Just Listen escrita por Lenora


Capítulo 22
Capítulo 20 - Briga de Escola


Notas iniciais do capítulo

Olá, Olá, pessoas desse meu Brasil! Tudo bem com vocês, meus anjos?
É, eu sei, faz tempo. Peço sinceras desculpas por essa longa espera.
Mas muuuuuuitas coisas aconteceram e eu simplesmente não consegui escrever mais JL. Simplesmente não tinha vontade ou quando sentava pra escrever nada de útil saía.
Mas aí alguém pergunta, e por que agora? Pois bem, estava eu vivendo minha vida e recebi um comentário para essa fanfic, que me deu vontade de responder todos os que eu tinha deixado sem resposta e então a boa e velha vontade que eu sempre tive de escrever essa história voltou com tudo.
Então, sério, suuuuuuuuuuuuper obrigada a quem vem comentando na fanfic, favoritando e que me mandou mensagens pedindo minha volta. Foi por vocês, e dedico este capítulo inteiramente a todo mundo que adora Just Listen. #voltei

Preciso avisar que a minha escrita se desenvolveu um pouco desde a última vez em que escrevi, e para não atrasar ainda mais, não quis editar toda a história (quem sabe mais pra frente), então a narrativa está um pouco diferente, mas nada muito extremo.
Ah! Só um último aviso, tem uma parte da narrativa do Sasuke em que ele "pensa mal" da Hinata. Não é o que ele pensa de verdade, é só porque ele está pistolinha mesmo. Então não fiquem bravos com o meu menino, ok? ;)

Bom, sem mais demoras. Aproveitem a leitura!

Ps: só pra me redimir, escrevi o maior capítulo da fanfic. Então não me matem, please



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/573414/chapter/22

Mamãe, por que me sinto tão triste?

Eu deveria deixá-lo ou me sentir tão mal?

Não, não, não, não seja idiota

Papai opinou: vá direto na garganta!

Briga de escola

Mellanie Martinez— Class Fight

 

 

Tomou fôlego como se estivesse se preparando para uma de suas corridas e apertou a mão da amiga que devolveu o agarre, como que para avisar que estava ali por ela. Tenten já não era mais a mesma garota que se deixaria coagir por qualquer coisa, mas a figura do homem ainda fazia seus joelhos bambearem por se lembrar de todas as vezes em que ele batia em sua mãe ou nela própria. Entretanto, a mão de Hinata servia como uma âncora que a puxava de volta para a realidade, onde estava bem e segura, despertando-a de todos os pesadelos que sua mente insistia em repetir em sua cabeça.

Estava tudo bem. Ela e a mãe estavam em segurança e não precisavam mais morar debaixo do mesmo teto que aquele sujeito. Puxou o fôlego segurando a respiração por alguns segundos. Lembrar de tudo o que aconteceu em sua antiga casa ainda a fazia mal, mas sabia que a situação de sua mãe era ainda pior. Não foram poucas as vezes em que Tenten via a mulher na cozinha ou em seu quarto com o olhar vazio encarando o nada, ou das vezes que a encontrara chorando baixinho, enquanto todos dormiam. E isso a deixava furiosa. Ela sabia que o pai havia estragado parte de sua vida, mas ao pensar em tudo o que a mãe passou nas mãos dele, só para evitar mais problemas e ver o homem por quem se apaixonou na adolescência se tornar em outro por conta da bebida, lhe dava uma vontade incontrolável de socá-lo repetidas vezes com toda a força que pudesse reunir.

Observá-lo, mesmo que a distância lhe fez sentir tão mal que não podia nem ao menos imaginar encará-lo frente a frente. Todo o mal que rondava aquele homem parecia estar de volta, fazendo com que arrepios corressem soltos pelo seu corpo.

 Desprendeu-se da mão de Hinata e correu pela calçada, desviando das formas embaçadas que lhe impediam o caminho. Já fazia tempo desde que correra até seu corpo suplicar por descanso e isso era exatamente o que faria. Precisava ir para longe. Precisava parar de pensar.

Correria até a exaustão impedir as lembranças do monstro que teimava em persegui-la do lado de fora do armário. Corria com tanta pressa, que mal viu o carro que vinha em alta velocidade, buzinando para alertar a garota surda que atravessava a rua no mesmo momento em que ele passava em alta velocidade, mas que não pôde ouvir seu aviso.

 

 

 

 

— Achei que você só vinha semana que vem — disse o garotinho ruivo sentado no sofá da casa de madeira, que, desde o segundo natal em que seu pai já não estava presente, se encontrava no mesmo exato lugar, assim como apostava que todos os móveis da casa também estivessem.

— Decidi fazer uma surpresa, você não gostou? — Fez uma careta de brincadeira para o irmão caçula, que tentava mascarar a surpresa e felicidade por ver a irmã antes da data em que combinaram — Posso ir embora mais cedo e levar esse presente aqui junto comigo, afinal você não sentiu tanto a minha falta, não é mesmo? — Mostrou a caixa encapada com um papel colorido chamativo.

— Vovó disse que isso se chama chantagem — esticou os braços tentando alcançar a caixa enquanto estava sentado, mas a irmã levantou os braços, tirando a caixa de seu alcance — Eu não sou mais criança pra você fazer isso, já tenho quase doze anos! — Cruzou os braços em uma pose zangada.

— Vovó anda colocando muitas minhocas nessa sua cabeça, pivete — bagunçou os cabelos vermelhos com a mão — E você ainda nem fez dez! — Deixou a caixa para que o irmão abrisse e desviou do sofá para cumprimentar a avó que a aguardava na cozinha.

— Eu disse que tinha quase doze! — Gritou o garoto do seu lugar. Seguiu até a cozinha para encontrar a figura da avó em frente ao fogão. Quando soubera que a mãe planejava levá-la até a casa de campo, sua primeira reação foi ficar furiosa. Como assim Mebuki a empurraria para longe na primeira oportunidade, sendo que fora buscá-la de onde estava para mantê-la perto? Mas percebeu que as duas não conviveriam muito bem sozinhas em casa. Ou melhor, não tão sozinhas quanto imaginava.

Sua mãe estava namorando agora. Não que  Mebuki houvesse sentado com a filha para contar a novidade, mas Sakura ouvia a mãe conversando com alguém pelo telefone por várias e várias vezes. O que era bom, visto que assim a mulher parava um pouco de encher o seu saco, tentando enfiar uma montanha de comida por sua garganta abaixo. Pelo menos agora, na casa de sua avó, poderia usar o tempo que tinha para ficar com o irmão que já não via há meses. Sentia tanto a falta do garoto, que parecia não vê-lo há anos.

Não fazia muito tempo desde a última vez que o vira, mas podia jurar que o garoto crescera pelo menos um dedo, mesmo que continuasse em uma forma miúda e menor que ela.

— Oh, meu Deus, Sakura! — A mulher mais velha virou-se indignada para ela, encarando desde os fios rosa de seu cabelo até a bota em seus pés — Olha só pra você — a mulher foi até ela e lhe circulou com os braços fartos em um abraço afável — como pode estar tão magra?

