Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 30
Venha ver o pôr do sol


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas cheguei, capítulo novo saindo quentinho do forno, assim como os pães do Peeta ;)



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Já faz quase uma hora e meia que estamos no carro. Minha barriga começa a protestar. A hora do almoço já passou há séculos. Estou começando a acreditar que Peeta e Madge resolveram me sequestrar. Eu nem sei aonde estou indo! Peeta e Madge ainda vão me pagar.

Pela milésima vez, bufo. Peeta continua em silêncio.

Olho para a estrada. A cidade já ficou atrás há muito tempo. Sério, aonde estamos indo? De repente, a ideia de ser sequestrada não me parece tão fora da caixinha assim.

— Peeta...

— Então, você resolveu acabar com a guerra do silêncio? Melhor assim, já estava ficando entediado.

Resmungo algo, tentando conter minha raiva.

— Você queria o que? Você e minha melhor amiga me negociaram! E os meus sentimentos como ficam?

Ele solta uma risada baixinha.

— Aonde estamos indo?

— Você vai ver, estamos quase chegando...

Com enfado, cruzo meus braços.

— E não se preocupe, lá tem comida... — diz, com um sorrisinho presunçoso.

Não respondo. Porém, deixo bem claro que estar em sua companhia não é meu programa favorito.

— Já chegamos? — pergunto depois de dez minutos. Realmente estou morrendo de fome.

— Quase...

— Se eu soubesse que a viagem seria tão longa, teria feito um lanchinho — exteriorizo meu pensamento sem me dar conta.

Peeta ri.

— Estamos quase chegando...

— É melhor mesmo! — digo, enfadada.

Dez minutos mais tarde, e nada. Esse louro oxigenado além de me sequestrar, ainda me deixa sem almoço! Alguém não tem noção do perigo. Isso é imperdoável, podem até me sequestrarem, mas não me deixem sem comida.

— Quando vamos chegar? — falo, irritada.

— Estamos quase chegando.

— Você já disse isso um monte de vezes!

— Não seja impaciente... eu não sabia que queria tanto esse encontro comigo... — diz maliciosamente.

— Você... argh!

Resmungo uma chuva de palavrões adquiridos diretamente do vocabulário de Johanna. É, conviver com minha chefe diariamente não está me fazendo muito bem.

Peeta continua a dirigir calmamente. Já disse que isto está me deixando irritada?

— Chegamos — anuncia, parando o carro perto de um portão enorme no meio do nada.

Há um imenso muro coberto por hera. Não faço a mínima ideia de onde estamos. Perfeito, definitivamente fui sequestrada.

Alguém abre o portão para o carro passar. No entanto, eu não consigo ver a pessoa.

— Que lugar é esse?

— Um hotel — responde sem maiores explicações.

— Você pode ser menos vago — digo, enquanto estudo o local e minhas possibilidades de fuga.

Espera, o que nós estamos fazendo em um hotel? Ah, louro oxigenado, você está sentindo falta de meus socos, é?

— Você irá gostar daqui — afirma Peeta. — É um lugar... interessante.

— É claro — contesto ironicamente.

Eu nunca vi um hotel assim, concluo. O lugar é bem no meio do nada. Sério, não há absolutamente nada aqui, além de árvores e grama verde. Ok, o lugar é lindo, tenho que admitir...

Peeta ainda conduz o carro por mais uns quinze minutos, por um caminho de terra e pedra. E nós não encontramos ninguém pelo caminho, ou melhor, nenhum sinal de vida. Nada. Absolutamente nada. Parece até que os finais dos tempos chegaram e só restou eu e Peeta... Argh, ideia horripilante! Porque final do tempo, significa repovoar a humanidade e... só existiria eu e Peeta, Peeta e eu... para repovoar a humanidade, nós teríamos que... Meu Deus, o que há de errado comigo? No que estou pensando? Fracamente, isso foi longe demais, até mesmo para minha pessoa.

