Luke narrando

Suspirei ao vê-la entrar no elevador. Eu poderia ter ido atrás dela, mas antes tinha que resolver alguns assuntos com o Samuel. Aquele cara me odiava desde quando nos conhecemos, já eu não tinha nada contra ele. Mas ainda assim ele adorava me fazer de idiota na frente das garotas que eu queria. Como também aconteceu com a Ashley e todas as outras. Droga. Melody devia estar me achando mesmo um babaca.

— Gostei dela - Samuel colocou a mão no queixo e olhou pra mim - é uma pena que você a tenha visto primeiro - caçoou. É claro que isso não faria nenhuma diferença pra ele se quisesse me infernizar.

— Cai fora Blaty, encontre uma garota pra você - minha voz não saiu intimidadora, estava pensando em algum convite para Melody.

— Relaxa cara - deu um soco no meu braço, minha cara de incrédulo o fez rir. Aquele gesto era para pessoas íntimas e eu não considerava ele nem conhecido - uma vez na vida você tem que perder, não é mesmo? - seu sorriso de deboche me fez trincar os dentes.

— Vai sonhando - deixei ele falando sozinho e fui para o meu andar.

Melody narrando

Todo mundo tinha o direito de me julgar. Entretanto quando entrei no elevador, o único andar em que consegui parar foi o dele. Eu nem dei chance a ele de se explicar. E fala sério, todos os seres vivos da Terra sabem que Luke Washington e Samuel Blaty se odeiam desde o nascimento, o acéfalo poderia ter dito qualquer coisa para tirar o meu amigo do sério. Amigo? Será que ainda podemos ser rotulados assim? E o Blaty não era nem um pouco confiável, não podia simplesmente fingir que o Luke não tinha feito tantas coisas boas por mim nesses dias. Querendo ou não, eu confiava nele.

A minha cabeça estava uma confusão. E se eu estiver cometendo um erro ao continuar com isso? Vou arranjar um problemão com a minha melhor amiga. Vale mesmo a pena? Eu precisava que ele soubesse de todas as minhas aflições, mas e se ele risse de mim por me sentir tão insegura? As pessoas não gostam de ficar com alguém inseguro, não é? Droga. Preciso desabafar com alguém e não pode ser a Angelina e muito menos o Luke. Não fiz mais nenhum amigo por aqui. Será que o Noan estava disposto a me ouvir? De manhã eu conversaria com ele, nem que fosse preciso ameaçá-lo, não que eu pense que isso seja necessário. Nem que eu tenha coragem suficiente pra fazer isso. Não consigo nem matar uma barata sozinha.

Balancei a cabeça afastando o turbilhão de pensamentos da minha cabeça e me concentrei nas batidas do meu coração que estavam em uma velocidade inacreditável ao imaginar o que estava acontecendo com os dois sozinhos naquela cobertura, mas eu não podia voltar pra lá. Isso só atrapalharia mais. Já que se a ideia do Samuel fosse me fazer afastar do Luke, por que não fingir que ele realmente tinha conseguido isso? Pelo menos por hora.

Fiquei esperando por quase uma eternidade até ver o elevador ser chamado. Aguardei ansiosamente até perceber que parou no andar. Só podia ser ele.  As portas do elevador se abriram e um sorriso surgiu no meu rosto. Luke encarava o chão um pouco desanimado. Caminhou no corredor lentamente e quando levantou o olhar pareceu surpreso ao me ver. Pudera, ele devia estar pensando que eu o odiava. Só estava receiosa sobre nós, mas não odiava ele, não tinha como odiá-lo.

Luke narrando

Fui andando com a cabeça abaixada pelo corredor e quando olhei para cima, quase não acreditei. Achei que estivesse delirando quando ela dirigiu algumas palavras a mim.

— Foi mal a ceninha - Melody sorriu - não vou com a cara do Blaty e fazê-lo acreditar que te acho um babaca te deixa um pouco em paz também. Sei que vocês não se bicam - ela parou pra respirar porque tinha falado muito rápido, então continuou - Aliás, o que ele está fazendo aqui?

Observei ela fitar a bota no pé por alguns segundos até eu conseguir  falar alguma coisa.

— Então você não está brava nem nada assim? - arqueei a sobrancelha esquerda, achando que ela estivesse brincando comigo.