— Eu disse à ela, mas Sakura não me escuta, afinal mães só servem pra encher o saco, não é?! — Retrucou Mebuki que entrava na cozinha logo atrás — Está uma pilha de ossos! — Enquanto as duas falavam sobre seu peso ou o quão seus ossos estavam aparentes, Sakura se desligou das duas.

Estar de volta ao seu quarto original e observar a todas as colagens das paredes fê-la perceber o quanto se desviou das metas auto impostas e o quão longe se encontrava de todas elas. A fita métrica ainda estava guardada na gaveta da cômoda, que comportava também seus cadernos de anotações que traziam em sua caligrafia cursiva a quantidade de calorias de uma lista quase infindável de alimentos; a balança ainda em seu banheiro, cujo ponteiro desgraçado parecia zombar dela todas as quatro ou cinco vezes diárias em que subia esperando um resultado diferente.

Pelo menos, nesse tempo em que esteve em casa, conseguiu retomar todas as antigas atividades que antes olhos vigilantes a impediam. Retomou com a leitura das tabelas nutricionais, se espantando com a facilidade que teve para se lembrar todos aqueles números presentes na ponta da língua mesmo antes do acidente que sofrera; pulava corda e fazia abdominais em seu quarto a fim de expulsar as gorduras localizadas de seu corpo, medindo com a fita métrica religiosamente todas as noites até sua mãe pegá-la e proibir terminantemente todos os exercícios físicos, e pouco tempo depois a balança. Tudo culpa da médica intrometida, Tsunade, a quem sua mãe ligava sempre que observava um novo comportamento que julgava fora do normal na garota.

— Já vou indo — anunciou Mebuki após alguns minutos de conversa com a mãe, trazendo-a de volta de suas lembranças.

— Achei que fosse ficar aqui — respondeu seca enquanto cruzava os braços antes que pudesse registrar o que havia feito.

— Não posso. Preciso resolver algumas coisas em casa, mas volto amanhã — a mulher então deu um abraço na mãe e um beijo em sua testa, antes de ir se encontrar com Sasori no outro cômodo. A avó se aproximou novamente e a sentou na cadeira de madeira, enquanto revirava os armários.

— Não faça essa cara, sua mãe está finalmente colocando a vida dela nos trilhos de novo. Ela reclama de você, mas só Deus sabe o que passei com ela há um par de anos! — A idosa pegou um bolo doce e suco e serviu um copo para cada — Não entendi muito bem o que aconteceu, mas sua mãe ficou muito preocupada com você.

— É, eu sei exatamente o tamanho da preocupação dela — rebateu a garota, ouvindo a mãe se despedindo do irmão, que ainda estava animado pelos presentes — Ela ficou tão preocupada que se livrou dos dois filhos sem nem pensar uma segunda vez.

— Não diga isso, você sabe como ela ficou depois que o seu pai saiu de casa, e isso só piorou quando o Sasori ficou no hospital. Ela se culpou muito por toda essa situação — E isso ela realmente lembrava. Mebuki havia se transformado em outra pessoa quando o marido a avisou que estava com outra e que voltaria somente para assinar o divórcio e pegar suas coisas. A mulher que antes era firme e nunca chorava, ficou completamente perdida e sem amparo de ninguém além da mãe, com duas crianças, sendo uma com diversos problemas de saúde transcorridos de um acidente de carro e uma adolescente que passou de criança estudiosa e orgulho dos pais para um amontoado de dor de cabeça. Tudo por culpa do pai que não conseguia manter as calças fechadas.

— É, eu sei sim — concordou com a mulher — Ela largou mesmo a empresa de decoração? — Perguntou encarando o copo de suco, fingindo não ter interesse pelo assunto.

— Sim, ela largou tudo — suspirou encarando a figura miúda da neta que há tanto tempo já não via — você lembra como ela ficou quando recebeu a ligação de seu pai pedindo o divórcio e depois de passar tanto tempo no hospital com Sasori, desistiu da sua parte na sociedade e vendeu para a sócia, amiga dela — Sakura se lembrava. Sempre via na mãe uma mulher forte e até um pouco fria, às vezes, mas sabia que ela se importava com sua família mais que tudo. Mebuki apenas não sabia como reagir quando viu tudo o que tinha escorrendo por entre os dedos.

— Achei que ela fosse vender a casa para vir morar com você.

— Sua mãe precisava de um tempo para ela mesma, ainda mais depois que voltou para aquele maldito cigarro — respondeu lembrando de quando a filha estava perdida com duas crianças e sem emprego — sempre disse para o seu avô que essa coisa passaria para os filhos dele como fogo na palha. De qualquer forma, ela teve sorte e conseguiu trabalhar em alguns lugares e não precisou vender a casa, por mais que ache que ela precisa se desprender do passado e deixar aquele amontoado de coisas velhas para trás.

Se desprender do passado. Talvez seja mais uma coisa que tinha em comum com a matriarca e que ambas tinham muita dificuldade. O passado ainda machucava, mas ao mesmo tempo oferecia um lugar quente quando tudo ainda andava bem.

— Acho que sim — concordou com a mulher enquanto subia o olhar para o rosto cheio de rugas criadas pelo tempo. Sorriu em forma de agradecimento, pois sabia que a avó não a julgaria de se preocupar com a mãe. Ela sempre entendia.

— Sakura, vem ver meu presente! — Chamou o irmão do outro cômodo, fazendo com que ela largasse o prato intocado para trás — É o videogame que eu pedi para a mamãe! Nem acredito que ela conseguiu!

— Ela me disse que você tinha sido um bom garoto — bagunçou os fios macios da cabeça que costumava ser menor — o que está esperando? Estive treinando esse tempo para finalmente conseguir vencer você.

— Vai sonhando! — Provocou o garoto enquanto lhe entregava o controle conectado no segundo compartimento — Vou ganhar de você antes que consiga dizer seu nome completo.

— Aposto meu celular que você não consegue.

— Fechado! Ele vai ficar melhor na minha mão do que na sua, mesmo — Concordou o pequeno ruivo jogando a cabeça para trás em uma gargalhada gostosa antes de iniciar a partida.

 

 

 

— Tem certeza que não quer que eu fique? — Hana perguntou a filha que se encontrava no quarto — Posso cancelar com Ayame — pelo que podia se lembrar, Ayame era a filha do dono do restaurante em que a mãe trabalhava e sua mais nova amiga. Imaginava que, pela garota ser uns bons anos mais jovem que a mãe, a amizade das duas fez com que Hana se sentisse mais jovem e isso transparecia em seu novo modo de se vestir e nos novos passatempos que adquirira. A mulher estava vivendo novamente e isso não podia deixá-la mais feliz.

— Não — balançou a cabeça repetidas vezes para dar ênfase — vai se divertir. Alguma coisa me diz que hoje teremos uma noite das garotas ou seja qual for o nome que Ino deu dessa vez.

