As Mulheres de James Sirius Potter escrita por Lia Galvão, Miss Stilinski


Capítulo 24
Dominique Delacour Weasley, mas não é isso que vocês estão pensando


Notas iniciais do capítulo

Ok. Pode ler de novo. Eu espero. Pode piscar e coçar os olhos. Não, você não tá alucinando. NÓS ESTAMOS DE VOLTA! Depois de quase três loooongos anos, finalmente tamo aqui de novo! Eu tenho muita coisa pra falar ok?
Primeiro: Eu consegui formar! Só demorou isso tudo de tempo e muitas pedras no caminho, mas o tcc finalmente foi apresentado e agora podemos as duas nos dedicar no tempo livre pra concluir essa fic. A gente sempre jurou que nunca ia abandonar antes de concluí-la e cá estamos pra provar isso! Foi um longo hiato, mas chegou ao final!

ANTES DE LER ESSE CAPÍTULO!
eu recomendo muuuito que vocês voltem e leiam o anterior. Em fevereiro desse ano nós fizemos algumas mudanças muito significativas nele, incluímos coisas importantes, mudamos um pouquinho o final (que foi meio realocado para esse capítulo aqui) e, enfim, ele dobrou de tamanho praticamente, então se por algum acaso você não abriu esse capítulo desde a postagem ou então desde de fevereiro desse ano dê meia volta e vá relê-lo porque da metade pro final muita coisa foi alterada ok?
E lá também tem um micro resuminho do que aconteceu pra levar até ali, assim ninguém fica muito perdido, porque eu sei que é muita coisa.
Então rebobina e boa leitura para vocês! /Lia Galvão



"Voltamos, CARAI! Pedimos MIL PERDÕES PELO DESAPARECIMENTO, MAS CONFESSO QUE FOMOS SEQUESTRADAS E OBRIGADAS A ESCREVER ESSE ANO! Espero que nos perdoem e aproveitem o capítulo. Está do babado!" / Miss Stilinski



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Não tinha o quê dar certo.

Eu precisava terminar aquela maldita poção. Lembram? Aquela que eu estava desenvolvendo pra ficar mais resistente à viagens mágicas e poupar os enjoos? Pois é.

Foi meu único pensamento ao sair da lareira d’A toca para a sala. Os cheiros de comida se misturavam, as vozes das pessoas vinham de dentro e fora da casa, alguma louça quebrou não muito longe dali.

— Pelas barbas de Merlin! — Teddy segurava o ar, em suas mãos anteriormente deveria estar o prato que, agora, encontrava-se espatifado no chão. — Você está vivo. — Seus olhos estavam vidrados em mim, eu sorri.

— Mon amour, o que foi que… — Victoire entrou na cozinha, congelando após apenas quatro passos, mais um par de olhos em minha direção. — Não pode ser... 

— Olá família. — Saudei, dando um leve tchauzinho no ar e sorrindo. — Estou de volta. — Declarei.

— Não pode ser. — Victoire repetiu, agora seus olhos me escaneavam dos pés à cabeça e o caminho de volta. — Não pode ser. — Disse mais uma vez, aproximando-se. Quando os braços de Victoire se ergueram meu primeiro instinto foi recuar, mas minha prima me alcançou, apertando minhas bochechas, nariz, ombros.

— Eu sou real, Vic. — Garanti, os olhos dela se fixaram nos meus e então Victoire desatou a chorar.

— Eu pensei que você estivesse morto! — Disse, puxando-me para um apertado abraço, como aqueles que ela me dava quando eu era uma criança. — Oh, James! Eu lhe disse, eu tinha te avisado! Fiquei tão preocupada, por onde você esteve? Eu quero tanto lhe dar uma surra. — Eu não a teria impedido, mas Victoire limitou-se a me dar uma surra de amor e carinho, deixando-me sem ar em seu abraço apertado.

— Eu sinto muito. — Limitei-me a dizer aquilo, não achava que outra coisa fosse relevante.

— Eu estou tão feliz que está aqui! — Ela me afastou por um momento, analisando-me. — Você está tão diferente! Tão maduro! Oh, James! — E puxou-me de volta para seu aperto. Teddy conversava com meu pai, ambos pareciam compartilhar um segredo. Será que Teddy estava envolvido na história das babás? 

— Eu realmente vou precisar desse carinho, amor e proteção quando o restante da nossa família me ver. — Disse e Vic riu.

— Ah James, sua morte vai virar realidade. — Garantiu, soltando-me por um momento e desferindo um tapa contra minha cabeça. — E eu falo apenas por Fred e Dominique. Estou tão feliz que você voltou pro seu enterro. — Fungou, me apertando contra seu abraço novamente.

— James, vou preparar sua avó pra… isso… — Mamãe avisou e eu concordei, ou ao menos tentei fazer isso enquanto sentia que Victoire estava tentando me matar sufocado.

— Se você quiser trocar o termo babá por guarda-costas eu estou bem atrás de você. — A voz de Dimitri fez eu conseguir me livrar da minha prima e olhá-lo em choque, o que ele tava fazendo ali + quê? Quando? Onde? Como? — Sua mãe me mandou uma coruja hoje de manhã avisando que meus serviços poderiam ser necessários hoje.

— Então você tá recebendo pra ficar comigo de novo? — Meu tom era majoritariamente brincalhão, mas quem prestasse atenção veria alguns resquícios de rancor por ali.

— Sem ofensas, senhor, mas quem é o guarda-roupa? — O olhar de Vic trocou de Dimitri pra mim e antes que eu tivesse a oportunidade de responder Lily passou por ali.

— O namorado do James. Eu sei! Também fiquei chocada quando descobri. — E então riu e correu para fora da cozinha.

— Ele não é meu…

— Prazer, senhorita, meu nome é Dimitri, sou amigo do James. — Adiantou-se, oferecendo a mão para minha prima e Teddy apertarem.

— É, amigo. É complicado. — Eu sei o que isso parece ok? Só percebi tarde demais. Victoire abriu a boca no mais puro choque, Teddy arregalou um pouco os olhos.

— Mon Dieu! Eu sempre achei que você fosse o tipo mulherengo e… oh, eu acho que isso explica algumas coisas. — Vic disse pensativa, Teddy arranhou a garganta segurando um riso.

— Hey! Não explica nada não, pera, explica o quê? Eu sou mulherengo. Safado, cachorro sem-vergonha. Ou qualquer coisa assim que a Teresa me disse. Ele namora a minha ex inclusive sabia?

— Ele tem problemas em aceitar, odeia ser colocado contra a parede assim, mas eu sou paciente, não sou docinho? — Dimitri mantinha um sorriso zombeteiro no rosto, eu o olhei ligeiramente irritado, mas uma outra voz chamou minha atenção.

— A gente conversa na cozinha oras, estou com um assado no forno e…

— Vovó! — gritei, não aguentando a saudade, ignorando Dimitri e empurrando todo mundo no caminho.

Quando a vovó Molly me olhou parecia que tinha visto um vampiro com varíola andar. Eu corri até ela e a abracei.

— Ja-James? 

— Sou eu sim, vovó — falei, apertando-a em meu abraço e sentindo o seu perfume de avó. 

Depois do que apareceu alguns segundos, ela me abraçou com igual força que eu a abraçava. Melhor recepção de todas...

Mas era óbvio que eu estava errado. Logo depois, vovó Molly pareceu se dar conta que eu era de verdade, me largou e puxou a minha orelha. Com força. Aparentemente mamãe tinha falhado em sua missão.

— O que você tinha nessa cabeça pra sumir desse jeito? Você não sabe o que sua mãe passou! Seu pai estava louco atrás de você! Eu estou totalmente desgostosa! E a culpa é toda sua! — ela gritava, puxando-me para a cozinha ainda pela orelha.

— Ai, ai, vovó! Minha orelha! Eu voltei e tô bem — falei, rindo um pouco.

— Eu sei que você está bem. Graças a Merlin. — Ela me soltou quando chegamos perto da porta. Eu estava rindo, tinha sentido falta daquelas broncas mais do que pensava. — Nunca mais faça isso, ouviu? Se não EU vou atrás de você e eu te garanto que você não vai gostar nadinha do resultado!

— Pode deixar, vovó. — Eu sorri, feliz. Molly amenizou a expressão e passou a mão em meu rosto.

— Estou feliz que você está de volta querido. — Concluiu, puxando-me para um abraço novamente. — Agora deixa eu… Por Merlin! Quem é esse senhor?

— O “amigo” do James. — Teddy respondeu, fazendo aspas no ar, Victoire lhe deu uma cotovelada nada discreta.

— Oh! Eu… tá tudo bem querido, eu tô acostumada com o Louis e aquele garoto. James isso é… novidade. Qual seu nome meu bem? Você gosta de torta de abóbora? Porque vocês não vão brincar um pouco com as crianças na sala hm? Já levo algumas coisinhas para vocês comerem.

Eu pisquei lentamente enquanto processava todo o caos que Lily conseguira causar com apenas uma frase, mas decidi me ater a apenas uma das coisas que vovó dissera.

— Brincar? — Eu tinha ficado cinco anos fora de casa, voltado, supostamente, mais maduro do que antes para que vovó ainda me tratasse como uma criança? Bom, algumas coisas apenas não mudavam.

— Sim querido, vá, deve ter algumas vassouras extras pro seu namorado também. — Incentivou e eu apenas ri, concordando e me retirando da cozinha.

Sem vovó e com minha mãe tendo desertado pra algum canto, além de não ver nenhum sinal de meus irmãos ou pai, eu estava por minha conta e risco, a porta da cozinha para o quintal nunca me parecera tão perigosa.

— Tá tudo bem docinho, você consegue. Qualquer coisa Viola confirmou que está preparando mais uma daquelas deliciosas poções.

— Não será necessário. — Disse somente, atravessando a porta e decidindo iniciar aquela reconciliação de cabeça erguida. — Me contaram que tem um bebê Zabini-Weasley a caminho e eu apenas gostaria de saber o que raios vocês aprontaram enquanto eu estive fora.

O lance é que eu gosto de uma grande entrada. Todas as conversas cessaram, por um longo minuto todos os olhos daquela festa estavam focados em mim, e, acredite, na família Weasley isso significa muitos olhos. Bocas estavam abertas e respirações foram prendidas. E, então, começou a luta-livre e a gritaria.

