A noite na varanda escrita por Isamu H Ikeda


Capítulo 1
A noite na varanda


Notas iniciais do capítulo

* Hey! Segunda original que faço! Isso é surpreendente.

* Bom, eu quis fazer algo assim depois de ter assistido uns filmes japoneses com uns atores que gosto muito e que nunca pensei que fosse encontrar! Eles são bem tranquilos de ver, apesar de ser o tipo de filme que passaria na sessão da tarde.q

*Bom, espero que gostem... Na verdade eu já havia escrito boa parte disso há um tempo, mas achava que tinha perdido. Resolvi aproveitar...



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Cidades grandes parecem frias e cinzentas. Porém podem ser igualmente cordiais e coloridas. Mesmo durante a madrugada, nota-se alguns apartamentos com luzes acesas. Em cada prédio sempre tem aquelas janelas que insistem em ilumina-los. Isso contribui para manter a cidade acordada e nos cabe imaginar o que essas pessoas se dispõem a fazer em horários tão inusitados.

Algumas assistem TV. Outras estão estudando ou mesmo aproveitando a noite e o que ela tem de melhor para oferecer. Mas no décimo terceiro andar de um prédio de cor clara, havia uma jovem sentado em sua varanda apreciando a paisagem noturna. O vento estava tão agradável que a curava do cansaço do dia. Ela poderia permanecer ali até o amanhecer, mas tinha algo que precisava fazer: Uma carta.

Seria fácil se não fosse destinada a uma pessoa em particular que faria aniversário dali a dois ou três dias. A garota pensou muito, antes de decidir escrever. Muito mesmo. Deixou ao lado uma garrafa com um drink vermelho. Aparentemente ela tinha uma queda por qualquer coisa derivada de frutas vermelhas.

Um pouco embriagada, a moça sorriu ao sentir o cheiro de cigarros que vinha de um vizinho. Cigarros a lembravam daquela pessoa. O lembravam de Olívia.

Olívia era mais que uma amiga. Era alguém especial em todos os sentidos. Seu único defeito era fumar, coisa que Vivienne, a jovem da varanda, não aprovava no início. Porém aquele aroma começou a ser atraente. Ambas se conheciam a um tempo, apenas de vista. Uma fazia parte do grupo de teatro do colégio e a outra focava no sonho de ser escritora. Vivienne costumava passar o tempo assistindo os ensaios em que Olívia estava sempre presente, por uma incrível coincidência. O surpreendente veio ao descobrirem que tinham amigos em comum. E esses amigos são os mesmos até hoje.

Não demorou muito para serem apresentadas devidamente, e também para descobrirem suas afinidades. O que as aproximou o bastante para iniciarem uma relação que se tornaria mais íntima.

Pois bem. O tempo passou e elas se formaram. Contudo Olívia já morava sozinha mesmo antes de se conhecerem e conseguia se sustentar com um emprego de meio expediente em um restaurante. E virou um hábito para Vivienne jantar lá quase todos os dias, por vezes ficando até mais tarde para ir embora junto daquela a quem podia chamar de namorada.

Mas o que a mais nova nunca soube dizer era o quanto admirava Olívia. E decidira fazer isso no aniversário de vinte anos dela. Iria transmitir seus sentimentos através da escrita.

Com o papel de carta, especialmente comprado para esse singelo motivo, posto na mesa da varanda e ao lado lápis e borracha, caso precisasse, Vivi – como era chamada pelos amigos – sentou-se e respirou fundo. Não queria errar e confiaria em si naquele momento. Tudo o que precisava fazer era se concentrar.

Recorro às minhas habilidades de escritora amadora para poder te dizer tudo aquilo que fica preso em mim e que, por mais que eu tente, não sai da minha garganta no momento em que preciso.

Começou, sem ao menos ter pausado para respirar. Suspirou, leu, releu e prosseguiu.

Tenho que esperar para poder conseguir expressar pelo menos metade do que pretendia. Talvez por eu ficar sempre sem jeito e nervosa, ainda mais quando tem outras pessoas por perto. O fato é que a única reação que eu tenho ao te ver é te abraçar com todas as minhas forças e não soltar jamais. Vontade de te encher de carícias e beijos. Vontade de te proteger e estar sempre ao seu lado.