Hana olhou a filha e sorriu de lábios colados. Sabia que devido ao emprego em tempo integral não conseguiu passar o tempo que gostaria ao lado de Tenten – ainda mais depois que voltara a se acostumar com toda a liberdade que depois de tanto tempo tinha –, mas achava que o apoio das amigas e até de Neji conseguiam deixar sua garota animada. Mas se culpou por ver que não era assim, ainda mais depois que parara de ver a filha comentando sobre o namorado.

— Tudo bem, isso parece divertido — abaixou-se e deixou um beijo suave nos cabelos castanhos como os seus e logo se endireitou — Me avise se precisar de alguma coisa.

— Mãe? — Chamou Tenten vendo a mulher mais velha quase saindo do quarto — O sinal de “avisar” é assim e não da forma que fez, você sinalizou “beber” — Brincou corrigindo a mulher, mostrando o punho fechado virado para a esquerda enquanto os dedos mindinho e dedão permaneciam erguidos. A mulher mirou a mão da filha e copiou o gesto.

— Eu sabia que tinha algo de estranho — riu contida sentindo uma leve vergonha. Aprender a língua de sinais não era difícil, mas os gestos às vezes se embaralhavam em sua mente que já não era tão jovem — Eu te amo, meu amor.

— Eu também te amo. Divirta-se! — Assim que a mãe saiu, Tenten jogou-se no travesseiro e se colocou a imaginar como o encontro com o pai teria sido diferente caso tivesse reunido coragem para encontrá-lo. Ainda estava curiosa para saber o que ele tinha a dizer, mas ao mesmo tempo não queria vê-lo e muito menos chegar perto. Parecia que a criança dentro de si assumia totalmente o controle só de pensar em vê-lo e a reação nunca era menos que puro terror.

O fato das mensagens e ligações continuarem a irritavam, mas ao menos toda essa situação a fizera esquecer um pouco a notícia que vira do noivado de Neji com uma herdeira de uma grande companhia. O Hyuuga insistira em falar com ela por alguns dias através da prima, mas desistira após tantas negativas, ou pelo menos era o que ela pensava. Tenten sabia que Hinata não achava sua atitude correta, mas ela simplesmente não conseguia se importar. Toda essa situação era mais do que poderia e gostaria de lidar do momento e mesmo odiando, não se importou por parecer infantil e muito menos fragilizada.

Ela sabia que Neji e ela eram muito diferentes e sempre imaginou o dia em que ele percebesse que não poderia perder mais tempo com uma garota que não tinha muito o que oferecer. E não, não estava se diminuindo, mas conhecia seus limites.

Neji estava estudando para ser o diretor de uma grande empresa de uma família tradicional, enquanto ela não havia nem ao menos se decidido qual curso superior gostaria de cursar, isso se fizesse algum, pois sabia o valor exorbitante que uma faculdade exigia e sabia que elas não tinham o suficiente, independente do quanto sua mãe se esforçava em seu trabalho.

Por mais que ela tivesse certeza que amava Neji, também reconhecia que eles pertenciam a realidades muito diferentes e que ele precisava zelar por uma imagem que não teria ao lado dela, mesmo dentro de todo o sentimentalismo que existia dentro de si, ela conseguir enxergar a realidade. E esta não era agradável para si.

Independente disso, ela ainda queria lhe dar um chute no meio das pernas por ter descoberto sobre seu noivado através de um site qualquer. Sabia que merecia muito mais que isso, acima de qualquer coisa. E para os infernos tudo o que o podia impedir de falar com ela, de olhar em seus olhos enquanto dissesse tudo o que tinha para dizer. E isso ela não perdoaria.

E por pensar nele, talvez o tivesse atraído, porque seu celular iluminou-se ao mostrar uma notificação de uma nova mensagem do rapaz, juntando-se a uma lista quase infindável de outras mensagens não lidas.

Neji: Podemos conversar agora?

Neji: Sei que está brava e chateada, mas eu posso explicar

Neji: Prefere que eu vá até aí? Hinata me disse que as provas terminaram. Você não   está mais tão ocupada, não é?

Neji: Eu posso explicar. Juro que posso fazer você entender tudo, mas fala comigo.

Hinata era uma traidora. Tinha certeza que a amiga passava quase que relatórios diários sobre como ela se encontrava para o primo, mas não podia culpa-la. Neji era um irmão para Hinata e uma pessoa por quem ela fazia qualquer coisa, mas às vezes queria que a amiga deixasse essa fidelidade um pouco de lado e enxergasse por sua perspectiva.

Não estava pronta para perdoá-lo. Mas não sabia bem o que acontecera – e no fundo sabia que seria isso que Hinata levantaria em uma possível conversa, tentando puxá-la para o lado racional, quando tudo que ela queria era gritar e mandar a racionalidade para os infernos.

Sabia que Neji gostava de si – não arriscaria que ele a amava, mas acreditava que ele era apaixonado por ela, uma vez que mesmo por trás de toda a imagem calculista que ele ostentava, Tenten conseguia lê-lo mais fácil do que ele fazia consigo às vezes, ou pelo menos gostava de pensar dessa maneira – porque era claro para ela e, infelizmente, para o tio dele, que nunca aprovou o relacionamento. Por achar que devia a vida ao tio – o que ela não concordava, tornando esse um tópico constante nas brigas que tinham – Neji tinha uma tendência a acatar tudo o que o homem exigia de si. Pelo que sabia, a mãe de Hinata e o pai de Neji, gêmeo de Hiashi, eram amantes e uma noite simplesmente abandonaram tudo e sumiram, para alguns meses depois a mãe de Hinata vir a falecer. Entretanto, não fazia ideia do destino que o pai de Neji tivera e, devido a reação da família ao ter conhecimento da relação extraconjugal, talvez nunca soubesse. De qualquer forma, o namorado – ou ex – parecia não se importar com o destino do pai.

Ou era essa a história que as poucas pessoas próximas da família sabiam, o que incluía ela mesma. Algumas coisas eram estranhas e nem Hinata ou Neji gostavam de comentar sobre, porém o que a afetava diretamente era a submissão com que Neji acatava qualquer pedido do tio. E isso sempre a incomodou, mas nunca antes havia acontecido algo que a afetasse de forma tão direta e ela com certeza conseguia enxergar as mãos de Hiashi manipulando isso tudo por trás.

O que a incomodava era que, mais uma vez, Neji aceitava cegamente a mais um desejo do tio, de forma que nem mesmo a relação de ambos foi forte o suficiente para fazê-lo bater o pé no chão e dar um basta nisso tudo.

Tenten: Já pediu permissão ao seu tio?

Tente: Ou melhor, pergunte o código de vestimenta do evento, tenho certeza que Hiashi             reservou meu lugar bem na frente do espetáculo que será seu casamento

Tenten: Não que eu me importe, não serei eu que estarei ao seu lado em um vestido branco ridículo

 

 

 

Não gostava do que estava fazendo. Mentir nunca havia sido uma habilidade que ela fazia com desenvoltura e isso tornava tudo pior. Sabia que era arriscado, mas toda vez que Sasuke se aproximava, ela simplesmente perdia toda a coragem que conseguia reunir.