Um touro atingiu meu estômago jogando-me no chão e em seguida os socos vinham aonde o punho acertasse.

— Você não está batendo certo Frederic! — Uma voz feminina soou. Dê um gancho de direita na mandíbula dele! Bater assim não machuca! — Minha opinião era: machucava o bastante. — Vamos lá! Você consegue fazer melhor do que isso. — A voz que eu ouvia era de Lily? A gente não tinha se resolvido há apenas alguns minutos?

Com sorte o brutamontes foi içado para longe de mim, eu sentia meu corpo inteiro doer e sangrar.

— Já chega, carinha. — Ouvi a voz de Dimitri dizer. Carinha. O grandão realmente devia ser o maior homem da terra se ele podia chamar Fred de carinha.

— Você chamou meu irmão de quê? — Roxanne parecia estar mais colocando fogo na fogueira do que realmente indignada com a situação, não que eu conseguisse realmente ver o que tava acontecendo por ali e tudo o mais.

Acontece que ao que tudo indicava aquilo dera tempo para que o carinha conseguisse se livrar do grandão e agora estava me espancando de novo, de forma muito mais técnica, se assim posso dizer.

Cobri o rosto com as mãos, enquanto sentia Fred desferir golpes e mais golpes, até que eu ouvi Dimitri suspirar, com raiva. E, no momento seguinte, senti que estava livre novamente. Estava tudo doendo.

— Agora, chega! — exclamou ele, com sua voz ribombando no jardim. Olhei para o grandão e vi que Dimitri segurava Fred pela gola da camisa. — Eu não quero nem saber, quem colocar mais um dedo nele irá sofrer as consequências — Dimitri olhou diretamente para Fred, que tentava sair do seu aperto. — Entendeu, malko litse?

— Você não tem que se meter. Você não é da família!

— Mas sou o guarda-costas. E eu não o mantive vivo esse tempo todo pra você bater nele até a morte. — Respondeu Dimitri, ainda segurando Fred, que dava socos e chutes no ar tentando se livrar. Na moral, Dimitri tinha virado o super-homem em qual momento? — Escutem só, eu entendo que todos tem seus motivos para estar com raiva de James e a família num geral tem razões diferenciadas para descontar suas frustrações em forma de tapas, socos e eteceteras nele. Mas acreditem no cara que esteve com ele grande parte do tempo que ele passou desaparecido: ele não dá conta. — Dimitri largou Fred, que parecia pronto para quebrar Dimitri, eu e quem mais entrasse no caminho. — Acredite em mim carinha, ele vai desmaiar se você der mais um soco nele.

— Por que você não volta para o seu país hein, viking? — Fred rosnou.

— Ele está esperando o pagamento. — Falei, notando só então ter sido uma péssima ideia, Fred devia ter quebrado minha mandíbula. — Eu acho que eu vou… — Antes de completar a frase Dimitri me pegou no colo e eu me senti como uma donzela sendo resgata. Teria falado “meu herói”, mas falar era uma péssima ideia, então apenas deixei que ele me carregasse por aí.

— Já que estamos falando do meu paycheck eu vou cobrar mais caro por isso aqui. — Ele claramente brincava, eu tentei rir, péssima ideia também.

— O que foi que aconteceu aqui? — A voz estridente era de vovó, o céu noturno era bem bonito n’A toca naquela época do ano. — FREDERIC JOSEPH JOHNSON WEASLEY! Já pra dentro!

— Uhh o Fred se deu… não. — Fechei os olhos, respirando fundo.

— Cala a boca James, vamos colocar seus ossos de volta no lugar antes do restante da família te espancar.

 

(...)

 

Depois que finalmente me remendaram — sério, se não fosse por magia, eu não queria saber como estaria o estado dos meus ossos — pude voltar para a festa, a qual eu nem sabia de quem era. Será que era aniversário de alguém dos meus primos e eu não estava lembrando?

Assim que pisei os pés no jardim, todos se viraram para me ver, pareciam que tinham visto um fantasma. Óbvio que eles sabiam que eu tinha voltado, Teddy e Victoire tinham dado com a língua nos dentes e… bem, a cena toda no jardim. Mas mesmo que já soubessem, a surpresa era evidente em seus rostos. Sabe quando você dá um sorriso amarelo, aquele que você abre os dentes, com uma cara meio que sofrida? Era esse o meu sorriso naquele momento. E, para completar, ainda fiz o sinal que simboliza a paz com os dedos. Vai que dava certo e eu não apanhava outra vez?

— Oi, família — falei e a minha tentativa de não apanhar, falhou miseravelmente.

Cada um teve a oportunidade de bater em James Sirius Potter. Graças a Merlin, não foi igual ao Fred, que me espancou. Eu não tiro a razão deles, sabe... mas eu estava cansado de apanhar. Eu que lutasse tendo nascido em uma família tão… física.

Mas, para além dos muitos pescotapas, chutes e cotoveladas, também recebi diversos abraços e beijos e tive muito o que justificar para muita gente. E foi ali que eu pude perceber o quanto eu realmente senti falta de cada um deles. Das festas, das conversas altas até tarde da noite, das brincadeiras, das caças a gnomos, das disputas de quadribol ao fim da tarde. Durante meu longo tempo fora eu tinha de alguma maneira conseguido guardar todos aqueles momentos em uma gaveta de difícil acesso, e aquele provavelmente era o motivo pelo qual eu tinha conseguido me manter distante por todos aqueles anos porque, agora que eu tinha voltado, eu duvidava muito que conseguiria me distanciar novamente por tanto tempo.

— Eu só vou buscar um copo d’água e já volto. — Garanti a Hugo, que não parecia acreditar muito no que eu dizia, mas acabou me deixando ir.

— Então quer dizer que eu saio por apenas alguns minutos para buscar as alianças que o idiota do meu futuro cunhado esqueceu e James Sirius Potter se materializa nos jardins d’A Toca roubando toda a atenção para ele? — Virei-me lentamente com o copo de água a apenas alguns centímetros da minha boca enquanto registrava a nova presença ali. 

Dominique não tinha mudado nada, mas ela estava absurdamente diferente. Os longos cabelos ruivos eram os mesmos de sempre, tal qual as sardas salpicadas pelo nariz e bochecha, mas eu podia dizer que tinha algo incomum nos olhos azuis da mulher que agora me encarava, os braços cruzados, uma sobrancelha arqueada e um sorriso que indicava que ela estava prestes a se divertir bastante.

Olhei quase que em câmera lenta ao redor. Ineditamente a cozinha estava vazia por completo. No meu raio de visão Dimitri não estava nenhum pouco perto. A única pessoa próxima a mim era Dominique. As palavras de Victoire ecoaram em minha mente e eu senti minha mão tremer um pouquinho. Fred tinha sido impedido de concluir sua missão, mas não havia absolutamente ninguém ali para impedir que a ruiva me matasse. Talvez eu merecesse aquilo, por não ter percebido que ela estava faltando antes. Mas no fundo eu sentia que ela tinha passado os últimos minutos apenas esperando por aquele momento.

— Antes de você me matar… — Comecei, tentando pensar com certo cuidado quais seriam minhas últimas palavras, Dominique riu.

— Relaxa Cowboy. Você está esperando pela sua surra, então qual é a graça? — Deu de ombros, colocando uma caixinha de veludo sobre a mesa. — Eu terei meu momento quando você menos esperar, mas, até lá, um abraço vai bastar. — Concluiu, estendendo os braços para mim, que a olhei extremamente desconfiado. — Você não pode sumir por anos e me negar um abraço James Sirius Potter. — Reclamou, batendo um pé no chão e me fazendo imediatamente largar o copo de água de lado e ir abraçá-la, apenas para a sentir me apertando tanto entre os braços que eu fiquei incapaz de respirar. — Você sabia que algumas cobras se enrolam ao redor da vítima e a apertam até que elas morram asfixiadas? — Comentou, tranquilamente, enquanto eu tentava puxar um pouco de ar para meus pulmões. — O Louis jurava que eu iria para a Sonserina quando entrasse em Hogwarts.

— Mini… — Disse sôfrego, ela me apertou um pouco mais.

— Apesar de admitir que eu tinha certo potencial, acho que eu apenas sou melhor como leoa. — Concluiu, finalmente me soltando e me olhando divertidamente enquanto eu me apoiava nos joelhos e recuperava o fôlego. — O que foi que aconteceu, seu idiota? — Cobrou, eu levantei um dedo pedindo por um tempo, ela riu. — Você não pode só aparecer aqui depois de cinco? seis? anos como se nada tivesse acontecido. Você manda uma carta avisando antes, melhor, você não desaparece por anos! Eu estou tão em choque no momento que eu sinceramente nem sei o que eu deveria fazer com você.

— Se você quiser bater eu recomendo fazê-lo longe da vovó. — A voz de Fred preencheu o ambiente e então eu percebi a expressão de Dominique mudar completamente, passando de brincalhona para mais séria.

— Eu vou levar isso para o Teddy, mas nós não acabamos ainda Sirius. — Informou, pegando a caixinha de veludo e passando ao lado de Fred como se ele nem estivesse ali.

Franzi a testa e olhei para Fred, que por sua vez olhava enquanto Dominique se afastava. Ele pareceu, por alguns segundos, suspirar antes de voltar para mim, fazendo com que o seu semblante mudasse drasticamente para sério. Eu me mantive assim também, enquanto normalizava o ritmo da minha respiração.

Fred deu mais alguns passos à frente e, assim que ele estava perto o suficiente, cruzou os braços em minha frente. Eu pisquei os olhos, esperando que ele falasse seja lá o que fosse. Mas Fred ficou em silêncio por alguns momentos, parecendo refletir se valia a pena ou não falar comigo. Por fim, decidiu que era melhor falar.

— Vovó mandou eu vir aqui e pedir desculpas. — disse ele, muito contrariado. — E a minha mãe também. — Era evidente que ele não queria pedir desculpas. — Então, desculpa. — Que desculpa mixuruca. Dava para ver que ele não queria chegar perto de mim.

— O que houve com a Dominique? — Apontei para dentro de casa, mas Fred me ignorou.

— Não é da sua conta. Tamo de boa? — Cobrou, o tom de impaciência crescendo na voz.