— Pra ser sincera, eu não esperava muito de você - ela riu pelo nariz e abri a boca para questionar, entretanto ergueu o dedo indicador direito pedindo que eu não dissesse nada - mas não posso te julgar pelo o que os outros me falam, certo? Não sou dessas que fala sem ter certeza.

Eu tive vontade de agarrá-la ali mesmo, mas sabia que não podia. Samuel podia aparecer a qualquer momento, quem poderia me garantir que não tinha me seguido? Sorri de lado e assenti concordando. Ela era tão perfeita. Não podia perdê-la por causa do idiota do Blaty.

— Respondendo a sua pergunta - passei a mão no cabelo tirando alguns resquícios de neve - o pai do Samuel paga muito pra toda a comissão organizador, não duvido que ele tenha ameaçado cancelar alguns contratos só pro filho poder competir.

— Vindo do Sr. Blaty, nem eu duvido - ela riu sem humor - meu pai não gosta muito dele. Quase fomos cortados por causa de um desentendimento no último verão. Ele é realmente muito influenciador por aqui.

— Nem me diga - suspirei - e como não foram cortados? Ele teria feito isso se quisesse - eu estava curioso, apesar de querer muito explicar todo o meu passado pra ela.

— O dinheiro dele não foi suficiente - ela deu de ombros - a comissão queria uma revelação esse ano. Parece que estavam de olho em mim há algum tempo e dessa vez não deram ouvidos ao Blaty.

— Por que sinto que tem algo a mais nessa explicação? - dei um sorriso de lado. Ela riu.

— É porque tem, mas isso não vem ao caso - as bochechas dela ficaram coradas e aquilo me deixou intrigado.

— Fala - cruzei os braços no peito esperando um resposta. Melody suspirou e depois esboçou um sorriso.

— Eu teria que te matar senhor Washington, isso é segredo de Estado - sorriu e depois passou do meu lado caminhando até ao elevador, apertando o botão para chamá-lo logo em seguida - escuta, só vim dizer que não te odeio. Tudo bem? Te vejo amanhã?

Fiquei incrédulo com a sua atitude. Eu estava morrendo de curiosidade e a partir daquele momento, minha mente ficou imaginando um milhão de maneiras de convencer um magnata além de dinheiro, o que eu supus que não seria o caso, já que a Melody parecia ser uma garota comum.

— Não acredito que vai me deixar dormir pensando em como conseguiu vencer aquele cara. Sabe que penso em coisas muito inapropriadas e meu Deus - senti meu coração falhar uma batida - Você dormiu com ele?! - soltei assustado. Não que eu fosse julgá-la, porque o Blaty tinha 33 anos, não era nenhum velho gaga ou algo do tipo. Só não conseguia imaginar a morena fazendo alguma coisa assim.

Melody abriu a boca pra falar alguma coisa, mas depois fechou, parecia ponderar sobre me dar uma resposta. Será que era isso mesmo? O elevador abriu a porta e ela apontou pra ele.

— Preciso ir - piscou pra mim e mandou um beijo no ar.

— Até amanhã - sussurrei ainda um pouco chocado com a sua confissão. Aquilo tinha sido uma confissão, certo? Deus! Eu não sabia nada sobre a Melody Sherman.

Melody narrando

Minha barriga estava dolorida de tanto que eu ri da cara do Luke. Ele achava que eu tinha dormido com o magnata Blaty pra poder competir. E sua cara de choque foi tão impagável que não consegui desmentir. Ele não fazia isso comigo sobre ser ou não um galinha? Por que eu também não podia brincar um pouco com ele? Ah qual é! Uma mentira inofensiva e bem hilária. Eu ainda sou virgem.

Troquei de roupa e me peguei rindo ao lembrar dele. Será que ele contaria pra alguém? Seria engraçado. Quase todo mundo sabia o real motivo por eu ter conseguido competir. Então descobriria por outra pessoa e talvez até ficasse irritado comigo por algum tempo. Mas ainda assim era muito divertido.

Deitei na cama me sentindo muito cansada e tomei alguns analgésicos, sentindo a dor surgir. Não que ela tivesse sumido em algum momento, eu só estava ocupada demais para me preocupar com ela. Dormi pensando no beijo dele.

Acordei com o meu despertador ás oito horas da manhã. Eu me sentia como se não tivesse dormido praticamente nada, não que fosse acostumada a dormir bastante, mas só consegui cinco horas de sono e isso é bem triste. Me levantei com dificuldade e notei Rihana deitada em sua cama, não percebi quando ela chegou e nem que horas. Caminhei até o banheiro e aproveitei para tomar um banho quente e rápido.

