a jornada era pra ser nossa como companheiros, não dele como duende solitário.

Termino por aqui, espero que entenda minha carta e corrija isso o mais rápido possível.

Até breve, eu espero.

Sakura Haruno”


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Notas finais do capítulo

Eu gostei de fazer algumas coisas paralelas com o mangá, vocês perceberam a ligação?
Espero que tenham gostado, vejo vocês no review *-*



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