Lembranças de Uma Mente Instável escrita por MahDants


Capítulo 3
Acordado Por Um Sonho


Notas iniciais do capítulo

Oi! :)
Voltei rápido, porque eu tive um surto de inspiração e porque recebi comentários maravilhosos no capítulo passado! Muito obrigada :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/573124/chapter/3

Ela provavelmente tinha a minha idade, talvez fosse uns cinco centímetros mais alta, e tinha a aparência muitíssimo mais atlética. Com seu bronzeado intenso e o cabelo loiro cacheado, era quase exatamente como eu imaginava uma típica menina da Califórnia, a não ser pelos olhos, que arruinavam essa imagem. Eram surpreendentemente cinzentos, como nuvens de tempestades; bonitos, mas intimidadores. (...) Ela deu uma olhada no chifre de minotauro em minhas mãos, então de novo para mim. Imaginei que fosse dizer: você matou um minotauro! ou Uau, você é tão assustador! ou algo do tipo. Em vez disso, ela disse:

– Você baba quando está dormindo.

– Percy Jackson e o Ladrão de Raios, página 72.

~*~

Não fui direto para a escola. Eu não queria. Sabia que a partir do momento que eu colocasse os pés nela, teria que me comportar impecavelmente bem para não ser expulso dessa também. Teria que ser engravatado e ter o cabelo engomado, e, por enquanto, eu queria conhecer a cidade.

Combinei com o Grover que o encontraria na escola. Ele me deu um panfleto de lá, caso eu precisasse para pedir orientação, e levou minhas malas alegando que acharia o nosso quarto por mim. Eu fiquei aliviado, porque não queria ouvir as boas-vindas de uma freira velha me falando que ali eu atingiria a felicidade.

Parei em algum ponto perto do aeroporto e desci do táxi, decidindo caminhar. Aquela era a melhor maneira de observar os detalhes, afinal. Conheci San Francisco, pelo menos o que eu poderia conhecer superficialmente em três horas e meia, e confirmei tudo o que eu já sabia.

As pessoas tinham um típico bronze na pele e pareciam simpáticas e relaxadas ao andarem nas ruas, completamente diferente ao caos que era o habitante nova-iorquino. Eu sentia que ia gostar daquela cidade, que conseguia ter um Sol intenso brilhando no céu e ainda assim uma neblina fria de encontro com o seu rosto. Ali eu teria paz e amor, e eu entendia por que minha mãe insistiu para que eu me mudasse para lá. Era bom.

Era como Nova Iorque, para ser honesto, mas limpo. Bem mais limpo, e bem mais calmo e bem mais saudável. Eu não era o único que preferia andar a pegar um carro, e eu vi muitas bicicletas livrando o trânsito de algo caótico. Era um bom estilo de vida para quem precisava recomeçar e, por um momento, eu esqueci toda a loucura do sonho.

Eu era somente Percy Jackson, um garoto normal de dezesseis anos novato em uma nova escola.

Com um novo propósito, decidi ir para a escola. Encontrei-me com o Grover no jardim de entrada e, por um momento, me permiti ficar encantado com o tamanho do lugar. Eu me sentia um filho de um português rico que havia sido mandado para um centro religioso na época que em que a Igreja Católica estava em seu auge. É, bem assim.

A arquitetura do local me lembrava de tudo que eu já havia visto de Portugal, principalmente da cidade de Fátima, destoando-se completamente do astral de São Francisco. Eram construções monstruosamente grandes e antigas e brancas. E grandes.

As pessoas também eram diferentes do que eu havia encontrado pela cidade, e pensei que ali era o fim da minha liberdade. Porém, à medida que eu andava, passei a perceber que aqueles alunos não eram reprimidos, apenas ostentavam de uma disciplina rigorosa, provavelmente aplicada pelas irmãs da escola.

Grover me indicou o quarto no início do corredor, mas não seguiu comigo, alegando que tinha conhecido algumas pessoas e queria passar mais um tempo com elas. Assenti, caminhando até a porta apontada e encontrando um quarto médio de paredes verdes, com duas camas dispostas em extremos opostos.

Deitei-me na que Grover colocara minhas coisas, e, antes que eu pudesse evitar, peguei no sono. Um sono que, novamente, eu via o rosto de Annabeth sorrindo para mim.

– Ei, acorde – era a voz de uma garota, e eu estava associando a Chase quando percebi que a voz vinha do mundo real. – Definitivamente, eu não sou paga para isso. Ei, cara, acorda.

Abri os olhos e, de início, pensei que continuava sonhando. Para minha total surpresa, a primeira imagem do quarto que eu captei foi uma garota loira sentada na beirada da minha cama cutucando o meu pé.

