Hoje parecia ser mais um dia normal (e quando digo normal, quero dizer chato) até o professor hipopótamo chegar e esmagar todo o resto de ânimo (que já era pouco) que eu ainda tinha pra aguentar a manhã naquele lugar.

Cheguei na escola, entrei na sala, sentei no mesmo lugar que sento todo santo dia, entre Cassy e Alice. Meu querido professor que tem a barriga do tamanho do mundo (sério, eu não sei como ele levanta da cama de manhã com todo aquele peso) chega para a turma e diz:

— Então, turma, amanhã nossa escola estará realizando um encontro entre os nossos alunos e os novos alunos que pretendem entrar para esta instituição no mês que vem, esperamos que vocês apareçam lá para receber- los, falar sobre o quanto é maravilhoso o local em que vocês estudam e etc...

Quando ele disse isso, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi: "Tô fora!"

— ... e devo avisar-lhes também que a sua participação valerá dois pontos para todas as matérias, isso ajudará a aumentar a nota baixíssima que todos vocês tiraram no bimestre! Principalmente a sua, Jade!

— Ah, tio, qualé! - reclamei indignada.

— Não me chame de tio, não sou parente de seus pais. - ele ajeitou o suspensório super ridículo que usava para segurar a barriga enquanto me lançava um olhar um tanto amedrontador - Quero te ver aqui amanhã bem cedo!

— Mas... - comecei a questionar mas o sinal tocou e todos, incluindo o professor, saíram sem ao menos me ouvir.

Não acredito nisso! Amanhã é sábado, ou seja, amanhã é o dia em que eu DESCANSO, não o dia em que eu saio por ai distribuindo doces e espalhando mentiras para os pobres coitados que vão entrar para esse inferno mês que vem! Que coisa mais injusta!

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Passei minha tarde toda de sexta-feira fazendo bolinhos caseiros com a minha mãe (achou que eu estava brincando quando disse que ia ter que distribuir doces?), que cá entre nós não é nenhuma doceira maravilhosa, mas foi o que deu para fazer nas condições em que eu me encontrava. Cassy se ofereceu para nos ajudar, mas mamãe não quis. Ela tem essa mania de querer fazer tudo do jeito dela e não querer a ajuda de ninguém (só a minha porque ela insiste em dizer que eu não faço nada), depois me perguntam porque eu tenho esse gênio forte, bem, a culpa é da mamãe.

Depois de prontos e decorados com uma cobertura de corante artificial cor-de-rosa (ideia da mãe), já eram umas sete da noite e eu estava exausta.

— Mãe, eu já estou indo para o quarto dormir... - respondi enquanto tirava o avental todo sujo de massa de bolo (que eu aparentemente não sabia manusear direito)

— Espera, Jade, eu preciso falar uma coisa pra você...

— Pelo o amor de Deus, não me diga que você está grávida, porque se você estiver grávida...!

— Não é nada disso, filha! - ela logo me interrompeu. - Sinceramente, de onde você tira essas ideias? Só queria avisar que domingo tenho que ir à um chá-de-panela na casa da Cláudia, portanto vou passar o dia todo fora.

— Tia Cláudia vai se casar? Eu duvido que vá durar mais de três meses... - zombei.

— Jade, para de achar que amor não existe! Tem muitas pessoas apaixonadas felizes por aí...

— E milhares de outras se separando, se divorciando, se suicidando por causa de um amor não correspondido...

— Se não fosse pelo amor, você não estaria nesse mundo! Acha que seu pai e eu nos vimos e decidimos ter você logo de cara? Claro que não, teve todo um processo de se gostar, depois namorar, depois casar....

— E depois se divorciar porque papai estava te traindo com a secretária dele.... - minha mãe me mirou como quem diz "sua filha da ****" mas ao invés disso ela só disse:

— Quer saber de uma coisa, vai dormir, vai dormir que hoje eu não estou com paciência pra te aguentar, viu? - ela bateu o pano de louça que segurava no balcão para que eu me apressasse. 

Ok, ok, talvez tenha sido um pouco rude da minha parte dizer o que eu disse, mas é que as vezes coisas como aquela simplesmente escapavam da minha boca. E assim, com esta pequena discussão com a minha mãe, fui pro meu quarto dormir cedo obrigada e esperar pelo dia seguinte que com certeza já prevejo que vai ser um lixo.