E isso fazia com que ela não conseguisse dizer a verdade e continuava apelando para as mentiras. Mas ela não era a principal culpada, não mesmo. Já havia se passado duas semanas desde que Sakura tinha ido embora e, diferente do que pensara, as coisas não voltaram a ser como eram antes.

Minato parecia ser o único que ainda parecia tentar deixar o ambiente mais leve, porque o restante não fazia o menor esforço para seguir em frente. Kushina andava sempre pensativa e perdera o brilho que seu ânimo tinha, Naruto ficava grande parte do tempo enfurnado no quarto e Sasuke, o pior de todos, andava completamente irritadiço e em seu rosto sugiram profundas olheiras, não que pensasse que Sakura tivesse algo a ver com isso.

Das poucas vezes em que falara com ele, só recebera pedradas e a amostra terrível de seu mal humor. E isso ela podia afirmar de olhos fechados que tinha a ver com Fugaku, que ao retornar de sua viagem de negócios, passara a ficar mais tempo em casa, tornando Sasuke ainda mais fechado do que já era. Nunca soubera o motivo do Uchiha agir de forma tão estranha perto do pai, e honestamente não tinha vontade de perguntar, se já recebia toda a carga de mau humor só de ele estar próximo do garoto, não queria vê-lo em uma conversa na qual o homem era o assunto.

De qualquer forma, sua covardia mais o comportamento arredio de Sasuke, não tornou possível a conversa que ela tanto precisava ter com ele. E ao invés de seguir a razão e dar um tempo para as coisas, ela não conseguia mais se manter longe do loiro. Não que ela e Suigetsu chegassem a uma situação semelhante àquela em que ela subiu em seu colo quando estavam na casa do Hozuki – aquela situação foi apenas um lapso de completo descontrole de sua parte e que ela fazia de tudo para não tornar a repetir – mas ela não se mostrava mais tão arredia aos avanços do rapaz e parecia cada vez mais animada para as escapadas que dava para se encontrar com ele.

Ela sabia que não era justo com o namorado, mas a sensação de ser verdadeiramente querida por alguém era tão extasiante para si, que tentava se confortar, afirmando para si mesma que da próxima vez que visse o Uchiha iriam conversar sobre tudo. Mas era só vê-lo que repetia a mesma coisa. E assim ficou presa em uma teia de mentiras.

Ao ver mais uma vez o sinal piscante na parede do pátio, afastou os pensamentos que insistiam em lhe atormentar e recolheu suas coisas, sabendo que a próxima aula era a de biologia, na qual o seu parceiro parecia ser o único que não se encontrava diferente depois da partida da Haruno. E ela não poderia estar mais grata por isso.

Entretanto, na pressa, acabou por deixar cair o celular perto da mesa em que se sentava com o primo e Sasuke, que vendo a pressa da ruiva, apenas apanhou o telefone para que pudesse devolver mais tarde. Não sabia se devido a queda ou a mensagem que chegara, mas a tela do aparelho se encontrava acesa, de forma que foi possível ler o texto que ela recebera, sem querer.

Suigetsu: finalmente biologia! Nunca pensei que diria isso mas finalmente chegamos no quarto período.

Suigetsu: corre aqui, quero te ver logo

Suigetsu: estou com saudades Ruiva ;)

 

 

 

— Ino, por que estamos fazendo isso? — Perguntou Hinata intrigada, observando a amiga que parecia uma fugitiva de tanto que olhava os arredores, enquanto a arrastava pelos corredores a levando consigo.

— O que quer dizer? Não estamos fazendo nada, apenas não quero que aqueles idiotas aprontem com a gente mais uma vez — respondeu enquanto dava mais uma olhadela ao redor antes de se sentar em uma mesa do refeitório — tirei tanta cabeça de boneca do meu armário que quem me via carregando aquilo tudo achava que eu tinha feito um ritual satânico.

— Está mentindo, você nunca olha nos olhos quando mente — ergueu uma sobrancelha escura sobre os olhos claros enquanto ria da comparação da amiga. Não era muito de seu feitio ficar apontando tais coisas, mas o comportamento atípico estava a intrigando. Achou que Ino pararia de fugir seja lá de quem fosse nos primeiros dias, uma vez que nunca ninguém apareceu, mas ela não parou — O que está acontecendo? De quem está fugindo desse jeito?

Ino olhou por sobre as cabeças das pessoas mais uma vez antes de voltar-se para Hinata, que a encarava, esperando sua resposta.

— Kiba — respondeu apenas. Não havia conversado com Hinata sobre ter perdido a virgindade com o garoto, pois sabia o quão desconfortável ela se sentiria ao falar sobre determinados assunto – e sexo com certeza se incluía na lista –, de forma que conversou apenas com Sakura. E também porque não queria que ela a julgasse, por algum motivo, se sentia na obrigação de ficar se provando para as amigas para que elas não pensassem o pior de si.

— Achei que seu castigo tivesse acabado, já que tem um tempo que vocês não se encontram depois da aula — Hinata olhou ao redor procurando o garoto citado, até se lembrar de um detalhe importante sobre ele — Mas por que está fugindo?

— Não exatamente, não sei, na verdade. Ele simplesmente sumiu desde a última vez, agora só me manda algumas mensagens — tomou mais um gole de seu chá gelado — em nosso último encontro, Kiba me disse que iria fazer um tratamento que sua irmã tinha encontrado ou algo assim. Parece ser algo diferente do que ele já tentou e está otimista de que vai voltar a enxergar dessa vez — comentou em um dar de ombros em um desinteresse fajuto.

— Nossa, e por que o desânimo? — Exclamou ao perceber a falta de vontade a qual a loira respondera — Não é uma boa notícia?

— Acho que sim, eu só não sei o que pensar sobre isso — colocou uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha — Kiba era a única pessoa que não se importava com a minha aparência e isso foi algo diferente do que eu já estava acostumada, mas agora eu sinto que não vai ser a mesma coisa. Eu sei que estou sendo egoísta, mas eu não sei bem o que pensar.

— Você não está com medo de ele te achar feia, não é? Porque se for, não deveria gastar seu tempo se preocupando com isso — Hinata não sabia bem o porquê, mas Ino tinha uma mania de perseguição com todos os garotos que se aproximavam dela. Na verdade, não era exatamente difícil de entender o motivo: alguém deveria ter brincado com seus sentimentos, pensando que era um rostinho bonito com apenas beleza exterior para oferecer. De qualquer forma, preferiu desconversar para não deixa-la desconfortável.

— Não, sim — apoiou ambas as mãos na cabeça em desânimo — não sei. Quero que ele goste de mim independente disso, sabe? Mas toda maldita vez que saio com alguém, quando ficamos sozinho os garotos começam a agir como como polvos cretinos, com mãos para todos os lados.

— Acho que você gosta dele mais do que pensou — riu baixinho da comparação enquanto apoiava o rosto em sua mão — não que eu esteja te chamando de superficial nem nada do tipo, mas percebeu que deseja que ele não se importe com a sua aparência, coisa que você vem deixando de fazer também? Isso é algo inédito para Ino Yamanaka, não acha?

