Procurado escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Cadê o Homem Aranha?


Notas iniciais do capítulo

A história se passa no universo dos quadrinhos, então quem apenas viu os filmes verá que algumas coisas ainda não aconteceram... Harry ainda era uma pessoa comum, tia May não sabe do segredo dele e etc.



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Manifestantes obstruem ruas de Nova York, causando tumulto geral. Três das vias principais da Times Square estão impossíveis de se trafegar. A causa do protesto é o excesso de emissões de gases nas ruas, além de outras pequenas insatisfações do público jovem de hoje em dia....

— Ah, vamos por no mudo um pouquinho, certo? É tanta notícia ruim, minha filha, que às vezes... Ah, mas vamos voltar a você. O que veio fazer aqui mesmo, meu amor?

Gwen sorriu timidamente e se aproximou da senhorinha à sua frente. Tia May fez sinal para que ela sentasse consigo no sofá, mas a jovem fez que não, continuando no hall da porta. Enrolou alguns fios de seus cabelos louros, num tique nervoso; ela queria achar seu amado pseudo-amigo e sumir logo dali.

— Obrigada, tia May, mas eu só vim atrás do Peter. Ele está?

— Não. Ele saiu hoje cedo e.. Espera — tia May enrugou a testa e se levantou de repente, evidentemente apavorada — Já tem dez horas desde que Peter saiu.,. Se ele não está com você, onde será que... Será que aconteceu alguma coisa?

Os olhos de Gwen Stacy pousaram instantaneamente na TV. Era mais do que óbvio que Peter estaria resolvendo qualquer um daqueles crimes noticiados pela CNN. Mas ela, como a boa amiga que era, não revelaria sua identidade; se Peter não estava pronto, nada poderia fazer quanto a isso, a não ser silenciar.

— Ah, não deve ser nada demais, senhora Parker — tentou tranquilizá-la, com um sorriso que passava segurança — Aposto que ele deve estar com o Harry, ou quem sabe arrumou uma... — pigarreou e olhou para os próprios pés — Namorada.

— Oh, Gwen, meu Peter gosta muito de você. Não precisa ficar com ciúmes bobo! Venha cá!

Tia May deu um sorriso bondoso e fez menção de abraçá-la. A loira soltou uma risadinha e retribuiu. Deu adeus, um tanto hesitante, e rezou para contatá-lo antes que a velha resolvesse criar confusão como das outras vezes.

No entanto, semanas se passaram e nada de Peter aparecer. Gwen estava assistindo ao último horário de aula e sentia uma imensa falta da cadeira vazia à sua frente. Mordia as unhas, nervosamente, até que sentiu o celular vibrar. Era uma mensagem de Harry. Pegou-o discretamente e leu:

8 semanas sem o Peter. Tia May espalhou centenas de cartazes pelas ruas. A gente vai ter que contar, Gwen. Tem uma ideia melhor? Aliás, onde o idiota se meteu?

Harry.

A garota soltou um longo suspiro e guardou suas coisas na bolsa quando o sinal tocou. Respondeu a mensagem e ficou de encontrar com ele uma quadra antes da casa do Super-Herói.

Gwen recostou na parede ao lado do Starbucks e aproveitou para comprar um frapuccino. Não muito tempo depois, achara um Harry cansado vir em seu encontro:

— Acabei indo logo lá e falando com a tia May. Você demorou de me responder e eu realmente achei que alguém tinha que tranquilizar a velha antes que ela enfartasse.

— Harry! — a garota o repreendeu.

— Gwen! — arremedou.

A jovem revirou os olhos e balançou os pés, impaciente.

— O que você disse a ela, afinal?

— Qualquer coisa sobre um trabalho de grupo e que ele já tinha falado comigo. Mas a questão é: por que ele não atende a porcaria do celular?

— Ai, eu não sei, Harry, vai ver quebraram ou ele perdeu. Peter não tem dinheiro para comprar outro... Alguns não nascem ricos como você, sabia?