Finalmente, avisto sinal de algum tipo de vida... ou pelo menos, algo que remeta a existência de algum tipo de vida. Uma pequena casa. Bem pequena mesmo, até parece uma cabana daquelas dos filmes em que alguém se perde no mato e encontra um refúgio no meio do nada. Mas essa aqui é uma cabana bem diferente. As paredes são branquinhas, até parece que pintaram o local ontem, e tem um ar requintado.

— Chegamos — informa Peeta, parando o carro em frente à cabana.

— Onde você me trouxe? — pergunto, descendo do carro.

Peeta dá os ombros e começa a andar em direção à cabana.

— Venha! — abre a porta da cabana.

— Francamente, Peeta! Por que você tinha que me trazer para um lugar como esse? — resmungo.

— Para nosso encontro não ser interrompido... Não se preocupe, eu não sou nenhum lobo mau — contesta, enquanto segura a maçaneta da porta.

— Não sei, não... para mim, você parece ser um lobo mau.

Ele sorri.

— Você não estava com fome? Aqui dentro tem comida — fala, após ver minha relutância, em entrar na cabana.

Eu iria protestar, mas meu estômago responde por mim.

Entro na cabana, que é linda e confortável por dentro. Não há muitos móveis: uma imensa cama (pelo jeito aqueles são lençóis de seda egípcia...), um armário, uma lareira, duas poltronas aconchegantes de tecido vermelho. Há também um frigobar, uma mesa pequena em um canto, com algumas cadeiras e só. Noto uma porta, aquele deve ser o banheiro.

Em cima da mesa há um delicioso almoço, daqueles com direto a entrada e tudo mais. Parece que não estamos tão sozinhos afinal.

— Você não queria comer? — Peeta puxa uma das cadeiras e indica para que eu me sente.

Ignoro a indicação de Peeta e me sento em outra cadeira.

— Tudo bem... — sorri, divertido.

Começo a comer em silêncio o almoço. Meus olhos e meu olfato não me enganaram, tudo realmente está uma delícia.

Peeta também come em silêncio, lançando alguns olhares furtivos a mim. Ignoro todos.

— Satisfeita? — pergunta, quando eu começo a devorar o petit gateu.

— Estaria melhor, se você não tivesse me sequestrado.

— Isso não é um sequestro, Katniss.

— Ah, não? Então por que estamos nesse lugar? Nem meu celular pega direito aqui.

— Eu queria um encontro com você... E tenho certeza que você negaria meu pedido se eu pedisse.

Bufo.

— Armar um complô com a Madge é bem mais fácil, não? — falo ironicamente.

— Katniss — ele suspira. — Não é assim... entenda, eu apenas quero passar um tempo com você, será que isso custa muito?

Me levanto da mesa.

— O que você quer? — ando pela cabana examinando cada detalhe.

— Apenas... passar um tempo com você, eu já disse. Não há nada demais nisso.

— Certo — resmungo, me atirando em cima da cama.

Esses lençóis devem ser bem caros.

Fecho meus olhos.

— Não fique assim, Katniss...

Nada respondo, apenas dou as costas para ele. Ainda estou bastante zangada com o fato de ter sido obrigada a ter um encontro com Peeta e nesse local, no meio do nada.

Depois de alguns minutos, enquanto me mantenho imóvel na cama, ouço os passos de Peeta. Eles se aproximam lentamente de mim. Ouço, quando ele se deita ao meu lado.

— Não fique zangada comigo... — pede. — Eu só quero conversar...

Peeta querendo conversar? Essa é boa.

Me viro para ele, após alguns segundos de luta interna. Encontro seus olhos me observando. Estamos bastante próximos um do outro. Mais próximos do que eu certamente gostaria.

— Sobre o que você quer conversar?

Os olhos dele me analisam por um longo minuto. Não gosto de estar sobre a mira dele.

— Sobre... — seus olhos não se retiram da minha face. — Você tem alguma coisa para me perguntar?

Peeta realmente quer ter uma conversa comigo? Acho que os finais dos tempos chegaram. Tenho certeza.

— Várias... — contesto, após um longo segundo. — Você vai me responder?

Ele assente.

— Vou.

— Todas?

— Sim, todas.

Desvio meus olhos dele, e me deito de costas. Fico fitando o teto. Há tantas perguntas que queria que Peeta me respondesse. Tantas.

