Habits escrita por Sorina


Capítulo 1
Capitulo único - High all the time


Notas iniciais do capítulo

Só uma one que surgiu em um dia quente de verão, 84 anos atrás, enquanto escutava Habits da Tove Lo. Acontece.
Saquem as referências.



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Cansada. Era essa a palavra que definia Claire ultimamente. Não um cansaço físico, mas emocional.

Ela sempre ouvira dizer que para terminar com um vício teria que arrumar outro vício. Por isso, tratou de começar a beber, talvez assim deixasse de amar Brandon Baker, "o maior babaca de todos os tempos", como tivera declarado pós-término. Tal foi a surpresa quando entendeu que, em vez de acabar com um vício, ganhou dois.

O que ela bebera nos últimos meses dava para encher três navios, mas não teve barril que a fizesse esquecer.

Claire nunca foi do tipo que acreditava em contos de fada, finais felizes e príncipes encantados. Para falar a verdade, assim que pôs os olhos em Brandon Baker pela primeira vez presumiu logo que ele não fosse flor que se cheirasse. Não houve trocas de olhares mútuos ou uma simples conversa, chame de intuição feminina se desejar: ela simplesmente sabia que ele era problema assim que colocou os olhos nele pela primeira vez, e que a mínima convivência seria um perigo. O problema é que Claire foi afoita o suficiente para querer correr esse risco.

“É esse o problema.”— Pensou, enquanto se servia de um copo.

“Se eu ganhasse 1 real por cada vez que eu fui trouxa esse ano, eu estaria sendo trouxa em uma mansão algures em Nova York.”— Refletiu em voz alta, fazendo com que o moreno sentando no balcão perto dela a fitasse curioso. Mas o mesmo não se pronunciou. Claire apenas ignorou.

No fundo ela sempre soube que acabaria mal, só não esperava que acabasse com ela também. Quase que literalmente.

Ela estava um farrapo. Os seus cabelos loiros estavam desgrenhados, os seus olhos esverdeados não mais brilhavam e as olheiras eram visíveis até aos olhos de um cego. O seu andar era torto, a sua postura despojada. Ela já não estava preocupada com o que os outros iriam pensar sobre a sua maquiagem borrada ou pelo fato de estar sem sapatos. Sapatos esses de cano alto que ela tanto amava e tivera trazido consigo, mas por conta da dor que estes causavam, viu-se obrigada a retira-los – exatamente como tivera feito em relação a Brandon.

Na verdade, nesse exato momento a única coisa que ela queria era mergulhar as frustrações no álcool e afoga-las até elas deixarem se existir. Ao menos por um curto espaço de tempo. Porém, ela sabia que no dia seguinte tudo viria à tona novamente, e ela teria que refazer o processo para acabar com a dor. E isso já tinha se tornado um hábito.

O problema é que esse não era o único hábito ruim. Por obra do destino, ou talvez por azar mesmo, todos os seus namorados se chamavam Brandon. Houve o Brandon Mitchell, que ela conhecera no clube de voluntariado de que ambos faziam parte. O Brandon Pearse, cujo tinha conhecido – pasmem – no banheiro masculino, quando Claire estava tão embriagada por culpa de Mitchell que se esqueceu qual era o seu próprio sexo. E houve mais uma série de Brandon’s antes de Baker. Só que nenhum outro arrasou o coração de Claire como o mais recente.

— Você já pensou em seguir em frente? – Claire fora despertada dos seus pensamentos por uma voz rouca. O mesmo rapaz que à minutos atrás a fitava, tinha agora encontrado palavras para iniciar uma conversa.

— Perdão? – Destoou, atônita pelo corte brusco e inesperado no seu raciocínio lamentável.

— É algo que as pessoas fazem, sabe? – Pronunciou o moreno, levando a garrafa de bebida à boca e dando um gole. – Você deveria sorrir mais, aposto que tem um sorriso lindo. – Acrescentou. Claire piscou os olhos várias vezes antes de encontrar uma resposta.

— É fácil falar quando não é você que está passando por determinada situação. – Deu de ombros e encarou o expositor de bebidas atrás do balcão, tencionando escolher algo que a induzisse, no mínimo e o mais rápido possível, em coma alcoólico. Não estava para aturar gente abelhuda ou pra continuar a refletir sobre a sua falta de sorte.

— E quem disse que eu não passei já pela mesma situação? – O garoto ergueu a sobrancelha, desafiando a loira, enquanto se mudava para a cadeira vazia do lado dela, arrastando a garrafa de cerveja pelo balcão.

— Você nem sabe do que se trata. – Respondeu rude.