Assim que me senti agasalhada o suficiente, decidi tomar o café da manhã. Percebi que a minha colega de quarto já estava de pé.

— Você me espera para tomar o café? Por favor - pediu manhosa e eu sorri.

— Claro - respondi me sentando para esperá-la.

Não demorou nem 10 minutos para ela sair do banheiro já vestida. Percebi pelos cabelos molhados que também tinha tomado um banho. Ela provavelmente tinha dormido menos do que eu. Seus olhos estavam vermelhos, parecia ter chorado.

— Vamos? - ela chamou com um meio sorriso nos lábios.

— Está tudo bem? - perguntei tocando seu ombro com a minha mão esquerda - olha, eu sei que não nos falamos muito, mas se quiser conversar com alguém. Estou cem por cento disponível - dei um sorriso e ela retribuiu.

— Problemas do coração - Rihana suspirou - podemos conversar durante o café da manhã - sugeriu. Eu assenti e nós caminhamos em silêncio até o corredor, esperamos a chegada do elevador. Acho que nenhuma de nós estava muito afim de conversar ainda. Quer dizer foi que eu pensei, mas Rihana cortou o silêncio.

— Eu sou completamente apaixonada pelo Noan desde os meus 15 anos e ele nem sequer olha pra mim - ela encarou o teto do elevador - ontem foi acompanhado na festa da garota que mais me odeia nesse mundo e ela fez questão de jogar na minha cara que eles ficaram.

— Sinto muito por isso - comentei. Sentindo muito de verdade por ela. Era horrível não ser correspondida.

— Essa nem é a pior parte - riu sem humor - ela contou pra ele que eu o amo. E sabe o que o idiota fez? A beijou na minha frente diante daquela revelação.

— Não acredito que o Noan fez isso, que dizer, ele é um cara tão legal - disse não acreditando naquilo.

— Nem eu - ela ficou quieta. Então eu resolvi compartilhar minhas aflições com ela, antes que chegássemos ao nosso destino.

— Bom - comecei - minha melhor amiga tem uma paixão platônica pelo Luke Washington e eu fiquei com ele ontem. Não sei como isso aconteceu e nem como ficamos próximos, mas não sei se posso continuar com isso. Quer dizer, nem tenho certeza se ele é um galinha. E se eu for só mais uma?

— Não quer ser só mais uma? Está procurando algo sério, tipo, com o Luke Washington? - ela tinha um tom brincalhão na pergunta - não que eu queira te julgar, nem nada. É que ele é o cara mais desejado, sabe?

— Exatamente. E não quero algo sério, só não quero que ele pense que sou mais uma qualquer, entende? Quero que goste de mim, pelo que sou - admiti e ela pareceu entender.

— Acredite. Ele já gosta de você e quanto a ele ser um galinha. Eu tenho minhas dúvidas sobre isso - o elevador abriu as portas e ela continuou - o Luke já foi assim, há muito tempo, não é mais.

— Obrigada - eu disse com um sorriso.

— Eu que agradeço - ela também sorriu.

Enquanto caminhávamos até o salão do café da manhã, contei a Rihana sobre o Luke pensar que eu tinha dormido com o Blaty e nós rimos muito sobre isso. Ela era muito legal. Quando avistamos o Luke, Rihana teve a brilhante ideia de sacanear mais um pouco com ele, é claro que eu topei.

Luke narrando

Eu mal consegui dormir a noite toda imaginando a Melody e aquele cara juntos. Será que ela era tão pra frente assim? Isso eliminava tudo o que pensei sobre ela.

Levantei e ao invés de tomar um banho quente, liguei na água fria e afastei os meus pensamentos. Olhei no relógio que marcava oito horas da manhã passadas e resolvi descer pra tomar café da manhã. Deveria estar parecendo um zumbi, mas poderia dormir um pouco a tarde. Meu estômago estava roncando.

Assim que cheguei no enorme salão, dei de cara com a Melody e ela estava acompanhada de sua colega de quarto, a Rihana, que não parecia muito bem, as duas estavam caladas e não pareceram notar a minha presença e eu dei graças a Deus pois não sabia como agir com a morena depois de sua revelação. Caminhei até o buffet e comecei a encher meu prato de frutas.