— Por que você nunca me disse que tinha uma noiva? — indago, sem desviar meus olhos do teto.

Depois de um momento de completo silêncio, ouço um suspiro de Peeta.

— Eu sabia que essa seria uma de suas perguntas.

— E você vai me responder?

Outro suspiro de Peeta.

— Eu vou. Eu prometi que iria responder a suas perguntas.

— Então? — insisto.

— Porque eu tinha medo de te perder... Eu sabia que quando revelasse sobre Delly, tudo entre nós estaria acabado. Eu nunca quis isso. Eu sei que fui muito imaturo naquela época. Mas, poxa, eu só era um adolescente de 18 anos. Você, talvez, nunca compreenderia a relação que existia entre mim e Delly... E eu temia isso.

Me viro para Peeta e olho em seus olhos. Seus profundos olhos azuis, capazes de penetrar até a alma.

— Eu e Delly tínhamos uma vida complicada. Nossas famílias estabeleceram que iriamos nos casar, praticamente, desde que éramos apenas bebês. Eu e Delly crescemos juntos, os adultos tinham fortes esperanças de que iriamos começarmos, se não uma relação de amor, pelo menos um relacionamento cordial. Nós não gostávamos disso, ter nossas vidas determinadas por outras pessoas, nunca sendo de fato o que gostaríamos de ser. Eu e Delly nos compreendíamos, passamos várias ocasiões planejando como importunar os adultos — sorri. — Quando Delly tinha dezesseis anos, ela se apaixonou por um cara... Ele não era um cara tão legal assim... Os adultos descobriram e ficaram furiosos. Mas estavam crentes que era só uma paixão adolescente e iria acabar... eles estavam bastante certos nesse ponto... realmente acabou, deixando Delly completamente devastada. Ela teve um período meio negro em sua vida. Eu já não reconhecia mais Delly, minha amiga de infância parecia não habitar mais aquele corpo.

Peeta para de narrar e me olha. Eu não desvio meus olhos dele. Se aproxima de mim, nossos corpos estão tão perto que logo vão se tocar.

— Era férias de verão... Estávamos na Itália. Os adultos estavam se empenhando ao máximo em colocar Delly no caminho certo novamente... Um dia, eu e Delly fomos a uma festa. Estávamos bem bêbados... transamos. No dia seguinte, Delly descobriu que sair do meu quarto, pela manhã, tinha facilitado muito a sua vida. A minha vida também foi facilitada de certa forma. Resolvemos que o melhor seria aceitar nosso noivado. Todos ficavam contentes, e eu e Delly ganhávamos nossa liberdade...

— E a parte de vocês terem um relacionamento aberto? — indago, encarando Peeta.

— Nós... de certa maneira, gostamos de ir para a cama juntos na primeira vez. Iriamos ficar juntos de qualquer maneira, não?

Desvio meu olhar de Peeta.

— Delly tinha os encontros dela e eu tinha os meus.

— Sua prima Cashmere, sua amiga Emma...

— E tantas outras... Não me olhe assim, Katniss!

— Eu não...

— Não tenha ciúmes do meu passado — diz de uma maneira divertida.

— É claro que eu não tenho ciúmes de seu passado — rebato, indignada. — Como eu poderia ter ciúmes do seu passado?

— Era apenas sexo — seu tom não é mais divertido, repentinamente adquiriu certa seriedade. — Nada mais do que sexo...

A mão de Peeta pousa em minha bochecha.

— O que eu signifiquei para você, Peeta? — indago baixinho, sinto meu estômago se contorcendo ao esperar pela resposta. Tenho medo.

— Você... significou e significa... para mim...

Seu polegar acaricia meus lábios. Seu olhar me devora. Nunca pensei que um olhar pudesse devorar alguém. Mas o olhar de Peeta prova que isso é possível.

Hipnotizada por seu olhar, não percebo quando ele se aproxima o suficiente para pousar seus lábios nos meus.

É o primeiro encontro de nossos lábios, após seis longos anos. Porém, nossos lábios se reconhecem imediatamente.