Harry ignorou a alfinetada dela e escorou-se na parede ao seu lado, fechando os olhos para raciocinar. Peter era um herói, afinal de contas. Não haveria perigo para ele... Mas que era estranho, era. Ele não costumava sumir assim, sem avisar. Esperava, realmente, que ele não houvesse ido atrás de alguma encrenca.

Mais um mês havia-se passou e nada de Peter Parker. Não quiseram ter notícias da tia May por pura preguiça de ter que cuidar do estresse dela. Os cartazes só aumentaram, infelizmente, causando todo um alvoroço na cidade, principalmente pelo número de crimes que cresceram com o "estranho sumiço do Homem-Aranha".

Gwen estava caminhando numa das transversais da Broadway quando sua atenção foi captada pela loja de eletrodomésticos. Duas das dezenas de televisores passavam uma entrevista com ninguém menos que...

"A senhora tem certeza disso, senhora..?"

"Parker. May Parker"

"Isso. Senhora Parker, alguma suspeita, pelo menos?"

"Oh, eu não sei. Mas sequestraram meu menino, com toda certeza! Não tem outra explicação... Então, eu queria pedir que quem visse esse garoto, por favor..."

— Santo Deus! — Gwen bateu na própria testa, agoniada. Mal havia deixado a loja quando um enorme telão da Times Square mostrou a imagem do Homem-Aranha e os dizeres Ele não vai mais salvar o dia?. Teria que pensar rápido. Se notasse a semelhança entre os dois sumiços, a identidade do seu amigo seria ameaçada.

Antes que pensasse em qualquer coisa, porém, um burburinho chegou cada vez mais perto, e logo Gwen se viu num mar de braços e placas. Pelo que parecia, jovens e suas famílias protestavam pelo sumiço do herói, exigindo que parassem de abafar o caso e dessem informações sobre seu paradeiro. Será que o Homem-Aranha se demitira? Essa era uma das perguntas dos cartazes.

A amiga colorida de Peter Parker mergulhou entre os manifestantes, nadando na direção contrária, e acabou pegando um táxi até a sede da CNN. Ela invadiria a entrevista, este era o plano. Mas falaria exatamente o quê? Não era muito boa com improvisos, mas devido às circunstâncias...

— Aqui, senhor, pode ficar com o troco.

E então, Gwen saiu em disparada para fora do carro, com seus cabelos esvoaçando em suas costas, e o suor caindo em seus olhos. Por sorte, a gravação estava sendo feita do lado de fora e ela correu até lá.

— Então, a última vez que o vi foi... — tia May parou de falar, aos poucos, quando viu a destrambelhada da Gwen Stacy pular e acenar para ela por detrás das câmeras.

— Algo de errado? — o apresentador perguntou, tomando a direção que tia May olhava — Ah, uma fã, só pode. Ei, como vai?

Gwen deu um tapão em sua própria testa e pulou as faixas e cercamentos que isolavam a gravação. Alguns seguranças foram até ela, mas a garota fora mais rápida. Obrigada, karatê! Pensou. Ainda bem que fizera aquelas aulas quando criança. No fundo, sabia que serviria para alguma coisa.

— Ei, ei, ei, isso é uma gravação ao vivo! — a voz do apresentador se sobressaiu dentre o alvoroço.

— Peter está bem, senhora Parker! — Gwen gritou, até que deixaram-na em paz. Arrancou o microfone da senhora e desatou a falar besteiras, como sempre fazia quando estava nervosa — Ele não sumiu coisa nenhuma. Desculpe, moço, mas é que eu não sabia que chegaria a esse extremo, sabe? Ele me pediu para guardar segredo...

— Segredo? Que segredo? Adoro segredos! — falou, num tom afetado. Enquanto isso, tia May estava muda, ainda processando a presença (e notícias) de Gwen Stacy.

— É... Segredos. Ele, na verdade, arrumou uma namorada na Internet. De...

— Seattle!

A voz de Harry assustou a menina que, ao ver de quem se tratava, respirou de alívio. Ele sustentaria a mentira. Continuou:

— É... Ele disse que ia visitá-la.

— Você me disse que era uma excursão da escola! — tia May reclamou, indignada — Bem que eu desconfiei. Meu Peter não iria...