— Eu me importo sim com a minha aparência, Hyuuga — apontou na defensiva — onde quer chegar com isso?

— Nada — desconversou abanando a mão, como se para deixar o assunto de lado — Não quis dizer que você anda interessada nele, nem nada assim. Você quase nem fala sobre ele ou o que fazem juntos.

— Onde foi que você aprendeu a ser irônica, mocinha? — Apontou Ino disfarçando o calor que sentia em suas bochechas — Se Sakura estivesse aqui, diria que ela está te afetando!

Ao falar sobre ela, Hinata murchou o sorriso que estampava o rosto, se tornando mais séria e até melancólica.

— Ela tem falado muito com você? — Perguntou retraída. A amiga de cabelos rosados conversava com todas elas, tanto por chamadas de vídeo quanto por mensagens – principalmente por respeito à Tenten, que tinha dificuldades para acompanhar conversas com muitas pessoas e a ler lábios, principalmente à distância –, mas sabia que, como ela se sentia mais confortável em conversar com a Mitsashi, Sakura recorria mais à Ino para conversas mais delicadas, de forma que dependiam da loira, para que as atualizasse sobre o que a amiga estava fazendo e quando voltaria. Isso se o fizesse um dia, mas buscou ignorar o pensamento pessimista — Acho que a última vez em que conversamos foi na quarta passada, quando contamos a ela que decidimos gravar alguns vídeos para o canal que criamos.

— Conversei com ela ontem — deu de ombros, encarou o copo que remexia por entre os dedos, sentindo a graça e o constrangimento do tópico anterior dar lugar para a melancolia e saudade — Na verdade nos preocupamos muito com a mãe dela, mas parece que as coisas se ajeitaram por lá. A mãe parou de fumar e conseguiu um emprego em uma loja do bairro, mas como estava passando por alguns perrengues o irmão ficou na casa da avó. Na verdade, está tudo bem tranquilo, em uma das visitas de Sasori ao médico, Sakura me disse que a bactéria que ele tem na perna foi por conta de uma infecção hospitalar, mas aparentemente, está estável. Fora isso, ela contou que a mãe tem a obrigado ir em algumas consultas com o psicólogo ou algo do tipo.

— Fico me colocando no lugar dela, sabe? — Hinata encolheu os ombros pensando na situação.

— De Sakura? — Ino perguntou em dúvida recebendo uma negação como resposta.

— De Mebuki. Pensa só, ela tinha um casamento que do nada ruiu porque o marido foi viajar a trabalho e se apaixonou por outra mulher ou algo assim. Ficou sabendo disso por telefone, porque um amigo bêbado do marido contou pra ela e ainda recebeu um pedido de divórcio. Como se não bastasse, ainda sofreu uma batida de carro que acabou prejudicando o filho mais novo. Tudo dentro de apenas uma semana — respondeu lembrando dos fatos que Sakura lhes contou meses atrás, quando já se sentia confortável o bastante na presença delas para se abrir — sei que Sakura pensa que foi abandonada e isso a prejudicou muito, mas pensa na cabeça dessa mulher por ter que aguentar toda essa situação ao mesmo tempo e ainda ter que lidar com uma filha adolescente em casa.

— Entendo o que quer dizer — respondeu a outra, aliviando a expressão de culpa que a amiga estampava — entendo todos os lados, pra ser sincera, mesmo achando o pai dela um otário que fez merda quando quis pular fora de uma hora pra outra, mas entendo o que quer dizer. Mebuki precisou escolher suas prioridades e nunca soube lidar quando Sakura meio que surtou com tudo — soltou todo o fôlego preso enquanto pensava na amiga que estava longe. Nunca gostava de ouvir Sakura reclamando das situações que passava em casa, porque não concordava muito com a amiga. Entendia que estava sim passando por uma situação difícil, mas sempre achava que ela pegava pesado com a mãe.

— Acho que ficou difícil para ele manter algo que não estava caminhando muito bem, quero dizer, é assim errado querer acabar um relacionamento em que já não existe mais amor? — Comentou com os olhos perdidos, analisando a situação. Ino encarou a outra tentando entender onde ela queria chegar.

— É esse o problema, Hinata. Ele preferiu se envolver antes de terminar o que já tinha e isso é errado.

— Eu sei — concordou baixando a voz mordendo os lábios em nervoso — Quando minha mãe foi embora, depois de passar alguns dias e meu pai continuar a agir como se nada tivesse acontecido, ele me disse que ela tinha ido com o irmão dele e que ela preferiu nos abandonar e começar tudo de novo, longe dos problemas do passado — vendo os olhos cerúleos perdidos da amiga, Ino aconchegou-se mais ao seu lado, acarinhando os cabelos escuros em sinal de conforto — fiquei muito chateada pensando que de alguma forma eu poderia ter causado aquilo ou tentando encontrar algum motivo para que ela tivesse ido e nos deixado para trás. Mas depois de um tempo, quando consegui pensar mais claramente sobre tudo o que tinha acontecido, percebi que não fazia sentido — ergueu os olhos de alguns tons mais escuros que os seus próprios, mesmo percebendo-os embaçados pelas lágrimas que quase se derramavam — que ela ter ido embora sem mais nem menos não fazia sentido.

— Tem coisas que não precisam fazer sentido. Emoções não fazem sentido, meu pai sempre fala isso pra mim — Ino apontou enquanto continuava confortando a amiga, uma vez que sabia que o assunto no qual ela tratava a deixava triste e desconfortável, algo totalmente compreensível.

— Não é bem disso que estou falando — negou passando as laterais dos dedos em seus cílios sutilmente para pegar as lágrimas dos olhos — depois que comecei a procurar mais a fundo, descobri que ela estava morrendo. Foi embora porque estava morrendo e não queria que a víssemos quando já não pareceria mais ela mesma. E eu não me perdoei por ter pensado tão mal dela, que ela morreu e eu não pude dizer que a perdoava e que queria ficar do lado dela independente de qualquer coisa — Pegou nas mãos da loira dando um aperto mais forte ignorando o rastro das lágrimas que desciam pela pele clara do rosto contrárias à sua vontade — Eu nunca pude dizer adeus, porque o meu remorso tampou a minha visão por muito tempo.

Ino absorveu as palavras ditas por alguns minutos antes de abraçar a amiga ao seu lado. Depois de dar um tempo a ela, tirou um lenço do bolso da mochila e se colocou a limpar o rosto vermelho de Hinata, que parecia ainda mais frágil que a figura inofensiva que geralmente ostentava.

— Foi por isso que insistiu tanto para ir com a Tenten encontrar o pai dela, não foi? — Perguntou em um tom de afirmativa recebendo a resposta que já esperava.

— Não queria que ela se sentisse mal como eu me senti. Eu não tive a chance de conversar com a minha mãe e entender o que ela estava passando até ser tarde demais, mas Tenten e Sakura têm essa chance.

