Os fins justificaram escrita por Unique


Capítulo 3
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– É realmente incrível como as árvores fazem fotossíntese né?

Ruan soltou um "quê?", na tentativa de acompanhar o pensamento súbito do amigo.

— Você nunca pensou nisso cara? As plantas captam a luz do ambiente, como se fosse um sinal de wi-fi e a partir de processos químicos transformam em energia para elas! Wi-fi é outra coisa maravilhosa... Internet no geral! Antes de tudo isso... Eu no computador ao mesmo tempo mandava um e-mail, assistia a dois vídeos e baixava cinco filmes.

Prolixo é aquele que não consegue resumir uma ideia ou encurtar um pensamento, que se perde em explicações supérfluas e se estende demoradamente, e era exatamente isso que Augusto era naquele momento.

Victor bufou e disse impacientemente:

– Por que isso agora?

Augusto piscou como se estivesse acordando de um sonho e respondeu rapidamente:

– Tava só pensando na vida, nada demais.

Um silêncio decide virar o personagem principal do espaço. Este costuma ter poder imenso. Só por existir oprime, reprime e tira cada pedacinho de conforto que há na mente humana.

Ruan suspirou alto e falou num tom de confissão:

– As vezes eu te invejo Augusto... Você consegue pensar em plantas e wi-fi depois da chacina que fizemos hoje. Eu só consigo pensar nos gritos.

Augusto deu um olhar de ultraje.

– Foi autodefesa, nem a justiça do nosso país nos prenderia por nos defender! E olha que hoje nem torturamos ninguém.

Existe em alguns a capacidade inata de sorrir em qualquer ocasião e em outros a irritação tão natural quanto pelo mesmo. E nesse caso, os garotos se encontravam divididos.

– Você fala como se fosse normal sair por ai matando e torturando! Não quer estuprar alguma mulher já que é tudo tão fácil?

Augusto deu mais um de seus sorrisos sarcásticos e com ares de superior retrucou.

–Não tente ser irônico Ruan, meu amigo, deixe isso para pessoas como eu ou o Victor. - e com um olhar complacente terminou - Você é bom demais pra isso.

Não satisfeito com a resposta que recebeu, Ruan respondeu rapidamente:

– Bom? Perdi tudo que havia de bom em mim quando matei o primeiro homem. Agora só existe necessidade.

Victor não conseguiu se segurar.

– Que poético.

Augusto abriu um sorriso torto.

– É disso que eu to falando, ironia de verdade!

Mesmo naquele beco escuro da vida que viviam. Mesmo naquele beco escuro da situação que estavam. Mesmo naquele beco escuro onde estavam sentados, famintos e com frio, os três rapazes conseguiram soltar algo próximo de risadas.

Depois de um longo suspiro Victor acabou com o personagem inconveniente da história, o silêncio.

– Um dia eu vou acabar te matando, Augusto.

– Espero mesmo, melhor morrer pela sua tatuagem/corrente maneira do que pelas armas daqueles idiotas.

Ruan, tentando focar a conversa em algo mais útil mudou de assunto.

– Qual será o próximo passo?

Victor fechou os olhos e pôs os dedos na ponte do nariz, tentando se concentrar.

– Primeiro temos que ter em mente o porquê da operação de hoje.

Augusto tentando imitar um daqueles alunos estudiosos indagou:

– Balançar o esqueleto?

A palavra desprezo pode ter muitos sinônimos, tais como, abandono, desamor, desinteresse, indiferença, afronta, insulto, ofensa, revolta, asco, licença, negação, opróbrio, indignação, isenção, repúdio, desacato, desrespeito, displicência, esquivança, estranheza, menosprezo, ostracismo, revolução, vilipêndio, apoucamento, desapreço, estranheza. Para todos os efeitos, foi essa a expressão de Ruan com a consideração fora de hora vinda do amigo, Augusto.

— Você disse que fomos mandar uma mensagem a Eles. - Ruan falou pausadamente, como que estivesse selecionando cuidadosamente as palavras. Tinha medo de que as palavras tivessem algum poder sobre eles.

Victor fingiu não perceber o tom do amigo e entrou na sintonia de Augusto.

– Exatamente! Queríamos que soubessem quem somos e nos temessem. Já conseguimos aniquilando um pouco da escória deles. Agora temos que partir para peixes maiores.

Augusto, já se agitando, proferiu entusiasmadamente:

– É assim que se fala! Quem vamos matar amanhã?

Animação pode ser demonstrada de maneiras inúmeras. Alguns gritam, outros choram, alguns se arriscam a pular, correr, lamber o coleguinha do lado, plantar bananeira, virar estrela etc... Augusto preferiu dar alguns tiros silenciosos para o alto.

Victor, mesmo que estivesse compartilhando do humor do outro menino, lhe lançou um olhar sério.

– Aprecio sua animação, mas não vamos matar ninguém nem amanhã, nem depois. O melhor jeito e pegar peixes grandes e esperar que venham até nós. Já colocamos a isca na água.

Ruan ficou hesitante. - Será tão fácil assim?

Victor tentou fazer o sorriso sombrio.

– Nunca é fácil.

Augusto passou a mão na barrihá. - Falando em peixe, bem que a gente podia comer um... A fome tá braba.

Olhares e silêncio formaram outra perigosa combinação.

Ruan bocejou. Pura atuação. - Melhor irmos dormir.

Victor concordou e rapidamente se prontificou a pegar o primeiro turno de guarda.

Augusto deu longas piscadas, como se estivesse lutando para manter os olhos fechados - Valeu, falou.

Sono é um estado ordinário de consciência, complementar ao estado desperto, em que há repouso normal e periódico, caracterizado pela suspensão temporária da atividade perceptivo-sensorial e motora voluntária. Nenhum dos rapazes devidamente aconchegados em seus pedaços de papelão apelou para o estado ordinário de consciência e preferiram manter-se em seus pensamentos despertos e dispersos.

Dúvidas, lágrimas e a espera. Sem as analogias sobre pescado, o recado fora dado


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