— Bem... — o repórter pigarreou, querendo atenção — Já que está tudo resolvido, preciso que vocês...

— Mas é que ele me pediu para não contar! — Harry entrou no jogo de interpretação, ignorando totalmente o repórter.

— Mas ele não é desse tipo! Normalmente ele daria notícias... Peter é um menino tão bom. Ele não faria isso comigo, faria?

— Pessoal... — o apresentador tentou outra vez.

— O celular do Peter foi roubado antes de sair. Eu estava com ele na hora! — foi a vez de Gwen rebater, sorrindo de esguelha para o amigo.

— Mas esse tempo todo? Três meses?! E telefone público?

— Você sabe, né? Seattle... Quase Canadá... Deve ter tarifa.

— Pessoal, o meu programa...

— E quem disse que foram três meses? — Gwen complementou — Acho que a senhora está com uma memória ruim. Foi menos do que isso, senhora Parker...

O repórter fez um sinal com as mãos para que cortassem a transmissão, cansado daquela briga de família em seu programa. Levou a equipe para outro canto e ninguém pareceu momentaneamente reparar na ausência deles. No entanto, havia outra ausência infinitas vezes mais importante, mas que, felizmente se encontrava a poucos metros deles.

Peter Parker caminhava com os olhos fechados, murmurando qualquer coisa sobre o medo da reação de sua tia May. Andava lentamente, adiando a cada passo a guerra que teria que travar com ela. Mas não tinha culpa, obviamente. Ele nunca tinha. Eram sempre fatores externos... Imprevistos, mudanças de roteiro.

O Super-Herói, que nas horas vagas era um garoto, respirou fundo e pôs as mãos nos bolsos. Vazios. Ficaram com sua polaroide, os filhos da mãe. Como pagaria as contas agora? Como se não bastasse seu sumiço, que diria à sua doce e histérica tia quando não tivessem o que comer? Que diria, sua tia May?

Flashes dos últimos acontecimentos vieram-lhe à tona: a confusão de estudantes, o protesto na Times Square. As balas de borracha, o spray de pimenta, seu longo suspiro. Lembrava-se de ter xingado mentalmente e corrido até um beco escuro onde pode trocar sua roupa sem ser visto. Deixou sua mochila lá e jogou suas teias para por fim àquela covardia.

Recordou-se, também, do momento em que vira a melhor manchete de jornal da História bem à sua frente. Pulara de prédio em prédio atrás daquele beco, tirara a roupa de Homem-Aranha num piscar de olhos e correu para registrar as fotos que revelaria no dia seguinte. Entretanto, como de praxe, tudo em Nova York gera bagunça. Policiais correndo de um lado para o outro, levando vândalos que atrapalhavam os protestos, e Peter foi arrastado como um deles.

A primeira coisa que fez, quando tentava se desvencilhar dos braços dos policias, fora chutar para longe sua mochila com a roupa do Homem-Aranha. Quem a visse pensaria que era apenas uma boa fantasia. Foi com muita relutância, no entanto, que não usara suas habilidades. Não podia se denunciar. Não, de forma alguma!

Foi pensando nisso que Peter arregalou os olhos ao dobrar a esquina que daria em sua casa em poucos minutos, quando viu a discussão rolando solta. Seu melhor amigo, Harry, sua quase namorada, Gwen, e, claro, tia May. Ele levou as mãos à cabeça, praguejando alto, e cravou os dedos em seu cabelo.

— Tá vendo só? Vocês fizeram o repórter ir embora! E agora, como vou achar o meu Peter..?

— Er... Senhora Parker? — Gwen tocou no ombro dela.

— Diga.

— O Peter...

O garoto reprimiu um gritinho e andou devagar até ela, olhando para os próprios pés. Ao olhar inquisidor de sua tia, Peter apenas respondeu:

— Er... Intercâmbio? — deu um sorrisinho amarelo, o que fez seus dois amigos bater na própria testa.

Peter abraçou a tia, estrategicamente, e mexeu os lábios para que só os amigos entendessem a mensagem: fui preso, explico mais tarde.


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