— Não acho que Tenten seja capaz de perdoar o pai ou até mesmo conversar com ele — Ino encolheu os ombros imaginando a situação da amiga recentemente surda — E não tiro a razão dela, Hinata. Talvez de todas nós, você seja a mais compreensiva e a que tenha uma maior frieza para pensar racionalmente, mas Tenten é a mais sangue quente de nós e acho que eu teria a mesma reação que ela teve quando fugiu do encontro que ele marcou com ela.

Hinata balançou a cabeça concordando com a amiga em partes, realmente Tenten e Sakura eram mais emotivas do que as duas.

— De qualquer forma, elas têm a chance de esclarecer as coisas, Tenten com o pai e Sakura com a mãe e com o pai, mas elas são tão... — não conseguiu uma palavra para que conseguisse descrever as amigas que tanto a preocupavam.

— Cabeça dura? Teimosas? — Hinata concordou assentindo enquanto deixava um riso frouxo e sem graça escapar por entre os lábios — Talvez. Acho que esse tempo em que Sakura passou com a família tenha sido melhor do que imaginamos — Ino tomou uma respiração mais profunda e depois de soltar quase todo o ar, voltou-se mais séria encarando a amiga — Acha que ela vai voltar?

Hinata não tinha uma resposta. Se deixasse seu lado egoísta dominar, responderia de prontidão que sim, mas sabia que o tempo em que Sakura estava longe fora bom para ela, e até a deixava longe de toda a confusão sentimental que arrumara ali, como Naruto lhe segredou um dia desses. Se culpou por não ter percebido a situação delicada em que a amiga se metera e se julgava uma péssima companhia, mas o loiro tratou logo de tirar esses pensamentos dela afirmando que não tinha nada que pudesse fazer. Que isso era algo que apenas ela e talvez o Uchiha conseguiriam resolver e que estava tudo bem. Ela não poderia lutar a batalha de outras pessoas, apenas esperar pelo melhor e era o que tentaria fazer.

Ela queria que a amiga voltasse, mas com todo o coração desejava que ela se encontrasse de novo. E se era de um tempo longe que ela precisava para tomar essa decisão, então cabia a ela e as demais esperarem. Seu peito ardia de saudade dos tempos em que passaram juntas e de todas as risadas, mas pensaria nela primeiro.

— Eu não sei — respondeu sincera — Mas espero não soar egoísta torcendo para que ela ligue nos dizendo que está voltando agora mesmo.

— Eu entendo o que diz, mas não me importo de ser egoísta — brincou em uma tentativa de amenizar o clima tenso que acabou se armando entre elas, o que conseguiu, uma vez que Hinata riu divertida em seu riso contido. Mudaram então de assunto para qualquer outra banalidade, até a campainha soar ao fundo, anunciando o final do intervalo. Recolheram então as coisas para que pudessem voltar para a sala.

Ao alcançar o celular em cima da mesa, conseguiu visualizar a mensagem não lida que fora enviada há poucos minutos daquele de que ela fugia com tanto esmero.

Kiba: Desculpe sumir do nada, mas lembra da nossa última conversa no parque?

Kiba: Tenho ótimas notícias para te dar, Linda =D

Com aquilo, todas as preocupações que Hinata conseguiu espantar para longe voltaram com força total, a fazendo levar o dedo à boca, roendo a unha em uma reação que tinha sempre que ficava nervosa. Como não tinha a presença de Sakura ao seu lado, ninguém a impediria de roer as unhas até deixa-las no toco, como acontecia antes da amiga cor-de-rosa passar a ralhar com ela sempre que fazia isso.

Uma parte de si se encontrava feliz porque um cara cego e extremamente bacana – e que tirara sua virgindade em seu último encontro, mas este era apenas um detalhe – poderia voltar a enxergar e isso era quase um milagre, mas outra parte lhe sussurrava com a voz amedrontada de outra questão.  Será que poderia ele lhe enxergar de fato? O que estava longe da superfície?

 

 

 

Sentia uma sensação incômoda, como se um inseto sobrevoasse seu corpo, andando sobre a sua pele de forma contínua, picando-o uma vez ou outra, fazendo que com não que fosse dolorido, mas algo impossível de se ignorar e isso o estava irritando.

Na verdade, já fazia um bom tempo desde que as coisas não o irritavam. Acordar de manhã o irritava, já que suas noites de insônia passaram a ser mais constantes e prolongadas, fazendo com que ele dormisse menos do que costumava fazer, irritando-o, já que a noite demorava a passar e o sono nunca chegava. Durante o dia, os assuntos discutidos nas salas de aula não o prendiam mais, dando a impressão de como estivesse desperdiçando seu tempo ali sem fazer nada. E até mesmo seu treino, que já o irritava antes por não se tratar do esporte que ele gostaria de se dedicar o deixava irritado. Gai com a sua incompetência de não saber sinalizar ao menos uma conversação básica, mesmo sendo o professor responsável pelo time já há vários anos, o deixava irado, de modo que tinha que se esforçar para entender o que o homem estava dizendo ou o que queria que ele fizesse.

Até mesmo debaixo d’água, seja em sua piscina ou mesmo na escola depois do treino acabar, onde achou que teria paz e sossego com o mundo todo mudo, não encontrou a tão esperada calmaria que sempre o recebia mesmo nos mergulhos mais curtos.

E neste momento, Naruto estava o irritando. Não que estivesse prestando atenção no que o loiro falava – ele tinha uma péssima mania (ou talvez fosse algo comum dos ouvintes, não sabia) de mudar de assunto mais rápido do que conseguia acompanhar, mas desde que começara a sair de forma frequente com a Traça de livros, amiga de Sakura, Sasuke estava achando o amigo insuportável.

Ele comentava de seu tom de voz meloso – para um surdo! Como se ele pudesse ouvi-la! –, do cheiro doce e enjoativo de seu cabelo, da forma estúpida como ela corava toda vez que ele chegava mais perto, colocando as mechas do cabelo escuro atrás das orelhas para desviar a atenção do rubor que tingia as bochechas redondas, até das roupas que pareciam ter saído do guarda roupa de sua avó, ele lhe dizia.

E Sasuke não poderia se importar menos. Aturar Naruto apaixonado era com certeza pior do que quando ele se encontrava em seu perfeito estado mental, mesmo que este também fosse duvidoso.

Algumas poucas vezes em sua vida Sasuke teve o desejo real de ouvir – como quando acontecera de Sakura cantar para ele em seu quarto da última vez em que estiveram juntos por exemplo –, para que fosse capaz de escutar algumas coisas específicas. Mas este não era nem de longe uma dessas ocasiões. Ele na verdade se encontrava agradecido por não ouvir.

O fato de poder se desligar de Naruto só de parar de prestar a atenção em suas mãos que sinalizavam tão bem quanto qualquer fluente em língua de sinais era com certeza mais fácil do que precisar escutar toda aquela ladainha interminável.

Ao finalmente chegar ao seu destino, que parecia mais longe do que deveria, uma vez que a escola não era muito grande, abriu seu armário para poder trocar os livros para os das matérias das últimas aulas. Quando terminou a troca de materiais, seus dedos esbarraram por uma forma fria dentro da mochila, que constatou instantes depois se tratar do celular de Karin.