Os lábios Peeta brincam com os meus. Suavemente afastam os meus lábios, e sua língua penetra em minha boca, me dissolvendo toda.

O beijo é mistura entre agressividade, necessidade, ternura e delicadeza. Uma mistura estranha, não? Mas, eu e Peeta somos mesmos complicados demais.

Seus braços me trazem para ele. Peeta me aperta fortemente. Solto um gemido involuntário, quando sua mão sobe um pouco minha blusa e toca na pele nua de minha cintura. Minha pele começa a ferver.

Minhas mãos também passeiam pelo corpo de Peeta. Elas reconhecem cada centímetro de seu corpo.

Seus lábios liberam os meus, eles se arrastam em uma trilha de beijo por meu queixo, meu pescoço. Seus lábios sugam a minha pele, provocando arrepios em mim.

— Katniss — sussurra em meu ouvido com uma voz perigosamente sexy.

Sua mão acaricia minha coxa, de um modo lento e intenso. Coloco minha perna sobre seu quadril, quase que automaticamente.

Ele volta a beijar meus lábios. Meu corpo sente tantas sensações que é impossível pensar. Droga, estou perdida. Muito perdida.

Peeta me vira sobre a cama. Coloca seu corpo sobre mim. Nossos corpos estão praticamente colados. Não dá para saber onde começa Katniss, onde termina Peeta.

Meu corpo quer muito mais e mais. Está invadido por uma fome insaciável. Uma fome que parece não ser aplacada tão cedo. Uma fome que só aumenta a cada toque, a cada carícia, a cada beijo.

As mãos de Peeta percorrem meu corpo. Elas são bastante hábeis e ágeis. E meu corpo reage a cada mínimo toque.

Minha blusa começa a ser subida pelas mãos de Peeta. Seus lábios, nesse instante, sugam os meus com volúpia.

A sensação é de estar sendo derretida como o açúcar em um copo de café.

Isso está indo longe demais... muito longe. Preciso parar, grita meus últimos vestígios de juízo, porque eu sei aonde isso irá parar e eu também sei como termina.

Coloco minhas mãos em seus ombros e o afasto.

— Peeta.

Seus intensos olhos azuis pousam nos meus.

— Melhor... pararmos com isso... — noto que estou completamente sem fôlego, mal consigo pronunciar as palavras.

Ele me analisa por um instante. Depois, acaricia ternamente meu rosto. Seus lábios aproximam-se de minha testa e deixam um delicado beijo nesse local.

— Certo... — ele sai de cima de mim e cai na cama, com a mão em sua testa.

Me levanto da cama, tentando ajeitar minhas roupas que estão bem amassadas. Ainda continuo sem fôlego.

Vou até o banheiro.

Sinto cada centímetro de meu corpo formigar. Meus lábios estão vermelhos e inchados, constato ao olhar no espelho.

— Peeta — murmuro.

Como ele pode me deixar assim? Como? Após seis anos meu corpo ainda raciona da mesma maneira ao corpo dele. Isso é... insano... por que sou assim? Eu já provei disso antes e olha só no que deu!

Jogo um pouco de água em meu rosto.

— Isso é uma grande loucura — sussurro.

Fico um bom tempo no banheiro, tentando me recuperar do que acabei de fazer. Tentando voltar ao juízo. Era por isso que eu não queria beijar Peeta novamente. Ele é uma droga para mim, depois que eu provo... eu não consigo parar. Isso é tão difícil de admitir. No entanto, bem lá fundo, no recanto mais obscuro do meu ser, eu sempre soube dessa verdade.

Quando saio do banheiro, não encontro Peeta deitado na cama, ele não está aqui. Deve ter ido dar uma caminhada.

Resolvo explorar um pouco os arredores. O local é realmente belo. Próximo a cabana há até um lago. Me sento na grama e fico observando o lago calmo, ou pelo menos, aparentemente calmo. Ninguém sabe o que se esconde sob a superfície de algo calmo e tranquilo, como esse lago.

As palavras de Peeta se repetem infinitamente em minha mente, assim como sensação do seu beijo, do toque de suas mãos que resiste em desaparecer de meu corpo.