Tenho medo de parecer fria... Acontece que, vez ou outra, não sei o que dizer ou fazer em determinado momento. Mas quero que saiba que estarei sempre lá para te apoiar. Me esforçarei ao máximo para demonstrar isso, mesmo que demore um pouco... Não quero ser um incômodo.

Vivienne era bastante insegura. E paranoica. Quando alguma coisa parecia errada, ela se preocupava intensamente em saber se as pessoas estavam bem e se poderia ajudar em alguma coisa. Também era de pensar muito. Talvez por isso ela tenha começado a escrever tanto.

Mas como consequência, ela havia perdido a prática em se expressar na fala.

Cada momento que passo ao seu lado é especial, reconfortante, valioso, maravilhoso, um sonho vivenciado em tempo real e estando eu ciente de tudo. Parece surreal às vezes, mas eu sei que é verdadeiro! Você existe e eu agradeço todos os dias por isso. Sinto-me tão bem perto de ti... Sinto-me protegida. Ao seu lado, sei que nada irá me machucar.

Você foi a primeira pessoa que disse que me amava. Eu já te amava antes de saber disso, mas depois daquele dia esse meu amor só aumentou infinitas vezes e quero demonstrar sempre esse meu sentimento, que eu não sabia que podia me fazer tão bem.

Eu fechava o meu coração para muita gente. Não me permitia ter o luxo de gostar de alguém, por que era uma pessoa ridícula que não merecia ser amada. Era isso que eu pensava. Cheguei ao ponto, como você sabe, de querer arrancar o meu coração machucado e amargurado, enfiá-lo em um saco, jogar ao chão e pisar, pisar e pisar até que não sobrasse nada para doer. De que o melhor seria eu esquecer o que houve comigo e deixar de lado toda aquela carência absurda que se instalou em mim e não me deixava em paz um minuto sequer. Dizem que a esperança é a última que morre... Mas no meu caso ela é sempre a primeira que é destruída, de maneira impiedosa. Sou massacrada internamente.

Na escola ninguém sequer demonstrava interesse em minha pessoa e não seria no começo da minha vida adulta que iria acontecer... Eu deveria saber disso mais do que ninguém. Mas, ao mesmo tempo em que estava me conformando com tudo isso, ficamos mais próximas. Não nego que quando você começou a falar comigo foi como se algum super-astro tivesse respondido alguma mensagem minha. Eu havia ficado muito, muito contente. Quando percebi que estava gostando de você, tive medo. Medo de que acontecesse a mesma coisa que aconteceu antes. De que tudo não passasse de uma brincadeira e que se eu dissesse algo, você jamais iria olhar na minha cara novamente. Isso me deixava apavorada. Não queria parar de falar com você, não queria parar de te ver. Não queria e não quero.

Antes de conhecer Olívia, Vivienne sofrera uma desilusão amorosa. Se aproveitaram da ingenuidade dele para brincar. Logo, ela pensava que sentimentos como “amor” não eram nada, ou que ela não nascera para isso. Mas começou a ter um pouquinho de esperança.

Você significa muito para mim... Tanto que eu realmente não sei como demonstrar isso. Mas... O que eu posso dizer é que...

Quando te vejo, meu coração bate forte.

Quando me abraças, meu corpo se torna leve e eu dou um discreto sorriso satisfeito.

Quando me tocas, me sinto amada.

Quando me beijas, meus lábios formigam pedindo por mais. (O que posso dizer? Seus beijos são doces e viciantes.)

Você é a pessoa mais linda desse mundo. Ninguém se compara a você... És encantadora e perfeita.

Quero te proteger de todo o mal que possa lhe afligir. Quero te surpreender sempre e fazer esse seu sorriso bonito surgir. Quero te dar orgulho. Quero te ajudar no que for...

Você me deixa feliz de uma maneira que eu não consigo explicar... Talvez demonstrar pessoalmente seja melhor? Gostaria de um dia, apenas descansar minha cabeça em seu ombro e conversar sobre todas as coisinhas bobas, alegres, engraçadas e tudo mais o que acontecer em nossas vidas. As boas e a más. Saber do dia uma do outra... Sem grandes exageros. Mas claro, não irei te forçar a nada que não queira fazer.

Sua voz reconfortante me acalma e ouvi-la perto de meu ouvido é tão bom... Quando te ouço, sinto que meu coração sorrir e minha alma reluz. Eu sou mesmo muito apaixonada por ti.

