Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 16
Sem nome


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à Beatriz, que fez uma recomendação muito maravilhosas para a fic e me deixou cheia de ânimo para terminar o capítulo. Muito, muito, muito obrigada, sua linda!



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— Por que, senhor, por quê? — reclama Madge ao meu lado. — A Mockingjay vai iniciar a turnê em uma cidade perto daqui e os ingressos estão tão caros que nem vendendo meus dois rins, eu conseguiria comprá-los.

A parte da cidade ser perto daqui, devo esclarecer, é um exagero de Madge. A cidade fica a cinco horas de carro da nossa. Já a parte dos ingressos, é totalmente verdadeira.

— Acho que nem se eu vendesse meus dois rins e fígado juntos, eu teria dinheiro para ir nesse show — lamento.

Madge e eu suspiramos. Ser uma adolescente de 17 anos, sem nenhuma grana na carteira, não facilita nada nossa vida.

— Você pode pedir para Haymitch e Effie para te darem os ingressos como presente de aniversário... — sugere Madge um pouco mais animada com a perspectiva de eu ir ao show.

Pois é, o meu aniversário de 18 anos vai ser daqui a um mês, exatamente no dia do show da Mockingjay.

— Eu até pediria... mas, nossas finanças não andam bem...

Novamente, eu e Madge suspiramos.

Recebemos olhares de desaprovação da bibliotecária, a senhora Wirres. Ela é uma pessoa legal, nos deixa ficar na biblioteca durante as tediosas aulas de educação física e nem nos denúncia para a professora Coin. Porém, ela realmente detesta que fiquem falando na biblioteca. Se alguém fizer isso, ganha seu ódio mortal. Madge e eu tratamos de nos calar. Não queremos que a senhora Wirres resolva nos expulsar da biblioteca.

Olho para o grande relógio em algarismos romanos da biblioteca. São quase dez horas. Normalmente, eu estaria feliz porque o tempo está passando. Mas, hoje... Hoje, eu só queria que o tempo parasse.

A próxima aula é artes. Sim, aula de artes com... você sabe quem. Aquele que não deve ser nomeado.

Ainda não sei o que pensar sobre a noite de ontem. Contei o que aconteceu para Madge. Ela apenas escutou minha história com uma daquelas expressões indecifráveis dela. É, às vezes, Madge é um pouco difícil de entender. E no final perguntou:

— Foi bom para você?

— Foi ótimo — respondi.

Ela sorriu.

É, realmente foi... incrível, perfeito. O que mais posso dizer? E, não, não estou me sentindo nenhum pouco culpada. Ontem, tudo pareceu tão natural. Não me arrependo do que aconteceu, nenhum um pouco.

No entanto, encarar Peeta é outra história. Hoje de manhã, tratei de me levantar o mais cedo possível e o larguei na cama, ainda nu, com apenas um lençol cobrindo suas partes baixas.

No colégio, me empenhei ao máximo para não cruzar com ele em algum corredor. Estava tudo indo perfeitamente bem, até eu me lembrar de que tenho aula de artes com ele. Mas a quem estou tentando enganar? Eu sei que essa reunião é inevitável. Afinal, moramos juntos.

O ponteiro pequeno do relógio encosta no grande X. O sinal toca, anunciando a próxima aula. Eu até poderia ficar na biblioteca, ou alegar uma doença contagiosa e me trancar na enfermaria. Porém, hoje Cressida irá verificar como anda o trabalho com os vídeos. Ela simplesmente detesta alunos que não levam seus estudos a sério. Não quero ver Cressida furiosa. Melhor voltar para meu plano anterior, torcer para que o apocalipse Zumbi comece.

Como nenhum zumbi surge nos corredores (embora eu tenha olhado com cautela para todos os lugares em busca de um zumbi perdido por aí), tenho que ir para a sala de aula.

— Katniss! — Gale acena para mim, assim que entro na sala.

Me sento perto dele. Peeta ainda não chegou. Não que eu esteja agindo como uma lunática, olhando para a porta toda vez que ela é aberta. Ok, a quem estou tentando enganar?

— Sabia que a Mockingjay vai fazer um show perto daqui? — indaga Gale, assim que me sento na carteira.

Assinto.

— Estou vendo se consigo comprar uns ingressos mais baratos. Um primo meu conhece um cara que tem um amigo que está participando da organização do show. Meu primo disse que esse cara pode conseguir os ingressos com um preço bem baixo — diz Gale sorrindo.

Já entendi tudo. Gale novamente está querendo impressionar Madge. O relacionamento deles avançou bastante com o vídeo e tudo mais. Porém, eles ainda permanecem naquela zona de amizade.