Ela era bronzeada, como todos ali, mas seus cachos revoltosos e rebeldes traziam algo diferente do padrão daquela escola. Eles gritavam a tal liberdade que eu tanto queria. Eles e seus olhos. Os olhos da garota, cobertos por um fio loiro e inquieto, eram cinza como um dia de tempestade raivoso. Eles me assustariam, se eu não estivesse associando sua imagem a outra pessoa.

– Annabeth – acabei sussurrando antes que eu pudesse controlar.

– Ótimo, você já sabe quem eu sou, isso nos poupa tempo.

Sua voz era picante. Irônica, mas sem ser maldosa. Livre de qualquer doçura, mas incomparável com algo rude. Além de ser forte.

Por um momento, meu peito se incendiou de esperança.

– Por que eu deveria saber quem é você? – perguntei.

– Porque eu sou monitora dessa escola.

E isso arruinou qualquer chance de meu sonho ser verdade.

Além disso, ela estava diferente do que eu me lembrava. Parecia com ela, mas era... Real. Concreta. Foi tendo uma imagem física dela que eu percebi que qualquer lembrança de Annabeth era um simples borrão ilusório da minha mente. Uma lembrança vazia, como dissera o médico.

Isso tornava tudo um patamar mais elevado. Quero dizer, ela era de verdade. Meu peito bateu mais rápido por alguém de verdade. E continuava batendo.

– Sou Percy.

– Perseu Jackson – ela concordou. – Está na ficha. Seu colega de quarto, Grover, já marcou presença lá fora. Todos já marcaram.

– Hã... Ok. Eu vou... Onde eu preciso marcar presença, exatamente?

Ela revirou os olhos, erguendo-se da cama.

– Você tem cinco minutos para estar no auditório, não vai gostar se contrariar.

Eu assenti, pesaroso, e levantei da cama. Annabeth estava quase saindo do quarto quando, de repente, pareceu se lembrar de algo e se virou.

– E limpe o rosto, tem baba escorrendo aí.

Passei a mão no rosto enquanto ela deixava o quarto com uma expressão de superioridade.

Eu queria estar morto.

Não usei os cinco minutos para procurar pelo auditório. Apenas desamassei minha camisa e arrumei meus cabelos antes de deixar meu quarto e explorar os corredores daquela escola. Cada minuto que eu passava lá, mais eu me sentia no século XVI do que na Califórnia. Aquilo não tinha nada de tecnológico e liberal.

O auditório, porém, não parecia um teatro antigo e elegante. Era um auditório comum de escola, e quase fiquei aliviado por isso. Quase. Um terço das cadeiras estava ocupada e, em meio às cabeças assustadas, encontrei o ruivo do Grover. Aproximei-me, um pouco perdido, e sentei ao seu lado.

– Preciso falar com você – falei.

– Aconteceu alguma coisa?

– Annabeth.

A expressão dele passou de curiosidade para preocupação.

– Percy...

– Escute. Ela está aqui. Eu não sei como isso é possível.

– É? Onde ela está?

Rodei a cabeça pelo auditório e, então, encontrei-a no palco junto a um garoto parecido com ela. Exceto pela pele. Ele parecia levar tanto Sol quanto eu. Ou seja, nada.

– Bem ali.

Grover franziu a testa, bem no momento que o garoto se aproximou do microfone.

– Bem-vindos a um novo ano no Instituto Slugworth – ele abriu um sorriso simpático. – Meu nome é Luke Chase, e eu sou o monitor de vocês. Ou o braço direito da diretora, como preferirem. Sei que a primeira impressão que as pessoas têm ao entrar aqui é que perderam a liberdade, e que viverão em um mundo altamente disciplinado, mas isso é apenas papo. Tudo lorota. Slug, como eu gosto de apelidar, é tão normal quanto qualquer outra escola. Mas com vestes comportadas.

Ele passou algum tempo ressaltando as normas da escola sempre com um tom bem humorado. Ele era tão simpático e comunicável que não dava simplesmente para não prestar atenção no que ele falava no microfone. Perdi o foco algumas vezes, verdade, pensando em assuntos aleatórios, distraindo-me com o ambiente, e olhando entranhadamente para Annabeth, mas ouvi boa parte do que ele queria passar.

Luke. Ele se parecia com Luke Castellan, exceto pelo fato de ter os cabelos um pouco mais claros do que eu me lembrava. Mas ele não era Luke Castellan, era Luke Chase, e isso me confundiu por alguns minutos.

– Agora vem a parte interessante – ele falou, e depois riu. – Nós gostamos de separar os alunos em grupo vermelho e o grupo azul. O que é isso? Deixo Annabeth explicar, porque minha boca está preocupantemente seca. Obrigado pela atenção de vocês.