Alcançou o objeto nas mãos, encarando a tela riscada e a capa plástica vermelha na parte traseira, ao apertar o botão central, viu a tela se acender, exibindo novamente as últimas mensagens recebidas. Guardou então o telefone no bolso da calça e fechou a bolsa com tudo o que precisava. Sem esperar o amigo, que não tinha mais aula junto consigo naquele dia, caminhou a passos largos até o final do corredor onde se encontrava o mural de avisos do colégio e passou os olhos em busca dos horários de todas as turmas. Encontrando exatamente o que precisava, se encaminhou para o segundo andar, subindo rapidamente os degraus. Estava tão tenso, que todos os músculos de seu corpo pareciam estar tensionados, assim como as mãos cerradas em um punho firme.

Ao pisar no último degrau, virou para a esquerda passando por três portas antes de parar na que procurava. Com a mão esquerda dominante, desceu a maçaneta metálica levemente curva em sua extremidade afim destravar a porta, empurrando-a para dentro logo depois. Ao conseguir o espaço necessário, deu um passo à frente para que parte do seu corpo adentrasse, tornando possível ver os rostos que o encararam assim que abriu a porta.

Varreu os olhos pelos alunos procurando a face de quem desejava e não conseguiu localizar a garota. Trocou o peso de seu corpo para o pé que ficara no corredor e puxou a porta consigo para fechá-la novamente sem dar explicações a turma que ficou sem entender a sua presença em uma sala que claramente não pertencia.

Olhou de volta para a escada considerando deixar para lá, mas ao tornar a olhar para o fim do corredor, o qual abrigava mais duas portas de salas de aula, encarou a porta da sala na qual o zelador guardava algumas ferramentas se abrindo. De lá pôde ver a garota que procurava, mas não enxergou quem a acompanhava.

Apenas conseguiu enxergar uma mão de pele clara subindo em direção a lateral do rosto da ruiva, enquanto a oposta se encaixava em sua cintura, uma posição próxima demais para duas pessoas que deveriam ser apenas dois amigos.

Não pensou, não teve tempo. Seu corpo apenas agiu. Colocou um pé na frente do outro, para depois repetir o processo com outro pé, rasgando rapidamente o corredor. Ao chegar de frente à porta, se colocou atrás de Karin e ergueu o braço, adentrando na pequena sala com a sua mão direita que passou pelo vão que o ombro da garota deixava. Ao sentir o pano macio por entre os dedos, fechou o punho no tecido e puxou o garoto para fora.

Karin mal pôde compreender o que estava acontecendo, apenas pulou no lugar ao sentir um braço passar raspando pela pele de seu pescoço, sentindo um mal estar logo em seguida. Apenas dar uma passada rápida para o lado e dar passagem para Suigetsu que foi arrastado para fora e arremessado contra a parede logo em seguida.

Pelo que conseguia lembrar, Sasuke apenas se sentiu irado daquela forma uma vez em toda a sua vida, quando ainda era criança, aproximadamente uns 5 ou 6 anos de idade, e estudava em uma escola para ouvintes que ficava no mesmo bairro em que residia antes de se mudar para a casa vizinha a dos Uzumaki. Como ainda não estudava em uma escola para surdos, o máximo de acompanhamento que tinha era de um fonoaudiólogo que o ajudava com a fala, uma vez que era a única forma que sabia se comunicar na época.

 

Lembrava dos garotos que o atormentavam, seja roubando o seu dinheiro ou bagunçando seu cabelo, mas nunca foi de revidar tamanha importunação. Entretanto, quando em uma aula em que ele deveria apresentar um trabalho na qual fizera um cartaz que levou boa parte de seus dias ornamentando-o com canetinhas coloridas e colagens, esses mesmos garotos continuaram a brincar consigo como sempre faziam. Puxavam seu cabelo e suas roupas, chutavam sua cadeira e estapeavam sua nuca, porém não se abalou pois estava muito animado para a apresentação, que ao mesmo tempo era uma preocupação pois não gostava de falar em público para muitas pessoas.  Por algumas apresentações terem levado mais do que o esperado, a professora avisara que dariam continuidade após o recreio e isso o deu mais tempo para respirar. Comeu o lanche que sua mãe fizera pra ele naquela manhã e foi ao banheiro antes de ir para a sala, para onde se encaminhou logo depois de se aliviar.

Quando chegou, foi surpreendido por ver o mesmo grupo de garotos empoleirados em sua mesa. Mirou o que parecia ser o líder daquela gangue e o viu com o seu cartaz nas mãos, mostrando aos amigos e falando uma porção de coisas que não o interessariam nem se fosse capaz de ouvi-los. Se encaminhou para lá para que pudesse pegar de volta o que era seu, mas quando estava a poucos passos de chegar no pequeno meliante, sentiu-se perdendo o equilíbrio e seu corpo foi ao chão, porém em um reflexo rápido, conseguiu se apoiar nas mãos evitando bater o rosto também. Ignorando a dor nos joelhos que absorveram o maior impacto da queda, levantou o tronco e olhou para trás, enxergando um dos meninos com a perna esticada que o fizera tropeçar. Ao levantar o olhar, viu o mesmo garoto rindo como se visse a cena mais hilária de toda a sua vida e ao mirar a roda de pivetes que se formara ao seu redor, viu-os rindo e apontando para si como um uma atração de circo.

Levantou-se calmamente e esticou o braço enquanto pedia calmamente para que devolvessem o seu trabalho que fizera com tanto esmero. Porém o garoto riu e o entregou calmamente para um comparsa apenas para livrar as mãos, que se ocuparam em agarrar a frente de sua camiseta do uniforme, o empurrando no chão, para logo montar em cima de sua barriga, socando-o no rosto.

— Olhem só, pessoal — conseguiu ler os lábios dele — a aberração quer que devolvemos o trabalho de bixinha dele. O que acha Kenji? Acha que devemos devolver? — Por não tirar os olhos do menino que estava sobre si, não soube dizer o que o outro respondera, mas não importava, porque sabia que eles não iam dá-lo de volta.

Tentou empurrar o corpo maior e até conseguiu, mas logo foi empurrado e sentiu seus ombros serem segurados por outro comparsa. Zaku, o garoto maior que o empurrara, socou-lhe novamente o rosto enquanto ria com os amigos, zombando de sua voz e do modo que ele falava. Tentou revidar algumas vezes e acertou a maior parte dos golpes que desferira, e em uma dessas tentativas sentiu mais uma vez seu corpo ser puxado para trás, porém de forma definitiva, separando-o dos garotos que se engalfinhava. Tentou se desfazer dos braços que o enlaçavam, mas ao ver que se tratava da professora, se acalmou. Ela resolveria toda a confusão.

Mas não foi bem assim.

A professora responsável por aquela turma perguntou para os garotos o que estava acontecendo e ao ver que apenas Sasuke e a turma de Zaku estavam presentes na hora em que tudo ocorrera, ela perguntou para cada um o motivo de toda a confusão. Por estar muito agitado, Sasuke não conseguiu prestar atenção no que eles diziam – o que não importava, já que eles só diriam mentiras – mas esperou paciente a sua vez de falar.