— Olha Fred… eu sinto muito ok? — Ele virou a cabeça, conseguia perceber que ele estava se irritando uma vez mais e fazendo força para não me esmurrar. — Eu sei que mereço cada soco daqueles, provavelmente mais, mas eu só quero que saiba que… eu sinto muito mesmo. Quando eu sumi eu nunca tive a intenção de te abandonar e… — Suspirei, ele não parecia interessado em me ouvir. — Se algum dia você estiver disposto a me perdoar e tentar entender… eu estarei aqui. — Se eu tinha aprendido alguma coisa com Albus e Lily era que: desculpas tendiam a funcionar. Mas eu entendia que meu primo e melhor amigo de longa data precisaria de um tempo para processar aqui.

— Tamo de boa? — Cobrou novamente ao perceber que eu tinha parado de falar, eu assenti com a cabeça. — Ótimo, a Vic tá chamando todo mundo no jardim. — Avisou e então saiu, eu o segui.

Toda a família estava reunida ao redor de Victoire e Teddy, que tinham os sorrisos mais brilhantes que eu já havia visto alguém dar. Pelo visto, e graças a Merlin, eles não estavam com raiva por eu ter aparecido ali.

— Bom... James, acho que você ficou muito tempo fora, mas todos aqui já sabem. Esse jantar é apenas uma pequena comemoração antes do oficial. — minha prima disse. Meus tios e tias, primas e primos prestavam atenção e, realmente, não pareciam surpresos.

Eu fiquei confuso, olhando de um lado para o outro. Franzi a testa.

— Não me digam que vai ter outro bebê na família? — perguntei, procurando alguma confirmação nos olhares de meus tios.

Teddy deu uma risada, um pouco nervoso. Eu inclinei a cabeça esperando.

— Não, seu cabeçudo. Eu e Victoire estamos noivos.

Eu olhei ao redor e os olhares se dividiam entre os noivos e eu. Minha mãe balançava a cabeça decepcionada.

— Ok, mas ainda? Tipo, vocês ainda não estão casados? — Considerando toda a história daqueles dois eu esperava que no mínimo eles já estivessem comemorando bodas, Vic me fuzilou com o olhar.

— Eu estava ocupada ficando de luto por um idiota que tinha desaparecido e poderia estar morto.

— Ok, eu entendi. — respondi, voltando a ficar em minha posição normal e sorrindo para os meus primos.

Apesar da fala, Vic não parecia estar de fato brava, o que era bom. Mas alguém tinha pisado no meu pé e me chamado de mané, eu preferi não verificar quem era, mas suspeitava que fosse Molly II.

— Como estávamos dizendo… — Teddy retomou a palavra. — Nós já estamos planejando isso há alguns meses e, com exceção do James, não é surpresa para ninguém, mas eu achei que talvez eu devesse fazer isso de forma mais apropriada agora que eu vou oficialmente me tornar parte da família Wotter. — Disse, arrancando sorrisos e piadas de muitos ali. — Tendo dito isso… 

O metamorfo então direcionou o olhar para Victoire e se abaixou em um só joelho, puxando do bolso a caixinha de veludo que estava com Dominique momentos antes. Se possível fosse, eu tinha certeza que minha prima loira teria derretido ali mesmo, como sorvete em um dia quente de verão.

— Victoire Bell Delacour Weasley… Eu acho que uma parte de mim sempre soube que eu estava fadado a te amar incondicionalmente por toda a minha vida desde aquela primeira vez em que você puxou meu cabelo enquanto eu só estava tentando te ajudar a parar de chorar e eu menti para a tia Fleur que não tinha doído. — Os olhos de Victoire adquiriam uma nova textura com as lágrimas que se acumulavam por ali, um bocado de fungadas começava a ecoar ao meu redor enquanto um flash ou dois disparavam de diferentes cantos. — Minhas primeiras e melhores memórias são todas com você. Eu não apenas vi você crescer, como cresci ao seu lado. Com você eu descobri o mundo e a cada nova aventura, a cada nova conversa até tarde da noite, cada abraço, cada conselho, a cada briga, choro e desencontro eu percebia que o meu amor por você apenas crescia e evoluia cada vez mais. Eu sei que uma parte de mim sempre soube que um dia chegaríamos aqui e... que sorte a minha foi de encontrar um amor para toda a vida em minha melhor amiga. Que eu amo você não é novidade alguma, mas é por não suportar mais a ideia de passar mais um ano sem você ser minha que eu pergunto: quer casar comigo?

Alguém perto de mim soluçou. E foi então que eu percebi que tinha sido eu. Me apressei em enxugar as lágrimas do rosto e me uni ao restante da família e amigos do casal enquanto as palmas ecoavam pela Toca conforme o anel enfeitava o dedo de uma emocionada Victoire. Aquele certamente não era o primeiro pedido feito, mas Teddy tinha conseguido inovar o suficiente para causar aquela reação em cadeia e o beijo do casal me fez sentir em um estádio de quadribol.

— Como eu posso ao menos tentar te ameaçar agora Edward? — Tio Bill se destacou da multidão, arrancando risadas de muitos e então se aproximando para abraçar o futuro genro, enquanto as pessoas começava a se dispersar para felicitar os não tão recém assim noivos.

Eu tive minha oportunidade de ir abraçar os pombinhos, mas confesso que não tinha ficado apenas emocional, como também pensativo. Um amor do tipo o que Teddy descreveu sempre tinha sido o que eu quisera ter na minha vida, mas talvez as oportunidades tivessem passado e eu as tivesse perdido.

Eles se afastaram e eu fiquei ali por alguns segundos, até que decidi me levantar e andar pelo jardim d’AToca, vendo meus primos e tios mais felizes do que o normal.

Entretanto, eu não demorei a sair da minha própria mente para notar que algo estava errado ali. Eu via Fred andar pelo jardim um pouco perdido e o fato de que Dominique não aguentava ficar perto dele. Toda vez que um ia para um canto, o outro seguia para o lado contrário e, caso acontecesse de por um incidente chegarem próximos demais, fingiam que nada tinha acontecido e seguiam seus caminhos em direções opostas. Tá, tudo bem, eu sei que Fred engravidou Freya, mas como isso aconteceu? Fiquei olhando para os dois, preocupado, quando ouvi a voz de Louis ao meu lado.

— Estranho, não é? Você perdeu muita coisa. — Eu o olhei e ele estava tão grande! Quando foi que ele cresceu? — O quê? Você acabou de perguntar. — Eu realmente precisava parar de falar tudo que eu pensava. Louis deu de ombros, com um sorriso pequeno nos lábios. — Você passou muito tempo fora, James. As pessoas cresceram, mudaram. Fred e Dominique tiveram uma briga grande um tempo atrás, acabaram decidindo que não eram mais crianças e terminaram. Estavam juntos desde sempre, mas estavam discordando muito de muitas coisas, então resolveram testar coisas novas. Fred acabou se envolvendo com Freya por um tempo, não foi nada duradouro, envolveu um pouco de bebida, mas ela acabou engravidando.

Minha boca estava em formato de um “O” de tão espantado que eu ficara com esta notícia, mesmo já sabendo por alto. Eu não sabia nem o que dizer, apenas que meu primo não sabia usar a camisinha, aparentemente.

— É, todos ficaram assim quando Freya veio contar. Fiquei bem surpreso quando ela não fez escândalo ou bateu em Fred ou quis tirar o bebê. — Completou meu primo, olhando para Fred tomar um gole de suco de abóbora que a nossa avó trouxera. — Não é como se alguém estivesse em êxtase com a notícia nem nada do tipo. Vovô quase teve um ataque cardíaco, a própria Freya não parecia muito feliz com isso, mas eu acho que foi aí que Dominique percebeu que ainda amava Fred. E acho que considerando todo o histórico com essas meninas, você deve saber melhor do que eu, mas minha irmã ficou quebrada por dentro e, honestamente, Fred também. Ele também a ama, não tinha planejado isso, mas não podia simplesmente virar as costas para a Zabini, sabe? No fundo ele está um pouco empolgado em ser pai também, mas está apavorado e, bem, não é como se eles fossem começar uma grande família feliz. — Louis deu de ombros.

— Eu... Eu... Eu não sei o que falar sobre isso. Ou o que fazer.

— James... Não tem o que fazer. Você esteve fora por muito tempo... Acho que você não pode fazer nada. — Respondeu Louis. — Eles vão se resolver eventualmente. Ou irão reatar ou irão seguir com suas vidas, talvez seja melhor, mas quem somos nós para dizer? Por enquanto eles estão apenas tentando organizar todos os sentimentos e, você sabe, eles são absurdamente teimosos, então estão se evitando desde a descoberta da gravidez. A gente finge que não vê, eles fingem que não tá acontecendo nada. Você devia fazer como o restante de nós.

— É... realmente eu fiquei fora por muitos anos e você se esqueceu de quem eu sou se acha que eu não vou pensar em alguma coisa pra acertar tudo isso. — Falei e ele riu. — Isso está errado de várias formas. Eu estive lá por muito mais tempo do que estive fora, esses dois se amam, eles não podem perder isso por algumas… pedras no caminho. — Estava começando a fazer as pazes com o fato de eu ser incapaz de encontrar o amor, mas Fred e Dominique? Não mesmo, eu seria o dementador que se alimentaria do amor deles.

— Quem sou eu pra te impedir? — Louis levantou as mãos para o alto, se rendendo. — Sentimos sua falta, primo. É bom ter você de volta.

— É bom estar de volta. Vocês realmente precisam de mim — afirmei e ele balançou a cabeça, rindo. Eu o olhei e coloquei a mão em seu ombro. — E você? Como está? — perguntei, olhando-o. Louis havia espichado de modo que estava quase do meu tamanho.

— Ah, eu estou bem, mas e você? — ele perguntou, também me olhando.

Essa pergunta me pegou um pouco de surpresa, porque desde que eu cheguei em casa, eu vivia apanhando de quem me amava. Louis foi o único que me deu apenas alguns pescotapas e me perguntou se eu estava bem. Devo confessar que eu quase derramei umas lágrimas.

—  Apesar das surras, agora eu estou bem. É bom estar de volta. — dei um sorriso para Louis, que o devolveu na mesma intensidade. Ele também colocou a mão em meu ombro.

— E eu fico feliz que esteja, James. Mesmo a gente se fazendo, ignorando o fato de que você talvez não voltasse, ainda sentia o peso em todas as festas de família. Você sempre foi o centro das atenções — Louis deu um sorriso. — Não vá embora mais.