— Talvez, eu possa conseguir uns ingressos para você também — fala Gale animado.

— Eu amo a Mockingjay e faria de tudo para ir ao show. Mas... eu realmente estou no vermelho. E nem teria dinheiro suficiente para cobrir as outras despesas, como ônibus, hotel... — digo, encarando meu caderno com pesar.

— Que pena... — diz Gale cabisbaixo.

Começo a dar um longo suspiro, lamentando minha sorte. No entanto, não chego a terminá-lo. O motivo, certo louro oxigenado acaba de abrir a porta e vem na minha direção. Trato de desviar meus olhos dele, não quero que ele pense que fiquei olhando para a porta esperando sua aparição.

O que eu faço, se ele falar comigo? Aliás, o que ele vai falar comigo? Ai, meu Deus! Isso é uma crise mundial, pior do que a crise da pizza!

No entanto, todo o trabalho dos meus neurônios para encontrarem uma resposta decente é jogado no lixo. Peeta se senta no fundo da sala, com uma distância bem razoável entre nós. O que acabou de acontecer aqui?

Mas eu não tenho tempo de tramar mil e uma teorias, já que a professora Cressida chega à sala e começa a perguntar sobre os vídeos.

Quando chega a nossa vez de mostrar o que fizemos para o trabalho, Peeta se aproxima de onde eu e Gale estamos sentados. Trato de ignorar sua presença e voltar toda a minha atenção para o que Cressida está explicando. Isto é, não entendo absolutamente nenhuma palavra do que ela está falando. Meu cérebro não consegue decifrar as palavras que a professora está dizendo, pela simples razão que Peeta Mellark está perto de mim.

— Certo, Katniss? — alguém falou o meu nome? — Katniss? — Cressida está me olhando.

— O que... ah... certo, certo — posso ter acabado de concordar em ser morta na próxima aula ou ter vendido meus órgãos.

Noto o olhar de Peeta em cima de mim. Volto imediatamente meus olhos para minhas anotações... ou seja, uma folha em branco, já que não consegui anotar nada.

O que está acontecendo comigo? Por que a presença de Peeta está me perturbando tanto? Por que quando ele foi sentar no fundo da sala e me ignorou, eu senti essa coisa estranha? Por que existem em mim esses sentimentos contraditórios? Ai, esse louro oxigenado!

O resto da aula passa comigo muito concentrada no vídeo, pensando no que devemos editar ou acrescentar... Ou seja, tentando ignorar a presença de Peeta.

Quase começo a fazer uma dança, quando a aula acaba.

Peeta calmamente pega as suas coisas e, sem olhar para mim, sai da sala. Então, novamente sou possuída por aquela sensação estranha... O que há de errado comigo?

Tento não pensar muito nisso... ou seja, fico pensando o tempo todo nisso. Será que existe alguém mais complicada do que eu?

Assim que as aulas terminam, procuro por Madge. Vou para sua casa. Se eu for para meu apartamento... ele também irá estar lá.

Madge e eu terminamos os deveres de casa. Vemos vários episódios de nossa série predileta, Veronica Mars. Discutimos sobre qual é a melhor música da Mockingjay. Eu e Madge nunca chegamos a um consenso sobre isso. Também falamos sobre como nossa saída do colégio se aproxima. Daqui alguns meses, dois meses, mais especificamente, seremos garotas formadas no ensino médio.

— Disseram que na faculdade vamos querer implorar para voltar para o colégio — afirma Madge, comendo uma pipoca. ― Minha prima Rose jurou que os professores da universidade são bem sanguinários! Que eles amam torturar um aluno.

— Minha mãe e Haymitch estão super animados com minha entrada na faculdade. Eles não puderam ir para a faculdade... — digo.

Minha mãe não pode ir para a faculdade porque assim que terminou o colégio, ela ficou grávida de mim. Meu pai também não pode ir para a faculdade por causa disso. Os dois se amavam e se casaram, assim que souberam que minha estava mãe estava me esperando. Às vezes, me sinto um pouco culpada por isso. Será que a vida seria diferente, se ela não tivesse engravidado de mim, se ela não precisasse ter parado seus estudos para cuidar de mim? Minha mãe diz que talvez fosse, mas que com certeza ela não gostaria de viver essa vida sem mim. Minha mãe pode ser bem sentimental.

— Katniss, daqui alguns meses, seremos universitárias! — Madge dá um gritinho, empolgada.

Ela me olha.

— Mas você não parece tão animada assim...

— Não é isso, é...

— Peeta — completa ela. — Vocês dois são complicados demais! — joga uma pipoca em mim. — Qual é o problema, vocês dois tiveram uma noite incrível e agora ficam assim?