— E então, Sasuke — disse ela virando para si, olhando em seus olhos e pronunciando as palavras mais devagar para que o garoto conseguisse compreender — o que foi que aconteceu?

— Eles pegaram meu trabalho — respondeu também de forma vagarosa. De certa forma, ele sabia que sua voz soava diferente das outras pessoas, porque todos os que o ouviam falar pela primeira vez faziam uma careta de confusão e tinham dificuldade para entender o que dizia, portanto, a saída que arrumara era pronunciar devagar e tentar dizer da forma mais clara e objetiva possível — me empurraram e começaram a bater em mim quando tentei pegar de volta.

Sabia que os garotos disseram algo em resposta, mas não se ocupou em saber o que, apenas continuou a encarar a professora.

— Todos eles me disseram que o trabalho pertence a Zaku e que foi você que tentou tomar dele.

— É mentira! — Rebateu prontamente.

A mulher, sem saber o que fazer, varreu os olhos pela sala. Sabia que aquele grupo dava trabalho, mas não podia ter certeza, uma vez que Sasuke, por sempre se manter quieto, não deixava que as pessoas o conhecessem a fundo. Quando estava para dar sua palavra final, um garoto ergueu a mão, pedindo para falar.

— É verdade — disse ele enfiando as mãos nos bolsos — Zaku só estava se defendendo. O Uchiha tentou pegar o trabalho dele e quando Zaku disse que não ia entregar, já que era injusto, Sasuke foi para cima e começou a bater nele.

Sasuke não viu o que o outro dissera, o garoto estava muito longe para que conseguisse a leitura labial, mas sabia que o garoto que falava com a professora não era do grupo que o atormentava e se sentiu mais tranquilo. Ele certamente confirmaria que Zaku e seu bando só sabiam atormentá-lo desde que ele chegara naquela turma.

Mas algo na expressão da professora denunciara que não foi exatamente isso que aconteceu. A professora então tomou em mãos o cartaz amassado que Sasuke finalmente conseguira recuperar e o entregou nas mãos de Zaku que o sorria maldoso e o Uchiha permaneceu com o olhar fixo, sem se importar em virar para a mulher que desferia uma bronca em si. Quando ela virou as costas, Sasuke correu direto para o moleque presunçoso, derrubando-o no chão para soca-lo repetidas vezes em um momento de fúria, sem se importar com o cartaz em que colocara tanto esforço, rasgado e amassado sob seus pés.

 

Naquele momento, Sasuke se sentia quase que da mesma forma. A fúria quente que comandava seus punhos um atrás do outro em direção ao maxilar de Suigetsu não o deixava pensar e colocou toda a sua atenção somente naqueles movimentos contínuos, que acabaram por levar os dois ao chão sem que ele ao menos conseguisse registrar a queda. Apenas buscou a libertação de toda a mágoa e irritação que sentia durante todos esses dias. Não era por Karin. Suigetsu apenas tivera a infelicidade de ser o receptor de tudo o que o Uchiha sentia no momento.

E claro que este revidava, a dor em suas costelas e rosto serviam de prova, mas Sasuke era maior e estava com muito mais raiva que o garoto, de forma que para cada golpe que Suigetsu acertava, Sasuke revidava com mais três. E ele só parou depois de um enlace firme de braços conseguiu paralisá-lo e o arrastar de cima do outro. Com a respiração alterada se desvinculou do abraço firme, que depois percebera ser de Naruto, e encarou Suigetsu sendo ajudado por outros alunos, enquanto limpava o nariz que sangrava. Levou os olhos até Karin, encontrando-a escorada na parede com os olhos arregalados e mão tampando a boca em uma expressão de choque.

Colocou a mão no bolso sentindo o material causador do estopim de sua raiva e o agarrou entre os dedos. Deu poucos passos sendo acompanhado de Naruto, que grudou-se em sua lateral, e Suigetsu que pulou para o lado de Karin, como se para defende-la de qualquer agressão que o Uchiha pudesse desferir contra a garota – em outro momento tinha certeza que viraria os olhos em uma expressão de repúdio, como se ele algum dia pudesse levantar um dedo para qualquer mulher –, mas isso não o impediu e continuou avançando até estar de frente para os olhos castanhos arregalados. Karin tirou a mão que cobria a boca e tomou fôlego para dizer qualquer coisa, mas desinteressado em qualquer coisa que ela pudesse fazer, Sasuke tirou o aparelho do bolso e o jogou no ar. Em uma parábola, o objeto encerrou sua queda nas mãos trêmulas da garota sem reação.

Ao sentir um toque em seu ombro, Sasuke nem precisou se virar para saber de quem se tratava, apenas deu meia volta e se colocou a acompanhar o diretor que também chamara Suigetsu para acompanha-lo para sua sala. Enquanto atravessavam a escola, Sasuke conseguia ver a expressão dos alunos e viu curiosidade estampada na feição da maioria, mas percebeu alguns sorrisos sendo direcionados a si em apoio. Esses, ele sabia, eram todos surdos.

 

Depois de todo o discurso que foi ignorado e todas as perguntas sem resposta, Kakashi não teve muito entendimento da situação, mas o estado do aluno Hozuki indicava que ele sofrera a maior parte dos golpes. Soltando o fôlego junto com seu último fio de paciência, cruzou os dedos e encarou os dois alunos de frente para si, dando por fim seu decreto: para Suigetsu, uma suspensão de três dias, contando a partir do dia seguinte; para Sasuke, uma suspensão de cinco dias, uma convocação de sua mãe ao colégio e a expulsão do time de polo.

Depois que os dois saíram, Kakashi encostou o tronco na cadeira, relaxando a postura. Tinha a impressão de que independente do castigo, o garoto Uchiha não tiraria a expressão de tédio que estampava seu rosto. Ele nem tinha certeza se o aluno chegou a compreender suas advertências, uma vez que Sasuke parecia ignorar todos os sinais que ele fazia com as mãos.

Esses garotos tinham o dom de tirá-lo do sério.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso então, me contem o que acham, estou curiosa.
E sim, depois dessa acho que vocês já sabem quem vem término por aqui (aleluia o/).
Uma coisa que queria contar é que andei alterando o roteiro que tinha pensado para Just Listen e tive que alterar algumas coisas, nada muito longe do que eu pensava inicialmente, mas para ter SasuSaku como um casal em si, vai levar um tempinho, mas antes disso eles vão ter seus momentos, então nada muito preocupante, ok?
Para um mini spoiler, acho que o que posso dizer é que no próximo terá momento SasuSaku e talvez ela já volte para a alegria de alguns. Se não couber, é no próximo do próximo que ela volta, mas SasuSaku terá, prometo! xD

Não sei quando sai o próximo. Estou em fase de TCC na faculdade, mas vou me esforçar para não demorar muito dessa vez. Como já disse para alguns, tenho um projeto de finalizar JL ainda esse ano. Mas se eu demorar, podem me cobrar porque foi algo que funcionou dessa vez haha
Beeijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Just Listen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.