Eu balancei a cabeça.

— Não irei. — Garanti e meu primo assentiu.

— Acho bom — ele piscou um olho e se afastou de mim.

Eu suspirei e olhei ao redor. Eu precisava de um plano. Urgente. Mas aquela noite em específico era sobre Vic e Teddy. Mas depois eu agiria. Ô se agiria.

 

Os dias seguintes à festa de noivado passariam rapidamente, mas eu sentia estar aproveitando cada segundo deles. Por ordens de vovó a Toca tinha continuado cheia graças ao meu retorno, ela queria estar perto da família toda novamente, e pela primeira vez em muitos anos todos os primeiros se aglomeraram novamente no velho puxadinho que tinha sido erguido quando os espaços nos quartos dos pais ficou pequeno demais para suportar todas aquelas crianças.

Era engraçado ver como todo mundo tinha mudado. Seis anos era, de fato, muito tempo. Quando eu tinha partido, todos os meus primos mais novos ainda estudavam em Hogwarts e, agora, todos já tinham se formado. Até mesmo a jovem Lucy, que terminara seus estudos no mês anterior. Éramos todos adultos agora. Todos ali já tínhamos amado alguma vez, nos decepcionado, tido nossos corações partidos, aprendido, crescido. Não éramos mais as crianças que pulavam na cama e pregavam peças em cada oportunidade, o tempo tinha passado, muito dele, me privando de momentos diversos com cada um ali. E, apesar de sentir um aperto no peito por não ter estado presente para viver tudo aquilo com eles, sabia, no fundo do meu coração, que minha vida tinha se desdobrado exatamente como deveria ter sido. Como tinha dito para Lily, não abriria mão de tudo o que passei pois, por mais difícil que tivesse sido, tinha contribuído, muito, para o homem que eu tinha me tornado.

E aos poucos minha família começava a entender isso. Passávamos os dias juntos o máximo que dava, considerando que a maioria ali trabalhava, mesmo sendo verão. Quando os mais jovens saíam, eu ficava com vovó, aperfeiçoando minhas técnicas de tricot e ajudando-a a fazer suéteres para o restante da família e algumas roupinhas para o bebê de Fred que estava vindo por aí. Nos jantares eu compartilhava com cada um algumas de minhas aventuras, poupando muitos detalhes para não conceder a meus avôs ou pais um ataque cardíaco, e também ouvia o que cada um tinha a compartilhar. A carreira de Rox no quadribol, a vida que Molly II vinha construindo na Itália, os planos de Lucy para o outono e as novidades de Louis sobre o namorado.

De todos, a mudança mais significativa era a de Fred. Eu conseguia perceber que, a cada nova história, ele conseguia entender um pouco mais porque eu tinha feito o que fizera e, aos poucos, me perdoava por tudo, ao jeito dele. Ia aos poucos parando de ignorar meus bons dias, começava a passar o sal quando eu pedia até, enfim, me encontrar do lado de fora da Toca, enquanto eu alimentava os porcos a pedido de vovó (algo que eu tenho certeza que era a forma dela de me castigar pelo tempo fora, já que eu era único enviado àquela tarefa toda santa vez.)

— Uma coisa que eu não entendo. — Ouvi a voz dele se aproximando e virei-me para olhá-lo. — Se você tem tanta certeza que encontrou o amor da sua vida na Itália, por que a deixou partir? — De todas as formas do mundo que eu esperava que meu primo e eu voltássemos a conversar, aquela definitivamente não era uma delas.

Abaixei o balde e bati as mãos em uma rápida limpeza em minhas roupas e então encarei Fred, começando a caminhar com ele para mais longe da casa, em direção ao campo. Eu nunca tinha pensado naquilo daquela perspectiva, então levei alguns segundos até conseguir ter uma resposta para Fred.

— Algumas vezes, não importa o quanto desejamos algo, as coisas simplesmente não são para acontecer. — Eu ergui os ombros, não tinha ideia do que estava falando.

Desde que tinha sido abandonado naquela loja de ervas eu evitava pensar sobre o assunto e as juras de amor trocadas antes daquele fatídico fim. Desde a conversa no telefone com Viola e a noite de bebedeiras eu tinha enterrado a história sobre Giulietta, ao menos até aquela tarde e, talvez, eu não tivesse notado a forma como eu tinha contado sobre ela aos demais. Conscientemente eu estava bem e tinha superado, seguido em frente, mas eu vinha aprendendo que, quando você ama alguém, esse sentimento não é algo que simplesmente vai embora. Não importa o que aconteça, não importa em quais direções a vida leve cada um de nós, o amor permanece, ainda que por um momento específico.

— Você vai ter que falar tudo isso direito, porque você só falou em voz alta a coisa do sentimento não ir embora. — Fred apontou e eu ri, enquanto me sentava na grama verde e observava meu primo me acompanhar, repetindo meu pensamento pra ele.

— Eu acho que o que eu estou querendo dizer é que, eu a amava, ela tinha dito me amar. Mas a vida tem outros planos pra gente sabe? — O meu aparentemente era morrer sozinho. Fred concordou.

— É… acho que entendo exatamente o que você quer dizer. — Concluiu, seu olhar se perdendo na paisagem. Eu o encarei.

— O que aconteceu? — Eu já tinha feito aquela pergunta a diferentes pessoas, reunindo fragmentos de espectadores, mas nunca tinha ouvido nada dos envolvidos. Fred entendeu o que eu estava perguntando e suspirou, abaixando a cabeça e balançando-a.

— A vida. — Ergueu os ombros. Eu aguardei. — Dominique e eu crescemos e chegamos em um momento do nosso relacionamento que a gente funcionava melhor como amigos. Se a gente insistisse nisso a situação ficaria insustentável em algum momento e…

— Mas não é assim que está agora? Vocês mal se olham!

— Era diferente. — Ele suspirou. — Nós não conseguíamos falar a mesma língua, de repente o fato de termos estado juntos toda a nossa adolescência pareceu pesar e aí… nós não podíamos manter aquele jogo mais então decidimos dar um tempo sabe? Viver um pouco a vida, descobrir se tinha algo diferente por aí. Acho que a verdade é que a gente só queria curtir, experimentar coisas novas, mas… — Ele voltou a balançar a cabeça. — Eu não esperava que Freya fosse engravidar, merda, ninguém esperava isso. Mas talvez Domi tenha achado que eu gostei demais de curtir e acho que foi o fim de qualquer chance pra gente. Quero dizer… tinha só três meses desde que nos separamos, sabe? Eu entendo ela. Sinceramente eu não sabia que queria alguma chance, talvez nem ela, até que fosse tarde demais. Quero dizer, eu a amo, como você disse não é um sentimento que algum dia vai embora, mas eu acho que o que realmente machuca é que tenhamos chegado a isso, sabe? Nessa situação que foi justamente o que tentamos evitar em um primeiro momento.

Meu primo continuava encarando o horizonte, eu conseguia entender a situação melhor agora, mas eu sabia dizer que Fred mentia para si mesmo em alguns detalhes. Estava na cara que ele tentava se convencer de partes do seu discurso. Eu enchi meus pulmões com ar.

— Você consegue acreditar no que você diz? Por que… cara… — Fred me encarou, sua expressão não estava feliz, eu não ligava. — Frederic por favor! Eu sei que sumi por um tempo, mas eu vivi com vocês por anos! Eu via o quanto vocês se amavam. Eu entendo toda a crise da juventude de querer novas experiências e tudo o mais, mas cara, pra mim é transparente que vocês não conseguem viver um sem um outro. E é por isso que vocês não conseguem mais se falar. Vocês não conseguem enfrentar o fato de que as péssimas escolhas que vocês tomaram na vida levaram a isso. Vocês não têm coragem de falar o que sentem e correr o risco de serem rejeitados, por que por algum motivo vocês são idiotas o suficiente pra achar que essa é uma possibilidade. Você não consegue enxergar isso? Você não só ama ela porque é assim que o amor funciona, você a ama porque é isso. E se você não fizer nada quanto a essa situação toda, vai chegar um momento que é tarde demais, mas, cara, ainda dá tempo. Ao contrário de mim você tem uma escolha, você pode mudar essa situação, ‘cê sabe disso.

Fred ficou em silêncio por alguns minutos, acho que digerindo ou ponderando sobre o que eu havia dito. Arrancou uns pedaços de grama e eu esperei que ele dissesse algo, enquanto sentia a brisa balançar as folhas das árvores ao nosso redor. De repente, ele balançou a cabeça e eu voltei a olhá-lo. Soltou um suspiro e me encarou.

—Mas não dá para entender... você não pode deixar que o seu amor... quero dizer depois... — ele me encarou, hesitando, e eu assenti para que pudesse completar seu pensamento. — O que exatamente aconteceu?

Mordi o canto da minha bochecha e acabei rindo um pouco, era a mesma pergunta que eu o tinha feito minutos atrás. Eu também não sabia, pra ser bem sincero. Mas acabei explicando brevemente pra Fred como tudo tinha acontecido. Tinha acontecido rápido e intensamente, talvez a adrenalina do proibido tivesse exaltado meus sentidos ao longo de todo aquele ano, mas expliquei um pouco sobre meus sentimentos, como me apaixonei, e como foi deixado para trás , mas não o que aconteceu de fato.

—Infelizmente, a família dela não era muito... confiável. — Respondi, tentando amenizar a história, mas meu primo sabia que eu estava ocultando coisas. — Ela havia sido obrigada a se casar com um homem horrível. Eu não sabia, é claro. Mas depois eu entendi e vi as marcas... mas ela não pôde ir comigo. Alguma coisa aconteceu — só de me lembrar disso, eu fiquei com raiva. Queria deixar tudo bem enterrado. Mas eu sabia que não daria para adiar as explicações. — Dimitri foi quem investigou a família e o melhor mesmo era deixar para lá. Nós realmente não poderíamos ficar juntos — dei um sorriso triste. Mesmo sabendo que eu amava Giulietta, eu sabia que não era para ser. — Não conta para a vovó, mas eles tiveram uma suspeita de mim e eu apanhei igual a um condenado. 

Comentei como se fosse um segredo — e era — e depois vi a careta que Fred estava fazendo. Ele estalou a língua no céu da boca, me fazendo rir.

— Dimitri... — ele disse com deboche. — Aquele homem é um armário! — Fred fez uma pausa e depois suspirou outra vez. — Entendi... mas ainda creio que eu e Dominique...