– Boa tarde, novos alunos – saudou Annabeth. – Meu nome é Annabeth Chase, e eu sou a irmã mais nova do Luke. Diferentemente dele, ainda estudo aqui e, por isso, posso observar de perto o comportamento de vocês. Sou a monitora dessa escola, assim como ele. Aqui no Instituto, nós separamos os alunos em um grupo vermelho, ou seja, os atléticos e artistas, e o grupo azul, os intelectuais e tecnológicos.

“Acreditamos que cada um de nossos alunos têm uma vocação guardada dentro de si, e é por isso que nos preocupamos em achar cada uma delas e orientá-las. Temos acessos a seus históricos escolares, e separamos vocês de acordo com o que imaginamos. Obviamente, essa lista é maleável após o primeiro mês, caso não se identifiquem, e vocês podem ter acesso a ela no final desse corredor, no quadro de avisos”.

“Luke é o responsável pelo grupo vermelho. Os que estiverem nele, deverão fazer parte de uma das três modalidades esportivas que o Instituto oferece ou participar de algum clube artístico da escola. Ao longo do ano concursos e campeonatos serão disponibilizados a vocês, e serão passados pelo Luke”.

“Eu sou a responsável pelo grupo azul. Organizo o grupo de leitura, o grupo de debate sobre ciências políticas, grupo de pesquisas biológicas e o campo da tecnologia. Passarei para vocês, ao longo do ano, as olimpíadas de matemática, física e química, e terei prazer em incentivar o conhecimento em cada um de vocês”.

“Preciso alertar, porém, sobre uma prática comum dos antigos alunos. Grupos azuis e vermelhos não se misturam. Não sei por qual razão, mas há uma rivalidade nos corredores e pátios da escola, cada ano mantida e reforçada. Não tentem distruir isso se pretendem sobreviver ao Instituto”.

– Ela é exatamente o que você descreveu – sussurrou Grover, assustado. – Como isso é possível?

– Olha, cara, eu não faço ideia. Mas você lembra que eu falei de um filho de Hermes?

– O traidor?

– Sim.

– Lembro.

– Ele se chamava Luke – inclinei o queixo para Luke Chase no palco. – E era um pouco parecido com esse cara.

– Coincidência.

– Tenho que pensar que sim, não tenho?

Ele engoliu em seco. A verdade era que eu não queria pensar naquilo. Não naquele momento.

– Sintam-se livres para participar do jantar de boas vindas na cantina. Segundo corredor a direita – finalizou Annabeth.

– Comida, pessoal – brincou Luke, e algumas pessoas aplaudiram.

Eu fiquei mais um pouco no auditório, pelo menos até todos irem embora. Grover foi na frente, e me mandou uma mensagem dizendo que eu estava no grupo vermelho. Seria complicado me aproximar de Annabeth dessa maneira, foi a primeira coisa que pensei.

Me perdi em meio aos corredores e, por sorte, a pessoa que eu mais queria encontrar estava pregando um aviso no quadro do final daquele corredor vazio. Aquela escola tinha muitos quadros de aviso.

– Ei, espera – ergui a voz quando ela ia se afastar.

Annabeth se virou com uma sobrancelha erguida.

– Claro. Perseu Jackson. Está no grupo azul?

– Vermelho.

Ela ergueu uma sobrancelha.

– Qualquer dúvida deve ser tirada com o Luke.

– Não é isso, é...

– Olha, novato, eu sei que você não está acostumado com isso, mas as pessoas se dividem. Azul com azul, vermelho com vermelho. Captou?

– É só que você tem cara de quem gosta de mitologia – tentei.

Para a minha surpresa, a expressão de Annabeth suavizou e ela riu pelo nariz.

– Você quer conversar com uma garota, e é isso que vem em sua cabeça?

Senti-me constrangido e ela revirou os olhos.

– Seu quarto é do outro lado do prédio. Sugiro ir para a cantina e sair pela passagem de lá – ela falou, afastando-se.

Assenti, nervoso, e observei sua imagem se distanciando até que eu estivesse sozinho naquele corredor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu tinha escrito o encontro Percy e Annabeth um pouco mais clichê, com respostas bem elaboradas do Percy e tudo mais, mas então eu pensei... Esse não é o Percy do tio Rick. Acho que vai chegar em um ponto de amadurecimento dele em que eu me sentirei livre para abusar da malícia dele, mas, por enquanto, ele ainda tem a personalidade um personagem de livro infantil. Inocente, bobo e ingênuo.
Particularmente, personagens assim me irritam um pouco, mas tenham calma que ele muda.
E quanto a Annabeth, e o Luke, terão muitas explicações quanto a isso no passar dos capítulos. Avisei e repetirei: a fic é UA. A explicação não é mitológica, mas existe uma. Apenas tenham paciência.

E sim, eu precisava do Luke de alguma forma da fic e, o que eu imaginei, foi tendo ele como o irmão sexy e mais velho da Annabeth. Por que não, certo?