Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 6
Ela Também É Ciumenta




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De manhã na escola, estou saindo da sala com Lucas e Rodolfo no meu flanco. Rodolfo está listando o que teremos que levar na festa de Natal que será no sábado que vem. Enquanto Rodolfo fala, Lucas faz uma careta para o seu tom metódico.

– Pode listar todas ela de uma vez – ele finalmente o interrompe. – Por favor?

– Qual o problema com o jeito que eu estou listando? – Rodolfo questiona sem mudar a expressão ou o tom.

– O problema é que você fala muuuuuuito devagar – Lucas faz um gesto com a mão para exemplificar sua resposta e Rodolfo segue sua mão com o olhar. – E nós realmente não precisamos começar a manhã assim. Tem como se afastar?

Rodolfo pisca duas vezes para ele e depois para mim, como se pensasse seriamente na pergunta. E então apenas mexe os lábios e faz que não com a cabeça.

– Bleh, não, acho que vou continuar seguindo vocês.

Lucas grita de frustração para ele e começo a rir.

– Rafa?

Viro-me e Taff, a garota de ontem, está atrás de mim. Usa uma calça jeans e uma camiseta sem mangas. Segura sua bolsa ao lado do corpo e seus brincos fazem barulho quando ela mexe a cabeça.

– Eu mesmo – olho para ela sem expressão.

– Podemos nos falar um segundo?

Lucas e Rodolfo me olham e eu apenas aceno com a cabeça.

– Podem ir, eu acompanho vocês.

Rodolfo dá de ombros e segue em frente. Lucas fica um segundo parado, olhando de Taffara para mim.

– Pode ir, tá tudo bem – garanto a ele.

Ele se afasta depois de uma encarada e me viro para Taffara. Seus olhos avaliam Lucas até ele sumir e me encaram logo depois.

– Não acho que você deveria ter dito isso ao seu amigo – ela diz em um tom frio.

– Isso o que?

– Que esta tudo bem – ela repete meu tom. – Não esta nada bem.

Franzo a testa para ela.

– E por que não esta nada bem?

– Não seja ingênuo – ela aponta o dedo para mim. – Eu sei de tudo já.

Instintivamente, minha mente vagueia para o encontro com Henrique na noite passada. Lembro-me de que nós dois conversarmos muito e de ele ter pedido Sundae, que a propósito estava uma delicia, e de planejarmos uma surpresa de Natal para ela. Claro, só falamos pouco dessa última parte.

– Do que esta falando? – volta para realidade.

Ela me fuzila com os olhos.

– Não se faz de idiota – ela começa a mexer na própria bolsa. – Minhas fontes já me disseram tudo.

Taffara tira seu Iphone de dentro da bolsa e desliza algumas vezes na tela antes de me entregar o celular. Olho e tem uma imagem minha e de Henrique, sentados em uma das cabines do Dropcoff, conversando e rindo.

Olho o sorriso de Henrique uma vez, ele parece feliz.

– E o que essa foto deveria dizer mesmo? – ergo o olhar.

– Já falei pra não se fazer de idiota – ela pega o celular da minha mão. – O que estava fazendo com o Henrique no Dropcoff ontem à noite?

Eu engulo em seco, me sentindo um pouco encurralado. Eu não posso falar nada, eu prometi ao Henrique que não diria nada.

– Só conversando? – saiu mais como uma pergunta.

– Só conversando, sei – ela se aproxima mais de mim. – Eu sei muito bem quem você é, Rafael Capoci. Ouvi sua conversa com seu namorado ontem.

Entendi bem aonde ela queria chegar.

– Ah, com saber quem eu sou, você quer dizer que sabe que eu sou Gay, é isso?

A expressão dela fica surpresa. Talvez pense que eu não fosse assumido ou algo do tipo.

– Bem Taffara – eu me afasto dela lentamente. – Antes de vir ameaçar alguém dizendo que conhece bem faço as aspas no ar. – Por favor, esteja mais informada.

– Espera um segundo – ela ergue um dedo. – Eu sei o que você esta fazendo.

– Ah, e o que estou fazendo?

Ela ri alto, o olhar nervoso devolvendo o meu.

– Henrique não joga no seu time, pode apostar – ela cruza os braços. – Ele me ama.

A última frase dela me faz lembrar a tarde anterior e logo estou ouvindo um Henrique incerto falando sobre Taffara, e sobre não saber se a ama. Depois do que ouvi ontem, o fato de que ele não quer fazer com ela, qualquer outra coisa não me deixaria surpreso.

Espanto meus pensamentos ao encarar a víbora.

– Eu não disse nada disso – respondo, não me deixando afetar. – Nem sequer pensei se quer saber. Henrique e eu estávamos apenas conversando, como amigos.

– E você tem amigos? – ela ri ironicamente.

Avalio-a de cima a baixo.

Você tem? – retruco. – Com toda essa gentileza, é difícil acreditar.

Ela faz uma carranca, mas não parece se afetar tanto assim.

– Melhor se cuidar, Capoci – ela me avisa, apontando o dedo de novo. – Eu não sou eu mesma quando estou com ciúmes. E você, definitivamente não vai querer ver do que eu sou capaz.

Ela então se afasta, cheia de pompa e fico parado no corredor. Não porque ela tem uma foto minha com Henrique em seu celular. Nem porque ela praticamente me ameaçou de morte agora mesmo.

Mas sim por que a atitude dela de ciúmes me lembra que o ciúmes é capaz de fazer essas coisas também com outra pessoa que conheço.

Rael.


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