— Me conte então.

— Sequer te conheço. – As feições da garota demonstravam que ela estava a ficar impaciente, mas o estranho garoto não desistiu.

— Às vezes falar com desconhecidos é mais fácil, afinal, eles não terão muito o que julgar levando em consideração que não têm conhecimento do panorama geral. – Deu outro gole e se recostou na cadeira, fazendo sinal com a mão para que Claire iniciasse a narração da sua trágica história amorosa. – Vai, me conte o que te frustra. 

A loirinha refletiu por alguns segundos e ainda ponderou a hipótese de sair correndo, mas se um desconhecido estava fazendo por ela o que mais ninguém se dava ao trabalho de fazer, porquê discutir?

— Eu não sei o que meu deu. – Começou, arrumando a postura e encarando o nada, provavelmente visualizando alguma cena passada – De repente eu levantei, peguei as minhas coisas e fui embora, acho que eu estava cansada. – Deu de ombros, evitando olhar o moreno, que a permanecia fitando com olhos curiosos.

— Cansada de quê? – Incentivou a garota a continuar.

— Cansada de mendigar atenção... de mendigar amor. – Concluiu – Você não acha um desastre gostar de alguém? – Interrogou, mas não deu tempo ao garoto para responder, ou até mesmo de formular uma resposta – Tudo bem, eu tenho alguns defeitos e manias exageradas, mas eu tenho a certeza que merecia ser amada… – De repente, ela passou a encarar os olhos castanhos do moreno, que supreendentemente a escutava atentamente.  – Você acha que o problema está em mim?

O moreno se endireitou na cadeira, colocou os mãos entrelaçadas sob o balcão e refletiu por uns momentos antes de responder. 

— Pra começar, – Os seus olhos castanhos se redirecionaram finalmente para Claire – tudo na vida é efêmero. A própria vida o é. Chegadas e partidas fazem parte dela, quanto mais depressa aceitar isso, melhor. Ficar presa a alguém que foi embora porque quis, te deixou fugir sem sequer dar luta e/ou não dá a mínima para o seu sofrimento é perda de tempo, e ele passa rápido demais para ser desperdiçado se lamentando ou querendo se afogar em um barril de álcool. – A loira fitava o desconhecido com total atenção, surpresa com o que podia encontrar num bar quase deserto de uma rua qualquer, às 11 da noite de um domingo melancólico – Por isso chega de ter pena de si mesma. Tenha pena dele. Afinal, foi ele quem ficou perdendo, não o contrário.

Pausa pra respirar.

Claire podia ter bebido o suficiente para as suas pernas fraquejarem na primeira tentativa de se colocar em pé, mas pela primeira vez na última semana, ela estava mais sóbria do que nunca. Um simples agradecimento sussurrado foi a única coisa que lhe ocorreu.

— Só há um jeito de me agradecer. – Respondeu o moreno, com um sorriso maroto dançando nos lábios.

— E qual seria? – A loira arqueou a sobrancelha, desconfiada.

— Existe um restaurante mexicano aqui perto, venha comigo. 

O convite inesperado fez a garota engasgar-se com a própria saliva. 

— Tipo… um encontro?

— Chame-lhe o que quiser.

— Não sei se… – A garota não teve tempo de terminar a frase. O garoto já tivera colocado dinheiro no balcão e puxado a loira pela mão, que quando se deu conta já estava no exterior do bar.

— Não era uma pergunta e, em todo o caso, eu não aceitaria um não como resposta. – Claire tentava acertar os passos. O efeito da bebida e o levantar brusco tinham-na deixado atordoada. Olhou de soslaio para o moreno e viu um ligeiro sorriso dançar pelos seus lábios, ele parceria estar se divertindo com a situação – Nachos, Tortilhas ou Chimichangas? – Indagou, continuando a puxa-la. A loira deu uma risada quando o moreno falou “chimichanga” – Eu disse.

— O quê? – Perguntou, confusa.

— Que você tinha um sorriso lindo. – Os cantos da boca de Claire se ergueram mais ainda.

— Quesadillas. – Respondeu, por fim.

— Acho que estamos em sintonia. – O garoto piscou o olho.

Nesse momento, Claire percebeu que ainda não sabia o nome do garoto com quem teria um encontro em cerca de minutos, e isso era, no mínimo, bizarro.

— Qual é o seu nome mesmo? – Perguntou

— Brandon.

“Ah, claro.” 


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Notas finais do capítulo

A one também foi postada no SS, por isso qualquer coincidência é mera semelhança *smile*
Comentários são bem vindos, of course.
Espero que tenham gostado ♥