— Ei, ei — interrompi. — Você a ama, certo? — ele assentiu. — Um bebê não é a máfia italiana, Fred — eu revirei os olhos e Fred meio que riu. — Vocês realmente precisam da minha ajuda — balancei a cabeça. — Eu vou dar um jeito, porque vocês dois são uns cabeças duras.

Fred riu outra vez. Mas logo voltou a murchar o meu lado.

— O que foi? — perguntei, franziu a testa.

— Tem que ser depois desse final de semana. 

— Por quê?

— Vai ser o chá de bebê do bebê — ele disse. 

— Ah. — Silêncio. — Depois do chá, então.

Eu o olhei e sorri. Fred devolveu o sorriso. E foi ali que eu percebi que estava tudo bem entre nós dois novamente.

 

(...)

 

E, com a chegada do final de semana, A Toca ficou um alvoroço outra vez. Aquele seria, afinal, o primeiro Weasley da Futura Geração e estavam todos em êxtase com a chegada de um novo bebê, visto que os antigos bebês já eram todos adultos agora.

Dimitri teve que voltar ao trabalho, mas disse que não sairia do país. Teresa também estava na Inglaterra, ambos estavam trabalhando com meu pai. Claro que nenhum dos três quiseram me revelar o que estava acontecendo.

Eu, por outro lado, fui forçado a pendurar balões de coloridos — as crianças de hoje em dia estavam muito avançadas, disseram que era muito sexista colocar rosa, se for menina,  e azul, se for menino — junto com o pai do bebê, vulgo meu primo Fred, aquele que não sabe usar camisinha. Sério, ainda não entrava na minha cabeça por que raios esse cabeção não usou camisinha com a Freya. Isso era o que me fazia estremecer mais.

Entretanto, ele parecia um tanto feliz. Claro, não estava nos planos dele engravidar uma mulher naquela altura de sua vida, mas, ainda assim, ele parecia gostar do neném. O meu medo era que Freya não gostasse dessa aproximação dele, visto que ela sempre fora independente. E além disso todo mundo sabia que os Zabini não eram fãs dos Potter-Weasley, então minha preocupação era justificável.

Minha avó terminou de fazer as comidas e os convidados começaram a surgir. Percebi que chegaram todos da minha família, mas nada da família de Freya ou Mellody, a atual esposa da grávida, chegarem. Franzi a testa para esse fato e, quando a Toca já estava quase cheia, a mamãe do ano e a madrasta chegaram. Apenas as duas. Enquanto a expressão de Freya dizia que ela queria tanto estar ali quanto em uma sessão de tortura, Mellody passeava pela toca cumprimentando meus familiares e batendo um papo extendido com Lily, tendo a interação mais bizarra com Albus que eu já tinha visto em minha vida e então seguindo ao lado da esposa pelo jardim.

Não posso negar em dizer que ao vê-las minha mente viajou para alguns anos atrás, em um dia chuvoso de vestes escuras e muito choro envolvido na mansão Malfoy. Percebi, enquanto as observava, que aquela tinha sido a última vez em que as vira juntas e lembrei-me de como as duas estavam vulneráveis naquele dia. Não pensava em nada daquilo há muito tempo, mas notei com certo alívio que a lembrança, ainda que triste, não me afetava tanto quanto um dia fizera. Ali, Mellody e Freya estavam mais velhas e maduras, a tristeza não era uma característica que as acompanhava e eu acenei com a cabeça para mim mesmo. Ao fim de tudo todos tinham conseguido se recuperar de alguma forma.

Acabei continuando quieto em meu canto, observando como todos se comportavam ao redor das duas. Fred ficou um pouco mais energético quando viu Freya, cuja barriga já estava bem aparente. Devia estar com, o quê, uns seis ou sete meses? Enfim, Fred puxou a cadeira para que ela se sentasse — reparei que ele deixou Mellody plantada em pé, quase soltei uma gargalhada —, e ofereceu alguma coisa para ela, que negou com a cabeça. Quando Fred saiu de perto delas, indo buscar por alimento mesmo após Freya negar veementemente, eu decidi então me aproximar, levando comigo a cadeira em que estava sentado e a oferecendo para Mellody, que parecia buscar por uma

— Obrig… Pelo basilisco de Salazar! — A garota nem tentou conter o susto ao me ver. Pulou pra trás e segurou a barriga, me fazendo franzir o cenho.

— Cê tá grávida também? — Sim, essa era a pergunta que eu tinha pra fazer.

— Uhum, três meses, do irmão dela. — Brevemente recuperada, Mell apontou para Freya enquanto aceitava o assento.

— Vocês são… estranhas.

— E você é… um fantasma? — A resposta veio de Freya, que apesar de não ter se assustado me olhava como se eu fosse uma coisa que dificilmente existia de verdade.

— Que coisa feia, Freya, desejar a morte dos outros — balancei a cabeça, reprovando-a.

— Eu não desejei nada, apenas agradeci aos céus quando se tornou senso comum. — Deu de ombros, indiferente, eu concordei.

— Bom, eu estou vivíssimo. Para o desgosto de vocês. Ou não tão desgosto assim né? Aparentemente vocês duas gostam muito mais de Weasleys e Potters do que eu achei que fosse possível. Olhe só pra você Freya, até deu um jeito de conseguir um só pra você! — Zombei, aproximando minha mão da barriga mais evidente e sentindo-a segurar meu pulso com tanta força que eu comecei a choramingar, jurando que todos meus ossos estavam se quebrando.

— Eu não dei um jeito de conseguir nada. — Falou entredentes, evitando fazer muito alarde enquanto Mellody acenava simpática para algum dos meus tios.

— Bom… você não fez sozinha. — Resmunguei ao ter minha mão solta, puxando-a para mais perto e choramingando enquanto checava se tudo estava no lugar.

— Exatamente. E é por isso que eu estou aqui. Eu nunca gostei de você, James Sirius, mas eu devo dizer que sua família sabe fazer alguns bons sangue-puros, então só um pouquinho de álcool bastava para, bem… isso aqui. — Comentou apontando para a barriga. — Então por gentileza, some novamente porque a minha vida tava tão melhor antes sem ter que ver sua cara. — O sorriso era forçado e ela certamente não pretendia pedir novamente. Eu não pretendia sair sem uma resposta, mas logo Fred voltava com um prato de torta e um suco, me olhando não muito amistoso.

— James… que que você tá fazendo aqui? — Perguntou cauteloso. Afinal, meu primo conhecia meu histórico com a futura mãe do filho dele.

— Apenas conhecendo melhor meu futuro afilhado. — Disse inocente, Freya revirou os olhos.

— Fred… eu estou com um desejo incontrolável. — Disse a Zabini, dispensando a torta e o suco que meu primo tentava convencê-la de aceitar. Despejando os alimentos em Mellody, que não achou ruim em pegá-los para ela própria, Fred se colocou em prontidão para ouvir o que Freya esperava. — Por favor, espanque o James até que ele esqueça o próprio nome. — Pediu com uma voz tão doce que você acreditaria que ela estava pedindo por sorvete. — Ou nosso bebê vai nascer com essa cara feia dele ou qualquer coisa do tipo. — Acrescentou, Fred me olhou.

Particularmente eu já tinha apanhado o suficiente do meu primo brutamontes e, pelo olhar no rosto dele, eu sabia que ele não negaria nada que Freya pedisse naquele momento, principalmente sobre a ameaça do filho dele nascer parecido comigo. Levantei-me prontamente e dei uns passos para trás.

— Para sua informação a minha cara é maravilhosa! Você bem que gostaria de ter um filho que fosse parecido comigo. — Resmunguei. — Mas eu já estou de saída, tenho coisas mais importantes para fazer e pessoas mais importantes para ver. Com licença. — Ainda demorando demais, acelerei meus passos no momento em que Freya tomou impulso para se levantar de onde estava sentada e corri de volta para o interior da toca.

 

Eu provavelmente já disse outras vezes, mas não me importo em repetir. Eu simplesmente adorava estar com a minha família novamente. Superados os socos e surpresas as tardes de verão se desenrolavam em agradáveis conversas, abraços demorados para compensar os muitos perdidos e atualizações que pareciam não terminar nunca. Enquanto Fred rodeava Freya como um cachorrinho empolgado que esperava ganhar seu brinquedo caso se comportasse bem, eu fiquei - bem - longe dos dois, passeando entre meus primos e tios, ajudando minha avó na cozinha e aprendendo que minha mãe ainda tentava, em vão, superar os temperos de Molly I na torta de abóbora que tinha virado sua responsabilidade.

Um tempinho já tinha passado quando eu reparei que alguma coisa de errado não estava certa. Larguei o resto da torta de lado e passeei por toda a toca, indo até mesmo conferir no chiqueiro, mas não encontrei Dominique em canto algum. Tá, tá. Eu sei, segunda vez seguida não percebendo a ausência da sua prima, James? Olha só, eu estive longe por muito tempo ok! O importante é que eu percebi. E ao perceber me aproximei de Victoire, que embalava alguns doces com lacinhos coloridos.

— Cadê a Minnie? — Perguntei, tentando roubar um doce e recebendo um tapa na mão que me fez choramingar, meu pulso ainda estava dolorido do apertão de Freya.

— Ela não veio. Agora, ela pode ou estar em casa ou se aventurando pelo mundo afora, quem é que sabe dizer? — Vic deu de ombros, sem nem mesmo tirar a concentração do processo mecanizado que exercia.

— Você não tem ideia de onde ela pode estar? — Existia certa indignação na minha voz, Victoire tirou os olhos dos doces pra me encarar.

— Já disse, ou em casa ou em qualquer canto desse mundo. Se ajuda eu duvido que ela tenha saído do Reino Unido, mas, bem, tudo é possível. — Não existia nenhum tom de brincadeira ou de preocupação na voz da minha prima, pra ela aquilo era uma simples conversa sobre o tempo.

— Victoire?????? Ela é sua irmã mais nova e você não tem ideia de onde ela tá??? — Minha indignação aumentou ali, Victoire então parou também de mexer as mãos e as levou para os quadris.