— Eu não sei! — olho para ela. — Posso dormir aqui, hoje?

Madge joga uma almofada em mim.

― O que eu acabei de dizer? Complicados demais! ― balança a cabeça em sinal de desespero. ― Estão até mais complicados que Hermione e Draco Malfoy das fanfictions que eu leio!

― Ei! ― jogo a almofada nela.

Madge adora ler fanfictions de Draco e Hermione. Mesmo que eles não tenham ficado juntos, ela ainda torce secretamente por eles. Até andou escrevendo umas fanfictions sobre eles. E, sabe, Madge tem talento para a coisa. Acredito que ela poderia investir em uma carreira relacionada com a escrita.

Termino dormindo na casa de Madge.

Outro dia, outra batalha para fugir de Peeta. Pelo menos, hoje não tenho nenhuma aula com ele, o que torna a tarefa mais fácil.

No entanto, a realidade bate a minha porta, quando preciso ir para meu apartamento com o final das aulas. Pedir para a família de Madge me adotar não é uma má ideia, mas o processo levaria meses, e os meus problemas são urgentes.

Como o grande apocalipse, que eu estava esperando, não aconteceu, me vejo diante da porta do apartamento. Respiro fundo e abro-a.

Peeta está no sofá, mexendo em seu notebook. O que eu faço? O que eu faço? Katniss, largue essa maçaneta e ande! Andar? Como se faz isso?

Depois de resolver minha pequena crise, começo a andar em direção ao quarto.

Peeta não desgruda os olhos do notebook.

Isso... foi estranho. Sinto algo... como se acabasse de levar um banho de água fria. O que eu estava esperando?... Não era isso o que estava querendo, não falar com Peeta? Eu não passei o dia todo o evitando?

Argh! Por que nesse momento compreender a mim mesma é uma tarefa tão... complicada?

Resolvo tomar um banho, mesmo precisando passar por Peeta. Se aquele louro oxigenado estiver tramando algo, ele vai ver só.

Peeta continua com os olhos grudados na tela do notebook e age como se eu nem existisse. E a pior parte é que isso me perturba de tal maneira que fico o banho inteiro pensando nisso.

Quando passo pela sala novamente, Peeta continua com os olhos grudados na tela do maldito notebook. O que há de tão interessante aí?

― O que foi, Katniss? ― indaga sem tirar os olhos do notebook, seu tom é muito diferente do costumeiro. É... sério?

― Nada... ― respondo, encarando meus pés.

Ele fecha o notebook e se levanta do sofá. Faz isso tudo sem olhar uma única vez para mim.

― Vou ajudar Greasy no restaurante ― fala, enquanto passa por mim, mas sem lançar um único olhar sequer em minha direção. Vai até a porta. Isso me irrita.

― O que está acontecendo, Peeta? ― digo, raivosa.

Peeta para de andar e lentamente se vira para mim. E pela primeira vez, me olha.

― Por que você está agindo assim?

― E como estou agindo, Katniss? ― me encara.

― Está me ignorando... ― respondo, desviando meus olhos dele.

― Ah, eu que estou te ignorando? ― sua voz tem um leve tom de sarcasmo e irritação. ― Vejamos os fatos. Depois que dormimos juntos, eu acordo sozinho na cama. Primeiro, pensei que você havia acordado atrasada. Mas então, eu olho no relógio e noto que não, ainda faltava muito tempo para ir ao colégio. Te procurei por todos os cantos e não te vi em lugar nenhum lugar na escola. Fiquei preocupado, imaginando o que poderia ter acontecido com você. Finalmente, vejo você na aula de artes. O que eu faço? Vou falar com você, preocupado. E o que você faz? Simplesmente, me ignora. Finge que eu nem existo. Então, eu compreendi tudo ― olho para Peeta. ― Você está arrependida do que aconteceu, não foi? Deve estar me odiando agorinha mesmo porque dormiu comigo, não é?

Olho para ele, perplexa. Nunca havia visto Peeta assim, parece chateado e irritado.

― Não... não é isso ― tento negar.

― Não é? ― passa a mão pelos cabelos louros, deixando-os em completa desordem. ― Então, o que é? O que te fez dormir fora de casa ontem?

Não sei como responder a essa pergunta. Realmente, não sei.

Peeta me encara, a espera de uma resposta que eu não consigo dar.

― É o que imaginava! ― seu tom é irritado. ― Você se arrependeu por termos feito sexo, por ter sido eu a tirar sua virgindade ― não há apenas irritação em seu tom, há também magoa e tristeza, me dou conta.

Peeta vira as costas para mim e começa a andar em direção a porta.

Quando percebo, estou com meus braços rodeando suas costas.