— Louro oxigenado, você está passando dos limites... não, eu estou ultrapassando os limites...

Por que ele tinha que me falar aquelas coisas? Estou em uma grande enrascada, isso sim.

Perco a noção do tempo. Quando noto o sol já está se pondo.

— Esse pôr do sol é incrível — Peeta se senta na grama, perto de mim.

Quando foi que ele chegou aqui?

— Nós nunca assistimos a um pôr do sol juntos — lamenta. — Eu sempre quis te convidar para ver o pôr do sol...

Olho para ele com minha sobrancelha arqueada. Por que ele está falando disso?

— Minha cor predileta é laranja igual ao pôr do sol — diz, sem tirar os olhos do horizonte.

Olho para céu, que nesse momento está tingido de um laranja suave. Uma bela cor.

— Eu nunca soube qual é a sua cor predileta, Katniss... Há tantas coisas que eu gostaria de ter perguntando a você... tantas... — seu tom é triste.

— Verde.

— O quê? ­— indaga, voltando seu rosto para mim.

— Minha cor predileta é verde — respondo sem desviar os olhos do céu.

Peeta sorri.

Nós permanecemos em silêncio até o sol desaparecer completamente no horizonte.

— Obrigado por assistir ao pôr do sol comigo — agradece com um terno sorriso no rosto.

Dou os ombros.

— Peeta... — falo, após um longo momento em silêncio. — Hoje você está sendo... menos Peeta Mellark.

Ele ri.

— Por quê?

— Não sei... — respondo, sentindo o vento frio acariciar meu rosto.

— E isso é bom?

— Só é... diferente.

Novamente o silêncio cai sobre nós. No entanto, não é um silêncio daqueles constrangedor que precisam ser preenchidos com palavras. Não, é daqueles silêncios bons, que não precisam de palavras, porque elas seriam desnecessárias.

Ficamos assim por um bom tempo. Até que começo a tremer de frio. Peeta retira seu casaco e o coloca sobre os meus ombros.

— Vamos entrar, está frio aqui fora...

Me levanto da grama. Há muito tempo que a noite caiu sobre nós.

— Quando vamos voltar? — pergunto, enquanto caminhamos em direção a cabana.

— Nosso encontro ainda não terminou — responde vagamente, sinalizando que não irá me dar uma resposta concreta. Ele é mestre nas evasivas.

Bufo. Ele ri.

Quando chegamos a cabana um belo jantar nos espera.

— Como as pessoas entram aqui sem eu notar?

— Os empregados daqui são instruídos a ser os mais discretos possíveis. O conceito desse lugar é: “se sinta como se não existisse ninguém além de vocês” — explica.

— Tipo um lugar para escapadas românticas?

— Sim... tipo isso.

— E você precisava me trazer para esse lugar?

— Gosto do conceito.

Arqueio minha sobrancelha.

— Não me olhe assim, Katniss — sorri.

— Retiro o que eu disse sobre você estar sendo menos Peeta.

Começo a comer. O salmão está simplesmente divino. E os canapés de cogumelos estão espetaculares. Isso sem falar na sobremesa, uma torta de morango de massa folheada, recheada com pedacinhos de morango.

— Isso está muito bom! — exclamo, devorando os últimos pedaços da torta.

— Melhor do que minha comida? — indaga Peeta.

Definitivamente, o louro oxigenado não está tão diferente assim hoje.

— Isso realmente está incrível! — ignoro a pergunta dele.

Após o jantar, me sento em uma das confortáveis poltronas, Peeta segue meus movimentos e também se senta na outra poltrona.

— Então... vamos continuar...

Assinto.

— Você quer me perguntar algo mais?

— Você e Delly continuam com seu noivado? — pergunto de supetão.

Ele me olha e solta um suspiro antes de responder. Por um instante chego a acreditar que ele não irá responder a minha pergunta.

— Katniss... depois do que aconteceu em Londres... eu pensei em muitas coisas. Pensei em como eu estava magoando as pessoas... e a mim mesmo. E que eu não queria mais aquilo... Antes era uma espécie de rebelde sem causa. Sempre provocando as pessoas, sempre causando conflitos, sempre tentando impor minha vontade... Foi isso afinal, que fez meu pai me enviar para sua casa. Um incêndio que eu provoquei em uma festa com meus amigos foi a gota da água que faltava.