— Ela tem 22 anos, James, já sabe se cuidar, sabe o que faz da vida. Meu irmão mais novo tá sentado bem ali dando dicas pra Roxanne sobre como conquistar uma garota, mesmo que ele nunca tenha feito isso na vida, e, além de você já ter provado pra todo mundo que se vocês quiserem sumir não existe ninguém no universo que consiga impedir, eu acho que ela está no direito dela em não comparecer ao chá de bebê do filho do ex-namorado dela que, por um acaso, também faz parte da família. — O problema de todo aquele longo monólogo? A calma com a qual Victoire falava me deu frio na espinha e vontade de chorar, ela provavelmente já tinha lidado com aquela pergunta antes, algo me dizia que feita pelo próprio Fred. — Então, você tem mais perguntas ou eu posso continuar fazendo meu trabalho aqui? — Era um ultimato, eu neguei, ela sorriu e voltou ao mecanizado processo. — A Luna sempre exagera nas doses de firewhisky dela.

Eu encarei Victoire por uns segundos, completamente perdido com a informação aleatória que me tinha sido passada.  Vic não aparentava que pretendia explicar, então apenas lhe dei as costas e, enquanto me afastava pra perguntar pra Louis se ele tinha notícias da irmã, fiz a matemática básica: Luna, filha do tio Neville e tia Hannah, dona do caldeirão furado, bar e estalagem que certamente servia bebidas alcoólicas para bruxos maiores de idade. Bem que diziam que ravinos gostavam de enigmas.

— Obrigado Vic. — Estalei um beijo na bochecha da minha prima antes de correr ao encontro da minha mãe.

— Mãe… eu preciso sair.

— Nos seus sonhos, querido.

— É sério mãe.

— Eu pareço estar brincando?

— Mas é urgente!

— James, nada do que você disser vai te garantir aquela varinha de volta.

— Você sabia que eu já tenho 22 anos, sei me cuidar e sei o que faço da vida? — Questionei, usando a frase de minutos atrás para aplicar a mim mesmo. Minha cara de pimento me olhou com… bem, cara de pimenta. — Mãe, eu quero falar com a Domi, é só isso, você pode levar. Acho que ela tá no caldeirão furado, pode pedir pro Neville ficar de olho em mim, eu prometo que não vou fugir eu só… quero estar lá pra ela como não estive nos últimos anos.

Existia certa manha em minha voz, como uma criança mimada porém adorável que queria muito convencer alguém a lhe comprar doces. E ah, a sorte que eu tenho pelos meus maravilhosos olhos amendoados com toques de verde. Minha mãe suspirou, os tons de vermelho de suas bochechas se abrandando de volta para o branco pálido respingando por sardas comum, e então ela puxou a própria varinha do coldre e me estendeu.

— Tem um rastreador nela, não pense em fazer gracinhas, vou contatar Neville enquanto você viaja, está me entendendo rapaz? — Sorri e concordei.

— Volto o quanto antes, prometo. — E então desaparatei.

 

Ao pisar na porta dos fundos do caldeirão furado eu percebi que não conseguia me lembrar qual tinha sido a última vez em que eu estivera ali, mas já fazia tempos. Para o verão o local estava bem movimentado, o que era justificado já que muitos bruxos ao redor do mundo aproveitavam as férias para conhecer Londres e o submundo mágico que lá se instalava. Eu avistei Luna correndo nas escadas com lençóis em mãos e Alice passar por uma pequena multidão equilibrando uma bandeja, mas nenhuma das duas me ouviu quando chamei, provavelmente devido ao barulho de diversas vozes combinado ao som ambiente que tocava uma música que eu não conhecia ainda.

Caminhei pelo lugar em direção ao bar e não demorei a avistar uma cabeleira alaranjada erguendo um dedo a pedido de outra dose no copo em que segurava. Não reconheci a pessoa no balcão que a servia e apenas esperei-o afastar-se para cutucar um bruxo velho e barrigudo e pedir para me ceder o assento. O cara não pareceu gostar, porém, mais uma vez graças aos meus charmosos olhos, acabou concordando e liberou o banco ao lado de Dominique para ir ao banheiro, ação que ele fizera questão de verbalizar não tão educadamente.

— Então… essa gatinha vem sempre aqui? — Perguntei, pulando no banquinho antes que outra pessoa corresse para lá. Ela ainda não olhava para mim, mas eu senti os olhos de Dominique se revirando.

— Tanto quanto o velho nojento que estava aí antes de você, pode ir desistindo, Potter. 

— Hey! Desistindo do quê? Você nem sabe o que eu vim fazer aqui. — Dominique resmungou, degustando de seu drink queimante. — Quero dizer, eu tô particularmente ofendido, ok? Me comparar com o trasgo ali? Quem você tá querendo enganar, você já me beijou. — E então eu parei, franzindo o cenho e olhando pra minha prima. — Consegue acreditar nisso? Você já me beijou. Ew. Você não tem nenhum tipo de padrão, garota? E você foi meu primeiro beijo! Uau… essa informação tinha sido completamente deletada da minha cabeça; Quero dizer, não que eu seja feio nem nada, a honra com certeza foi toda sua, mas o que você tinha na cabeça? — Sim, eu me perdia fácil assim, mas consegui ver um breve sorriso aparecendo no rosto de Dominique.

— Oh… você ainda pensa que aquilo foi um beijo? Tsc; — Minnie negou com a cabeça. — Eu tinha colocado gloss no meu dedo e daí quando você fechou o olho e toda aquela baboseira, pimba. Desculpe destruir seus sonhos selvagens. — Eu cerrei os olhos para ela, sabia que ela estava brincando e gostava de ver minha prima se divertindo, ainda que às minhas custas. — Além do mais eu estava te fazendo um favor pra ver se conseguia finalmente me livrar de você. — Ela revirou os olhos, mas sorriu. — Com isso esclarecido, você não deveria estar em um chá de bebê?

— Tá brincando comigo? Mais um segundo lá e eu passaria a odiar todos os chás do mundo, e eu sou britânico demais pra isso. — O barman reapareceu perguntando se eu queria algo e eu neguei, não tinha levado dinheiro para aquilo, Domi, por outro lado, acelerou em virar seu copo e pedir mais um igual aquele. — Como você está? — Perguntei enfim, o tom mais sério indicando que as brincadeiras estavam temporariamente suspensas. Domi revirou os olhos uma vez mais, tinha herdado aquela mania de Vic.

— Eu estou ótima. Sério. Não se deixe enganar pelo meu comportamento possivelmente alcoólatra, eu tô joia. — E pra comprovar que estava séria ela ergueu os dois polegares e sorriu abertamente, eu suspirei.

— Se tem uma coisa que eu aprendi nesses anos em que eu estive desaparecido é que tudo bem não estar bem e álcool não é a resposta, acredite em mim. — Essa última eu tinha aprendido do jeito difícil, a primeira com Viola. Domi balançou a cabeça.

— Eu tô bem, mesmo. É só que… — Ela ergueu os ombros. — É esquisito sabe? É o que é… mas… é difícil se acostumar com tudo. — Eu a analisei por um minuto.

— Você ainda o ama?

— Claro que eu amo James, ele é meu primo. Amo todos vocês.

— Essa não foi a minha pergunta. — Dominique não respondeu de primeira, tirando um tempo para observar o líquido âmbar no copo e então degustá-lo por alguns segundos.

— Acho que sim, provavelmente. Não foi um affair de dois dias como você era acostumado, foi minha adolescência toda e parte da minha vida adulta, então, bom, sim. Não é só uma coisa que vai embora, sabe? Mesmo que a ideia tenha sido minha, mesmo que eu quisesse e, ah, sei lá, talvez ainda queira, viver além do que era Fred e Dominique, claro que eu ainda o amo, mas isso não importa, não faz diferença. Não é porque eu ainda o amo que eu não fui, é porque… eu nem sei, é tudo tão… — Ela voltou a balançar a cabeça e virou mais um gole da bebida. — E é a Freya. Eu acho que estaria lidando melhor com toda a situação se fosse qualquer outra pessoa no mundo, mas… Freya? Não faz sentido, como isso aconteceu, quando isso aconteceu, eu só… 

— Nem me fale — comentei, revirando os olhos, um tanto resignado. — Freya com certeza foi o fim da picada! Acredite, eu também não estou nada feliz com essa situação. — Eu a olhei de lado. — Mas esse bebê não tem nada a ver com o que aconteceu nesse bizarro triângulo amoroso — fiz uma careta, tentando não imaginar tudo aquilo e balancei a cabeça.

Ao meu lado, Dominique suspirou e pediu outra dose. Fiquei a observando até que ela suspirou outra vez e me olhou.

— Eu sei que a criança não tem nada a ver com isso, James. É só que... — ela hesitou e eu pude sentir a sua frustração e raiva. — Esse bebê deveria ser meu. Essa atenção que ele está dando para essa bruaca velha, era para ser minha. — Dominique enfatizou tudo, segurando a bebida com força demais. Quando os seus olhos azuis pousaram em meu rosto, havia lágrimas neles. — Eu não canso de imaginar que se eu não tivesse terminado com ele, ele estaria assim com o nosso filho.

Minha expressão se suavizou diante dessa confissão. Dominique virou outra vez o shot, sem fazer careta. Pelo o que eu percebi, ela tentava não derramar as lágrimas que prendia. Dessa vez, fui eu quem suspirou. Ela levantou o dedo mais uma vez para o barman, que viu na hora que ela queria mais uma dose, mas eu envolvi a minha mão em seu dedo e o abaixei.

Dominique me olhou com os olhos turvos pela tristeza e o pesar, mas não relutou quando eu pousei sua mão no balcão.

— Tem certeza que não quer uma bebida? — perguntou ela e eu neguei com a cabeça.

— Não bebo mais. Isso quase destruiu a minha vida — respondi, ainda segurando sua mão. — Por favor, Minnie. Não faça isso, ao contrário de mim, Fred ainda está vivo. Vocês têm uma segunda chance — disse eu, olhando em seus olhos.

Dominique riu e bebeu o shot que o barman colocou em cima do balcão alguns segundos atrás.

— Como vamos ter uma segunda chance se toda vez que aquele balão ambulante aparece, Fred parece que é uma abelha atrás de mel? — perguntou ela com amargura.