― Não, Peeta, não é isso. Você entendeu tudo errado. Eu fugi de você porque... ― agora, como uma pequena luz no final do túnel (ok, metáfora ruim, desculpem), entendo o que se passou. ― Eu senti medo ― admito.

Peeta se volta para mim, e eu o solto.

― Medo? ― seu tom não possui mais irritação, há apenas dúvida.

― Medo do que aconteceu... Aquilo foi tão perfeito, diferente de tudo o que já vivi... Foi tão... inexplicável. E... eu realmente não sabia como agir depois daquilo. As coisas sempre acontecem tão rápidas entre nós. Tão... estranhas... ― falo hesitante, não sei que palavras utilizar. ― Em um momento, quero te matar, no seguinte... no seguinte, desejo me atirar sobre você! Alguns meses atrás, eu nem havia beijado um único garoto em minha vida inteirinha. Você foi meu primeiro beijo... E agora, poxa, eu transei com alguém! Com você! Isso é muito novo para mim! ― falo o olhando. ― Entende como isso é confuso? É inexplicável!

― Você está arrependida, não está? ― sua voz é baixa, quase tímida. Talvez, seja impressão minha, mas eu sinto certa culpa em sua voz. Algo surpreendente. Peeta está se revelando alguém cheio de surpresas hoje. ― Katniss, se eu soubesse que você iria reagir assim, eu não...

― Peeta ― o interrompo. Olho em seus intensos olhos azuis. ― Não, eu não me arrependo ― afirmo sem pestanejar. ― É que tudo é tão novo para mim. Eu não sei como agir... Mas, eu verdadeiramente não me arrependo. Por que eu me arrependeria? Aquilo foi tão perfeito.

Então, algo completamente inesperado acontece. Peeta me abraça. É bom sentir o calor de seus braços. Além disso, noto o quanto seu cheiro, seu calor, o toque de sua pele estavam me fazendo falta.

Puxo o pescoço de Peeta, o fazendo ficar da minha altura. Minha boca gulosa trata de abocanhar com avidez os lábios de Peeta. Ele sorri, enquanto deixa que meus lábios brinquem com os dele. Mordo suavemente o lábio inferior dele, arrancando um pequeno gemido seu. Minhas pernas saltam e capturam os quadris de Peeta.

Ele desce seus lábios por meu pescoço, enquanto começa a andar em direção ao nosso quarto.

Os beijos são tão intensos e perfeitos. Perigosamente, perfeitos que nem noto quando Peeta me coloca sobre a cama. Suas mãos percorrem por todo o meu corpo. Nossas carícias e beijos são ávidos.

Começo a me desfazer da camiseta dele. Peeta para de me beijar e me olha. Ele me analisa por um longo segundo.

― Katniss... eu não quero que...

― Não, eu não vou fugir ― prometo, enquanto lhe dou um demorado beijo.

Sim, eu não irei mais fugir. Seja lá o que for que Peeta e eu temos, ficarei e encararei.

Peeta retira sua camiseta, deixando que eu vislumbre seu belo abdômen tablete de chocolate. Quero mordê-lo como se fosse um chocolate. Um delicioso chocolate. A quem estou tentando enganar? Isso é melhor do que chocolate. Peeta me beija.

Parece que as sensações que senti na primeira vez, estão ainda mais intensas. Meu corpo anseia desesperadamente pelo corpo de Peeta. Quando ele toca meus seios com a língua, enquanto sua mão travessa entra em minha calça, sinto que meu corpo queima tão intensamente que nunca mais ele poderá se livrar de suas chamas. Estou em chamas. E eu gosto de estar em chamas.

Eu e Peeta respiramos com dificuldade, minha cabeça ainda está em branco. Isso foi ainda melhor do que a primeira vez, constato.

Ele me olha e me puxa para seus braços.

― Quando eu acordar, você estará aqui? ― murmura com sua voz rouca. Sua voz tem certa doçura. Ele fecha os olhos e beija minha testa com delicadeza.

― Eu estarei ― afirmo, também fechando os olhos.

Sim, eu ficarei aqui, mesmo que isso me cause certo temor, porque eu realmente não sei o que irá acontecer conosco a partir de agora. Acabo de aceitar entrar nesse relacionamento, sem um nome exato, ao afirmar que iria estar aqui quando ele acordar. As coisas entre mim e Peeta são tão confusas. Porém, não quero me preocupar com nosso relacionamento confuso e sem uma denominação. E por que eu iria querer denominar nosso relacionamento agora? Nesse momento, só quero me deitar no peito de Peeta, ouvir seu coração e não me importar com absolutamente nada


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Notas finais do capítulo

Odiaram? Gostaram? No que será que irá dar esse relacionamento sem denominação?