— Que saudável - Rihana comentou parando logo atrás de mim, congelei - que cara é essa Washington? Parece que viu um fantasma. Eu sei que minha cara não está das melhores, mas não precisa esculachar.

— Pensei que fosse outra pessoa - dei um sorriso de lado - me desculpe. O que aconteceu com você?

— Amor não correspondido. É uma droga, sabia? - ela respirou fundo - viu só? Estou prestes a desabar de novo.

— Não faça isso - Melody apareceu logo atrás dela, evitei contato visual - não dê à ele esse gosto.

— Ela está certa. Seja lá quem for o cara, não deve mostrar que está mal por causa dele - pisquei para Rihana e ela sorriu:

 - Vocês são de mais. Obrigada, de verdade.

— Sabe que pode contar comigo - a morena deu um sorriso e passou a mão nas costas da colega. Foi ai que eu olhei pra ela de verdade, enquanto a mesma caminhava até uma mesa.

Melody estava com um moletom azul, uma calça jeans clara e um vans cinza claro no pé. Um rabo de cavalo prendia seu cabelo. Suas bochechas estavam levemente rosadas provavelmente por causa do frio e seus lábios vermelhos, ela tinha passado um batom. Senti uma vontade inexplicável de cumprimentá-la com um selinho. De mostrar pra todo mundo que eu estava começando a ficar louco por ela. Mas alguns flashes da noite passada vieram a minha mente e me lembrei porque não fiz isso.

— Tudo bem aí, Luke? - Rihana riu me observando enquanto a Melody acenava pra gente de uma mesa. Chamando-nos pra sentar com ela.

— Essa garota ainda vai me matar - sussurrei, entretanto a garota do meu lado parece ter me escutado, pois deu uma breve risada.

— Só se for de tesão, meu amigo - ela piscou e começou a caminhar até a mesa. Fiquei processando suas palavras. Balancei a cabeça. Só poderia ser coincidência.

— Nem me cumprimentou - Melody deu um sorriso de lado - espero que isso não tenha nada a ver sobre a nossa última conversa.

— Talvez - admiti me sentando ao lado dela - ainda estou um pouco chocado. Quer dizer, não é essa imagem que tenho de você e dormir pensando nisso, não foi nada legal.

Melody começou a rir descontroladamente com a Rihana, foi aí que eu me toquei, ela estava tirando onda com a minha cara. Não era verdade. Só estava brincando comigo. Respirei aliviado e depois comecei a rir com elas. Como tinha sido enganado assim?

— Não acredito que você acreditou nisso - ela limpava as lágrimas que escorriam de seus olhos - e me sinto até ofendida se quer saber - ainda ria um pouco enquanto eu depositava um beijo na testa dela.

— Você é uma boa atriz - dei de ombros e a morena sorriu, parecia concordar - o que? Você é atriz?

— Faço parte do clube de teatro há 9 anos - ela franziu o cenho - isso sim acabou com a minha reputação.

— Não mesmo - eu disse convicto. Parecia que tinham tirado um peso das minhas costas - e qual foi a do tesão, Rihana?

— Tudo armação - ela me respondeu rindo pelo nariz - você devia ter visto a sua cara, foi impagável! - as duas começaram novamente a rir e eu revirei os olhos.

— Não acredito que fui enganado por vocês duas - apontei pra elas, que recuaram com o meu gesto - vai ter volta, ladies.

— Estaremos no aguarde - Rihana piscou e depois levantou-se - vou deixar os pombinhos a sós por 5 minutos, comportem-se.

— Pode deixar - dissemos juntos, seguido de risadas.

— Talvez queira me cumprimentar decentemente - Melody sorriu de lado.

— Com toda certeza - selei meus lábios nos dela brevemente e sorrimos um para o outro.

Passamos a manhã toda juntos de Rihana, que precisava de companhia e não era nem um esforço fazê-lo, ela era muito divertida. Rimos muito e acabamos por caminhar um pouco na montanha. Quer dizer, eu e a Rihana, porque a Melody precisava de descanso então só ficou nos observando de longe. Eu até tentei prestar atenção no que a minha companheira de caminhada dizia, mas ficava difícil com uma beldade como aquela sentada me encarando um sorriso nos lábios. Não sei quando, mas eu estava começando a gostar de Melody Sherman e isso era um problemão, como iria fazer quando acabasse o campeonato?