— Honestamente? — perguntei, olhando para ela. — Acho que metade da atenção que o Fred dá para Freya é medo. A outra, realmente é amor pelo bebê. Eu sinto que ele tem medo da Freya achar que ele não tem responsabilidade, que ele iria deixar que ela se virasse sozinha. — Comentei, um pouco distante. — E eu sei que eu fiquei longe um tempo, mas até faz certo sentido esse desespero do Fred pra provar que vai ser um bom pai. — Era o meu ponto de vista pelo menos, principalmente baseado na conversa que tivera com meu primo um tempo atrás. Voltei o olhar para Domi e apertei sua mão. — Mas tenha certeza de uma coisa: ele te ama e vocês precisam conversar — falei, olhando bem em seus olhos azuis. — Seja para reatar, seja para colocar as coisas no lugar e cada um seguir o seu rumo. Vocês têm muitos assuntos inacabados.

Eu filosofei, mas tudo o que Dominique fez foi rir da minha cara, como se eu tivesse dito alguma piada engraçada. Talvez fosse o álcool já entorpecendo a mente dela, talvez ela estivesse descrente do que eu havia falado. Ou talvez fossem os dois. Então eu suspirei e levantei da cadeira.

— Já chega. Você vai voltar comigo agora — dei o ultimato a ela e a peguei no colo. Virei para o barman e disse: — Coloca na conta do Harry Potter. 

Meu pai ia entender.

Aparei com Dominique vomitando em minhas costas.

 

(...)

 

Ok. Meu plano era infalível. 

Eu estava cansado dessa coisa de vai ou não vai. Perdoa ou não perdoa. Me ama ou não me ama. Pelo amor de Deus! James Sirius Potter estava na área para valer e esses dois de picuinha um com o outro? Não no meu terreno.

Mas se eu era burro, Fred conseguia ser estúpido. Estava estampado no rosto de Dominique o desgosto que era vê-lo rodeando a Freya daquele jeito... meloso. Pelas cuecas de Merlin, aquela mulher nem gostava dele. E isso me irritava de uma maneira tão profunda, que eu quase pedi para que meu primo parasse de ser otário e mandasse a Zabini sumir com aquele bebê. Todo mundo sabia disso, mas fingia que estava tudo bem por causa do bananão do Fred, mas que Freya Zabini preferia ficar cega do que ficar sempre na Toca, era verdade.

Enfim, recorri a ajuda de alguns cúmplices para conseguir fazer as coisas funcionarem como planejado. Eu não queria que eles voltassem do nada. Eu queria que eles conversassem, se entendessem, para então saber se teriam outra chance. Sei que, pelo meu primo, eles voltariam num piscar de olhos, mas ao mesmo tempo ele não enxergava que as atitudes que ele tinha para com Freya eram fora do normal, o que dificultava um pouco as coisas do lado de Domi. Por mais que eu entendesse de certa forma o porquê Fred estava agindo daquele jeito, não conseguia aceitar a necessidade de ele fazer tudo por aquela mal educada e ingrata.

Era sábado, estávamos todos reunidos na toca novamente e Fred estava enfurnado na cozinha atormentando vovó para que fizesse alguns quitutes que ele planejava incluir em uma cesta de doces para enviar a Freya. Da sala eu observei Dominique aparatar para o jardim, exclusivamente afim de evitar a cena na cozinha e suspirei, levantando do sofá e indo para onde meu primo estava, puxando-o pela camisa e cruzando os braços. Meu plano já estava todo completo e aconteceria em breve, no aniversário de Dominique que seria no dia seguinte, mas aquela maneira de Fred paparicar Freya, que claramente não queria nada vindo da gente, estava me enlouquecendo. 

— Cara, qual é a tua? — Perguntei, cruzando os braços. Porque, ao contrário dos meus familiares, eu tinha colhões para fazer aquela pergunta.

Fred me olhou, confuso. E eu revirei os olhos, esperando que meu primo se ligasse nas coisas ao seu redor.

— Sobre o quê, especificamente? — Ele inclinou a cabeça, parando de incluir cartõezinhos motivacionais ou o que quer que fossem aquilo na cesta, eu fiz uma careta que pudesse reproduzir o enjoo que eu senti vendo aquilo.

— Olhe bem para o que está fazendo e me diga o porquê disso — respondi, indicando com a cabeça para a suas mãos em obra.

Fred demorou dois segundos para entender. Seus ombros relaxaram e ele deixou os braços do penderem ao seu lado, moles.

— Ah — disse meu primo.

— Ah... — repeti o que ele disse, desdenhando um pouco. — Fred, eu vou te fazer uma pergunta e preciso que você seja muito sincero comigo ok? — Ele me olhou, eu sentia que ele tinha muitas respostas para aquilo, mas decidiu esperar. — Você tá apaixonado pela Freya ou qualquer coisa do tipo? — Vai que…

Fred então apoiou as mãos na mesa e me encarou como se eu fosse louco.

— Não, James. Eu não estou. Já disse pra você que eu ainda amo a Domi e amor + Freya Zabini não são palavras que existem no mesmo dicionário, pelo menos não no que a Rose me emprestou. — Ele aumentou um pouco o tom de voz na resposta, não de um jeito agressivo, mas como se ele quisesse que todos ao redor ouvissem. Então suspirou. — Olha, eu sei que Freya preferia estar andando numa fogueira cheia de espinhos do que estar participando da nossa família — admitiu Fred e depois me olhou. — E eu sei que todo mundo sabe disso também. Mas... — ele hesitou. — Mas... eu estou apaixonado pelo o que ela carrega dentro dela. Não ela, mas a criança. Eu não tinha ideia que me sentiria assim até o dia que Freya me contou e me deixou sentí-lo chutando. Eu nunca senti nada assim James, é… mais mágico que qualquer feitiço que você pode pensar. Se eu deixar Freya livre, ela vai sumir com essa criança. Talvez possa estar errado, só que eu não confio em deixá-la solta e não fazer questão de vir ou fazer isso. Eu tenho que lembrá-la o tempo todo que eu quero fazer parte da vida do bebê. Que eu estou aqui, que eu sou o pai dele, que se ela precisar poderá contar comigo. Porque ela não faz questão que eu veja o nosso filho. Por ela, criaria a criança sozinha sem hesitar e eu não teria oportunidade de ver o meu filho e eu sei que ela tem condições pra isso, então preciso me tornar essencial e presente pra fazer alguma diferença pra ela.

Quando ele terminou de explicar, meu coração afundou um pouquinho. Fazia muito sentido o que havia dito, porque Freya era capaz. Ela sempre tinha sido independente, me surpreendia o fato de ela ter contado o Fred sobre a gravidez, mas tivera seus motivos. Ainda assim, ela não queria se misturar e conviver por livre e espontânea vontade, se quisesse não estaria com cara de bunda toda vez que viesse aqui, ela se esforçava, dava para ver, mas vamos combinar que Freya não servia para ser atriz. Eu nem queria nada com ela e sabia o que estava pensando só de olhar para a expressão dela.

Suspirei e balancei a cabeça.

— Mas o jeito que você a trata... — balancei a cabeça de novo.

— Quero que o meu filho nasça saudável, James — Fred disse tão sério, com uma expressão tão impenetrável, que eu cheguei um pouco para trás. — Não estou fazendo isso por Freya, estou fazendo pela criança. E gravidezes não são fáceis, então eu tento mantê-la hidratada, alimentada e de bom humor para que o bebê fique bem. — Meus palpites estavam certos, mas ouvir aquilo era como um choque de realidade, fazia sentido, mas ainda assim.

— Ok, ok. Mas acho que você precisa olhar mais a sua volta e reparar nas pessoas no lugar. — ergui os braços para cima, olhando-o seriamente. — Precisa ver que algumas dessas atitudes não são boas para a... nossa família também — quase disse o nome de Dominique. 

Mas como sempre, meu primo é um cavalo e não entende nada.

— Por quê? — ele perguntou, agora mais confuso ainda. Eu estreitei os olhos para ele, indignado.

— Você se faz de lerdo ou você é assim mesmo? — Ele não respondeu, eu suspirei. — Você acha que é fácil pra todo mundo ser gentil com alguém que abertamente fala que odeia todos aqui? Alguém extremamente preconceituoso com nossa tia Hermione, por exemplo? Não é. Eu entendo que você esteja fazendo isso pelo bebê, e não te julgo, mas… às vezes dar alguns passos para trás pode ser bom para todos. Afinal, Freya também pode se estressar com o excesso de cuidados e sumir do mesmo jeito.

Fred parou e olhou para além de mim. Acho que ele não tinha pensado sobre isso e, por tanto, sentou frustrado, largando a cesta que montava de lado.

— Eu não estou dizendo que vá acontecer. Mas você precisa equilibrar essa balança. Você diz que está tentando mantê-la calma, mas eu vi o quão irritada ela ficava sempre que você tentava a forçar comer ou beber qualquer coisa noutro dia. Envie a cesta, mas pise um pouco no freio. Ela já está se esforçando pra te deixar participar, não precisa a pressionar tanto assim e, sinceramente, nem a ninguém daqui. — E apontei discretamente para vovó que tirava uma fornada de biscoitos do forno.

Meu primo suspirou e concordou.

— Eu vou tentar… diminuir a pressão ok? — Eu sorri e concordei, Fred levantou para voltar os preparativos da cesta. — Mas só pra esclarecer uma coisa. — E pausou, me olhando, eu aguardei. — A próxima vez que você, que desapareceu por quase seis anos sem deixar rastros, vier me falar o que é bom ou não para essa família eu vou te dar outra surra. — Apenas do tom brincalhão eu sabia que ele falava sério, então apenas ri um pouco sem jeito e decidi ajudá-lo a montar a cesta. Quanto antes todos os rastros de Freya fossem removidos dali melhor.

 

Na manhã seguinte vovó acordou todos os que tinham acampado por lá cedo. Muito cedo. Aquela casa sempre estava abarrotada de comida, mas ainda assim parecia que tinham muitas massas para serem batidas na cozinha, ingredientes faltantes que precisavam ser buscado às pressas no beco diagonal e limpezas que apenas as vassouras e panos flutuantes não eram capazes de realizar. Sem contar com a revolta inesperada de gnomos de jardim que realmente acharam que era uma boa ideia fazer aquilo logo no dia em questão. Às 9 da manhã eu já estava um caco, e ainda tinham tendas para serem erguidas e decorações para pendurar.