Quando dizes meu nome é como se ele fosse o mais lindo e o mais importante de todos. Nunca me senti tão feliz, tão amada, tão querida assim... Nossa, como eu amo você com todas as minhas forças. Eu sempre estarei aqui esperando por você, de braços abertos. Disposta a curar todas as suas feridas e te fortalecer.

Não sei mais viver sem você, não suportaria te perder. Aquele sorriso que estava esperando por mim, depois de tantas lágrimas que derramei, existe e ele é você.

Obrigada por me amar. Obrigada por tudo mesmo...

Acredita que não consigo pensar em mais nada que seja adequado? Ainda deve ter mais coisas aqui dentro, mas acho melhor deixar para quando nos virmos de novo para demonstrar esse meu imenso carinho e amor por você.

Para finalizar, uma frase simbólica:

Meu coração é seu. Você, com esse seu jeitinho maravilhoso encontrou a chave com a qual eu o havia trancado em um baú. Então abristes e o devolveu pra mim.

Eu amo você. Feliz aniversário.

Terminou a carta, leu e releu cinco vezes. Sequer percebera o tanto de tempo que havia gastado na varanda. O sol já estava surgindo e os pássaros cantavam. Se ainda morasse com os pais, levaria uma leve bronca de sua mãe por ainda estar acordado.

Guardou a carta cuidadosamente no envelope e o fechou, escrevendo o endereço e o nome e sobrenome de Olívia corretamente.

Em movimentos quase automáticos por conta do sono, Vivienne levou o importante papel até a caixa de correio mais próxima. Não sabia se chegaria a tempo, mas queria que fosse uma surpresa. Afinal, Liv estava em uma viagem com uns amigos. Eles faziam parte de uma companhia pequena de teatro que ganhou uma viagem a capital para um espetáculo naquela semana, então não estaria em casa. Quando Vivi voltou para o condomínio, jogou-se no sofá e adormeceu. Não pretendia acordar tão cedo.

E assim, o aniversário de Olívia chegou. A jovem escritora estava fazendo faxina, já que ainda não obtivera nenhuma resposta. A ansiedade era grande, mas se policiava ao máximo para não ser um incômodo. Não que ela realmente fosse ser.

Estando tudo arrumado, terminou a tarde com um merecido banho. Voltando rapidamente para a sala, apenas para relaxar no sofá. Mas a moça relaxou tanto que cochilou, tendo esquecido a porta semi-aberta quando fora levar o lixo para fora.

Chegou a ter um sonho, estupidamente excêntrico e cômico. Sonhou com o dia em que foi mordido por um coelho que cuidava na escola. Só que no sonho ela se transformava também em um, em consequência dessa mordida.

Ao acordar, teve uma surpresa. Esfregou os olhos e um largo sorriso fez-se presente em seu rosto. Olívia estava ali, parada e a observando com um olhar tão típico e peculiar, devolvendo o sorriso.

O sorriso da escritora era fofo, igual ao de uma criança. Mas o da atriz era formoso e desenhado. Como o de uma escultura.

Olívia havia recebido a carta e depois de lê-la resolveu visitar a namorada. Estava feliz em saber que deixava-a daquele jeito. Como a porta estava aberta, nem foi preciso tocar a campainha. Entrou e deparou-se com Vivi dormindo na sala. Seria cruel acordá-la, então resolveu que iria ficar ali, a admirando. Mas como ela acabou despertando no final das contas, nada mais justo do que Olívia deitar com ela no sofá. Não ficava desconfortável quando faziam isso. Era até fácil para se aninharem uma na outra.

A varanda também estava aberta e o mesmo vento que reconfortara Vivienne na madrugada, agora alentava o casal. Era óbvio que Olívia passaria a noite lá. Mas antes de fechar os olhos, beijou a testa de sua garota e disse:

Eu também te amo.


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Notas finais do capítulo

* A fanfic tinha sido escrita inicialmente como "tegami", carta em japonês. PORÉM... Decidi que era melhor trocar o titulo, ja que tbm alterei o gênero do texto... Eu tinha feito como se fosse uma história entre um casal de garotos, só que bom... Foi baseado nas minhas experiências pessoas, logo, era pra ser um casal de garotas. Na época, eu queria disfarçar, até para não ficar tão pessoal assim. Resolvi agora que era melhor mudar, já que faz mais sentido assim.



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