— Você era realmente um rebelde, Peeta.

Ele sorri para mim.

— Era... eu queria desafiar minha família, mostrar que eles não podiam me controlar. Gostava de quebrar regras. E gritar ao mundo que não me submeteria a eles. Mas depois do que aconteceu, depois que você se foi, eu comecei a pensar e cheguei à conclusão que era um grande idiota. Eu apenas pensava que minha atitude era de um rebelde, quando na verdade não passava da atitude de um garoto mimado. Como eu tinha lutado contra a minha família? Participando de festas? Bebendo até amanhecer? Não indo as reuniões da minha família? Incendiando lugares? Eu não passava de idiota mimado isso sim! Estava na hora de fazer algo que realmente fizesse sentindo. Decidi abdicar de tudo, de ser o sucessor da família... Tenho outros primos e primas, eles poderiam ocupar esse lugar... Meu avô nunca me aceitou direito mesmo por eu ser filho de uma mulher que não pertencia a sociedade. Uma mulher que não era aquela que escolheu para seu filho...

Olho para Peeta. Por que ele está dando tantas explicações?

— E foi o que eu fiz. Declarei que não seria o sucessor da família, não trabalharia na empresa... trilharia o meu próprio caminho. Meu avô não gostou nenhum pouco de minha decisão. Praticamente me deserdou. Eu também rompi o noivado com Delly. E isso foi o que mais deixou minha família contra mim. Eu nunca poderia romper um compromisso daqueles... nunca.

Peeta e Delly romperam?

— Sai de casa. Diria até com uma mão na frente e outra atrás... — ri. — Não tinha mais amigos... se eles ficassem do meu lado também iriam se opor a minha família, e os Mellark são poderosos... Consegui ir para Paris. Mas minha vida não foi nenhum um pouco boa. Não consegui nem ao menos um emprego. Confesso que cheguei a passar fome...

— Peeta... eu não sabia... — sem perceber, caminho em direção a Peeta. Envolvo meus braços ao redor do seu pescoço.

— Eu era um rapaz ingênuo, acreditando que bastava minha rebeldia para mudar o mundo.

— Peeta... por que você não nos procurou?

— Porque eu queria provar a mim mesmo que era capaz... que eu não precisava de ninguém, que podia enfrentar meu próprio destino... Oito meses depois de sair de casa... — Peeta me abraça forte, fazendo com que eu caia em seu colo. Me deixo ficar em seu colo. — Eu me encontrava em Paris, fazendo pequenos trabalhos temporários, como limpar chão, carregar coisas. E eu não conseguira nada. Nem mesmo entrar para a escola de culinária que eu tanto almejava, já que eu não tinha dinheiro para pagá-la...

As mãos de Peeta acariciam minhas costas. Seus braços se apertam mais em torno do meu corpo. Esconde seu rosto em meu pescoço. Seus lábios roçam a minha pele. Ele deposita um beijo na base do meu pescoço e depois começa a explorar minha pele com os lábios. Até que alcança a minha boca. Recebo um terno beijo de Peeta nos lábios.

O beijo dura bastante tempo. E eu me perco. Me deixo levar por suas doces carícias. Mas desta vez, é ele quem interrompe o beijo.

Ainda com seus olhos fechados, encosta a testa na minha. Por fim, abre lentamente os olhos.

— Eu me encontrei com Delly em Paris. A vida dela não estava melhor... Após o rompimento do noivado, a família dela a estava obrigando a assumir um compromisso com um homem bem mais velho que ela, que tinha até filhos com a mesma idade dela... Delly não queria um casamento, queria estudar moda em Paris, queria criar sua própria linha de roupa... Ela fora a Paris me procurar. Tinha uma proposta a me fazer... Eu voltaria a ser seu noivo...

Não sei o motivo, mas sinto uma leve pontada de decepção.