Sentei na cozinha por um instante pra beber um copo d’água e desviei o olhar um instante para o relógio pendurado por ali. De quando eu tentava escalar o artefato aos dias atuais muitos ponteiros tinham sido adicionados, o que significava certa confusão, principalmente quando existia uma aglomeração na parte dedicada à Casa ou aos Jardins, como era o caso hoje. Alguns poucos ponteiros estavam perdidos, como o de tio Charles, Molly II e Fred. Parei pra focar alguma atenção naquilo e então pisquei quando Roxanne surgiu estalando os dedos na minha cara.

— Nós temos um problema. — Minha prima, e cúmplice, declarou. Eu esperei. — Freddy não quer vir pois disse que esse é o dia da Dominique e ele não pretende ser um problema pra ela. — Revelou sem delongas e eu revirei os olhos, suspirando cansado.

— Por que eles têm que tornar minha vida difícil? — Reclamei, terminando minha água e então respirando fundo. — Certo. Ok. Eu vou atrás dele, tive uma ideia. Você e Louis se certifiquem que a Domi estará no barracão de vassouras sem a varinha dela em até 5 minutos ok? Eu não pretendo demorar. — Roxy concordou e então saiu para cumprir seus deveres enquanto eu caminhei até a sala e enchi minha palma com pó de flu.

— Eu vou… buscar o presente. — Anunciei, mas ninguém estava interessado no que eu fazia, então apenas despejei o pó na lareira e direcionei a viagem para a casa de Fred.

Lembram da poção que eu estava desenvolvendo há anos? Ah, como ela era urgente. Apoiei-me no sofá mais próximo ao pular pra fora da lareira e esperei um minuto inteiro até a tontura passar para conseguir ficar de pé. Quando finalmente me recuperei, olhei ao redor e não vi meu primo por ali.

— Frederic! — Gritei, avançando um pouco pela casa.

— James?? — Ouvi a voz dele mais distante e parei.

— Uh, você tá aqui mesmo. Só fui pensar tarde demais que você também podia ter fugido pra um bar ou qualquer coisa do tipo. — Comentei enquanto meu primo terminava de descer as escadas e surgia por ali, ainda em pijamas.

— O que cê tá fazendo aqui? — Perguntou, mas antes que eu respondesse se adiantou. — Olha, eu sei o que você vai dizer, mas eu não posso só aparecer lá ok? É o dia dela, eu quero que ela se divirta e ela claramente não consegue fazer isso comigo perto, então eu não quero ser um estorvo, quem sabe daqui uns anos, mas agora…

— Uhum, uhum. — Interrompi meu primo, concordando com a cabeça e me apressando pra falar antes que ele continuasse. — Muito altruísta você, mas a mãe do seu filho parece não pensar o mesmo. Freya apareceu na toca, parece que ela tá em trabalho de parto ou alguma coisa do… — Parei, observando Fred entrar em desespero imediatamente. Eu sou um gênio né?

— Parto? Mas ela ainda tinha dois meses e… eu ainda não terminei de arrumar a mala e as coisas… será que foi um dos bolinhos de pimenta? — Me surpreendia que ele não pensava na possibilidade da criança não ser dele, mas como tudo não passava de mentira eu decidi interromper de novo.

— Fred. Colega. Presta atenção. Levaram ela pro barracão de vassouras que é o único lugar arrumado lá agora, acredite se quiser, entra naquela lareira e vai rápido.

Parecendo realizar o que estava prestes a acontecer, Fred assentiu e, ainda de pijamas e sem sua varinha, correu para a lareira, indicando a Toca e sumindo em um espiral de chamas verdes.

 

Sem tempo para náuseas, sai cambaleando da lareira da Toca e percebi que Fred já estava bem na minha frente, mesmo que só tivéssemos saído com segundos de diferença. Roxanne percebeu o que estava acontecendo e largou as decorações que segurava no chão, correndo atrás do irmão que estava indo diretamente para o barracão, de onde Louis saía e olhava aterrorizado para a imagem de Fred correndo, pulando para o lado apenas em tempo de não ser atropelado por aquele hipopótamo humano gigante.

— Eu não tenho uma varinha! — Gritei para os dois que pareceram entender a tarefa e imediatamente puxaram as suas, selando todas as saídas possíveis daquele barracão.

Acelerei um pouco os passos e apoiei as mãos no joelho brevemente, respirando fundo. 

— O que foi que você falou pra ele? — Perguntou Louis, se recuperando do susto.

— Que o neném tava nascendo.

— James isso é maldade! — Rox protestou, eu dei de ombros. 

— Deu certo né? Ela tava lá?

Segurando o riso, Louis concordou. E antes que a gente pudesse fazer ou falar qualquer outra coisa eu vi a parede do barracão balançar, como se tivesse levado um murro.

— James Sirius Weasley Potter! — Aquela era Dominique, mais socos vieram depois daquilo. — Ao contrário de mim você não vai viver o suficiente para comemorar seu aniversário! — Era um aviso muito direto.

— Você tá brincando comigo James? Usar o nascimento de um bebê pra pregar peças? Quando eu sair daqui eu juro por Deus que…

— Vocês vão me agradecer depois. — Gritei mais alto, ignorando os xingamentos e ameaças que eram feitos.

— E Louis, não vai sobrar um fio de cabelo na sua cabeça! — Dominique continuava, James segurou o riso quando Louis demonstrou o mais profundo e verdadeiro desespero.

— Vocês dois não iam fazer isso por livre e espontânea vontade! Quanto mais rápido pararem de me xingar, mais rápido vão sair daí, eu prometo. — Eles não pareciam afim de ouvir. — Ok, nós vamos silenciar vocês dois agora pra não preocupar ninguém ok? Volto em uma hora! Acho bom se resolverem antes do almoço ou vovó vai acabar com vocês! — E com o aviso dado e Roxanne rindo, ela lançou um feitiço que impedisse que qualquer um ouvisse os gritos de lá de dentro, até porque se meus primos resolvessem deixar aquela reconciliação mais física eu não ia querer ouvir, e então saímos para cuidar dos últimos detalhes da festa da aniversariante.

 

Depois da primeira hora, ao voltarmos para lá, os gritos que agora eram direcionados de um para o outro foram um indício que as coisas ainda não tinham sido resolvidas, então resolvemos prolongar o tempo um pouco mais. Na segunda hora o barulho de vidro se quebrando tinha sido extremamente preocupante, principalmente devido ao fato de que não existia absolutamente nada de vidro dentro daquele barracão, então usando a sensatez que tínhamos voltamos a silenciar o local e ainda indicamos para que ninguém mais lá fosse lá perto pois estávamos resolvendo problemas com gnomos nos arredores. Enfim, na terceira vez, quando já passava um pouco de meio dia e os adultos mais velhos começavam a se preocupar com onde Dominique estava, voltamos e nos deparamos com o silêncio.

— E se eles tiverem se matado. — Roxy considerou. Acho que nenhum de nós tinha pensado nessa possibilidade.

— É o aniversário dela! — Louis pontuou, aparentando estar horrorizado com a possibilidade.

— Só tem uma forma de saber. — Conclui, dando cuidadosos passos para mais perto do barracão. — Minnie? Freddy? — Tentei, sem resposta.

— A gente devia entrar. — A sugestão foi de Louis.

— E se eles tiverem se juntado pra matar a gente? — Roxanne foi a voz da razão.

— A gente pode… — Parei, tentando pensar alguma coisa, mas nada veio. — Nop, não tenho nada.

— James? — Era Fred, nós três do lado de fora respiramos aliviados.

— Deixa a gente sair daqui seu idiota.

— Vocês se resolveram? — Tentei e quase pude sentir a raiva de Dominique borbulhando.

— Eu vou resolver a minha mão na sua cara. — Ameaçou.

— Sim, mas e com a cara do Fred? — Provoquei, eles tavam presos e vovó tava saindo da cozinha naquele instante, eu tava a salvo.

— Cadê a Dominique? — Ouvimos ela chamando.

— Acabei de falar com ela e ela já tá chegando vovó! — Gritou Louis acenando um joinha para a primeira Molly da família.

— A comida conseguiu ser ainda melhor do que normalmente, sério, vocês deviam sentir o cheiro. Se eu fosse vocês faria absolutamente de tudo pra sair logo daí. — Minha tentativa era apelar pro estômago de Fred. E funcionou.

— Nós conversamos, abre logo esse barracão antes que eu derrube ele. — Algo me dizia que ele já tinha tentado e falhado.

Olhei para Roxy e Louis e então concordamos, desfazendo o feitiço e dando sete passos para trás em sincronia. A porta saiu. Fred saiu primeiro e então Dominique. Meu primo estava irritado, mas parecia conseguir controlar aquilo, Dominique estava toda vermelha, porém de alguma maneira toda aquela fúria era direcionada exclusivamente a mim, Louis e Roxy.

— Nós conversamos. — Disse, ríspida e então saiu em passos furiosos para dentro da Toca, passos esses que suavizaram assim que ela passou por mim e os outros dois, fazendo questão de dar um forte pisão no meu pé.

— E???? — Perguntei em meio aos choramingos de dor, virando para Fred e vendo meu primo com um grande e babão sorriso no rosto.

— Nós vamos ver como as coisas vão. — Confessou, com uma voz ainda mais boba do que a cara. — Não é muita coisa, mas já é alguma coisa né? — Perguntou Fred alternando o olhar entre nós três e eu esqueci a dor para sorrir, concordando. — Obrigado galera. — Disse se aproximando de nós três. — Quando a festa acabar eu ainda vou matar você por ter me enganado com o nascimento do meu filho ok? — Disse Fred com um largo e contente sorriso enquanto também passava por mim em direção a toca.

— Foi bom te conhecer James. — Roxy desejou, dando um tapinha no meu ombro.

— Te daremos um funeral apropriado dessa vez. — Garantiu Louis enquanto nós três seguimos de volta para a casa.


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Notas finais do capítulo

E é isto.
Eu sei, um pouco fora do convencional, mas James passou muito tempo fora! Então achamos que é necessário essa breve pausa entre muitas mulheres para se reconectar com a família e, claro, arranjar mais alguns problemas pra cabeça dele.
Mas a gente promete que a partir do próximo volta um pouco da pegação. E eu juro que o próximo já está sendo escrito as we speak!
Faltam apenas 6 mulheres para o final da história do James, cês tão preparados? Ainda tem alguém aí? Vou implorar por comentários porque tô morrendo de saudade de todos vocês! Conta pra gente o que vocês acharam e o que esperam dos próximos capítulos e... até breve! /Lia Galvão



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