— Talvez, minha família se contentasse com a volta de nosso noivado, assim como a família dela... Eu realmente não queria isso... era como me dar por vencido, um atestado que eu não conseguiria nada sozinho. Por outro lado, aqueles meses em Paris haviam me ensinado muito... Acabei aceitando a proposta de Delly, voltar a ser seu noivo...

Me levanto do colo dele.

— Katniss...

— Não é nada... — digo, indo até a lareira e observando as chamas.

Sinto os braços de Peeta me envolverem. Ele abraça minhas costas. Embora não me afaste dele e permito que continue a me abraçar, fico tensa. Que raios está acontecendo comigo?

— O que aconteceu? — indago.

— Minha família me aceitou de volta. Mas eu deixei bem claro que não queria mais ser o sucessor da família... Fui estudar culinária em Paris... fiz o possível para não usar o dinheiro da minha família. Até mesmo as confeitarias que eu abri, fiz através de empréstimos... empréstimos estes que estou pagando até hoje...

— E como está a relação de você e Delly?

— Nossa família está pressionando a nos casarmos o mais rápido possível. Temos vinte e quatro anos... está chegando a hora de dar herdeiros...

— Você vai se casar com ela?

Sinto os braços de Peeta se fechando ainda mais sobre mim.

— Não. Pelo menos, eu não quero me casar. Delly também não quer. A loja de roupas, que ela abriu em Paris, está indo muito bem... Mas, quando anunciarmos isso a nossas famílias... sei que as coisas vão se complicar para nós. Eles são influentes... Não sou ingênuo ao ponto de acreditar que as confeitarias que eu abri têm se mantido graças ao meu talento ou que os empréstimos que eu fiz foram obtidos graças unicamente a mim. Não, tudo isso tem em meio o poder de meu sobrenome... Talvez, seja por isso que eu e Delly ainda não comunicamos a nossa família sobre decisão de não nos casarmos... É, Katniss, eu sou um covarde...

Não digo nada. Ele continua a me reter em seus braços. Estou digerindo cada uma dessas informações.

— Desculpe, Katniss, por ter te ferido... Eu não sou bom em... mostrar meu verdadeiro eu... Você disse certa vez que me chamava de louro oxigenado porque sou falso... você estava certa...

Peeta suspira.

— Na próxima semana eu irei voltar para Paris... não vou mais me intrometer entre você e aquele cara...

Ele me solta.

— Você vai voltar para Paris — repito, sem me voltar para Peeta.

— Vou... eu já terminei de resolver o que precisava resolver aqui... na próxima semana volto para Paris.

Não era isso o que eu desejava? Que Peeta voltasse? Que ele parasse de me importunar? Sim, mas... depois de tudo o que ele me contou hoje... Peeta sempre consegue transformar minha vida, meus sentimentos, meus pensamentos em um grande caos.

Suspiro.

Peeta se senta na poltrona. Eu vou até a grande janela de vidro que dá para uma pequena varanda. Mesmo que o vento frio castigue minha pele, nesse instante, não sinto frio.

A lua redonda e imensa ilumina tudo. A noite aqui é muito diferente. Não há luz artificial por perto, somente a luz das estrelas e da lua. Há um silêncio absurdo, uma espécie de melancolia que entra e se instala no recanto mais íntimo da alma. O luar é aterrorizante, me consome completamente. Fui banhada no mais sufocante luar.

— Katniss... — escuto a voz de Peeta ao longe. — Katniss — de repente, sua voz está perto de mim. — Entre, está frio aqui...

Ele pega em minha mão e me conduz até a cama. Peeta calmamente retira meus sapatos. Me deito na cama. Peeta me cobre. Ele se deita na cama também.

— Posso pedir uma última coisa? — pergunta baixinho.

— Pode.

— Posso... abraçar você?

Assinto.

Sinto os braços de Peeta me envolvendo. Sua respiração em minha nuca. Me sinto quente e confortável.

Fecho meus olhos, caio no sono sem perceber. Depois de seis anos volto a dormir nos braços de Peeta.


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Notas finais do capítulo

Odiaram? Gostaram?
Já decidi sobre os capítulos finais, o próximo capítulo será o penúltimo.